sábado, 30 de dezembro de 2023

Feliz Ano Novo

E vou desejar o que? Que o 2024 seja uma merda? A bem da verdade nem para os inimigos; seria de uma burrice extrema.

Então vou passar num réveillon, que gosto tanto que sei lá como se escreve? Felizmente não. Acho um porre. Não gosto de champagne, que na verdade é um frisante, portanto a festa já começa com uma meia verdade. Sinto dores no ouvido quando os convivas desandam a cantar "Feliz Ano Novo, adeus ano velho...". Os abraços... ai! os abraços, a maioria é sincera, deliciosa, mas tem alguns que mesmo que tente disfarçar saem rápidos, só encostados, desfazendose o mais rapidamente possível. Como é bom dar um abraço apertado, daqueles que grudam, e como é difícil ser cínico nesta hora, do abraço. Não dá para disfarçar, principalmente quando o próximo será para valer.

De vez em quando a gente comete deslizes que caem na mais explícita sinceridade. Na fila de cumprimentos de uma missa de sétimo dia dei um beijo triste na viúva e olhando nos olhos dela dei o parabéns, o que gerou um sincero sorriso de "acertou na mosca" com uma contenção providencial de uma gargalhada de desabafo, porque não dizer alegria. O finado pelo jeito estava mais para defunto, e pelo esforço da viúva em manter-se dentro dos ditames sociais, eu diria que o desejo não era só dela, mas de muitos que ali estavam, que o teriam chamado sem constrangimento de presunto, e se fosse defumado já iria queimando para o inferno. De qualquer forma o que estava atrás de mim na fila de cumprimentos riu baixinho de minha suposta gafe e um pouco mais a frente desfez meu mal estar segurando meu braço e falando em voz bem audível: Foi tarde! Pena que não tenha ido muito antes!

2023 não foi tão ruim assim. Foi um tanto atropelado. Quando me dei conta já era Natal. E não só eu, um monte de gente viu o calendário voar. Como assim, Natal? talvez tenha sido a conversa mais frequente nestes últimos dias. Não é o caso de se olhar para o ano que se vai como um presunto, nem como um defunto, mas como um ano que passou tão rápido que... Alguém viu 2023 por aí? 

2024 vem chegando com ventos bem mais promissores. Assim espero. Assim esperamos. 

Está decidido, como em anos passados vou passar dormindo. Provavelmente acordarei com o foguetório, mas volto a dormir em paz. Eles que se divirtam. 
01 de janeiro, o vulgo primeiro de janeiro, é o melhor momento do ano para quem gosta de uma vida calma numa cidade tranquila, uma espécie de bom presságio para o que se deseja que venha. O hospício chamado São Paulo vira um paraíso. Na manhã de 01 de janeiro deste ano que agora acaba, eu, de farra, deitei e tomei banho de sol no meio de uma rua muito movimentada durante o resto do ano. Por uns bons 30 minutos não passou um carro, e quando apareceu, o sujeito diminuiu, desviou, parou do lado, abriu o vidro e perguntou sorrindo se eu queria companhia. "Bem vindo". Ele disse que ia pegar uma caipirinha e já voltava. Espero que tenha voltado com cadeira de sol, infelizmente não pude esperar.

A todos, independente, que tenham um bom 2024, com alegrias e tristezas equilibradas. Extremos faz mal.
Meu maior desejo é que em 2024 o nós e eles vá desaparecendo e no final se restrinja ao grupelho.
Unidos venceremos. Paz. Somos todos humanos, diferentes, mas tão iguais. 

Feliz Ano Novo, sem cantoria, por favor, ficando só nos bons votos.
Abraços e beijos, sinceros 

sexta-feira, 29 de dezembro de 2023

Como imbecis se mantém no poder?

E repito a pergunta do título: Como um imbecil se mantém no poder? A pergunta se apresentou mais uma vez quando abri um artigo sobre a bibliografia publicada sobre a vida do ditador português Antônio Salazar

Parece que foi em tempos distantes dos quais estamos rapidamente nos esquecendo, mas acabamos de ter um pseudo ditador que fez coisas incompreensíveis. E antes dele uma senhora que filosofava sobre pasta de dente, estocar vento e outros em discursos que não sei se dadaistas ou surrealistas. Todos com apoio feroz. E por aí caminha a humanidade. 

José Serra escreveu "O último tango argentino" uma ótima análise sobre o que é a argentina hoje e quais as razões para ter chegado onde chegou. Tem nome: Peronismo. Traduzindo: populismo a qualquer custo. No supermercado encontrei uma jovem mãe que ficou surpresa quando critiquei os argentinos e a Argentina, que ela acreditava, como boa parte dos brasileiros, ser um país maravilhoso e com a população vivendo bem. Como mentir com estatística: o PIB per capita deles é mais alto que o nosso. O que isto significa?  A verdade é que a pobreza deles aumenta sem parar a 50 anos. Segundo o dito popular dos argentinos "Gardel canta cada dia melhor". Pequeno detalhe: ele morreu em 1935.

