domingo, 28 de junho de 2020

Deixar para trás os mais fracos é uma loucura

Qual é a verdadeira catástrofe?
    A forma como o Brasil está passando pela pandemia é considerada um desastre pelos especialistas, incluindo aí a Organização Mundial da Saúde. Ninguém sabe ao certo quando isto vai terminar no mundo, muito menos aqui onde parece que a maioria não ainda sequer entendeu o que realmente está acontecendo, como se joga o jogo. Pelo menos as consequências estão ficando cada dia mais claras.

As ações do Governo Federal para minimizar o impacto da pandemia sobre a população mais necessitada tem sido erráticas, pouco funcionais, tardias e já se fala em parar o pouco que está sendo feito. O povão que se dane com seu resfriadinho, o Presidente está preocupado em cuidar dos filhos e ponto final. A preocupação macro agora é que o Governo consiga um mínimo de governabilidade, o que é ridículo, um absurdo completo, inaceitável. O que deixará mais brasileiros desamparados, a pandemia ou o Governo Federal? Eu não tenho dúvidas; você tem?

O que talvez nos salve é a reação da sociedade civil e de alguns governos estaduais e municipais. O que pode nos ajudar a sair desta é que a pandemia escancarou o Brasil que desde sempre doente, surrealista, psicótico. "Nos acostumamos com o ruim", e bota ruim nisto, triste verdade. São raros os pacientes que conseguem tomar consciência de sua loucura para tratar-se e voltar a uma vida minimamente normal. Terapia coletiva é quase uma fórmula mágica para a cura. Vale para um país.

Vamos deixar para trás os mais fracos?
    A taxa de informalidade no Brasil de 2019 girava em torno de 40%, o que já era muito alta e perigosa para a estabilidade econômica e social. Deve ficar muito mais alta depois de melhorada as condições de isolamento, o que é um fator de risco preocupante. A primeira pergunta que faço é como estão sendo encarados estes 40% pelos analistas e pensadores que olham o macro.
A reação de boa parte da sociedade civil com os mais necessitados tem sido até além do esperado. Resta saber se será suficiente para evitar uma explosão da panela de pressão social que já vinha fervendo há muito. Eu já vi uma panela de pressão explodir, a tampa grudar no teto e o feijão pintar toda a cozinha e sei que a reforma é trabalhosa, demorada e custa caro. Prefiro não ver uma explosão social.
O povão vai sobreviver como sempre sobreviveu, mas o ideal é que analistas e pensadores pensem, discutam e apresentem propostas e soluções que incluam esta imensa informalidade na reorganização da macro economia. Tenho acompanhado as notícias e não vi uma palavra ou linha que indique esta preocupação efetiva. E não se sabe se há organizações tocando fogo em nome de um tão usado "quanto pior melhor". 
Ter só uma visão superficial do que está acontecendo fora do topo da pirâmide social é muito mais que um perigo. Não sinalizar de maneira clara e inequívoca com uma mão estendida além de uma demonstração de egoísmo social pode ser o detonador final do "nós e eles" resultando numa desintegração social do país, um tiro no pé de todos.  

Os erros eternos deste Brasil são muitos, e bota muitos nisto. Fala se muito sobre eles, mas são poucas as ações práticas e efetivas dos indivíduos da sociedade civil para melhorar a situação. "Não dá para fazer nada"; "Eu como indivíduo não tenho poder para mudar..."; "Eles são responsáveis..." e outras frases lapidares costumam ser o fim do início de qualquer atitude. Nosso eterno "Brasil, país do futuro" natimorto.
Não ensinar a pescar é um erro brutal. Todo ser humano tem sua inteligência específica. Imaginar que não se possa passar uma cultura de qualidade e eficiência para os menos escolarizados é de uma inocência sem tamanho, ou má fé. Gilberto Freire provou para o mundo que o problema não é o conteúdo, mas a forma como se entrega o conteúdo. Chamar o outro de burro ou ignorante é a coisa mais fácil e banal. Tirar do outro seu melhor põe a prova quem você realmente é.  

Muita antes da pandemia a saída países mais ricos e com melhor IDH entenderam que o futuro está em "Think globally, act locally", ou pense globalmente, aja localmente. Uma saída é "comer o mingau pelas bordas". O mingau chamado Brasil está fervendo, queimando e vaporizando. Tocar a colher pelo meio não dá mais. Ou saímos pela periferia e os mais pobres ou temos uma grande chance de nos queimar feio.

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