terça-feira, 28 de abril de 2020

Modernidade liquida, comorbidade certa


Velho, cartesiano, imerso e amante de leituras técnicas e científicas, consciente do alto risco de contaminação entrou e circulou pelo supermercado sem máscara ou outros cuidados. Poderia estar ali, naquele mesmo supermercado onde sempre pegou delícias e comodidades para sua vida, a saída para levar para casa a solução definitiva para seu pulmão exausto da longa maratona de três maços de cigarros diários. Agora é esperar. 

Ao lado do computador mais uma loteria para ser conferida. O papel branco com os números da sorte e códigos traz um jogo de imagens dos desejos do que poderia ser e do que seria bom, mas a leitura do jornal e as notícias na TV dizem que nestes tempos de guerra não mais será, não agora. Será? "O que se faz quando o que será tem grande possibilidade que não pode mais ser?" se pergunta sussurrando e sua companheira de tantos anos médios ouve lá na sala e pergunta em meio ao som da novela "Falou o que?". Não responde, olha para a loteria, arrasta o mouse para uma nova guia e pára em pensamentos, informações, preocupações, na vida, sua, de seus filhos e netos. O melhor dos presentes sonhados por tantos anos num único papel branco cai no vazio, passa como a sombra de nuvens que trazem a esperança para a lavoura, só esperança. A loteria da vida é a única certeza. Na TV que a mulher vê entram os anúncios e a chamada das notícias do jornal noturno que conta doentes e mortos. Não quer ouvir, mas ouve. Tira a flecha da nova guia e volta para o jogo de cartas. Sonhos são sonhos. Vão os dedos ficam os anéis. Qual é o valor dos sonhos? Que sonhos tem valor? Quem somos em nossos sonhos? Ele olha os números, respira fundo e seus medos clicam para fechar o computador. "Amanha eu vejo".  

"O sujeito tem algum valor por um tempo de vida depois é descartado" diz o homem de 65 anos sentado numa velha cadeira surrada de ferro e tiras de plástico colocada na calçada à sombra que evidencia a pintura gasta e descascando da parede da casa. Dá uma pausa na conversa com seu ex patrão que veste calça moletom desbotada e camisa social surrada parcialmente abotoada naquele calor seco e escaldante de fim de tarde. Parado no meio da rua, olhar perdido para um lado e para o outro, mãos nos bolsos, sem saber se fica para jogar conversa fora com aquele velho amigo que fala mole e olhos quase fechando na cadeira ou segue para o boteco. Os dias de suor no trabalho passaram sem deixar explicação aos dois e a todos de sua geração porque não servem mais. "Bons tempos aqueles".

A fortuna foi torrada no vício sego das comodidades as quais se agarrou desde sua infância sem levar em consideração o futuro. O olhar para as contas que não param de vencer preocupa, mas eterna a falsa esperança que erodiu a verdade ainda bate forte, vale mais que a realidade, como que se levando em frente tudo para um precipício consciente, inevitável; mesmo que inaceitável, inclusive para o horizonte dos filhos ainda estudantes. "Vai se ajeitar" repete em voz quase inaudível, sabendo que não irá. Os bons tempos não voltam mais. "Por favor um maço de Hollywood" e pega a carteira de couro magra e puida, abre, tira os trocados. "Alguma coisa mais?"; sinaliza não com a cabeça, se despede com o mesmo sorriso de sempre e toma o caminho de volta para casa. A velha empregada que nunca para de trabalhar logo vai servir o almoço. Esta é a hora do dia para sentar na poltrona puída e com cigarro aceso na mão amarela esperar. A janela está fechada, a fumaça opaca o céu azul, o ar fica pesado, o silêncio toma conta do ambiente, daqui a pouco chegam todos, sentam à mesa e almoçam olhando os pratos. "Me passa a água." Terminam, se levantam, vão cada um para seu canto, ele volta para a poltrona, acende outro cigarro e espera a empregada e o café. Foi assim com seu avô, com seu pai, com ele. Não será com os filhos, não pode, mas quem pode afirmar?

Na aula o professor explica "Vidro é um líquido de alta viscosidade". O distraído aluno levanta a cabeça, entende alta densidade, e porta afora passa a conversar com amigos e meninas sobre a "altíssima densidade do vidro". Não deixa de ser verdade, pelo menos num sentido figurado. Faz todo sentido suas notas de português. Quem conta um conto aumenta um ponto.

Modernidade líquida. Modernidade líquida?
Com certeza a modernidade liquida, sem acento nem assento.
Fato é que a comodidade líquida não escorreu pelo ralo. Tão pouco a verdade.

"É bom tudo isto. Assim acabam todas as classes sociais" dispara a adolescente que se aprofunda nos estudos para o vestibular. Doce ilusão! Vai nessa menina! O mundo gira e a Lusitânia roda.

Roda, roda, roda... um minuto para nossos comerciais
alô alô Terezinha, você está na Buzina do Chacrinha
Vocês querem bacalhau? Vocês querem banana?
Roda... roda...

sábado, 25 de abril de 2020

Pedalar sem máscara e manter isolamento

Creio que foi a Áustria que apresentou um plano de saída do isolamento da pandemia tendo como um dos pontos básicos a bicicleta como modo de transporte. Parece que na Alemanha as bicicletas continuam livres. Milão, na Itália, está fazendo um projeto para aproveitar a oportunidade e reorganizar a cidade tendo como base o transporte público, que já é forte, e melhorar a vida de pedestres e ciclistas. Por trás da ideia está Janette Sadik-Khan, a mesma que em NY teve importância crucial no desenvolvimento do sistema cicloviário. Lembrando: Janette fez mais de duas mil reuniões públicas (todas em agenda oficial) com a população afetada antes de dar passos. 

Mais uma vez a bicicleta é peça importante na reconstrução social. Parafraseando um dito da época da virada do século XIX para o XX, "ao socialismo se vai de bicicleta" hoje se pode afirmar que "a reconstrução se faz com bicicleta". Toda vez na história que o sistema de transporte entrou em colapso ou está muito precário a bicicleta se apresenta como uma opção mais que inteligente. Viva a bicicleta! 

A opção Europeia e agora da OMS pela população pedalar mostra que 'se bem usada', 'de maneira civilizada', a bicicleta não coloca em risco o isolamento, ao contrário de transporte de massa ou mesmo de pedestres aglomerados. No final das contas tudo é questão de como os malditos perdigotos ficam no ar.

