Arturo Alcorta, Escola de Bicicleta, sobre a vida, rodando um pouco por tudo
terça-feira, 26 de maio de 2020
Discurso de Barroso e a compreensão do povo
segunda-feira, 25 de maio de 2020
Fazer o que?
"No que posso ajudar?" dá prazer de ouvir e falar.
Dá para fazer algo e ajudar nesta crise brutal. Sempre dá, em qualquer
circunstância, a história ensina.
Mesmo sendo uma pessoa socialmente pouco hábil consegui, ajudei no
passado. Agora não estou conseguindo e isto me doe, e muito.
Reli meus últimos textos e minha sensação foi dúbia. Fiquei ao mesmo tempo um tanto envergonhado e orgulhoso, pelo menos pela qualidade do texto, o que talvez não adiante muito neste momento, já não sei mais. Alguém tem uma resposta?
Envergonhado porque é fácil escrever críticas sobre o que os outros
estão ou não fazendo. Duro é não ficar apontando o dedo acusatório para o
próximo, vício meu, humano ou brasileiro? Olho no espelho e me sinto repetindo
as minhas próprias palavras críticas acusatórias. Ou, pior, ficar esperneando
como barata que em chão liso não consegue desvirar de sua carapuça. Não sou o
único a ter estes sentimentos, acredito eu, mas talvez nem nisto deva acreditar.
Ajudar...
"Formar formadores de opinião", esta é a missão da Escola deBicicleta. Nos seus mais de 16 anos ajudou, forneceu uma base de informação
sobre a bicicleta e as possibilidades de uso, sobre o ciclista e seu meio
ambiente, questões legais, formas de agir, um pouco de história; um básico
geral que só excluiu logística de distribuição e tributário, temas muito
específicos.
A fórmula para construir o site, passar a informação e com isto tentar ajudar
os outros foi a mais básica possível: colocar no papel, organizar, parar,
revisar, editar e distribuir a informação. Mais ou menos assim:
Mesmo não sendo um site com números muito altos (faz uns bons anos
tínhamos tido 7 milhões de entradas) cumpriu seu dever. Influenciou um bom punhado
de eficientes atores e mesmo que alguns resultados não tenham sido como eu
sonhava, no geral creio que tenha ajudado muito na melhora da qualidade do
geral da vida do ciclista, das cidades, da relação com o poder público, e da bicicleta
em si. Desde que foi colocado no ar em sua primeira e primária versão, ainda em
texto Word creio que lá por volta de 2001, mesmo sem qualquer propaganda ou
mídia social chamou atenção e fez diferença. Acabou decolando sozinho.
Uma das principais razões para o Escola de Bicicleta ter conseguido o resultado que conseguiu foi dar informação com o máximo de neutralidade possível. Nem patrocinadores foram aceitos.
Quem me conhece pessoalmente sabe que sou confuso, disperso, pulando da
gozação para irritação com facilidade, tenho dificuldade de comunicação e
principalmente de interação social. Muito diferente do sou quando escrevo, mas
isto se deve às inúmeras revisões* que faço nos textos. Demoro até dias para
finalizar. Mas fiz.
Se eu fiz qualquer um faz. Todos nós temos algum conhecimento ou
vivência que pode ajudar muito nesta crise. A carência do Brasil é muitíssimo
maior que imaginávamos antes da pandemia, em todos os sentidos. O que agregue
qualidade é mais que bem vindo, urge.
Ajudar e coçar é só começar.
terça-feira, 19 de maio de 2020
Ainda não afundou porque a turma do baldinho evitou
sexta-feira, 15 de maio de 2020
Pegou quem de surpresa?
