terça-feira, 31 de janeiro de 2023

Calçadas cariocas, calçadas paulistanas, qualidade e pedra portuguesa

SP Reclama
O Estado de São Paulo

Estive no Rio de Janeiro, Leblon e Ipanema, e a qualidade das calçadas é muito boa tendo em vista o que acontece nas cidades brasileiras. No geral sem buracos, arrestas ou irregularidades que possam impedir uma pessoa portadora de necessidade especial de se movimentar, que é o que em último caso realmente define a qualidade de uma calçada. O detalhe é que o calçamento é todo em pedra portuguesa, o mesmo tipo de calçamento que querem tirar do Centro de São Paulo sob alegação que é de baixa qualidade. Estranha alegação. Não viajaram para Portugal ou teriam ficado maravilhados. Se no passado foi possível manter a qualidade do calçamento central de São Paulo em pedra portuguesa por que não se pode mais? O que foi perdido? Por outro lado está claro para os paulistanos que obras e consertos realizados com concreto não são nem sinônimo de qualidade e muito menos de durabilidade. Calçadas bem concretadas ao primeiro trabalho de qualquer prestadora de serviço perdem a uniformidade e lisura tão importantes para pessoas com necessidades especiais. A maioria das rampas de acesso estão aí para quem quiser ver, e é bom que olhem bem para não tropeçar. Abrir um buraco para manutenção no subsolo com pedras portuguesas é muito mais fácil, rápido e menos oneroso. Todos serviços no centro correm por baixo das calçadas.  O que falta à cidade são calceteiros, nome dado à profissão de especialistas em construção e manutenção de calçadas, o que obviamente a administração pública não tem, não se preocupa em ter ou não quer ter. De qualquer forma é incrível que os órgãos públicos de fiscalização ainda não tenham percebido na curta durabilidade do concreto que se está usando em obras públicas. Por que será? As valetas de água em cruzamentos têm durabilidade ridícula, até os motoristas se dão conta.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

Aliás: A mente só aceita aquilo que acredita...

Estadão | Aliás
Por Sibélia Zanon
A mente aceita só aquilo em que acredita, dizem os cientistas

.... "Segundo a neurocientista Claudia Feitosa-Santana, as conversas não ajudam a reduzir a polarização porque as pessoas acham que o diálogo está a serviço de desconstruir o argumento do outro. “A polarização política, da forma como ela é, só ajuda os próprios políticos. Eles conseguem conversar entre si, eles fazem acordos a portas fechadas, o eleitorado não.” Há quem coloque na conta da empatia a solução. Acontece que a empatia, relacionada à verdadeira escuta, custa energia cerebral ou glicose, que é um recurso limitado."
(leitura completa deste artigo absolutamente obrigatória para quem quer pensar nosso tempo, e não só ele)

É uma paulada no meu texto que segue abaixo.
Num dos meus rascunhos que está parado faz tempo neste blog e sobre o qual ainda pretendo trabalhar falo sobre o meu medo de ser prepotente, com título "Tenho medo de ser caga regras". Quando o sou, e tenho o vício que não me larga de sê-lo, converso com meus piores demônios, só eu sei. Escrever foi e continua sendo um santo remédio, mas mesmo tendo melhorado muito ainda tenho um bom caminho pela frente (bom caminho é ótimo! quanto otimismo!). 
Soberba é apavorante. 

repito, leitura obrigatória


Toda história tem uma base, uma fonte e a verdade, ou as verdades, normalmente as verdades. A história é de quem viveu, mesmo assim tem suas distorções. A história particular é de quem está contando ou está interessado nos resultados dela, por qualquer que seja.

Como desmontar e contrapor uma afirmação que é genérica e tem sua base em informações parciais ou falsas? Difícil, muito difícil. "A mente só aceita aquilo que acredita..."
Numa destas trocas de mensagens li o que não me parece realista, mas tive a sabedoria de não responder.

A afirmação é que pessoas que são atendidas pela assistência social na Europa afirmam que há uma estreita ligação da esquerda com o narcotráfico e que eles, esquerda ligada ao narcotráfico, vão tomar o Brasil, como estão fazendo com toda América do Sul, e implantar o comunismo.
Será?
Coisa de bolsonarista? A pessoa diz que não, que tem base no que ouve em seu próprio trabalho ligado à assistência social.