Eu tenho pedalado e sei que estou fazendo minha parte no isolamento, mas fico assustadíssimo com o que o pessoal que pedala tem feito. Pedalar próximo do outro provavelmente aumenta o risco de contaminar-se. Tem muita gente pedalando no vácuo do outro, o que não dá tempo para os perdigotos se dispersarem. "Estou de máscara" ajuda, mas atenção porque elas não são inseticida de vírus. Uma pesquisa científica realizada no Japão usa uma câmera de precisão e luzes laser para ver o que acontece com os perdigotos quando as pessoas respiram, espiram ou tossem. Meu caro amigo Álvaro, de formação médica, me explicou que a experiência é válida para ambientes fechados. E completou que a contaminação vai depender da carga viral necessária para o sujeito ficar infectado. Não é uma única gota que vai contaminar, mas um determinado número, grande, de gotas.

Eu não estou usando máscara na rua, mas estou fazendo malabarismos para ficar longe de outras pessoas. Caminhos alternativos não raro são bem mais acidentados, o que é bom para o treinamento.
Sempre tenho uma máscara no bolso que uso para entrar em ambientes fechados.

Os perdigotos ficam, mas parte do texto se perdeu. Vamos lá; voltando...

Faz um bom tempo perguntei a Rosilda Veríssimo, Professora (acho que ela é Doutora e chefe de cadeira) da Faculdade de Enfermagem da UFSC, sobre usar máscaras no meio do trânsito, então no máximo da moda, e resposta dela foi a mesma que os médicos estão dando agora nesta pandemia: tem regras para usar corretamente, tem que trocar de tempo em tempo, máximo 2 horas, e se não for absolutamente necessário é bom não usar por que mascaras retêm as "coisa ruim" (simplória explicação minha) do corpo de quem está usando, o que não é nada bom para o usuário. 
Hoje tomei coragem e fui para estrada, Anhanguera, e fiz deliciosos 58 km, muito tranquilos. Esperava encontrar uma estrada muito mais vazia, mas foi uma bela pedalada de exatas 3 horas com minha bicicleta de poste. Cheguei dolorido, mas sou outro. 

A verdade é que tenho vergonha de sair na rua. Acredito que o isolamento dá bons resultados. Saio meio que escondido, pedalo longe dos outros, em caminhos alternativos. Não quero contaminar outros, mas quero respirar livre, para isto basta ter senso de coletividade.

quinta-feira, 23 de abril de 2020

Unir todas elites e parar de dar ouvidos a uns poucos

Fórum do Leitor
O Estado de São Paulo

No Brasil é muito difícil conseguir união para sair desta brutal crise, a bem da verdade de qualquer uma. Não é discurso de esquerda, mas pura realidade historicamente patente em números que temos uma pequena e muito rica elite, alguma classe média e uma imensa maioria de pobres. Desde a organização da humanidade em tribos sempre houveram lideres que acabaram formando as elites. Hoje mesmo os mais pobres têm uma melhora na qualidade de vida impensável faz pouco mais de 100 anos que foram criadas e implantadas por elites; portanto elite não é o problema, mas sua forma de ação sim. A reclamação da população de baixa renda que seus problemas e dramas não afetam a elite brasileira é triste verdade, mas parcial. Condiz com a morosidade e privilégios de todos poderes públicos, estes sim a elite da elite brasileira, mas generaliza erroneamente o conceito "elite" quando critica indiscriminadamente a sociedade civil. "elite: o que há de mais valorizado e de melhor qualidade, especialmente em um grupo social" define o dicionário, portanto dentro das comunidades também há elites, umas boas, produtivas e outras não. É óbvio que os gravíssimos problemas causados pelo Covid 19 não terminarão com o fim do isolamento, assim como é óbvio que não encontraremos saída enquanto não houver união de todos, principalmente das boas elites, as que sempre estiveram preocupadas com o Brasil, todo Brasil, todos brasileiros. É hora de olhar a essência e deixar passar detalhes. Ter desarticuladas as boas elites interessa e muito a uns poucos. Passamos e muito do ponto de deixar de só dar atenção a certas elites tão prejudiciais, inclusive para as elites brasileiras de boa fé. 


Num Brasil que sempre foi tão desigual é conveniente apontar o dedo para um inimigo único, no caso a elite, mas a pandemia está deixando claro com divisões e conflitos que existem elites de todos tipos, algumas claramente sem qualquer noção de civilidade ou no respeito pela verdadeira coletividade e cidadania. Há as que se arvoram o direito inalienável de impor o que pregam ser o correto para o Brasil, independente da realidade, do custo e das consequências. É urgente que se pare de só dar ouvidos a estes. Brasil é imenso e diverso, o que mais uma vez fica claro pela rápida e ampla reação positiva no enfrentamento dos males causados pelo coronavírus por parte de vários grupos que devem sim ser reconhecidos com elites, o que de fato o são. O que nos falta, ao Brasil brasileiro, é dar-lhes ouvido. Elites diversas já estão a tomar as rédeas e guiar a população para uma saída menos traumática da baderna geral que já tínhamos e está catalisada por esta pandemia. Temos a frente uma realidade onde quem for socialmente honesto, inclusive com os seus, vai deixar de lado diferenças e trabalhar em soluções que sempre existiram, mas geravam discórdia, algumas pesadas, pelas diferenças em detalhes e formas apresentadas. É responsabilidade das elites brasileiras guiar sua população, toda a população, principalmente os mais necessitados, para uma saída. A missão é dificílima, mas factível. O primeiro passo é fazer acreditar que no fim do túnel do isolamento construiremos um país melhor, unido, sem esquecer ninguém. Para isto urge que a elite educada assuma sua responsabilidade primeira de mediação e pacificação. Com passos seguros, as mãos estendidas para a união, o olhar na boa esperança e seus bons resultados, temos uma oportunidade única.