quinta-feira, 14 de maio de 2020
Misto frio ou quente?: chororô; Tia Milão. Robério
A primeira rejeição amorosa resultou num chororô ao som de músicas meladas que durou quase um mês. Acordava, ia cabeça baixa para a escola, voltava, não falava nada, entrava na sala, ligava a vitrola, encostava na janela e perdia o olhar na vida normal que passava lá fora. Terminou quando, como sempre, estava ouvindo testa colada no vidro da janela mais um disco dor de cotovelo, sua mãe entrou, desligou a vitrola, olhou para trás ela vindo determinada em sua direção. "Chega, você sai desta casa agora e só volta quando parar com esta tristeza burra", disse olhos nos olhos. Deu as costas, saiu quase marchando, abriu a porta do apartamento, apertou o botão do elevador, voltou para dentro, pegou o filho pelo braço, puxou porta afora sem que reagisse, abriu a porta do elevador, o empurrou para dentro, tocou o térreo, fechou a porta do elevador. Ele ainda ouviu a porta do apartamento fechando e a chave girando. Andou sem destino sem perceber as horas ou o anoitecer, primeiro com raiva da mãe e a dor do amor negado, e com o tempo com o aumento da fome. E com a fome presente as imagens do amor negado foram se esmorecendo até se transformarem na determinada pergunta “o que tem no jantar?”. Meio envergonhado, mas muito esfomeado, voltou sem saber como seria recebido. Entrou pela cozinha para não ser percebido. A porta da sala estava aberta e todos estavam sentados à mesa. Sentiu o cheiro de comida bem feita, panelas no fogão, o ruído dos talheres trabalhando na sala no meio de conversas triviais. Parou no meio da cozinha envergonhado, sem saber o que fazer; e lá ficou. Ouviu em voz sempre doce da irmã “Tá esperando o que? A comida vai esfriar. Senta”. O jantar correu como sempre e a fome desapareceu. A dor de cotovelo foi sendo educada a cada refeição. “Tira os cotovelos da mesa. É falta de educação”, bronqueava a mãe aos risos dos irmãos.
Tia Milão era uma mulher muito especial. Viúva, baixinha, cheinha, determinadíssima, sempre que encrencava alguma situação era ela a chamada, e vinha e resolvia. Não tinha tempo ruim ou mar revolto, ia lá e dava jeito, colocava as coisas “no seu devido lugar” como dizia, ponto final. Dentre estas habilidades estava socorrer todos na hora das tratativas pertinentes as mortes. Num vapt vupt resolvia tudo. Tinha prazer em contar as histórias e situações inusitadas, que naquela época eram comuns. Numa destas corria o velório no silêncio, tristezas e alguns choros, tudo segundo as regras e bons costumes, quando o defunto teve um espasmo após morte (espasmo cadavérico) levantando a perna e atirando flores para todos lados. Sobrou tia Milão no velório completamente vazio, flores e castiçais espalhados pelo chão de ladrilhos, cadeiras tombadas, portas escancaradas, uma delas ainda se movia lentamente, e queixumes horrorizados e algumas gargalhadas histéricas vindas da rua onde de onde fosse longe do caixão. Tia Milão ainda tentou baixar a perna esticada e não pode, não teve forças. Deu meia volta, foi pelo corredor buscar o pessoal do velório ou da funerária, quem pudesse ajudar. Saiu para rua e foi recebi com um macabro espanto por todos. Pegou sua piteira, encaixou o cigarro, acendeu, deu um trago, e deu a ordem “Eles ajeitam e nós voltamos”. Assunto encerrado.
Aqui e agora, o último texto publicado, foi pesado, é pesado. Ironia do destino, destas que não sabemos como ou porque acontecem e nos fazem lembrar o “yo no creo en brujas, pero que las hay las hay”, ou no “Hóme” lá de cima. Cansado, terminado e publicado o texto saí para relaxar com a bicicleta e acabei perdendo minha carteira que caiu do bolso na Diógenes Ribeiro, a velha Estrada da Boiada. Já de volta fui pagar a comida e bolso vazio, mochila nada, putz! Que dia! Subi na bicicleta e fui refazendo o caminho. Algumas folhas e objetos quadrados se transformam na carteira perdida. Imaginei onde poderia ter caído e fui seguindo em frente. Esperançoso passei por uns moradores de rua sentados na porta do supermercado e aos Céus prometi que se encontrasse minha carteira daria os R$ 50,00 que ainda tinha no bolso dos que retirara para pagar a comida. Olhei o céu estrelado. “Meio canalha meu pedido, mas talvez seja desculpado” confessei meus pecados para as boas almas que certamente nos cercam e Eles, talvez incluindo o texto publicado. Alguns quarteirões a frente o celular tocou, número desconhecido, e uma voz nordestina do outro lado falou "Seu Arturo?"; respondi sem pensar "Você encontrou minha carteira"; "Foi" minha felicidade ouviu. O nome do meu anjo da guarda: Robério. Só aqui no Brasil.
