sábado, 29 de maio de 2021

Jaime Lerner e a cidade do futuro em 70, e para onde caminha a atual 3 cidade das bicicletas

Jaime Lerner projetou e implantou em Curitiba, na década de 70, soluções sensatas, das quais se sabia que os números tirados da experiência apontavam para os melhores resultados. Cidade humana. As soluções de Lerner foram copiadas em várias cidades do mundo, mas não aqui. A preferência nacional foi seguir o que acontecia na cidade mais rica do Brasil, a São Paulo de Maluf. Aquilo deu nisso; o resultado está aí para quem quiser ver.
Lerner em seu primeiro mandato como Prefeito de Curitiba (1971 - 1975) pensou a cidade e a vida de seus cidadãos como um todo, criou uma estrutura de transporte coletivo eficiente, implantou um plano diretor adensando o uso de solo nas proximidades do transporte de massa, e fortaleceu a vida do centro da cidade tirando os carros e abrindo espaço exclusivo para pedestres e encontros da vida na mais importante rua comercial, a XV de Novembro, o primeiro calçadão do país.
Maluf, mais ou menos na mesma época, seguiu pelo caminho oposto. Deixou sua marca concentrando boa parte dos investimentos de São Paulo em "melhorias" para o transporte individual, leia-se carros particulares, então poucos e coisa de elite. Endividou a cidade com suas novas avenidas, pontes e viadutos, criticadas por urbanistas e até mesmo por engenheiros de trânsito. Estas ações deixaram na população a ideia que tudo se resolveria com novas obras, sem preocupações com efeitos colaterais na população. O desenvolvimento urbano passou a ser agressivo e desordenado. As transformações em várias grandes cidades da Europa e Estados Unidos já demonstravam que o futuro não era por aí.
A cidade proposta por Lerner tem uma relação íntima com a cidade humana, a "vivacidade - cidade viva", que hoje se luta para ter.
O legado de Maluf é justamente o modelo de cidade que entrou em colapso em todo planeta, a tão conhecida cidade do automóvel, desumana, poluída, desigual, de economia disfuncional, perigosa para as mobilidades ativas, incluindo a bicicleta. Mais, este modelo de desenvolvimento urbano parece facilitar desvios, corrupção, mal gasto. Maluf acaba com sua foto estampada em relatórios internacionais sobre desvio de dinheiro público, espécie de garoto propaganda da corrupção.

Aqui cabe uma explicação: o automóvel não é em si o problema, mas o mal uso que se fez dele é um imenso problema. A cidade de Lerner e de outros pensadores inclui o automóvel, mas com inteligência e agindo em cima do que a ciência aponta.

Interessante que exatamente da mesma forma como as grandes obras viárias de Maluf pelo bem dos motoristas tiveram amplo apoio por parte de uma população pouco esclarecida, para dizer o mínimo, e que se dane o resto da cidade, a situação de certa forma se repete com a questão da bicicleta. Implantar um sistema fechado em si mesmo, sem um olhar e diálogo amplo e irrestrito com toda cidade e sociedade costuma não dar certo. É naif acreditar que esta festa desordenada vai dar certo só por causa das inúmeras qualidades atávicas da bicicleta e do ser ciclista. Ciclo cloroquina?

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