A primeira coisa que pensei para contrapor a mensagem foi dar números, estatísticas. Forma de pensar pragmática que foi usada para desmontar afirmações que eu estava fazendo. Gostei do método, mas... 
A resposta ficaria muito longa numa mensagem, a bem da verdade aqui também, mas vamos lá:

Vamos supor que um assistente social trabalhe 8 horas por dia, 5 dias e meio (sábado) dias por semana, 50 semanas por ano (3 semanas de férias) = 2.200 horas / horas / ano.
Vou colocar que o assistente social tenha trabalhado 30 anos dando um atendimento por hora, então teríamos 66.000 atendimentos / hora / ano. 
Se as falas de todos atendidos são muito parecidas então é muito provável que seja verdade, mas... 

Numa conversa sobre a mensagem recebida foi feita uma sutil insinuação que estas pessoas que pedem ajuda lá fora vêm de favelas.

Número aproximado de favelados:
Rio de Janeiro 1.400.000 favelados na cidade e 1.700.000 na região metropolitana
São Paulo 2.000.000 favelados
Brasil 17.0 milhões de favelados
Cruzando os números temos:
Cálculo percentual de atendimentos / ano. Para simplificar a conta arredondo os números
Supondo que o assistente social consiga fazer 2.500 atendimentos / ano por alto
2.500 percentual de 1.700.000 = 0,0015 da população favelada do Rio
2.500 percentual de 2.000.000 = 0,00125 da população favelada de São Paulo
2.500 percentual de 17.000.000 = 0,00015 da população favelada do Brasil
É um percentual bem baixo e seleto, voltado para uma realidade específica.

Em pesquisa de mercado quando se chega a um determinado número de entrevistados, que não raro gira em torno dos 2.500, os dados coletados convergem para as mesmas respostas. Quando se chega a menos de 5% de variação nas respostas a pesquisa ganha estabilidade, ou seja, se continuarem entrevistando ad infinito o resultado praticamente não se altera. Ao alcançar este ponto é encerrada a pesquisa, daí o índice de variação para mais ou para menos de 3% que dizem depois de dar os números da pesquisa.

Um dos meus livros prediletos é "Como mentir com estatística". O título diz tudo. É preciso conhecimento e treinamento para ler estatísticas ou você é levado a conclusões pouco confiáveis. Assim como é preciso técnicas e treinamento para ouvir e entender o que outro realmente está dizendo ou a conclusão não será apurada.
"A mente aceita só aquilo em que acredita, dizem os cientistas."

Não é novidade que o Poder Público brasileiro está pouco presente em favelas e comunidades e que neste caso o poder acaba na mão da ilegalidade. É de notório conhecimento público que o tráfico tomou boa parte das favelas, repito: boa parte, mas não só eles, também os milicianos, um problema tão grave quanto se não pior em certos casos.
Mas fica a pergunta: será uma verdade tão simples assim? As razões para a violência termina aí? 

Dois:
A afirmação que o narcotráfico está intimamente ligado a esquerda deixa de lado um pequeno detalhe: dinheiro, investimento, jogo pesadíssimo. "Siga o dinheiro" esta afirmação foi deixada de lado. Quem financia? De onde vem o dinheiro? Como circula?

Colômbia é o exemplo mais fácil de narcotráfico ligado com a esquerda. Será a guerrilha colombiana realmente é de esquerda, ou comunista? Quem financia a guerrilha, Coreia do Norte, Cuba? Ou os partidos da esquerda internacional, os ditos comunistas? Pergunta: esquerda é igual a comunista, é simples assim? São a mesma coisa?
A pergunta que não quer calar é qual é a vantagem política da ligação a esquerda, os comunistas, com o narcotráfico ligado à guerrilha? Ter dinheiro para a causa? Se a causa é humanitária, de justiça social, não será muito mais fácil, rápido e menos custoso a esquerda simplesmente cooptar a população operária, pobre e miserável? Ou, de novo, é "busines"?