quarta-feira, 13 de maio de 2020
Aqui e agora
"O Valdeci está na
UTI" respondeu Tereza pelo telefone.
Banho quente acalma. Desliguei
a água, fiz a barba, liguei a água, vi a espuma desaparecer pelo ralo e
desliguei a água. Parado, cabeça baixa, olhando a água secar aos meus pés,
senti as últimas gotas da deliciosa água quente batendo no meu corpo. A
intensidade foi diminuindo, diminuindo, diminuindo, gotas quentes espaçadas,
alternadas, parou. Fiquei imóvel no pensamento perdido por um bom tempo. Abri o
box, me enrolei na toalha em frente ao espelho, mas não me vi, só via
pensamentos rápidos, alguns desconexos e perdidos passando pela consciência turva.
Estranho como os olhos se voltam para dentro.
Sentei no computador, comecei
a digitar. Reli o texto passando a mão no rosto e me dei conta que não terminei
de fazer a barba. Que importa? Ia sair para fazer um pouco de exercício, mas
prefiro escrever. preciso escrever. Saio a tarde. Ou não saio. Sei lá.
A Rádio Eldorado pela manhã,
no final do noticiário, às 8:30 h, colocam uma música que serve de chamariz
para a programação musical que segue ou diz respeito a algum fato relativo à
música, ao compositor ou intérprete da música. Tocaram a Dionne Warwick
cantando Alfie do Burt Bacharach em homenagem ao aniversário do Burt. Nos
breves eternos segundos que a música tocava no silêncio da Carolina e Haissen
Abaki, apresentadores do noticiário, pensei que a Diane tivesse ido embora. Foi uma pedrada no meio da cabeça.
As músicas de Burt fazem parte de uma época maravilhosa de nossas vidas quando
inocentemente sonhávamos que realmente construiríamos um mundo melhor e mais
justo. Todos nós temos seu ponto de fratura, este quase foi o meu. Estamos
cansados, estou cansado, mas não dá para parar agora. Não são pedras no
caminho, mas respiradores, UTIs, covas.
"Eliane (mulher do
Valdeci) não para de chorar. Diz que não consegue comer. Não para de chorar.
Dei uma bronca, carinhosa, mas uma bronca" disse Tereza pelo celular.
Os presuntos estão cada dia mais próximos. Por aqui já tenho sete conhecidos contaminados, quatro passaram por UTI, e morreram dois, o irmão de uma figura bem conhecida e o pai do João. É, estão cada dia mais próximos.
Bem no começo da pandemia, quando tudo estava aberto, tomando sorvete conversei com uma família que a mãe, avó das jovens que acompanhavam os pais no sorvete, já estava em situação crítica, cheia de comorbidades. Entrei na conversa deles porque a família estava completamente perdida, desnorteada sobre o que fazer. "No hospital tem um setor de orientação para parentes e amigos de pacientes terminais. Vocês precisam entrar em contato, principalmente você" falei apontando para a filha da senhora terminal. Eles ouviram e agradeceram. Ninguém tinha falado de forma tão direta e clara sobre morte. Em um determinado ponto da conversa usei a palavra "presunto", percebi minha indelicadeza, ou minha imprudência, ou minha secura no trato de assunto tão cercado de simbologias. Tive que explicar. Não me convenci do pedido de desculpas não dito, mas implícito. "Presunto" para os não iniciados vai além da curva. "Nós nascemos, vivemos e morremos; ponto. Esta é a visão do Budismo, simples e objetiva". Isto fato, ninguém nega e ninguém aceita.
