quinta-feira, 28 de setembro de 2017

A história da humanidade e o paralelo da caça às bruxas

Somos e sempre fomos todos humanos, esta "coisa" não muito dignificante que está, principalmente em países retardados como o nosso. Iguais é o resumo em uma única palavra que se tem da história da humanidade depois que se lê a história real das bruxas, feiticeiras, bruxos e feiticeiros, e variantes. 
Porque se interessar pelo tema "bruxas" é a pergunta que mais ouço, e a resposta é muito simples: é a história (real) de uma pequena, mas importante, parte das mudanças comportamentais rumo ao que hoje chamamos de civilização e sua pretensa liberdade de viver e ser. 
A história é sempre a versão dos vencedores ou os que tem ou estão com o poder na mão. Quando comecei a ler a história da bicicleta descobri não só mais uma história esquecida ou escondida, mas várias versões da mesma história. Bicicleta simplesmente desapareceu, ou esteve desaparecida, da história dos transportes, das mudanças urbanas, comportamentais, esportivas e sociais, em particular no que toca a história das mulheres. Dai foi um passo para ter interesse na história das mulheres, e porque não das bruxas, as diferentes, fora do contexto social. Interessante é que mesmo o pessoal geração Black Sabbath / Ozzy Osbourne se assusta quando digo que estou lendo sobre bruxas. Deveria ser leitura obrigatória - história real embasada em documentos, como deste livro. Pouco a ver com a versão romanceada. Depois da leitura não tenho medo de dizer que gostaríamos de nos transformar em uma sociedade de aquellares. Ou de inquisidores. A saber, doentes mesmo eram os da inquisição e os caçadores de bruxas, como os são hoje que estão ai e me assustam. 
Para quem quer saber a história das mulheres "bruxas" recomendo.






segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Demolição edifícios e entulho

Fórum do Leitor
O Estado de São Paulo

Estão demolindo um grande edifício moderno que fica na esquina das ruas Pirajussara e Gerivatiba, Butantã, provavelmente para a construção de um maior, pois tudo indica que o terreno assim permite.  É fácil vê-lo; é vizinho do edifício da Odebrecht que fica na cabeceira das pontes Bernard Goldfarb e Euzébio Matoso, na Marginal Pinheiros.  Para onde vai toda aquela barbaridade de entulho? Pelo que já foi discretamente anunciado, dado o tamanho do problema, São Paulo não tem mais onde colocar lixo e entulho. No caso de edificações em bom estado, como é o caso desta, não seria ideal que a Administração Pública dificulte demolições desnecessárias e direcione ampliações para soluções inteligentes que gerem o mínimo de entulho possível, exatamente como se tem feito mundo afora? Sai mais barato demolir e reconstruir para quem? Nós, simples mortais paulistanos, pagaremos a longo o prazo outros custos, esteja certo.
O edifício em questão é o da esquerda. 

quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Bicicleta Brasil em filme

Escola Blogspot
20 de Setembro de 2017

Bicicleta Brasil o filme

Ontem, 19 de Setembro de 2017, Renata Falzoni fez a primeira exibição do filme de sua direção e produção "Bicicleta Brasil", documentário sobre a ida pedalando de um grupo de ciclistas em 1998 para Brasília onde entregaram um manifesto pró então novo Código Brasileiro de Trânsito ao Presidente da República Fernando Henrique Cardoso. No código anterior a bicicleta só era citada em placa de proibida a circulação e o CTB que viria (o atual) era um grande avanço. Foi a primeira vez na história que o Palácio do Planalto recebeu ciclistas com suas bicicletas.
O filme Bicicleta Brasil, muito bom por sinal, será exibido no Rio de Janeiro e Salvador, e como aqui após o filme acontecerá um debate sobre a questão da mobilidade com foco especial na bicicleta. 

O debate de ontem só confirmou o que está por aí: até que enfim a palavra de ordem é negociar. Foi-se o tempo da confrontação pura e simples. A fala do Secretário de Transportes do Município de São Paulo, Sérgio Avelleda, foi marcante neste sentido. A plateia de exatas 100 lugares, cheia, estava pouco dividida, pendendo muito mais para os que concordam com "negociar" que os que ainda pensam em algum confronto, aliás mesmo estes bem mais calminhos em suas posições.

