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20 de Setembro de 2017
Bicicleta Brasil o filme
Ontem, 19 de Setembro de 2017,
Renata Falzoni fez a primeira exibição do filme de sua direção e produção
"Bicicleta Brasil", documentário sobre a ida pedalando de um grupo de
ciclistas em 1998 para Brasília onde entregaram um manifesto pró então novo
Código Brasileiro de Trânsito ao Presidente da República Fernando Henrique
Cardoso. No código anterior a bicicleta só era citada em placa de proibida
a circulação e o CTB que viria (o atual) era um grande avanço. Foi a primeira
vez na história que o Palácio do Planalto recebeu ciclistas com suas
bicicletas.
O filme Bicicleta Brasil, muito bom por sinal, será exibido no Rio de
Janeiro e Salvador, e como aqui após o filme acontecerá um debate sobre a
questão da mobilidade com foco especial na bicicleta.
O debate de ontem só confirmou o que está por aí: até que enfim a palavra
de ordem é negociar. Foi-se o tempo da confrontação pura e simples. A fala do
Secretário de Transportes do Município de São Paulo, Sérgio Avelleda, foi
marcante neste sentido. A plateia de exatas 100 lugares, cheia, estava pouco
dividida, pendendo muito mais para os que concordam com "negociar"
que os que ainda pensam em algum confronto, aliás mesmo estes bem mais
calminhos em suas posições.
No happy hour de quinta-feira passada, cinco dias atrás, promovido
pela ABRACICLO no primeiro dia do Shimano Fest (que foi um sucesso absoluto),
no meio de algumas conversas falava-se abertamente que o movimento
cicloativista paulistano derreteu sob seu próprio fogo. De tudo um pouco:
histórias sobre desvios, vaidades, falta de controle emocional, sexo, drogas e
rock roll (duvido que rock de qualidade), fanatismo, politicagem, falta de
inteligência... Triste, muito triste. Bom, caiu a ficha que a bicicleta
precisa de um discurso completamente novo, que chegue e interesse a massa de
ciclistas que está rodando abandonada pela cidade.
É fato que mesmo quem esteve no início deste movimento cicloativista, que segundo
Renata Falzoni começa para valer em 2008, e que inegavelmente berrou alto e
conseguiu espaços importantes, vem aos poucos abandonando o barco, a maioria por
desilusão, outros por inteligência. Hoje é fácil encontrar quem fale do passado
com um gosto amargo de arrependimento. Triste. Faz parte de um
amadurecimento? Pode ser, mas a que custo?
De minha parte não consigo controlar a raiva. Não precisava ser assim, mas
como dar bom rumo a uma turba enfurecida e manipulada? Sim, acabei de abrir o
dicionário e checar "turba", como normalmente faço com termos mais
agudos, e mantenho: turba enfurecida e manipulada.
A cada passo que a humanidade
dá no sentido do radicalismo retrocedemos e perdemos tempo no sentido da
realização do sonho de um planeta melhor. Com tantos exemplos que vivemos hoje
não fica claro que confrontação é o caminho mais medíocre a seguir? O problema
está na forma de colocar boas ideias, que viraram chatas, insistentes, inconvenientes,
até repulsivas. Quanto desperdício!
Particularmente não preciso de
exemplos da humanidade. Sei muito bem qual é o preço das minhas fúrias e inflexibilidades
e me arrependo amargamente de cada uma delas. O uso da bicicleta me trouxe boa
parte do pouco bem que aprendi nesta vida. Tudo que eu queria, e sigo querendo,
é que a bicicleta leve a sabedoria, inteligência em seu sentido maior, a paz. Infelizmente
a vida não acontece como a gente gostaria, principalmente neste país medíocre chamado
Brasil. Olho o que está aí e sinto uma dor imensa na alma. Onde errei?