É da cultura de boa parte do Brasil não dar muito valor à vida. "Morreu, morreu, antes ele do que eu" está no ditado popular. Verdade verdadeira.
Morei por um ano em Olinda e
comecei a ir à missa com cantos gregorianos do início de noite na belíssima
Igreja do Mosteiro de São Bento. Monges afinadíssimos, boa acústica, uma
maravilha. Um destes monges me contou que entrou para vida religiosa porque já
tinha visto muita desgraça e muita morte. Em sua terra natal, cidade pequena de
sertão, nos fins de semana tinha forró num bar onde se dançava numa área
coberta, aberta aos ventos, cercada por muros baixos, festa muito animada. De
vez em quando saía uma briga que não raro terminava em morte. O povo pegava o
morto, colocava do lado de fora, voltava e continuava o forró. No fim da festa
cada um pegava seus mortos e levava para casa para depois ser enterrado. Era
corriqueiro.
Ninguém quer morrer ou ver o outro morto. Ou quer, dependendo da situação e da noção das consequências envolvidas. "Morreu, morreu, antes ele do que eu".
As entidades que representam a
medicina no Brasil acabam de definir regras para quem tem chance de sobreviver
e quem não terá. Até que enfim. Discussão e definição que deveria ter sido debatida faz tempo, mas morte é tabu "e não se fala mais nisso".
O drama maior será para os
médicos. São educados para salvar vidas. Não foram treinados para "isto" - deixar
morrer.
A verdade é que o Brasil vive há
muito com uma regra de quem morre e quem vive não escrita, mas
estatística. Norma não estabelecida no papel, mas de conhecimento geral e
irrestrito via programas macabros de rádio e TV de início de noite. Notícias
Populares na cabeça!
A diferença entre os "do
asfalto" e os favelados, os perifa, e os nortistas, é o costume de ver a morte
de perto, se não são os seus, o gado. Morre tudo igual, onde dá, onde está.
Morre, simples assim, matado ou morrido. Já viu de perto um presunto, já sentiu na mão a última vibração do corpo
já morto, viu o olhar da certeza que ali acabou? Não? Pois é, morreu. A gente
se acostuma, mas não sem um preço, não sem um preço, isto não, isto não.
Vai morrer às pencas. Eles infelizmente estão acostumados, é trivial, acaba não fazendo tanta diferença do dia a dia. Faz! As famílias estão se contaminando e muitos estão indo para auto isolando e assim não ter que enterrar filhos, país, tios, primos. Aí faz diferença.
Espero que caia a ficha deste povo quem os colocou nesta situação.
segunda-feira, 11 de maio de 2020
Vai mudar o que? O carácter brasileiro?
Fórum do Leitor
O Estado de São Paulo
Muda, muda, muda, muda....
Esta é a esperança da maioria.
Uai, se já tinham tanta vontade de mudar e tanto para mudar por que não mudaram
antes? Tinha um bocado de gente trabalhando para mudar situações críticas antes
da pandemia, no contexto geral eram poucos, muitos heroicos, alguns barulhentos,
outros utópicos. O grau de eficiência não foi medido, mas é certo
que bem poucos foram eficientes.
Esta maioria dos que agora
estão no grito da torcida muda muda até o começo dos males do coronavírus até
pensavam, falavam, resmungavam, brigavam em nome de suas mudanças, de novo, de suas mudanças, mas
praticamente não fizeram nada prático. A verdade é que aqui no Brasil nem jogar
lixo no lixo se joga, vejam nossas ruas. Portanto muda, muda, muda... o que? Mudar o que, para que, como,
de que forma, em quanto tempo, com que objetivo, para qual resultado, para
quem?
Muda, muda, muda, muda....
O que é capaz de mudar o
carácter de uma pessoa? E de um grupo social? E de uma nação? Uma nação. Exemplos
e respostas não faltam.