Qual a vantagem para o tráfico?
Com o brutal lucro que o narcotráfico tem será que eles precisam apoiar ideologias? Qual o lucro que o narcotráfico tira em apoiar a esquerda? Lucro não é capitalista segundo a esquerda? Faz sentido meter um negócio altamente lucrativo num sistema comunista? Se dá tanto lucro será que não interessa aos capitalistas selvagens?

Supondo que o comunismo entre aqui no Brasil; você realmente acredita que os comunistas vão entrar nas favelas e vão acabar com os pancadões? Acredita que vão pegar todo funkeiro e rapper, aqueles ouvem aquelas músicas imperialistas, e prender todos, mandar para uma Nova Sibéria? Acredita que vão controlar a cerveja em uma latinha por semana pega depois de uma fila de duas horas? Vão fechar todas as igrejas messiânicas deste país com aplauso geral e irrestrito? Vão proibir o carnaval? Não sei porque acho que não vai dar certo, que não vão conseguir, posso estar errado, mas acho que não vai dar. Mas... já sei, eles vão pegar só o pessoal com dinheiro deixando livre, leve e solto os resto. Vai firme!

Brasil é a maior economia da América Latina, o Estado de São Paulo é a segunda, e a São Paulo, cidade, é a terceira. Só para ter ideia da pequena diferença, São Paulo, a cidade, tem PIB US$ 200 bi maior que a Venezuela. Você acredita mesmo que até os de esquerda vão por a perder a galinha, melhor, as galinhas dos ovos de ouro? É mesmo? Vai nesta!
"It's the economy, stupid!" - James Carvalle, assessor de Bill Clinton, 1992

"A mente aceita só aquilo em que acredita, dizem os cientistas." Olhando no espelho afirmo que eles estão absolutamente corretos. 

domingo, 22 de janeiro de 2023

Quebradeira nos Três Poderes: tem que pagar até o último centavo como exemplo

Fórum do Leitor
O Estado de São Paulo

Aqui no Brasil vi raríssimas ocasiões, raríssimas, nas quais alguém pagou por danos causados a qualquer bem público, por mais patente que fosse a responsabilidade do autor. O exemplo mais básico e até cotidiano pode ser um sujeito bêbado que dirigindo um carro caindo aos pedaços (literalmente), com todos impostos atrasados, cheio de multas, documentação irregular, derruba postes, muro e um ponto de ônibus dos grandes com cobertura, para uma das avenidas mais importantes de São Paulo (Santo Amaro, se não me falha a memória) com um custo brutal para a economia, e sai livre, leve e pronto para outro acidente bêbado. Exemplos de destruição e barbárie contra bens públicos são inumeráveis e triviais, assim como nunca se ter notícia sobre o seu ressarcimento. Ressarcimento pleno? Este nunca ouvi. Espero que seja diferente nesta imbecil depredação nos Três Poderes não só pela importância do que foi quebrado e a prova cabal de quem quebrou, mas porque definirá com clareza a diferença entre um governo com o devido e necessário forte viés social ou afeito a populismo barato. Os responsáveis por cada um dos bens quebrados está gravado e tem sua culpa inequívoca registrada pelas imagens. É de obrigação do Poder Público cobrar de cada um daqueles responsáveis até o último centavo os estragos causados ou no mínimo o mesmo Poder Público estará dando esmola com dinheiro alheio, ou seja, com o nosso dinheiro, o dinheiro público. Democracia demanda responsabilidade, deveres e direitos; justiça social mais ainda. Se não for dado o exemplo forte e inequívoco aproveitando a deprimente ocasião nossas escolas públicas continuarão sendo violentamente depredadas, como o exemplo mais gritante de infinitos outros dramas que nos assolam diariamente. Os que quebram, depredam, vandalizam são dos piores inimigos principalmente dos pobres e mais necessitados. O Poder Público e a Justiça tem que dar exemplo e ensinar às gerações futuras quais são os limites intransponíveis, o cuidado e respeito ao bem público tem que ser tomado como a base disto. Se isto não acontecer estará definido o Brasil que continuará.

