sábado, 15 de junho de 2019

Pequeno histórico paulistano dos descaminhos do transporte e mobilidades:

Patinete ou no patinete, eis a questão. Minhocão ou não minhocão, eis a questão. Quadro viagens ou duas viagens, eis a questão. Monotrilho ou não monotrilho, eis a questão. Indecisão, eis a questão. 
Não decide quem não sabe sobre o que está falando nem para onde está indo.

Ponto de partida para tentar entender a baderna que vivemos no transporte e mobilidades: A lei diz que a qualidade e manutenção das calçadas é responsabilidade direta do proprietário do lote lindeiro; ou seja, o poder público não está nem aí e calçada é de ninguém. Como definir o que queremos no transporte e mobilidades se sequer entendemos a importância capital de ter calçadas por onde seguir um caminho tranquilo e seguro?

A verdade definitiva é que não temos políticas de estado, aquela que é estabelecida como norte do futuro de nossas vidas. Vamos ao bel prazer dos ventos, sem rumo, sem destino, ao sabor das ondas e marés. No transporte não é diferente, e agora também nas mobilidades. Onde estamos e para onde queremos ir, eis a questão fácil de responder: deste jeito para lugar nenhum. Ou para o abismo. Escolha.

Transporte e principalmente mobilidade depende integralmente do que é e se pretende com a cidade, ou seja, com a vida coletiva. Se inexiste sentido claro sobre o que cada um de nós, como indivíduos, desejamos do coletivo, inexiste uma noção clara e proveitosa sobre o que é rua, bairro, cidade. "A calçada é minha (individual) e faço o que quiser (como o coletivo). O vizinho faça o que quiser, não é meu problema e nem vou falar nada. O poder público não fiscaliza mesmo". Resumo: a cidade não existe.
A reboque da calçada de ninguém vem o direito de ir e vir, liberdade, justiça social, educação e saúde, pontos pacíficos para a construção de um futuro melhor. Vocês tem filhos, netos, sobrinhos...?

Pequeno histórico paulistano dos descaminhos do transporte e mobilidades:

1933 Prestes Maia cria o Plano de Avenidas de São Paulo, propondo derrubar todo Centro e reconstruí-lo com grandes avenidas radiais, um delírio sob inspiração da renovação de Paris de Haussmann em 1852. O projeto de Prestes Maia incluía metro na cidade, que só se tornou realidade a partir de 1968 no Governo Abreu Sodré com início da construção da primeira linha de Metro, ou seja, 35 anos depois. Como detalhe, a estação Sé na época foi considerada um absurdo de grande. Pouco tempo depois de sua inauguração a Sé já estava saturada.
Veja desenhos e explicações em:

1971 Paulo Maluf, que vendia elevados como solução para o trânsito, inaugura o Minhocão. Na época um grupo de urbanistas fez pesadas críticas ao projeto tendo como referências o que estava acontecendo em outras cidades do mundo, mas nem mesmo eles poderiam imaginar o nível de degradação que o Minhocão causaria não só em seu entorno, mas em todo Centro de São Paulo. Maluf até hoje é elogiado por suas obras, mesmo que boa parte delas tenha problemas e se sabe muito dinheiro...

1974 Figueiredo Feraz inicia a construção da "Nova (av) Paulista" criando um boulevard que faria que veículos cruzassem a avenida numa via expressa subterrânea. Também prevista ali a construção de uma linha de metro. Do projeto só restam dois quarteirões mais o cruzamento por baixo da av. Consolação. Tivessem terminado o projeto a interdição da Paulista para a população teria acontecido faz décadas. Mais, o boulevard estimularia mais vida que temos hoje neste ponto central da vida paulistana. http://www.saopauloinfoco.com.br/a-nova-paulista-e-o-calcadao-que-nao-deu-certo/

1974 - 1992 Alguns projetos de ciclovias são criados, mas o único colocado em prática foi o da av. Juscelino Kubistchek que ligava nada a lugar nenhum. Dos projetos que mereceram mais atenção e o único que quase saiu do papel foi a ciclovia de ligação entre o Parque do Ibirapuera e Cidade Universitária da USP passando pela JK. Tanto o alto custo da ponte sobre o rio Pinheiros quanto a confusão jurídica do então Parque do Povo, por onde a ciclovia teria que passar, derrubaram o projeto. Provavelmente na mesma época surgiu a ideia de uma ciclovia acompanhando o rio Pinheiros, mas também pela confusão jurídica de quem manda na área o projeto se arrastou até morrer com a inauguração da ciclovia na outra margem do rio.

1982 Projeto de Viabilização de Bicicletas como Modo de Transporte, Esporte e Lazer para o Estado de São Paulo entra no Programa de Governo Franco Montoro. A proposta prevê desde a reorganização do setor da bicicleta até a melhor forma de fomentar o uso da bicicleta nas cidades, com preocupação com a melhora da qualidade de vida no interno de bairros. Propõe uma base legal tanto no CTB quanto para as questões urbanas e de qualidade da bicicleta. Propõe também um projeto completo para a cidade de São Paulo baseado em longa pesquisa de campo, não só o sistema cicloviário, mas a educação dos ciclistas, correções no setor, leis, metodologia...

1993 é apresentado para a Prefeitura de São Paulo o Projeto de Viabilização com um desenho básico de mais de 250 km de sistema cicloviário que incluiria ciclovias, ciclofaixas e acalmamento de trânsito, sinalização completa, educação dos ciclistas e leis. Covas, o Prefeito, aprova, mas o projeto é duramente rejeitado pela CET SP
1986 Jânio Quadros deforma os corredores de ônibus, projetos e iniciados na gestão Mário Covas, o que causa a completa deterioração das avenidas Santo Amaro e Celso Garcia. O projeto original, aos moldes do bem sucedido sistema de ônibus de Curitiba, previa quatro terminais de integração e a circulação exclusiva de ônibus articulados nestas avenidas. 

1990 Luiza Erundina manda aterrar as obras do boulevard Juscelino Kubistchek iniciadas pelo Prefeito Jânio Quadros. Hoje teríamos duas avenidas importantes abertas para a população, a Paulista e a JK. Enrundina reconhece em entrevista que este foi seu maior erro como Prefeita.

1994 Maluf cria o Projeto Ciclista dentro da Secretaria de Verde e Meio Ambiente comandada por Werner Zulauf. Gunter Bantel é o responsável por tocar o Projeto

2005 Projeto GEF - Banco Mundial para fomento do uso de bicicletas na periferia, para transporte de população trabalhadora de baixa renda. 

2007 Walter Feldman da Secretaria de Esporte e Lazer de São Paulo cria a Ciclo Faixa de Domingo  São Paulo com apoio de Eduardo Jorge da SVMA. O sucesso é imediato.

2007 José Serra, Governador do Estado, cria da ciclovia do rio Pinheiros  

2012 Haddad propõe e entrega mais de 400 km de ciclovias, que na realidade são ciclovias, ciclofaixas e rotas para ciclistas

2017 Dória para todo processo de construção das ciclovias e ciclofaixas para avaliar e reorganizar o processo. Ciclovias ou ciclofaixas ou urgência de um plano diretor para mobilidades?

Planos diretores? Quantos? No que resultaram? Foram respeitados?

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