Bombas atômicas mudaram o
carácter do Japão? A devastação imposta pelos Aliados à Alemanha Nazista na
Segunda Guerra Mundial mudou o carácter de seu povo? Não, definitivamente não. Alemães
e japoneses entenderam seus erros, aprenderam com eles, e mudaram, mas o
carácter secular voltado ao bem coletivo continua exatamente o mesmo. Não os
únicos.
Pelo andar da nossa carroça a
pandemia não deve mudar o Brasil. Somos o que somos e nos orgulhamos disto.
Fazemos parte de um país que foi loteado, fragmentado, usurpado,
descaracterizado, principalmente nestas últimas décadas. Pior, um país que parece se orgulhar de sua pobreza e ignorância. Definir o Brasil como um país bipolar é uma
definição simplória. Não exagero dizendo que o carácter do brasileiro está intimamente
ligado à usurpação. Usurpação de uns pelos outros, de grupos sociais e da sociedade
por alguns, independentemente do nível social. Usurpação da terra, dos bens naturais,
das riquezas, também independentemente do nível social. E justificamos por ser um
país diverso. Diverso sim, mas sem unidade, que não se reconhece mais como Brasil,
mas como “nós e eles”, muitos “nós” e muitos “eles”, muitos, tantos que mal
sabemos.
Os erros do Brasil são
gritantes, mas parece que nada nos faz vê-los, sequer esta loucura da pandemia. A cegueira faz parte de nosso
carácter. A pandemia nos fará mudar?
Parece piada macabra, mas definitivamente não é.
No meio de toda esta baderna mortal as usuais práticas de autoridades e
políticos não mudaram, continuando seu persistente trabalho de autoproteção e a incessante busca
de vantagens. A sociedade é incapaz de manter um mínimo de estabilidade mesmo
em acordos os mais básicos e necessários. Ladrões e golpistas continuam os
mesmos agindo sem uma reação civil. Faz parte de nosso carácter a aceitação. Estamos acostumados a chorar nossas mortes inúteis.
Depois de um certo tempo as
coisas vão voltar mais ou menos para o que eram antes da pandemia. É humano. É
o que dizem pensadores, analistas e historiadores.
Depois deste tranco mundial
vai mudar o que? O valor humano, o valor ambiental, ou o ecológico? Vai mudar
para quem?
Tudo muda. Depende do que,
depende de cada momento e depende do carácter.
"Que a gente saia da epidemia sem amar controles de
comportamento" diz Pondé
domingo, 10 de maio de 2020
Ineos Petroquímica e os patrocínios ao esporte
- Empresa com nome sujo limpando o nome com esporte.
- Ineos patrocinando futebol, F1 (Mercedes), ciclismo, corrida a pé, barco a vela.
- No projeto da Ineos um esporte ajuda o outro com expertise específico e com seus centros de treinamento (interessante)
- "A maioria não faz ideia do que é Ineos ou o que outro patrocinador faz, e o patrocínio não afeta as vendas no mercado químico, mas está jogando uma imagem positiva na companhia."
- Questão ambiental.
Para quem quer saber quem é a Ineos: Ineos se esforça para se tornar o maior produtor de petróleo e gás do Reino Unido.
Bom artigo para ser lido e bom momento para pensar sobre esportes, tão cruciais em nossas vidas:
- O que são de fato as empresas que patrocinam esportes, bens sociais e culturais na vida real?
- A importância destes patrocínios ninguém tem dúvida, mas qual o custo / benefício destas ações computando todos fatores envolvidos?
- Dá para ter um filtro para os patrocinadores?
- Como formar entre esportistas amadores e torcedores a cultura de apoiar empresas corretas e não comprar de empresas problemáticas?
- As empresas que patrocinam os esportes têm objetivos outros além dos óbvios?
Não sei se sou contra ou a favor do árbitro de vídeo e outras tecnologias de precisão que diminuem o fator humano no resultado dos esportes. Aprendemos mais com nossos erros que com nossos acertos.
O charme secular do esporte está numa certa dose de imprevisibilidade.
Dinheiro pesado dos patrocínios está criando problemas para vários esportes, inclusive a F1. Para tudo tem limite.
