A execução absurda de Vitor Medrado, que com certeza estava no lugar e momento errado, me tirou fora do ar. Aliás, meio que ainda estou. Este é um exemplo horroroso que jamais gostaria de postar aqui. Doi muito.
"Nesta vida você precisa sorte, competência e estar no lugar certo e hora certa". Verdade verdadeira que já ouvi de vários conhecidos, entrevistados e exemplos. O inverso também vale, e como!
O título deste texto saiu de uma conversa sobre o abençoado que me sinto e sou. Sou de uma das gerações do pós WWII, 1955, que viveram o que de melhor este planeta podia oferecer e o ser humano podia deleitar sem culpa (na época). Mais, nasci classe média alta na América Latina, um dos poucos pedaços deste planeta que não foram afetados pela barbárie dos dois maiores conflitos que este planeta sofreu em sua história. Mais ainda, exatamente por esta distância dos países conflituosos do hemisfério norte, alguns países do hemisfério sul tiveram a grande vantagem de serem fornecedores de alimentos e matérias primas durante e, mais ainda, no imediato pós guerras. Argentina muito em especial e Brasil bem menos. Sou paulista, paulistano, outra sorte, além de tudo tive mais sorte ainda de ter convivido com muitos dos que construíram este país moderno, em vários sentidos, dos ditos de direita, centro e esquerda, intelectuais e outros mais. Posso dizer que, com raríssimas excessões, gente boa, trabalhadora, responsável, civilizada e cidadã.
Hoje deito todos dias e agradeço as bençãos que tive e tenho. Religioso? Não, definitivamente não. Acredito. Yo no creo en brujas, pero que las hay las hay! Ou seja, acredito que tem alguma coisa, uma magia (ou não), um estar no lugar certo na hora certa que é dfinido sei por o que ou quem.
Olhando para meu passado, confesso que não consigo entender como ainda estou vivo, qual é a "benção".: aquilo que vem a calhar, que é oportuno, benéfico, de grande ajuda; bem.
"A tua missão é que define tua sorte". Cuma? Missão? Que missão? MIssão definida pela religião, a igreja, os crentes na fé? Se tenho uma missão nesta vida eu prefiro defini-la no "Yo no creo en brujas, pero que las hay las hay!". Sorte, seria?
Agradeço porque olho para os outros, ou pelo menos procuro olhar e fazer comparações. Confesso que não tenho como agradecer e não tenho como sentir (culpa?) pelos que não são tão agraciados (?) como fui.
Corri uma São Silvestre com costela quebrada. Não ia correr, mas fui tomar um expresso com um tio e vi a largada dos deficientes físicos, como eram conhecidos e chamados então. Passou de tudo. Meu queixo quase caiu vendo aqueles bravos guerreiros da vida, herois, passarem e a pergunta caiu na minha cabeça como uma bomba: Estou com uma única costela quebrada e fazendo cú doce (para correr)? Telefonei para meu médico e ele disse que fora a (discreta) dor, não haveria outros problemas. Lá fui eu. Só de raiva fiz meu melhor tempo. Como meu médico disse, descer a av. Consolação é que seria divertido (bem dolorido), depois esquentava e ia. Fui.
Quantas oportunidades perdi pela vida por não saber avaliar bem? Quantas vezes estive no lugar e hora certa e deixei passar. O simples fato de digitar isto me revira o estômago. Hoje tenho consciência das besteiras sem fim que fiz.
Será que em nossa educação geral somos educados para perceber as oportunidades? Tem alguma forma de se educar para esta sensibilidade?
Um dos fatos que mais me marcaram foi a história da Escola Base. Uma série de informações erradas levaram ao linchamento de seus donos, absolutamente inocentes. Os donos estavam no lugar e momento errados.
Vi e convivi com tristeza pela vida muitos que tiveram a mesma sorte, sorte de urubu (o de baixo caga no de cima), não necessariamente numa situação tão grotesca quanto dos donos inocentes da Escola Base.
Meu pai foi embora deixando para trás uma vida repleta, bem vivida, mas também alguns passivos chatos que nem sei se ele percebeu ou se interessou. As informações que tive sempre me levaram a fazer um juízo. Várias informações e fatos concretos construíram uma história, a dele, e por consequência a minha. E só agora alguns fatos vieram a tona e mostraram que o que se sabia não era bem como se pensava. A história dele não foge a regra geral do que se sabia. Não sabemos nada de ninguém e religiosamente julgamos sem levar em consideração o lugar, o momento e contexto. Acabei descobrindo que parte do que sempre tive como certo sobre ele não era bem assim. Ele foi brilhante no aprovitar as oportunidades que o bom viver lhe deu, o resto talvez tenha sido o resto para ele, nunca saberei, nunca conversamos aberta e honestamente.
O lugar e o momento certos não vem de conversas abertas e honestas, mas da capacidade de julgamento da situação que se vive. Em outras palavras, educação cultura, e uma sensibilidade específica, sem o que não se pode ter uma percepção correta do que está acontencedo e o que dali pode surgir.
Lugar e momento certo em nosso tempo está muito ligado à vitória, ao vencedor. Besteira. Óbvio que tem quem nasça para midas e os nascem para merdas, mesmo sendo competentes. Não tem nada a ver com ser ou não vencedor ou perdedor. Quem ou que se é nesta vida vem sofrendo um julgamento muito muito raso, a beira do estúpido, se não completamente estúpido.
Os grandes fatos históricos vem sendo revisitados, reavaliados e tendo seus fatos colocados nos devidos lugares. Muito dos vencedores (e perdedores) estão sendo reposicionados na ordem dos fatos. Alguns nem mesmo continuam sendo vencedores.
Sorte estar no lugar e momento certo da vida? Não só. Entra neste cálculo muito o fator "quem não chora, não mama" e esforço, persistência. Como sempre ouço: "os chatos conseguem mais fácil". Ou correm atrás de seu lugar e momento. Não é simples assim, pero "no creas solamente en brujerias. Pero que las hay las hay"
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