terça-feira, 17 de janeiro de 2023

Acessos, saídas e malfeitos nas ciclovias do rio Pinheiros

SP Reclama
O Estado de São Paulo

Adianta reclamar sobre o absurdo que é o acesso provisório (?) por escadaria para ciclovia rio Pinheiros na Ponte Cidade Jardim? Ninguém reclama. Até parece fazer parte da diversão e esporte sadios enfrentar o caos que se forma ali, carregar a bicicleta para cima e para baixo com risco de queda e incomodar pedestres. Em fim de semana ensolarado é um espetáculo deprimente, lotado, caótico. Um pouco menos problemático em dias de semana quando a escadaria é bem acessada principalmente por ciclistas trabalhadores. A escadaria fica no meio da ponte, a calçada da ponte é estreita, os pedestres que se espremam para os ciclistas passarem. Domingo nem isto conseguem, impossível caminhar lá. No outro trecho de ciclovia, na outra margem do rio, o mesmo problema se dava na Ponte Cidade Universitária até bem pouco; agora foi alargada a calçada. Próximo a Ponte Jaguaré esteve largada sob a grama, chuva e sol uma passarela desmontada que deveria ter feito a ligação com o Parque Villa Lobos. Sumiu. Finalmente foi concretando o que parece ser a base para a instalação da passarela que segundo funcionários não será mais aquela que durante tanto tempo esteve abandonada. "Não servia para mais nada" disseram. As antigas pontes em arco de concreto que poderiam unir as ciclovias das duas margens estão largadas deteriorando e segundo apurei não serão utilizadas sob a alegação de problemas estruturais, o que guardo o direito de duvidar e tenho várias boas razões para tanto.
O rio Pinheiros e suas ciclovias estão sob concessão e é possível ver que tudo está melhorando, o que não justifica erros grosseiros vindos de longa data, desperdício de dinheiro ou bens públicos, o que em última estância é tudo aquilo. Por outro lado é literalmente inacreditável que todos cidadãos que aproveitam o novo parque e suas ciclovias achem tudo normal e não se manifestem. É difícil acreditar que vamos construir um país, ter uma vida melhor para todos, com tanta displicência com tudo. Responsabilizar as autoridades? Devíamos primeiro olhar-nos no espelho.

O ESG da Americanas e dos brasileiros

Fórum do Leitor
O Estado de São Paulo

A barbaridade que aconteceu com a Americanas pode e deve servir de reflexão para o conturbado Brasil que temos hoje. Todos artigos sobre o desastre (?) de 20 bi apontam até aqui que se deve a erro de governança, um dos pilares do ESG. Enviroment, Social, Governance vem sendo visto como um dos melhores caminhos para a saída dos males do planeta e porque não dizer nossa sobrevivência. "Se não sabem ler e entender como vão garantir que as respostas (às demandas) sejam corretas" disse um amigo com razão. As dificuldades que vivemos decorrem de uma leitura rápida, inconsistente e viciada dos fatos. É impossível pensar direito, ampliar horizontes e gerar respostas frutíferas quando mal se sabe ler, e não me refiro aqui só aos iletrados, mas também aos brasileiros mui bem educados. Meio ambiente não é só e simplesmente arvorezinha e bichinho, social não diz respeito exclusivamente aos excluídos e governança..., bom, governança... esta perdemos a noção do que seja. A discussão que temos que enfrentar não é vertical nem horizontal, mas transversal, e este "transversal" tem zero de ideologia como vão ler alguns, mas é absolutamente de ordem pragmática, a única saída. O caso Americanas deve servir de exemplo não só para não se repetir em empresas, mas em tudo. Afinal, não haverá uma sutil semelhança entre a depredação dos Três Poderes e a Americanas?

terça-feira, 10 de janeiro de 2023

Sobre a tentativa de golpe: depredação é nosso trivial

Fórum do Leitor
O Estado de São Paulo
10 de janeiro de 2023

As imagens das invasões nós Três Poderes em Brasília repetem a sandice que ocorreu nos EUA. Além da tentativa de golpe, já previsível por sinal, há a depredação de um patrimônio arquitetônico e histórico do Brasil e patrimônio cultural da humanidade...
Escrevi estas linhas enquanto via as imagens horrorosas pela TV dos bolsonaristas depredando os palácios. Com estômago revirado não consegui continuar