No happy hour de quinta-feira passada, cinco dias atrás, promovido pela ABRACICLO no primeiro dia do Shimano Fest (que foi um sucesso absoluto), no meio de algumas conversas falava-se abertamente que o movimento cicloativista paulistano derreteu sob seu próprio fogo. De tudo um pouco: histórias sobre desvios, vaidades, falta de controle emocional, sexo, drogas e rock roll (duvido que rock de qualidade), fanatismo, politicagem, falta de inteligência... Triste, muito triste. Bom, caiu a ficha que a bicicleta precisa de um discurso completamente novo, que chegue e interesse a massa de ciclistas que está rodando abandonada pela cidade.
É fato que mesmo quem esteve no início deste movimento cicloativista, que segundo Renata Falzoni começa para valer em 2008, e que inegavelmente berrou alto e conseguiu espaços importantes, vem aos poucos abandonando o barco, a maioria por desilusão, outros por inteligência. Hoje é fácil encontrar quem fale do passado com um gosto amargo de arrependimento. Triste. Faz parte de um amadurecimento? Pode ser, mas a que custo?

De minha parte não consigo controlar a raiva. Não precisava ser assim, mas como dar bom rumo a uma turba enfurecida e manipulada? Sim, acabei de abrir o dicionário e checar "turba", como normalmente faço com termos mais agudos, e mantenho: turba enfurecida e manipulada. 

A cada passo que a humanidade dá no sentido do radicalismo retrocedemos e perdemos tempo no sentido da realização do sonho de um planeta melhor. Com tantos exemplos que vivemos hoje não fica claro que confrontação é o caminho mais medíocre a seguir? O problema está na forma de colocar boas ideias, que viraram chatas, insistentes, inconvenientes, até repulsivas. Quanto desperdício!


Particularmente não preciso de exemplos da humanidade. Sei muito bem qual é o preço das minhas fúrias e inflexibilidades e me arrependo amargamente de cada uma delas. O uso da bicicleta me trouxe boa parte do pouco bem que aprendi nesta vida. Tudo que eu queria, e sigo querendo, é que a bicicleta leve a sabedoria, inteligência em seu sentido maior, a paz. Infelizmente a vida não acontece como a gente gostaria, principalmente neste país medíocre chamado Brasil. Olho o que está aí e sinto uma dor imensa na alma. Onde errei?

segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Key West, um sonho de biplano e Museu Dali

Key West é um dos lugares mais simpáticos, charmosos, leves, que tive o prazer de estar. Pequena, acolhedora, com um patrimônio histórico singelo, mas de rara força. Mesmo onde é mais turística Key West é agradável, cheia de gente cordial, completo e divino zoológico humano, em grau, gênero e número. Pela posição geográfica e geografia tem nascer e por do sol no mar, espetáculos sempre acompanhados quase religiosa e misticamente por turistas e locais, sempre encerrado com aplausos e preces por mais dias maravilhosos cheios de vida e alegria, o que normalmente acontece.
O mar é quente, limpo, um sonho para quem gosta de nadar. Melhor ainda para quem nunca havia visto um albatroz flutuando tranquilamente tão de perto. O bicho é grande, muito grande, muito maior do que podia imaginar. E infelizmente arisco. Cheguei com toda suavidade a uns 10 metros e ele, muito desconfiado abriu as imensas asas e decolou desengonçado. Um outro passou por cima de mim majestoso e também se foi. Tivesse cagado teria sido bombardeio da Segunda Guerra Mundial, ou coisa parecida.
Pudesse eu voltaria todo ano para carregar a alma em Key West. Me sinto em minhas férias de infância.
Estranho, mas o local parece um paraíso da Huffy, uma marca de bicicleta básica americana que é muito charmosa.