Richard Denton, professor of marketing at Johan Cruyff Institute, takes an in-depth look at the Covid-19’s impact on the sport sponsorship industry and reviews past crises, such as the 2008 financial crisis or the 2001 terrorist attack in New York
quinta-feira, 7 de maio de 2020
Covid é a...
quarta-feira, 6 de maio de 2020
Paulo Salim Maluf, o herói da bicicleta
Acredito que aquilo não foi e não é dinheiro jogado no lixo, é outra coisa qualquer. Duvido que o dinheiro tenha ido para o lixo.
segunda-feira, 4 de maio de 2020
Mudanças familiares
União mesmo de todos quando os pratos eram distribuídos com raro cuidado na grande mesa e o ataque familiar autorizado. O momento do abre alas, dos que pegam o prato na não ficam na borda da mesa e, como se para irritar todos, não param a conversa afiada nem se servem e saem da frente. Há os que não largam nem seus copos nem seus lugares e ainda pedem aos de passagem que os sirva sem qualquer agradecimento, só com seus direitos pretensamente adquiridos. É a mais pura integração que dá sabor a pergunta se estão todos lá para se ver e conviver ou para comer e degustar. Cada um com seu prato e seu carácter. Encontros, almoços, jantares e até lanches inesquecíveis por um ou outro fato peculiar e principalmente pelo que foi colocado a mesa não só as conversas por trás dos pratos, mas os sabores delicados.
Era 1982 e causava muita estranheza que alguém com aquele histórico de família, naquele nível social, chegasse a estes encontros sociais, de família ou não, pedalando, bem vestido e feliz. Os comprimentos e abraços no ciclista eram carinhosos, com sorrisos formais, e cercados de uma pitada de ironia na eterna pergunta "e a bicicleta..." Para ele, ciclista, por um lado divertida, por outro cansativa, parte da vida.
Sentados nas poltronas levemente iluminadas por abajures conversavam os primos trivialidades quando com copo numa mão e outra apoiando no espaldar da poltrona o tio parou e ficou ouvindo a conversa sobre trabalho, vida social, amigos comuns. Numa típica provocação de geração mais velha dentro de qualquer família o tio cortou as falas apertando suavemente o ombro do filho e disse olhando o sobrinho com sorriso provocativo "E como fica no trabalho quando você chega de bicicleta? O que o pessoal acha?" Sabendo ser o pai girou um pouco a cabeça como que querendo olhar a mão carinhosa, primeiro riu e depois embarcou na pergunta maldosa. Vozes sobem, alguém se levanta do sofá a frente e fala ainda mais alto "chegou a sobremesa".
Não é sobre bicicletas, é sobre a cidade, sobre as vidas.
Morreu hoje, 04 de Maio de 2020, Aldir Blanc.
Me faz lembrar quem eu fui e me é dolorido, mesmo estando feliz com quem eu sou.
sexta-feira, 1 de maio de 2020
Disney das fantasias demite na real
A Disney demitiu todos funcionários de seu parque de Orlando. O que importa? É uma empresa como qualquer outra! Definitivamente não. O grupo Disney é símbolo muito forte de um desejo coletivo e não deve ser traduzido simploriamente como um produto do american way, mas como uma fábrica de fantasias de esperanças que resumem de uma maneira infantil, mas nada inocente, o desejo coletivo de boa parte da população mundial que buscam que suas próprias estórias, ou histórias, como queira, sempre cheguem a um final feliz.
Recebi a notícia como uma
bomba porque imaginei que os parques da Disney seriam área intocável por sua
simbologia. Em qualquer situação de guerra é necessário manter o moral da
tropa.
E minha cabeça ficou dando
voltas com esta história.
Meu vizinho ponderou que os
funcionários dos parques trabalhavam em regime praticamente escravo, num
trabalho muito duro, disciplinado, onde não se admitem falhas. Disney é
americana e Orlando está nos Estados Unidos. A ideia do que é trabalho é muito
diferente da que temos aqui no Brasil. Estados Unidos tem um sentido coletividade,
de união, expresso na forma de trabalhar, aliás linha motriz dos filmes da
Disney. Unidos venceremos. As leis trabalhistas são outras e lá ou aceita as
condições de trabalho ou não tem trabalho, ou trabalha direito ou é
demitido, ou cumpre corretamente o que foi acordado ou está fora e ponto final.