Tive uma discussão pesada sobre a diferença dos estragos causados pela turba aqui e lá em Washington. Na época da invasão trumpista vi e revi as imagens do quebra-quebra selvagem no Congresso Americano, computadores e móveis quebrados, gavetas arrancadas, papeis pelo chão, cadeiras e mesas caídas, umas poucas quebradas, mas não me lembro de ter visto o nível de depredação que tivemos aqui. Mesmo no meio daquela baderna furiosa os invasores tiveram uma distinção do que era "americano", do que é bem público, de qual o limite para a fúria. Em Brasília os imbecis destruíram tudo o que viram pela frente, sem distinção do que é "brasileiro", de todos, portanto deles, idiotas, também. A significação disto tem que ser refletida porque traz consigo muito mais informação sobre que país é este do que a princípio se imagina ou se quer falar. Brasileiro não sabe o que é um país, o que é uma nação, não reconhece o que foi construído por todos, o que é de todos, o que pertence ao povo brasileiro, independe de qualquer ideologia, raça, religião ou o que quer que seja. Derrubar o poder constituído é uma coisa, vandalizar bens públicos como se este fosse o inimigo é outra completamente diferente, a bem da verdade vários passos atrás. A depredação generalizada de tudo que é público e comum que o diga. O que ocorreu na Praça dos Três Poderes é o nosso trivial.

sábado, 7 de janeiro de 2023

E se tivéssemos entrado em guerra civil? (Ucrânia - breakdown)

Como seria se o Brasil caísse na guerra civil que imaginavam, pretendiam, desejavam alguns e preocupou tantos? O que você faria se sua cidade entrasse em colapso? Como sobreviveria, como conseguiria comida, água e outros itens os mais básicos possíveis? Como cuidaria da segurança sua e dos seus? Não preciso ir tão longe; o que você deve fazer se estiver com sua família no meio de um tiroteio com fuzis? O que faz se errar o caminho e entrar numa favela a noite com seu carro? O que faria numa enchente, desmoronamento, tornado, ou em qualquer situação sobre a qual não tivesse controle? 
Perguntas mais bestas? A temporada de enchentes começou em Santa Catarina e Blumenau já submergiu. Aqui em São Paulo Socorro também inundou. Os catarinos estão acostumados (?!?) e aprenderam a lidar com a situação, assim como tem muito carioca que se acostumou com tiroteio, mas e nós que vivemos nesta aparente tranquilidade?

Como você lida com a queda da Internet? E se cair por mais de 10 minutos? Ficar instável? Situação besta que já leva ao chilique muita gente, muita gente.

Estamos doutrinados para o marasmo, a vida na alegria, as coisas fáceis na mão. Não somos treinados para controlar situações adversas. Você já participou de algum treinamento dos bombeiros para situações de incêndio? 

Um dos livros que ainda procuro para ler é como sobreviver numa situação de caos completo, como está vivenciando a população no meio da guerra na Ucrânia. Consegui um livro que conta a história do que foi para a população europeia civil viver durante e depois da II Guerra Mundial e acho que vou pega-lo hoje. Não faço ideia do que me aguarda. 

Por que pensar no pior? Não, a ideia não é esta.
Definitivamente não sou neurótico, paranoico ou apavorado, simplesmente acho que situações anormais podem fazer, melhor, fazem parte da vida e é bom ter pelo menos uma noção de como lidar com elas. E não tenho a menor sombra de dúvida que aprender técnicas avançadas ou extremas faz com que a gente tenha mais controle nas coisas mais triviais do dia a dia.

Absolutamente ninguém sabe ao certo o que vem pela frente, mas todos sabem que tocar a vida não vai ser a moleza que vivemos hoje. Este meio século pós II Guerra Mundial foram os mais leves, os mais fáceis de viver da história da humanidade até mesmo para os mais pobres e necessitados; não sou quem diz, mas historiadores e especialistas. 
Saber além, ter conhecimento mais aprofundado, sempre é muito melhor que ser pego de calças abaixadas.