Próximo dali, um pouco antes, na cabeceira norte da Seven Mile Bridge, ponte que já foi cenário de vários filmes, fica Key Marathon e seu pequeno aeroporto, com seu pequeno biplano vermelho com asas amarelas Waco da Overseas Aero Tours - Florida. Soube dele faz muito, mais de duas décadas. Monica Barros chegou contando deliciada sobre a experiência do voo. Desde aquele momento quis ter um encontro com a juventude de meu avô Arturo Raul que voava pilotando seu biplano sobre os campos de La Prata, Argentina. Voltando para Miami vi a placa, entrei no aeroporto, parei próximo ao pequeno e impecável Waco vermelho e amarelo. Sem mais perguntei ao jovem que limpava carinhosamente o aviãozinho quando poderia voar, e recebi um imediato "já". É uma experiência única, uma volta a um tempo de homens destemidos, aventureiros, muitos heróis. Imperdível. É incrivelmente rápida a decolagem, uma pequena acelerada e uns metros a frente suavemente estamos no ar, vento na cara de sua hélice de madeira, o barulho forte do motor. E a paisagem maravilhosa do mar translúcido que vai muito lentamente passando logo ali, um pouco abaixo, com um mar transparente, tartarugas, arraias e tubarões, os maiores e mais visíveis até para quem não vê direito. Escolhi o voo mais longo, mesmo assim me pareceu tão curto. Uma rápida passagem sobre a pequena cidade, uma curva para a esquerda, motor cortado e uma aterrizagem suave e curtíssima, quase como a de um helicóptero. 
Poucas vezes na vida fiquei tão angustiado quanto com a passagem do furacão Irma que pegou em cheio os Keys. O olho do furacão passou praticamente sobre a Seven Mile Bridge, ou seja, quase no aeroporto de Key Marathon. Os estragos nos Keys é imenso. As primeiras fotos de Key West são bem ruins. Esperança é a última que morre e ainda tenho alguma esperança que o patrimônio histórico da cidade tenha sido pouco menos afetado do que tudo indica. Key West que vi é parte de minha vida e não gostaria de ver desintegrada mais uma imagem, como tenho de Guarujá e tantas outras praias daqui.
Mandei uma mensagem no Facebook para o jovem piloto perguntando sobre a família e o aviãozinho. Todos bem. 
Este é o primeiro filme que mostra bem como está Key West, menos assustador do que imaginava, mas mais maltratada do que minha alma infantil desejaria. Incrível, vê-se no filme que as Huffys sobreviveram, submersas, mas inteiras.

Espero que o Furacão Maria, recém nascido e que já ganhou força 5, não passe por lá.

Outra preocupação é com o Museu Salvador Dali em St. Petersburg, http://thedali.org/, uma coleção sem igual deste gênio. Pelo que li e ouvi a construção moderna foi feita para aguentar qualquer coisa. Espero que também o furacão Irma.


terça-feira, 5 de setembro de 2017

Saudades do Brasil

Entramos num posto de gasolina numa estrada de Portugal para tomar um café e descansar um pouco. Passei os olhos nos CDs e lá estava "Carminho canta Tom Jobim". Tom Jobim sempre é bom, mas como será cantado por Carminho? Descobri ser maravilhoso. Carminho é uma das mais respeitadas cantoras portuguesas, canta em cima da partitura, mas por sua formação um fundo gostinho de fado polvilhando Tom Jobim. A densidade resultante é impressionante.
Ouvindo e dirigindo pelas estradas portuguesas, lisas, bem sinalizadas, de belas paisagens, ligando cidades limpas, bem arrumadas, com povo cordial e bem educado, quase tive que parar o carro. Foi duro controlar a emoção, o choro. Não só pela intensidade que as eternas músicas do Tom têm e tomaram com Carminha, mas porque começou a passar um filme sobre o que foi o Brasil Bossa Nova, quais eram nossas perspectivas de então, e no que nos transformamos. Como aquilo deu nisto? Onde foi parar aquele Brasil? Pergunta retumbante.
A saber, faz uns 10 anos fizeram um levantamento sobre quais eram as 10 músicas mais tocadas no planeta e Jobim entra nada mais que com quatro, Garota de Ipanema, Águas de Março, Wave e... e... (não me lembro). Beatles com uma, Elvis uma, etc... uma cada. Aquele Brasil ainda atrasado, terrivelmente desigual, mas menos brutal que o dos dias atuais, foi estupidamente desintegrado, incluindo (e talvez principalmente) sua música. 
Murillo meu irmão um dia perdeu as estribeiras com a pasmaceira de alguns de seus alunos e passou a gritar “Sonhem, sonhem, sonhem!”. Perdemos o sonho, perdemos delírio, perdemos a graça, perdemos a paz, perdemos nosso país, o Brasil brasileiro. Com certeza até mesmo para os mais pobres e sofridos. Tínhamos um absurdo abismo social, mas não uma guerra civil sem sentido até dentro do mesmo nível social, da mesma comunidade, entre irmãos. Pior, virou uma guerra civil politicamente correta, sem dúvida a pior de todas. Dá para acreditar neste país?

Ditado chines: A vida é como as nuvens que passam e nunca mais voltam.

Estou lendo a história (real) de bruxos, feiticeiros e afins. O que arrepia não é a carnificina, famílias inteiras virando churrasco, mas como nestes muitos séculos não mudamos nada.