quarta-feira, 22 de abril de 2020

Ouvir a todos, inclusive os que parecem idiotas

Fórum do Leitor 
O Estado de São Paulo

É perceptível que estão todos desnorteados, principalmente os especialistas. As análises estão sendo feitas sobre números macro conhecidos, dentre estes uma visão superficial do Brasil que é 35% ou mais informal, mudam a cada dia. Num caos como o que estamos vivendo é sábio começar ouvir todos, inclusive e principalmente os esquecidos, os ditos inúteis e até os tidos idiotas, que neste país tão desigual são a maioria. Lembro, num único e famoso exemplo, que Einstein era um aluno abaixo da média até em matemática. E se "inúteis" como ele não tivessem sido ouvidos? Os excluídos têm que ser ouvidos não só para dar um norte mais seguro como também para diminuir a tensão geral. Ficar jogado e esquecido numa comunidade, favela ou pocilga recebendo esmola para ficar quieto é degradante. Qualquer acuado uma hora reage para sobreviver. A maioria destes sonha com uma vida melhor; querem respeito, dignidade, inclusão. Não ouvi-los é mais uma vez tentar mata-los por asfixia, o que tem muito para gerar uma grave crise social. Erra feio quem pensa que quem recebe o Bolsa Família vive feliz numa rede sem trabalhar; os números mostram outra realidade bem diversa. Ouvir é o caminho mais simples de mostrar que não somos nós e eles, mas somos um país que juntos queremos encontrar uma saída.

terça-feira, 21 de abril de 2020

responsabilidade das elites

Fórum do Leitor
O Estado de São Paulo

Se os comentaristas políticos tem a informação correta e os militares estão falando em off em não aumentar a pressão sobre Bolsonaro, como aconselharam a Mandeta, então eles estão chamando para si a responsabilidade de qualquer situação extrema que venha envolver o próprio Bolsonaro, que está Presidente, seja uma tentativa de golpe, seja a sua deposição, já que renuncia não ocorrerá. Como a cada palavra de Bolsonaro o cenário está sendo jogado mais para os extremos, pode parecer não haver outras alternativas, já que somos um pais que afaga todas as loucuras com conversas moles e nunca parece ter coragem de dar um basta definitivo. Aqui em casa, no Brasil, ainda acreditamos no jeitinho de contorna qualquer situação empurrando para baixo do tapete a sujeira. Lá fora, principalmente para os que vão financiar a retomada da economia mundial, vai ficar difícil por dinheiro numa república de bananas esquizofrênicas, por mais lindo e apetitoso que seja o bananal.

sexta-feira, 17 de abril de 2020

Bolsonaro e o estrago na imagem do Exército

Fórum do Leitor
O Estado de São Paulo

Bolsonaro e seus seguidores não devem ser vistos como direita, assim como os seguidores de Lula e a ala dura do PT não devem ser considerados esquerda. São populistas, ambos grupos de fanáticos ortodoxos, não raro agem igualzinho. O que está acontecendo no Brasil não tem nada a ver com direita ou esquerda, mas com completa boçalidade. Felizmente Bolsonaro deixou de se insinuar representante dos militares. Militares brasileiros de alta patente, como Mourão, têm uma formação de excelência, principalmente os que passaram pela Escola Superior de Guerra, e de nenhuma forma devem ser misturados com este populismo mequetrefe dito de direita que está aí. O Exército Brasileiro vem cumprindo seu dever constitucional e não se espera outra postura, o que o povo brasileiro reconhece e aplaude, como está demonstrado em pesquisas. Preocupa e muito o estrago que Bolsonaro, Presidente civil, já causou na imagem do Exército.

O pior cenário na guerra e numa pandemia

Quando venta muito forte na Patagônia as pedras voam. A partir de uma certa intensidade de vento os rebanhos de ovelhas se fecham num círculo e as ovelhas mais velhas ou debilitadas formam uma barreira externa para proteger das pedras as mais novas, fêmeas e as mais sadias. Se a ventania for muito forte haverá baixas. Vários são os exemplos na natureza desta organização social "hierárquica". A humanidade existe porque conseguiu se organizar sua própria hierarquia que por sua vez se baseia nos inúmeros exemplos da natureza.
Exércitos são estruturados como uma pirâmide hierárquica, de forma que os comandantes fiquem o mais protegidos possível para poder pensar as estratégias a serem seguidas ou o trabalho a ser realizado. Cai o sistema hierárquico, o coletivo se perde, cai o exército, perde-se a guerra.
Em qualquer guerra a prioridade das prioridades é proteger mulheres, crianças, sábios ou pessoas com capacidades específicas, como médicos, engenheiros, telegrafistas (especialistas em comunicação), cozinheiros, lideres... O resto vai para a luta e se possível volta vivo. Morrer faz parte do jogo de manter as prioridades do coletivo. Não falo nenhuma novidade, a vida é assim.

A sociedade fluida que temos hoje faz com que frente a uma pandemia devastadora como a do Covid 19 preservar qualquer hierarquia seja muito difícil, em algumas situações impossível. Como em qualquer guerra usa se a técnica possível disponível para tentar parar as mortes para só depois ver os estragos. Como numa guerra escolhe-se quem vai e quem fica para preservar o futuro social. Perder uma peça chave sempre é um dos piores estragos.
Mariele Franco estava no topo de uma hierarquia social e sua perda foi um estrago brutal, só para dar um exemplo. Independente da crença e ideologia luta se para não perder a estrutura e o bom funcionamento da hierarquia.