Lembrei de uma história que vai quebrar o clima aqui. Tínhamos voltado da praia, Tina pediu para ser a primeira a tomar banho, ficamos todos na sala. Pouco depois ouvimos urros desesperados de Tina que entra correndo na sala completamente nua e apavorada. Minha irmã a cobriu com sua tanga e meu irmão foi ver o que a tinha apavorado. Ela sentou na privada sem ver que tinha uma perereca que pulou e grudou na bunda dela. A situação gerou gargalhadas por todo dia, nada mais. 
Quantas pessoas tem pavor de barata, rato, cobra...? Tina não tinha medo de sapos ou pererecas, mas foi pega desprevenida, saiu correndo e gritou. Numa situação de real emergência teria sido o primeiro passo para aumentar as consequências do acidente. Sair correndo de um bujão de gás pegando fogo só aumenta os riscos de um acidente grave. Um simples pano de chão molhado resolve o problema, basta joga-lo sobre o fogo, simples assim. Já passei por esta situação, fugiram gritando todos, exceto um metalúrgico treinado para este tipo de incêndio.

Quando falo em saber lidar com situações extremas e sobrevivência não falo em virar um Rambo, Tarzan, super-herói, pegar em armas, sair atirando, virar um personagem de filme de ação de Hollywood, mas conhecer técnicas básicas que podem ajudar hoje, agora, já, no dia a dia. Conhecer o básico é ter posicionamentos de vida mais práticos, a pensar estratégias de ação no dia a dia em bases mais solidas, organizar as atividades de maneira mais produtiva; e numa eventualidade excepcional ter uma ideia de como agir.

Meus netos não são meus netos, são agregados, netos de coração. Não tenho poder legal sobre eles, se o tivesse eu os faria, no mínimo, fazer um intercâmbio com um favelado, eles lá, o favelado cá, ou quem sabe manda-los para a periferia do Rio, antes ou depois de um intercâmbio internacional, não sei bem, para entenderem é o que o "real life". E ainda procuro um livro sobre procedimentos básicos de sobrevivência em conflitos.
Outro dia conversando com Tereza sobre netos ponderamos o que os prepararia melhor, se uma vida de boa qualidade ao estilo classe média chuchu beleza ou que se virem a partir (de praticamente) zero. Fato é que a concorrência que eles vão enfrentar daqui para frente será brutal e que ficar indo do condomínio fechado para a escola particular com segurança, dali para o shopping, de lá para o clube, de volta para casa para o game e o celular..., enfim, ficar na vidinha de classe média pode não ser um tiro nos dois pés juntos.
Educação, vivência e treinamento: uma dá as bases, viver mostra a realidade, treinamento limpa ou minimiza os erros; vale para os esportes, vale para a vida, vale para a responsabilidade coletiva, vale para a sobrevivência.
 
Bem no comecinho desta guerra estúpida na Ucrânia coloquei no papel um breakdown com pontos que me vieram à cabeça de bate pronto. Passado todo este tempo de barbáries tenho certeza que jamais conseguiria e ainda não consigo ter um olhar minimamente inteligente sobre a devastação que vem acontecendo e sobre a loucura que a vida de todos, os que fugiram e os que ficaram, está sendo. A pergunta que me faço é o que faria para proteger os meus e sobreviver.

notícia
tomar conhecimento dos fatos em várias fontes
tentar checar os fatos
dialogar, saber como estão os outros,os vizinhos, parentes, o que pretendem
acalmar, pensar alternativas, 
se possível dividir opiniões, ouvir os outros, anotar, trabalhar em conjunto, em grupo 
ver os buracos do que foi colocado, o que não faz sentido, do que foi dito e pensado - colocar no papel
se possível parar por um tempo, guardar distância e tentar desligar

rádio de pilha  
lanterna de pilha
e muitas pilhas

ouça, veja, sinta
prestar atenção nos animais e pássaros 
olhar nuvens

tempo do som - 337 m a cada segundo; 1.000 metros = 3 segundos

óculos e óculos reserva

preparar o local onde está ficando ou saindo 
o que é necessário e o que dispensável
onde colocar cada uma das coisas necessárias ou não - perto da porta?
não misturar 
caso esteja em grupo definir tarefas e objetivos 

quanto tempo de reação e início de ação
organizar a saída, necessário e não necessário - estrito necessário
antes de começar agir, olhar, respirar, pensar, revisar
sair ou ficar?
do lado de fora repassar tudo - o famoso "não esqueci nada?"
(procedimentos que se deve fazer antes de uma viagem de férias, mas poucos de nós fazemos)

mínimo necessário
básico de sobrevivência
água, comida, remédios básicos, higiene
roupas próprias para a situação, cobertores, capa chuva...
 

