Marcelo Mig é um dos ciclistas mais cuidadosos que conheço. Pai, marido, professor de música, ótima pessoa, positivo, tranquilo, tem uma ótima bicicleta, muito bem cuidada, pedala com calma, conhece bem os segredos do trânsito, não entra em conflito... bom, enfim, é um bom ciclista, bom cidadão, excelente exemplo. Sábado me ligou para contar que foi atropelado por um carro num destes cruzamentos de ciclovias em avenida com conversão dos automóveis à esquerda, no caso um dos da avenida Eliseu de Almeida, "minha queridinha", como ele mesmo chama aquela ciclovia.
O acidente: Quando Marcelo chegou no cruzamento parou a bicicleta, viu que tinha um carro já embicado para virar a esquerda com a frente sobre a ciclovia. Mesmo não podendo enxergar o motorista por causa do vidro filmado muito escuro, Marcelo achou que a situação permitiria passar pela frente do carro e foi em frente. Quando estava na frente deste carro foi surpreendido por um segundo carro virando por trás do primeiro para também fazer a conversão a esquerda. Marcelo parou a bicicleta em frente do primeiro carro que se movimentou. Final da história: perna quebrada, 8 dias de hospital e mais um bom tempo de molho.
E história contada, Marcelo perguntou o que eu achava sobre as responsabilidades, dele e do motorista. E respondi "E a responsabilidade da Prefeitura, da CET, do técnicos onde fica?" "Estive pensando nisto" respondeu Marcelo.
Condutores, pedestres, ciclistas, e vergonhosamente jornalistas montam a equação de responsabilidade dos acidentes de trânsito em binários atropelado e atropelador, culpado pelo acidente e vítima, e só em raríssimas exceções citam ou apontam erros técnicos de projeto viário ou sinalização. Técnicos de trânsito continuam belos e formosos, livres de qualquer culpa no nosso genocídio diário.
Eu sou contra o que se está fazendo aqui em São Paulo nas ditas ciclovias porque a quantidade de erro bobos de projeto é muito grande. Alguns erros são gritantes, criminosos, injustificáveis. Dos que chama a atenção e mete medo até nos mais ardorosos defensores das ditas ciclovias é falta de uma linha de retenção nos cruzamentos das ciclovias onde há conversões à esquerda para os automóveis. Absurdo é deixar uma ciclovia de canteiro central praticamente pronta, que imediatamente tem grande movimento de ciclistas, sem nenhuma sinalização nos cruzamentos. Exemplos não faltam: av. Pedroso de Moraes e sua continuação até o Ceasa, o novo trecho da av. Faria Lima e Hélio Pellegrino... Nem gasto meus neurônios para lembrar mais. Não há justificativa para deixar que ciclistas se lancem no cruzamento as cegas e que motoristas não tenham uma sinalização adequada para evitar conflitos ou mesmo acidentes. Saia para a rua e vai descobrir que não está havendo mais acidentes porque os motoristas normalmente colaboram.
Fico triste pela perna do Marcelo Mig e fico feliz que não tenha sido nada mais sério. Poderia ter sido mais um acidente como o da Mariana na av. Faria Lima. É óbvio que a responsabilidade do acidente fatal vai recair sobre a própria Mariana, nunca sobre uma sinalização existente mal colocada, errada, portanto nunca sobre os técnicos. E quando sair o veredito a imprensa vai simplesmente repetir o que está escrito. Medíocre.
Ainda tenho esperança que a turma ativista mude o disco do "depois corrige". Ou tenham coragem de soltar a ladainha para os acidentados e mortos.
Meu caríssimo Marcelo Mig, espero que fique bom logo. Abraço
Seria bom que o CONTRAN começasse a complementar nossa sinalização, incompleta para ciclistas, pedestres e outras mobilidades ativas. Não temos várias sinalizações para ciclistas que a muito são usadas na Europa e Estados Unidos. Não
temos sinalização específica para ciclista na contramão, ou contra-fluxo, as flechas
de direcionamento para ciclistas e pedestres, indicativas de caminhos
diferentes para carros e ciclistas.... Teriam que ser adaptadas para o Brasil, o que não é problema. Problema mesmo é a lentidão, a ineficiência, comprovada do CONTRAN.
Aqui um exemplo do que se tem lá fora.