As leis funcionam para todos e empresas e empregados têm que respeita-las,
ponto final. Aliás, o trabalho duro e pesado de lá não é muito diferente de
trabalhar num restaurante ou padaria aqui no Brasil, por exemplo. Com uma
diferença: lá existe uma expressão, “deixar cair o lápis”, ou seja, o sujeito
trabalha de 7 às 17 horas, por exemplo, e as 17:00 h em ponto larga o lápis /
caneta / ferramenta e vai para casa ver a família, bem diferente daqui e nossas
horas extras pagas ou não.
Meu tio Zico teve a raríssima
oportunidade de fazer uma visita aos "porões", o "sub
mundo" da Disney de Orlando e ficou maravilhado com o que viu. Taí uma
visita que adoraria fazer e ouvi Zico contando sua visita com muita inveja. Não
me lembro dele ter falado em escravos ou escravagismo, mas lembro da discrição
do profissionalismo e da entrega de todos ao trabalho, o que faz toda
diferença; e como faz.
Estive no parque Disney de
Orlando e fiquei impressionadíssimo com a organização. Tudo funciona com uma
perfeição invejável. A logística de fechamento do parque é uma aula magna sobre
mobilidade. Fica se lá o dia todo e não se vê um funcionário com cara de
sofrimento, infeliz, muito menos com cara de escravo. Eu sei, eu sei, coisa de
contrato de trabalho; todos têm que sorrir ou minimamente ser simpáticos,
eficientes. Não é assim na imensa maioria dos negócios de todo o mundo?
O colapso da Disney, mesmo que
temporário, quebra um espelho de magias por que escancara que atrás de toda
esperança pré coronavírus Covid 19 havia algum problema, para dizer o mínimo. Não
poderia ser diferente, mas no caso da Disney a longa e cuidadosa construção da
imagem trouxe distorções da realidade. Demitir funcionários tão específicos e
treinados não deve ter sido uma decisão fácil nem agradável. Acontecer aqui no
Brasil a demissão de toda uma orquestra sinfônica é duro de aceitar, mas
demitir na Disney? Nossa! Onde chegamos.
Qualquer sonho se constrói com trabalho. Quanto mais trabalho, mais resultado.
É milenar, o Budismo diz que não há liberdade sem disciplina. Quanto maior o
bem social, maior é o trabalho por trás do resultado. Prazer e trabalho sempre
estiveram intimamente ligados. O sonho vendido pela Disney é resultado de
trabalho duro, muito duro, mais, é para quem ama o que faz, mas ama para valer.
O coronavírus Covid 19 e a parada do planeta está tirando debaixo do tapete um
monte de situações. Depois dele como iremos conseguimos manter a separação
abissal que existia entre o prazer e o trabalho? É, não faz muito uma coisa era
uma coisa, outra coisa era outra coisa. Hoje até temos a cada dia mais e mais
gente trabalhando no que gosta, mesmo assim é uma minoria. A maioria trabalha
para poder comprar algo ou encher a cara com os amigos no churrasquinho. Fato é
que na história do Brasil prazer era prazer, trabalho era trabalho, e quem
confundisse as coisas, principalmente neste Brasil, que fosse se tratar. Terá
mudado?
O sonho não acabou, nem pode acabar. A reconstrução dos sonhos vai demandar
trabalho e será isto que dará valor ao sonho coletivo, e o meu é que seja
coletivo, equidade. O que se tem que tirar desta pandemia é que sonhos não são
ilusões, muito menos delírios.
A Disney vai voltar com todos seus simbolismos. Não só ela, mas todos os
construtores de boas sensações, mesmo que momentâneas. A humanidade só
continuará seu caminho, talvez para melhor se em cada criança for plantado um
sonho, mas que sejam sonhos bons, realistas, factíveis e respeitosos com este planeta.