Vamos supor que "deixa morrer, se morrer morreu, esta é a vida". Vamos supor que o Covid 19 vire um massacre aqui no Brasil. Vamos lá, vamos brincar com o macabro, aliás vamos brincar com um cenário que pode se tornar real. Tenho pouco ou nenhum conhecimento sobre análise de cenários, só quero jogar hipóteses. Não vou maneirar nas palavras e ideias, simplesmente vou ser macabro e politicamente incorreto.
Fernando Meirelles disse que se alguém apresentasse o roteiro que o coronavírus Covid 19 nos está impondo ele recusaria por achar completamente sem sentido; e terminou dizendo “a realidade superou a ficção”.
Pois então vamos lá:
  • o maior problema é a perda das melhores cabeças do país, de ficarmos sem comando, de se perder conhecimento, experiências, valores, médicos... A saber, a Argentina teve um empobrecimento brutal porque toda uma geração de argentinos muito bem educados e treinados saíram do país “fugindo” da instabilidade política e social. A geração do meu pai, nascido em 1932 em Buenos Aires, acabou gerando profissionais, administradores, diretores e alguns presidentes de empresas de primeira linha que apresentaram ótimos resultados em todas as partes do mundo, mas não na Argentina. O custo para todos, principalmente os mais pobres, da perda das melhores cabeças é altíssimo. Em qualquer coletivo, animal ou humano, existe hierarquia, estabelecido por algum valor agregado, valido até em sistemas igualitários. Quanto maior ou melhor o valor agregado de um indivíduo mais complicada é a perda dele.
  • o vírus matar os mais velhos é um ótimo negócio para o governo, porque diminuem os problemas futuros no SUS, diminuem as aposentadorias... Assim como o velho morrer pode ser ótimo para os herdeiros. Por outro lado, é ruim para a economia no geral por conta da forma como os idosos gastam seu dinheiro. Para asilos, laboratórios e hospitais é um mau negócio.
  • o lado ruim da velharada morrer é que muita gente, filhos, netos, amigos, que vive pendurada na aposentadoria do idoso vai ficar na rua da amargura. Este é um senhor problema até para a macro economia. Não faz muito tempo as aposentadorias dos ex funcionários públicos representavam uma bela fatia no PIB do Rio de janeiro.
  • idoso é crucial para a transmissão de valores sociais, para estabilidade geral, como ligação com o passado, referência que hoje ninguém duvida fator ser importantíssimo para evitar violência. Vários setores da economia são dependentes de aposentados.
  • quanto mais gente com problemas financeiros mais pressão social, mais violência, mais pobreza, mais doenças... A morte de um provedor é um estrago que extrapola e muito os dependentes diretos.
  • o vírus deve pegar em cheio as favelas, cortiços e todo tipo de residência precária que esteja cheia de gente pobre, menos protegida, o que diminui os custos para o Estado por uma lado, mas diminui também uma mão de obra que é imprescindível para o funcionamento da sociedade, nossa ou qualquer outra.
  • se matar muita gente nas favelas vai fragilizar o poder de negociação dos favelados, o que em muitos casos vai tornar possível retomar a área invadida
  • se diminuir drasticamente o número de habitantes numa favela será mais fácil reorganizar a própria favela, mexendo no urbanismo e acertando o espaço, iluminação e ventilação das residências.
  • vai ser mais fácil retirar invasores de áreas de manancial e recuperar as águas de represas (o que um dia terá que acontecer com ou sem pandemia) 
  • morrem os lideres dos favelados e as negociações de benefícios e melhorias complicam, vão demorar mais ainda, vão ficar mais tensas. Com quem falar? Quem é? O que pensa? Como vai reagir? Qual o nível de liderança? Quem apoia?
  • lembrei do Joãozinho Trinta, que foi um representante e líder importantíssimo e que depois do derrame deixou um vácuo impressionante. Não precisa morrer para causar estrago, basta ficar sequelado, o que vai acontecer aos montes.
  • os higienistas ficarão felizes porque os mendigos, desabrigados e viciados vão desaparecer 
  • Boris Johnson foi tratado em hospital público como qualquer cidadão. E se tivessem que optar entre ele e um cidadão comum, como começa acontecer aqui no Brasil? Qual seria o reflexo social?
  • a população pobre morre aos montes, se sente mais uma vez excluída e se levanta contra a elite
  • antes de se levantar contra a elite ela invade hospitais e agride quem estiver na frente, recepcionistas, enfermeiros, médicos, o que já aconteceu inúmeras vezes
  • saques, roubos, assaltos e assassinatos explodem
  • temos um banho de sangue. O povo decide "perdido por um, perdido por mil" e vai para cima dos que eles consideram os que estão bem, os ricos, funcionários públicos e políticos.
  • a esquerda coloca fogo no circo. A direita já está colocando fogo no circo. Uma outra situação é péssima para todos, inclusive para os sectários. Iniciar uma "revolução" no meio de uma guerra, será que dá certo?
  • Vai ter aproveitadores de todos tipos e formas. Termina-se uma guerra com as coisas mais ou menos sob controle porque os novos jogadores, lideres ou não, de qualquer forma os que fazem diferença, são outros, ou porque a guerra, a carnificina, mudou suas cabeças, ou porque a própria guerra fez surgir novos e desconhecidos lideres. 
  • com o empobrecimento geral as preocupações com o meio ambiente desaparecem. Com a fome o que estiver pela frente vira comida
  • a população no geral, incluindo a elite econômica e cultural, toma vergonha na cara e decide pela primeira vez construir um país de verdade. Para dar resultado babaquices ideológicas precisam ficar para trás, estabelecendo prioridades com ações realistas. 
  • e dai para frente....
  • quase esqueci, presunto por todos lados... tipo Guaiaquil

análise de cenários, inclusive a possível perda de controle

Fórum do Leitor
O Estado de São Paulo

Analisar cenários possíveis é caminho seguro para seguir em frente. Começamos a ver a sociedade olhar para possíveis cenários de retomada econômica e social, mas deveríamos estar pensando na possibilidade de um cenário de perda de controle e termos que encarar o pior possível. O Brasil é há muito um barril de pólvora cercado de incendiários e para aqueles que esperam sempre pelo quanto pior melhor a pandemia se apresenta como uma dádiva. Tudo indica que o próximo passo da pandemia será pegar as populações mais pobres, justamente as que tem menos condição de manter isolamento e que tem sido manipuladas politicamente, tudo o que não é recomendável para a saúde pública, mais ainda, para a estabilidade e paz social. Com a lona do circo já pegando fogo Bolsonaro e seus subordinados estão salvando os palhaços, animais, malabaristas e bilheteria, e deixando por último o público. Todos incendiários se esquecem que para cada vítima do incêndio há uma família e sua comunidade na rua. Povo não é burro nem cordeirinho, muito menos animal de circo. É uma manada que para sobreviver vai se movimentar, não se sabe para que lado, mas com muita força.