olhar para os seus
levar em consideração habilidades específicas de cada um
sentir, acalmar, ponderar individualmente
prioridades: quem vive, quem sobrevive, quem vai primeiro, quem leva o que...
quem não consegue  

quem vai junto
o que vai junto
porque vai junto
quantos vão juntos
perfil de cada um 
quem é independente, quem é dependente

dar conhecimento sobre o que o espera
orientar sobre o que é real e o que fantasia

a caminho
respirar, baixar a ansiedade
pensar próximo passo
quem está junto, como anda, como está a cabeça
olhar a paisagem - ver as pessoas - procurar informações não faladas
condições meteorológicas
tempo de viagem, distância, condições do caminho
condição emocional dos outros

em que estágio estavam as economias de Ucrânia e Rússia?
pobreza 
cidades
periferias
estabilidade social
projetos de transformação dos espaços públicos e privados
transportes
aquecimento
meio ambiente
distribuição alimentos
educação
crianças / jovens / adultos / idosos / deficientes
homens / mulheres / outros
estabilidade emocional agora > tempo de perda de estabilidade
efeitos psicológicos da pandemia
efeitos psicológicos das notícias / realidade
estar acostumado a tudo fácil > reação aos tempos de privação
corrupção
força pública
governos / prefeituras
gabinetes de guerra / urgência

quinta-feira, 5 de janeiro de 2023

Justiça, o correto, e atitude da população

Fórum do Leitor
O Estado de São Paulo

A desconfiança generalizada sobre nossa justiça tem como base o aceitar convenientemente injustiças e ilegalidades em causa própria, nosso telhado de vidro de cada dia. O título de uma notícia velha que pipocou no meu celular pode ser tomado como uma ótima referência: "'Não podem massacrar como estão fazendo', diz a mãe de aluna que gastou R$13mil que eram da própria turma da UFSM (Universidade Federal de Santa Maria)". A aluna em questão usou a arrecadação para a festa de formatura de sua classe com gastos pessoais, segundo a justificativa da mãe "(dinheiro gasto) em parte com alimentação de sua família (provavelmente mãe incluída)". Ainda segundo a reportagem do Diário de Santa Maria a mãe afirmou que "Já depositamos R$ 1mil e a gente vai pagar, mas do jeito que a gente pode"; traduzindo toda história - que se dane os prejudicados, eles não têm o direito de ficarem furiosos. Até entendo a situação e o posicionamento dos pais, entendo também que não tenham como pagar, mas está aí um bom exemplo do fenômeno generalizado deste Brasil que contamina, distorce e esculhamba o conceito de como vemos justiça. O justo vai muito além do cumprimento das leis. O bem deve ser praticado por todos e para todos, não quando em benefício próprio. Primeiro eu? E os meus direitos? Pequenos deslizes? É comum não reagir e acomodar pequenos deslizes, ilegalidades ditas menores, sem importância, mesmo quando praticadas por outros. É geral a acomodação do que possa criar constrangimento por menor que seja. Nem pense em repreender quem joga lixo no chão das ruas; provavelmente ouvirá impropérios furiosos. Políticos, juízes, autoridades, servidores públicos, são tão brasileiros como qualquer um de nós, ou seja, são voz comum, o reflexo de um todo. Os problemas da nossa justiça e que são acusados pela população no geral, algo que se espalha pelo país, tem nome: o mais puro e brasileiro corporativismo praticado por todos de todas espécies e gêneros. Eu calo, tu calas, ele cala, nós calamos, mas sem sombra de dúvida vós sois culpado e eles são culpados; incluindo aí o dedo em riste para dizer que a culpa é da Justiça no Brasil que não funciona e eu sou bonzinho e não tenho nada a ver com isto.