Ironia do destino na mesma noite conheci uma educadora que trabalha treinando professores que alfabetizam crianças. Perguntei quem era a referência para o trabalho que desenvolviam e ela me deu o nome de uma argentina. Não me espantou, já que o nível educacional deles é muito bom. Espanto é ter certeza que mesmo bem educados os argentinos não conseguem entender o que vem levando aquele maravilhoso país a andar para trás nestes últimos 50 anos, sim, 50 anos piorando sem parar. Como educados caem nas garras de imbecis populistas?

Esquece os poderosos; como podemos nos sujeitar a imbecis funcionais, o que fazemos com certa frequência no dia a dia de nossas vidas. Como caímos nos encantos de palavras e pensamentos que não tem qualquer valor? Como chegamos aos ídolos que temos hoje?

Uma das respostas para esta minha pergunta talvez esteja num dos livros da série debates que li faz uns 50 anos. Putz! Estou velho. Tentei achar o título exato, não consegui, creio que a história do rock ou a história das drogas. Que seja. Conta a história de como foi formado o mercado da música antes e depois do Festival de Woodstock, e sua relação com o mercado de drogas. Em outras palavras: como vender imbecis que terão imenso poder sobre a população, que é o que passou a acontecer. Parafraseando, It's about the money, stupid!

Na realidade os que se mantem no poder não são imbecis. Imbecis somos nós que acreditamos. Fato é que somos uma espécie animal e como toda e qualquer espécie vivemos sob o comando ou somos comandados, simples, direto e sem alternativas assim. O problema é aceitar passivamente, sem pensar, sem ponderar, o "manda quem pode" e cala quem não pode. Não pode ou não quer? Ah! a Dolce Vita!

Confesso que estou exausto de ouvir democracia e empoderado com tanta displicência. Adoro o Linhas Cruzadas, da TV Cultura, onde Pondé tira um constante sarro de todo este nosso teatro.

Aceitamos que imbecis se mantenham no poder não só porque calamos, mas porque nos recusamos a nos informar, a procurar dúvidas, a olhar o outro lado, a ouvir o passado. Willian Waack escreveu um artigo dizendo que a chance do Brasil continuar divido em dois, nós e eles, é muito grande. Ou seja, fazendo força para que imbecis se mantenham no poder. Como esta última frase pode gerar muita confusão, lembro a todos que quem detém "o poder" não é necessariamente quem está na cadeira mais alta, mas a tropa, aí sim com montes de imbecis bem intencionados (para eles próprios), que foi eleita pelo povo e de fato manda na festa popular. Melhor, faz o que quer e bem entende, com o silêncio praticamente generalizado.

Quase esqueci que tem muito peixe pequeno que se mantém no poder do pedaço. Para mim estes são tão ou mais perigosos. São os paus mandados que azeitam a máquina dos imbecis no poder.  

Enfim: Como imbecis se mantém no poder? Porque uns trouxas permitem. A história da humanidade não mente. Quem de fato é o imbecil?

quinta-feira, 28 de dezembro de 2023

Capitalismo selvagem comercial urbano não interessa nem ao próprio capitalismo

Fórum do Leitor
O Estado de São Paulo

Foram incontáveis as construções de valor histórico demolidas pelo Brasil afora para a construção de agências de bancos, farmácias, magazines, lanchonetes, e outras cadeias, cada uma delas atendendo o padrão arquitetônico de sua marca. Não é uma exclusividade deles, mas um grosseiro vício de linguagem comercial que já vem de longe. Em várias partes da Europa estas deformações urbanas são proibidas tendo como base argumentos sólidos, o primeiro deles 'respeito'. Ainda conheci a Joinville típica, respeitosa a sua história, com uma personalidade delicada cativante e deliciosamente particular. Em pouquíssimo tempo Joinville sofreu uma brutal transformação e, para eles, modernizou se (?) com a demolição (prefiro 'devastação') de sua respeitável história. Pipocaram construções padrão, caixotes comerciais de ampla testada e vidraçaria, e escandalosa comunicação visual, transformando-se numa cidade qualquer, igualzinha a qualquer outra cidade. Joinville e outras cidades catarinenses foram completamente descaracterizadas. Valerá a pena crescer a qualquer custo? Quem conheceu e quem conhece a Joinville de hoje pode responder. Estive em Holambra, outra cidade de origem europeia, que até aqui continua meio que preserva, infelizmente com algumas belíssimas casas originais sendo descaracterizadas ou sendo colocadas abaixo para servir de estacionamento. O que assustou e muito foi terem permitido a construção de uma loja CEM imensa, gritante, destoante, quadrada, toda em ladrilhos laranjas, em completo desacordo com o entorno. Nada contra as Lojas CEM em particular ou qualquer outra instituição comercial, mas tudo contra a pobreza estética, aliás, tudo contra esta forma de agressividade urbana. São Paulo deu um imenso passo civilizatório quando aprovou e impôs o "Cidade Limpa", cortando pela raiz a poluição visual e, porque não, reorganizando a vida da população com a volta de sua imponente história. Infelizmente não se estabeleceu nesta São Paulo exemplo regras para as construções, que passaram a funcionar como outdoors em si. 
A falta de limites, o capitalismo selvagem, não interessa sequer á saúde do próprio capitalismo. Um negócio que olha seus caminhos na truculência para alcançar lucro e vantagens unilaterais gera resultados diretos ou indiretos duvidosos ou negativos, a médio ou longo prazo, como está cada dia mais claro. Economias estáveis já descobriram que quando todos crescem as vantagens são enormes, principalmente no que diz respeito a estabilidade social. 