terça-feira, 14 de abril de 2020

O custo do nosso eterno desleixo

Fórum do Leitor

O Estado de São Paulo

A ajuda financeira aos mais necessitados não chega porque a coleta, centralização de dados e disposição de informações desta população está incompleta, inexiste, ou os dados não foram cruzados ou não conseguiram cruzá-los ou ainda não houve interesse em cruzá-los. Não se sabe com precisão o número de profissionais da área de saúde porque nunca foram cruzados dados do serviço público com o privado. Matérias de TV e rádio mostram comunidades carentes e favelas que estão se organizando para diminuir o impacto social causado pelo Covid 19 e com isto estão colhendo dados sobre estas populações que são fantasmas perante o poder público. Em ótima entrevista para Rádio Eldorado, Gilson Rodrigues, líder comunitário da favela Paraisópolis, expôs uma série de problemas da relação do poder público com comunidades e favelas de todo Brasil. Chamou a atenção que SAMU não entra na favela e que Paraisópolis tem suas próprias ambulâncias. As razões não foram explicadas, mas mui provavelmente deve ter relação com o emaranhado de leis e burocracias que há muito vem matando lentamente este país. Faltam dados precisos em todas áreas, em todos níveis, em todos setores. Como estabelecer estratégias práticas, funcionais e eficientes num país que ainda não entrou para valer na era digital? Pensadores dizem que crises profundas como esta traz à tona, sem afagos, males das sociedades que estavam sob o tapete. Economistas preveem que os países com alto grau de uso de digitalização e automação vão dar um salto saindo rapidamente do caos causado pelo Covid 19, enquanto países como o Brasil, onde até internet e telefonia ainda são precárias, instáveis, vão sofrer muito e empobrecer. Não fizemos a lição básica no passado de alinhar o país com a mais básica tecnologia existente e isto terá preço. Olhem a fiação pendurada nos postes às pencas que sequer os funcionários das concessionárias sabem qual é e para que serve. Estamos tão atrasados que mesmo os benefícios da qualidade, independentemente do nível da tecnologia usada, qualquer que seja, ainda não nos estão claros. O custo de nosso eterno desleixo será alto.

Bolsonaro, uma inteligência artificial

Fórum do Leitor
O Estado de São Paulo

Até mesmo o mais limitado cidadão sabe da importância da tecnologia digital como facilitador da vida de cada um e de todos. O real poder sempre esteve nas não daqueles que tem e controlam dados e informações, e sabem usa-los a seu bel prazer via tecnologia digital. Bolsonaro mandou ir com calma com o uso da tecnologia e vetou o uso do rastreamento da movimentação da população por celulares oferecida pelas operadoras. E o Ministro da Ciência e Tecnologia deu um passo atrás acatando a ordem. Bolsonaro demonstra mais uma vez sua boçalidade: não lhe caiu a fixa que o rastreamento da movimentação da população tanto pode ser usado para as recomendações do Ministério da Saúde e OMS como para medir o reflexo de suas falas na sua popularidade, com o que realmente está preocupado. A vaidade desenfreada de Bolsonaro e sua frescura soberba de criança mimada pisando em cima de mais um Ministro deixa claro que o Brasil não pode ficar nas mãos de mais uma caneta que acredita poder estocar ventos.

sábado, 11 de abril de 2020

Morrer por coronavírus Covid 19 ou por outra razão qualquer

Recebi pelo Whatsapp um vídeo que mostra um homem pulando de um edifício e suicidando-se. A imagem é pesada e preferi não passa-la para frente. No dia seguinte passei pelo vídeo e me lembrei que tenho dois amigos psicólogos para quem aquela imagem poderia servir para refletir sobre o que estamos passando, transformando-a numa ferramenta de trabalho. Não encaminhei o vídeo com o texto que explicava que aquele homem era dono de uma rede de hotéis nos USA, que havia demitido todos funcionários e que em seguida suicidou-se.
Álvaro, um destes amigos psicólogos, respondeu de imediato com uma mensagem. Wikipedia. Morte: A sua morte, desde sempre envolta em mistério, teria ocorrido durante a tentativa de fuga através dos Pirenéus, quando, em Portbou, foi parado, junto com o seu grupo de refugiados, pela polícia espanhola. Temendo ser entregue à Gestapo, teria cometido o suicídio por overdose de morfina. Tomou pílulas no hotel em que o grupo de judeus que acompanhava a deportação. No dia seguinte, porém, as autoridades espanholas permitiram a passagem do grupo. Álvaro me disse depois, numa ligação, que o suicídio foi desnecessário, que tivesse esperado a situação teria se resolvido, o que também poderia ter acontecido com o dono da rede de hotel. Conversa de quem gosta de olhar para o comportamento humano, nada mais.

Depois de ter visto tanta gente morrendo por perto tive a auto responsabilidade de ler sobre o assunto, o que me ajudou muito, mas não deu uma resposta, sequer uma pista, do por que aqui no Brasil a vida vale tão pouco. Morrer por estas pastagens é trivial. Morre-se, simples assim - quem se importa? É um fator cultural arraigado? Provavelmente. Falta de autoestima? Complexo de vira-lata, como diria Nelson Rodrigues?

A morte começou a virar um problema e ser evitada quando a perda de vidas passou a prejudicar as comunidades ou os bens dos poderosos. Perder vidas numa guerra pode significar perder a guerra. Perder força de trabalho significa produzir menos e diminuir as riquezas do império, reino ou comunidade, o que é um perigo. 
Ou o contrário, deixar morrer por fins políticos ou de poder. Temos um exemplo fácil de entender aqui no Brasil que foi e continua sendo tratado o sertão do nordeste. 
O negócio mais rentável da história foi a escravidão. Era tão rentável que os seguros foram criados em função deste negócio. Pagava-se pelos escravos que morriam durante a viagem. A história do escravagismo, e do valor da vida, mudou quando um navio lotado de escravos foi afundado por seus proprietários que teriam mais lucros com o seguro que com a venda dos escravos. O problema é que um dos escravos sobreviveu para contar a história, que foi a julgamento. E o Inglaterra "passou" a combater o escravagismo.
Cinto de segurança tornou-se obrigatório para diminuir os hospitalizados, assim diminuir os custos da saúde pública. Não sei exatamente se há e qual a relação da história do cinto de segurança com o cálculo de custo de uma vida, que é simples: o estado, leia-se comunidade, aplica muito dinheiro na formação de um cidadão, leia-se trabalhador, professor, médico..., para perde-lo. O custo / benefício não vale a pena. 
Sociedades muito ajustas e certinhas tem um índice alto de suicídio. Eu diria, quem se importa? ou, Importam-se porque? Neste caso a morte é sinal de fracasso coletivo ou uma péssima propaganda?
E aí entramos nas religiões e suas visões de vida e morte, tema para lá de complicado que não ouso entrar. Mas... quero aqui lembrar que céu, purgatório e inferno foi introduzida na liturgia na transição da Idade Média para a Renascença mais olhando o pagamento de impostos, dízimos e outros, do que alma do povo.
Toda morte tem seu preço. Nosso povo não faz ideia de seu valor. E os idiotas que mandam neste país, e incluo todos, principalmente a classe média educada, fazem menos ideia ainda do valor que a vida deve ter até para enriquece-los mais ainda. Usa-se vida e morte com uma displicência boçal. 

