Estou lendo dois livros em paralelo, "A Última Guerra Europeia" e "a elegância do agora". Está sendo uma experiência muito forte, não raro dolorida.
"A Última Guerra Europeia" de John Lukacs, de 1976, deveria ser leitura obrigatória para toda e qualquer pessoa que saiba o significado da palavra cidadão. Muda completamente a compreensão do que foram os primeiros dois anos da Segunda Guerra Mundial, do que realmente aconteceu, seus fatores humanos, e por conseguinte faz entender quem somos nós hoje. O olhar para a loucura que estamos passando no planeta hoje se abre, fica compreensível. A história se repete em ciclos, e tristemente lá vamos nós. Somos todos humanos, nossos erros se repetem.
Não ter lido "A Última Guerra Europeia" na época de seu lançamento, 1976, foi um crime que cometi para minha inteligência que não consigo digerir bem. Eu teria sido outro pela vida? Não sei. Não sei se teria tido maturidade para entender a extensão do que está ali, mas provavelmente não terminaria o livro impune.
"a elegância do agora" de Costanza Pascolato (até o meio do livro) é uma bofetada no que fui como ser social. Sua leitura tem sido duríssima para mim que fui um personagem socialmente "esquisito", por assim dizer, ou "fora da curva" para suavizar. Fui e sou fora do padrão, ou o que bem entendam, mas a lembrança de minha vida e dos convívios me fazem crer que sou mais assertivo ao dizer que "o Arturo foi esquisito".
Meus pecados sociais foram inúmeros, infinitamente mais que os que gostaria de lembrar. Tenho profunda inveja de quem teve a capacidade de fluir pela vida sem causar espirros de água ou ondas. Não raro fui um mar de ressaca, reconheço com dor.
A maturidade pode ser um milagre. Amadurece quem abre os olhos. Espero que esteja amadurecendo, espero. A dúvida é minha salvação e meu progresso digno. Pelo menos para meus pecados a cada dia tenho os olhos mais abertos, e é óbvio que não posso voltar atrás, mas como gostaria. Aqui se faz, aqui se paga.
Peguei este livro da Costanza Pascolato numa destas casinhas de distribuição de livros que ficam no meio de uma praça. Não peguei para mim, mas para minha neta. Por curiosidade abri e li algumas linhas. De cara numa delas, logo no início, tomei uma tijolada em cheio no meio da minha testa:
Arturo sempre falou alto e forte. A palavra vulgaridade, vulgar, acertou em cheio. Nocaute!
A outra frase deveria ter sido não só o meu norte, mas de todos nós brasileiros. É deprimente este bipolarismo que estamos vivendo, aliás não só no Brasil.
De boas intensões o inferno está cheio. E eu não nego minhas muitas boas intensões, sei bem delas, tenho respeito por elas, mas me sinto no inferno dos que não tiveram cuidado com a forma de fazer as coisas.
Não posso deixar de agradecer à Ida, medalhista olímpica pelo vôlei brasileiro, que me deu sábias palavras sobre o que são e como olhar os nossos erros passados, no caso, uma grande idiotice que fiz na minha adolescência e que veio a tona do nada, por puro acaso. Ironia do destino.
O que quero dizer é que estes dois títulos de livros oferecem um norte sólido para quem deseje ser um ser humano e cidadão melhor.
Recomendo o filme Feitiço do Tempo. Diz muito sobre o que estou falando aqui.
E peço desculpas.