Nestes dias de pandemia fico pensando porque o pessoal não está respeitando a quarentena?

sexta-feira, 10 de abril de 2020

Se der certo vai dar errado

Fórum do Leitor
O Estado de São Paulo

Relaxar o isolamento na melhor das hipóteses demonstra o desinteresse ou a ignorância por parte dos mandantes e autoridades pelo que aconteceu e está acontecendo mundo afora, mas não parece tratar-se disto. Tudo indica que a negação da realidade é mais um fruto do puro populismo, mais uma aposta de quanto pior melhor para tirar vantagem própria. Se por uma ironia do destino o Covid 19 não matar como tem feito nos países e localidades que não intensificaram pela quarentena o Brasil correrá o risco de ter populistas heróis o que nos decretará um futuro funesto, aí sim com um empobrecimento lento, doloroso e mortal.

quinta-feira, 9 de abril de 2020

Dois feriados juntos e NY vazia




Esta foto foi tirada na primeira vez que estive em NY, em 1994. Não sou de pedir que me fotografem, não gosto, mas a ocasião foi para lá de especial. Por pura sorte peguei NY completamente vazia, dois feriados juntos, dia do trabalho e o Rosh Hashaná, ano novo judaico. Acordei muito cedo no dia seguinte de meu voo de Amsterdam, sai para tomar o café da manha, andei, andei, andei muito até encontrar um sei lá o que, creio que um mercadinho, aberto onde me serviram ovos com bacon, pão de forma e aquele café americano que faz qualquer um pagar seus pecados. Voltei para o hotel, do qual não tenho boas recordações, achando que as ruas estavam vazias porque era cedo, peguei a bicicleta e fui dono das ruas. As horas passaram e as ruas seguiram vazias. Foi difícil encontrar onde almoçar e depois de muito rodar entrei num McDonald's na 7th Ave. lá pela 28th St. que era um horror, velho, maltratado, com um povo nada amigável, mas era o que tinha e ponto. Só no começo da tarde começou um movimento de carros e pedestres muito tímido, tipo o que estamos vivendo nestes dias de quarentena. Depois de circular por toda Manhattan sul olhando com toda a calma prédios, parques, esculturas, pontes, os rios, algumas vezes parando literalmente no meio de alguma avenida para fotografar ou simplesmente admirar, voltei a contra gosto no começo da noite para meu quarto por conta de caimbras nas pernas. No dia seguinte, sábado, com a cidade estava mais vazia ainda, segui pedalando até que as pernas não aguentaram mais. 

NY daquela época já tinha praticamente conseguido controlar a brutal violência dos anos 70, mas dependendo o lugar o ar ainda incomodava. Fiz a burrice de ficar num hotel na 48th St. com 9th Av, próximo ao Times Square e terminal de ônibus, na época o centro da bagunça para turistas, não necessariamente violenta, mas desagradável. Na bicicleta rodando no asfalto liso e vazio só prazer e tudo mais desaparecia. No sul da ilha três policiais me pararam na entrada do East Village dizendo que não deveria circular por ali. Um deles, de origem latina, quando percebeu meu sotaque perguntou minha origem e quando disse que era brasileiro ele disse rindo "Pode ir, vocês (brasileiros) estão acostumados". De fato, verdade; não vi nada demais, só uma cidade calma. Na TV ouvi de um comentarista que NY estava tão vazia e tranquila que até os ladrões tinham viajado. Foi uma sexta-feira, sábado e domingo dos sonhos de qualquer ciclista, uma NY que está lá, mas difícil de se ver. Quando acordei na segunda o caos tinha voltado com suas buzinas incessantes e gente caminhando apressadas para todos lados. Na 5th Ave com 57th St. vi Robert Plant e Jimmy Page esperando para cruzar a rua como qualquer outro cidadão comum, sem serem abordados. Quase bati na traseira do carro da frente. Mais para frente tive que medir forças com um yellow cab, que teve juízo e me xingando deixou passar. O contraste para os dias de paz foi interessante. Gosto das duas cidades; o zoológico é bem divertido.

Amo cidades vazias. Amaria ter a experiência de pedalar nas cidades europeias que estão em lockdown, completamente vazias. A única que fica um saco é Paris, quem já esteve lá num domingo de feriado sabe disto. É lógico que é muito melhor estar pedalando numa cidade que está vazia e sadia, de preferência com alguns cafés e restaurantes abertos, uma outra pessoa circulando com seus filhos, cachorros, correndo a pé, pedalando ou simplesmente caminhando. Necessidade provavelmente fruto da saturação que temos desta agitação ininterrupta que vivemos. Paz faz bem.

Muita paz, mais assim para completamente morto, é algo estranho. Somos animais e como tal precisamos de ação. Não é muito fácil mudar o ritmo, mais difícil ainda ter que parar por força maior, o famoso “na porrada”. Quando não há outra solução nos resta a ação do pensar, que bem aproveitado é um campo infinito para viajar. Boa viagem!

terça-feira, 7 de abril de 2020

Entre a (com) ciência e a verdade (mentira) própria (ou selfie)

Coloquei os três links abaixo no Facebook, dois textos brilhantes olhando nossas perspectivas futuras e o capítulo do History Guy sobre a história das traduções da Bíblia, que foram várias. Os três estão intimamente ligados e faço questão de deixá-los também neste blog; A escola, a bicicleta e a vida. A escola: educação, formação, respeito pelo conhecimento, aplicação, qualidade. A bicicleta: máquina / veículo de construção / funcionamento muito simples e grande eficiência; responsável por inúmeras revoluções / benefícios para a humanidade e meio ambiente.  E a vida: tema tão vasto, com tantas variantes, mas algo me diz a terra não é plana... 
Juntando tudo com sabedoria funciona. 

O History Guy passa rapidamente pela história da tradução da Bíblia e suas versões, o livro mais vendido e lido da história da humanidade, sem qualquer concorrente.  É impossível falar sobre a vida atual sem entrar ou no mínimo pelo menos tangenciar algum texto bíblico e suas versões, o que gerou vertentes da compreensão da vida. Por uma série de razões, guerras, epidemias, revoluções, pesquisas, a compreensão destas versões e vertentes também foi mudando. Num determinado momento o conhecimento humano se distanciou e até se descolou dos textos sagrados, não só da Bíblia. Isto sem entrar nas possíveis razões pelas quais os textos sagrados foram escritos

Atila Iamarino coloca em sua entrevista algo que está sendo repetido por inúmeros pensadores, especialistas, estudiosos: o mundo que vivíamos até a pandemia não vai existir mais. É uma dedução fácil, a história das grandes guerras e das grandes depressões ensina. Portanto:  
(entre parenteses são comentários meus)

1 – Ame seu negócio, mas não cegamente. ... (Amor cega; razão gera luz)
2 – Não deixe o conhecimento de lado. ... (qualidade sempre é porto seguro)
3 – Chefe, pero no mucho. ... (quanto mais sei mais sei que nada sei)
4 – Você vai precisar de mais dinheiro. ... (there is no free lunch)
5 – Saiba vender seu peixe. (não perca oportunidades, não deixa passar o momento)

O Brasil é um dos países mais empreendedores do mundo. Mas também é um dos países com maior índice de mortalidade de empresas. Temos tempo para pensar e corrigir. Então, o que vai ser?




segunda-feira, 6 de abril de 2020

A reconstrução da vida após a WWII e o que devemos fazer hoje

The London milkman, 1940
Leiteiro trabalhando na Londres bombardeada, Segunda Guerrra Mundial
Começando imediatamente depois da Segunda Guerra Mundial e pelos mais de dois anos depois de terminado o conflito a população alemã se organizou e agiu praticamente sem a presença do estado que estava cuidando de outras coisas, inclusive de se reorganizar. Deve ter acontecido situações semelhantes pelo resto da Europa e do mundo afetado pelo brutal conflito generalizado. A população teve que localizar mortos, amontoá-los, e em muitos casos fazer uma fogueira. Tratar dos feridos, buscar soterrados. Localizar velhos e crianças e acolher. E outras situações imediatas. Fazer a limpeza de montanhas de entulho - literalmente - das ruas para dar fluidez para a chegada de comida, dentre outros essenciais. Tiveram que aprender rapidamente técnicas de contenção de paredes e demolição, fazer a opção correta, iniciar a seleção de materiais aproveitáveis do entulho, separar e estocar o que se podia aproveitar. Aprender técnicas de reconstrução e reconstruir por prioridades: hospitais, cozinhas, abrigos, oficinas, delegacias, o que fosse necessário para dar a partida e recomeçar. Recomeçar! Entrar em acordo com o poder central sobre o que seria restaurado ou reconstruído, como ficaria a cidade, quem fazia o que, estabelecer cronogramas, prioridades, prioridades, prioridades... Durante anos a vida de todos girou em torno de prioridades. Começaram tudo praticamente no dia imediatamente, aliás, começavam a cada momento que paravam os bombardeiros, tiroteios, a guerra. Ninguém teve tempo para ficar pensando pensando, conversando, deixando o tempo passar. A prioridade era a sobrevivência, o se acalmar, pensar, e agir. 


A diferença daquela situação para a que temos hoje é que antes do fim da guerra, do massacre, do inferno, foram dias e mais dias de bombardeamento constante, de um stress brutal, do conviver com cheiro de cadáveres apodrecendo, da fome generalizada, do terror das crianças, de pessoas surtando, do tiroteio... Europeus, asiáticos, africanos, os orientais, boa parte da população do planeta não tiveram um segundo de paz. 
Hoje estamos confinados em casas funcionais, com TV, rádio, telefonia e internet. Temos tempo para pensar, tempo de sobra. O que vamos construir, pergunto novamente?


domingo, 5 de abril de 2020

O futuro do turismo brasileiro e a ajuda do Panrotas

Infelizmente o setor de turismo no Brasil não é grande e forte. 
Felizmente o setor de turismo no Brasil não é grande e forte; ou estaríamos vivendo uma situação dramática de contaminação como estão os grandes destinos de turismo do mundo. Mas temos um país divino e temos que ter um turismo a altura, forte, funcional, de qualidade; e não há alternativa.

Ontem vi o Check Point - Caminhos e Soluções para o Turismo promovido pelo portal do Panrotas com o Ministro de Turismo Marcelo Álvaro Antônio e a participação de Magda Nassar da ABAV, Edu Bernardes da GOL, Guilherme da CVC. Panrotas fez exatamente o que eu acho que se deva fazer em todos setores do Brasil, e que espero que esteja sendo feito. Como escrevi e foi publicado no Fórum do Leitor do Estadão, neste momento de paradeira total temos que aproveitar o tempo para pensar e repensar o Brasil que teremos que reerguer e construir. O ideal seria que o projeto de futuro fosse de conhecimento o mais público possível.  

Turismo foi um dos setores que entraram em coma profundo. É um setor que tem que voltar a funcionar o mais breve possível. Diversão, cultura, e turismo são elementos essenciais para o equilíbrio social, saúde pública e desenvolvimento econômico. Turismo hoje é vital para todos os segmentos sociais. 

Cyclists, early 1900s | On the Toll Bar, Freshwater, Isle of… | FlickrA saber, desde o surgimento dos biciclos e sociáveis a partir de 1870, e logo em seguida com as bicicletas de segurança, que geraram as que temos hoje, turismo entrou para ficar na vida da maioria dos cidadãos, sendo acessível inclusive para as camadas mais pobres da população. A documentação de fugas da cidade, idas ao campo, viagens até com toda família é farta. Talvez não existisse a palavra turismo, mas sua prática passou a ser comum.

Por onde e como recomeçar? Turismo interno não está sozinho. Tem que envolver outros setores da economia e sociedade, num trabalho conjunto para encontrar o bom caminho. A discussão e as proposições tem que ser feitas de forma mais ampla possível e apoiada em números, dados, com um mínimo de precisão, focando na qualidade total. 
Como leigo imagino que o turismo mundial não será o mesmo e aí temos uma incrível oportunidade de reposicionar o Brasil no cenário mundial. Só vai acontecer se aproveitarmos o momento para aprimorar nossas qualidades e acertar erros passados, neste sentido Panrotas acerta iniciando estas conversas públicas.
Pelo jeito o setor, pelo menos o formal, está em sintonia com as autoridades, o que é ótimo. Mas e a informalidade, que deve ser grande? Os nanicos, os pequenos, os não tão organizados e representados, como estão e como vão ficar? Deixar quem esteve junto para trás é um erro, como a história está cansada de provar.
O setor de turismo tem números precisos e seguros sobre o que descrevo no break down a seguir?

Turismo Brasil

  • agências de viagem
  • autônomos
  • informais
  • internet
  • transporte
    • avião
    • ônibus / van / perua
    • trem
    • navio
    • barco
    • helicóptero 
    • aluguel carro
    • carro próprio
    • moto
    • bicicleta
    • a pé
    • outros
    • integração entre transportes
    • estrutura necessária para funcionamento de cada
  • hotéis
    • classificação
      • só por estrelas?
    • tipo
      • urbano
      • rural
      • praia
      • resort
      • bem estar e saúde 
      • esporte
      • aventura
      • hospitalar
      • encontros
      • festas / casamentos
  • hostel / pousadas / bed and breakfast / quartos / outros
    • o que está catalogado ou tem algum controle; quantos
    • o que é formal pela internet / celular, mas é informal; quantos
    • o que é informal; quantos
    • força dos formais
    • força dos informais
  • potencial
    • quantos quartos
    • camas
    • giro de público / turistas 
  • setor industrial
    • lavanderias
    • alimentação
    • manutenção
      • transporte
      • hotelaria
    • vestuário
    • equipamentos
    • pratos, copos, talheres, guardanapos
    • informática
    • agências de propaganda e comunicação
    •  imprensa
  • estrutura urbana 
    • rodoviária
    • aeroporto
    • receptivo / orientação
    • sinalização 
    • panfletos / outros
    • aplicativos
    • existente na internet específico, gerado pelo local ou outros
    • Google e Google Maps e outros
    • qualidade de cada elemento e qualidade geral
    • limpeza
    • segurança
    • capacidade de comunicação da população 
  • serviços locais
    • diretos para o turista
    • indiretos, mas comuns
    • formalidade
    • informalidade
    • desconhecidos, mas existentes?
  • comércio local
    • direto
    • geral
    • informal conhecido - artesanato, por exemplo
    • informal existente, mas...
  • autônomos 
    • diretos
    • indiretos
  • restaurantes e bares
    • diretamente ligados ao turismo
    • indiretamente, mas influenciados
    • não relacionados, mas afetados
  • shows
    • por tamanho
    • por tipo
    • por localidade
    • pela fama
  • convenções
  • trabalho
  • família
  • diversão
    • legal
    • ilegal
  • esportes
    • familiares
    • de competição
    • radicais
    • permanente
    • sazonal
  • outros
trabalho / fluxo de dinheiro
  • quantos trabalham com turismo
    • diretos total e por setor
    •  direto
      • quantos formados
      • qual é o nível de formação
      • quem deu a formação
      • diálogo entre as escolas, setor e poder público nos três níveis
      • ganho por faixa e posição / comparação outros setores / leis
      • qual é o índice de rotatividade dos trabalhadores
      • porque da rotatividade
      • como perenizar  
    • indiretos, mas dependentes
      • nível / qualidade de trabalho
      • formação
    • poder público
      • histórico
      • burocracia
    • carteira assinada
    • autônomo
      • existência perante a lei? 
    • informal
      • % de informais
      • renda
      • vantagem de não pagar impostos
    • variações, imprecisão, distorções
  • quanto ganha por posição
    • tempo de trabalho X ganho
    • capacitação / formação
    • publico alvo
    • valor agregado
  • como estava organizada as estruturas antes do corona
    • formal
    • profissional
    • amador
    • temporária - quebra galho
    • sazonal 
  • empresas
    • nacionais 
    • internacionais
    • conglomerados
    • mistos: locadora + hotel; agência + hotel...
    • por tamanho: individual, pequena, média, grande
    • capacidade financeira
  • sistema de financiamento
    • quem financia
    • como financia 
    • para quem financia
    • número de financiamentos e volume 
  • entidades representativas
    • quantas
    • quem são
    • forma de atuação
    • profissionalismo
    • capacidade de ação
      • perante autoridades
      • no setor - treinamento, orientação
      • entre entidades
      • perante a população
      • força de agrupamento ou política
      • força financeira
      • número de trabalhadores representados
      • grau de influência no periférico
        • número de trabalhadores
        • ganho médio destes trabalhadores 
    • tipo de ação
    • quantas são coletivas e quantas de uma ou duas pessoas só
    • representatividade perante os Governos e Prefeituras
    • entidades representativas oficiais
      • Federal
      • Estadual
      • Prefeitura
      • internacional?
    • nomes
    • localização
    • tamanho e tipo de turismo envolvido
    • reconhecimento 
      • no setor atuante
      • no setor de turismo geral
      • entre autoridades
    • quem ou o que não está atendido ou representado?
  • referências internacionais
    • organismos, entidades
    • empresas símbolo: Disney, por exemplo
    • grau e nível de contribuição, 
    • assessorias 
    • informações e práticas utilizáveis no Brasil
      • razão para sim ou não
      • adaptação
    • existe sistema algo como sistema ISO para turismo?
    • se existe sistema de qualidade para turismo: 
      • como funciona?
      • como está difundido
      • em que nível
      • eficiência 
público turista Brasil
  • turismo interno
    • perfil público
    • % por $ e nível social / educacional
    • como é visto pelo setor viagem de fim de semana / feriado?
    • como é visto pelo setor romarias e outros?
    • Descida da Serra de Santos: 40.000 ciclistas entrando em Santos numa manha?
    • 300.000 em romaria para Aparecida do Norte, 12 de Outubro. 
    • Caminho da Fé, Caminho do Sol, outros Brasil a fora?
    • por tempo de estadia
    • número de dias / mês / ano
    • custo no orçamento pessoal
    • custo comparado com outras opções
    • custo comparado com outros lugares
    • custo comparado com viagem exterior
    • formação do valor agregado das opções
      • distorções
      • fatores culturais por área geográfica: público SP X nordestinos X fazendeiros
      • $ por fator cultural - compras, destinos da moda...
    • por imagem do que espera do lugar
    • por comentários sobre o lugar e estadia
    • imagens reais X falsas
    • excursões
  • turismo externo
    • comparação com turismo interno
    • como é relacionamento do turismo brasileiro com exterior?
      • qualidades 
      • defeitos
      • buracos
      • deficiências dos dois lados
      • particularidades