Tentar alertar sobre os perigos de uma modernização desenfreada pode ser perigoso. Falo por experiência própria. Infelizmente a cidade virou instrumento para o "meu negócio, os meus lucros", não para uma vida sadia coletiva.
Holambra: casas originais








A última guerra Europeia, livro, impactante

A história da Segunda Guerra Mundial está sendo reescrida. Este livro de 1976 foi muito além da história, propaganda, que se contou no passado. Farto de referências, expõe uma realidade não contada, provavelmente censurada, seja pelos vencedores, perdedores, ou massacrados. A partir da página 195 fala sobre a vida das pessoas em meio a guerra. Simples: deixa claro que somos todos humanos, para o bem e para o mal, ou para nem um nem outro. Sua leitura reposiciona o olhar sobre o que está acontecendo hoje, agora. Nos faz pensar sobre o que não olhamos, o que não contamos, o porque chegamos a este estado de coisas, e suas consequências. O paralelo com este bipolarismo que vivemos é esclarecedor.

Aliás, sua leitura deveria ser absolutamente obrigatória para todos.

Poucas vezes em minha vida li algo tão impactante. Estou devorando

domingo, 24 de dezembro de 2023

Feliz Natal

Feliz Natal a todos,
Que as luzes do jambolão
No topo da serra
Céu negro azulão
Onde a paz impera
Deite na rede
Olhe para cima
Lá vem o trenó
Santa Klaus só
E suas renas
Sinos

E na cidade
Tudo pronto
Todas compras
Troca de olhares
De felicidade 
Em um ponto
Feliz Natal 

Agora a festa
Família
Comidas
Presentes
A falta dos ausentes
De qualquer forma
Na alma 
Estamos todos presentes 

sábado, 16 de dezembro de 2023

Edifícios novíssimos, esgoto velhissimo

SP Reclama
O Estado de São Paulo

Abriu-se um imenso buraco na al. Casa Branca próximo a Estados Unidos. Esgoto. Fui conversar com os operários para saber o por quê? Manilhas, muito velhas (provavelmente década de 40), fechadas pela gordura, cabelos, merda, é lógico, e objetivos sólidos que eles não conseguem entender como entram no sistema, mas estão lá.

O esgoto dos Jardins é da década de 30. Todo esgoto que é produzido em Cerqueira Cezar tem que passar por lá. Com os novos e imensos edifícios que foram construídos nas proximidades da Av. Paulista, Dr. Arnaldo, Heitor Penteado... como ficará o sistema de esgoto?

Só foi pensado na concentração de moradores próximo ao transporte público? E o resto?

Todos os veículos atuais são mais pesados e muito mais numerosos que os da década de 70 e 80. Os caminhões são muitíssimo maiores e carregam quade o dobro de peso que os daquele tempo. A base do pavimento não foi construída para o que temos hoje. As vibrações e pressões sobre os encaminhamentos do subsolo não afetarão água pluvial, água e esgoto encanado? 
Quando impuseram a cidade estes novos edifícios pensaram nisto?

O esgoto principal estão nas avenidas. Como se faz para trocar o sistema na Av. Rebouças, por exemplo?

O erro fatal de nossas cidades, principalmente de São Paulo, foi aplicar um projeto de trânsito americano sobre cidades de desenho urbano tipicamente europeu. Óbvio que não podia dar certo. 
O projeto de sistemas enterrados, como esgoto, foi pensado para uma escala urbana completamente diferente da que temos hoje. No passado não se falava uma palavra sobre o nível de concentração humana nas cidades. 
No caso do esgoto se soma mais um agravante: o que está debaixo da terra ninguém vê e não dá voto. Que merda!

Posso estar errado, se estiver pelo menos incito a explicações e informações corretas, o que não temos hoje.

terça-feira, 12 de dezembro de 2023

Mudar para o transporte coletivo como diretriz para Plano Diretor?

SP Reclama
O Estado de São Paulo

Qual é a imagem que temos do transporte coletivo de São Paulo? Mesmo com o trânsito completamente caótico da cidade, você deixaria seu carro pelo transporte coletivo? Nosso transporte coletivo oferece conforto, respeita horários, é rápido e eficiente, não cria problemas ambientais? Você moraria onde o barulho e pó negro vindos da rua fosse uma constante? Eu sei bem o que é isto. E os constantes assaltos em pontos de ônibus? Metrô? Dá para ir para onde quiser? Quais são os horários que se consegue embarcar e viajar com qualidade nas poucas linhas de metrô que temos? 
O plano diretor de São Paulo foi estabelecido para estimular que mais pessoas adotem o transporte coletivo e abandonem seus veículos particulares. Todos os problemas da cidade vão melhorar se mais gente usar o sistema de transporte coletivo? Permitir a explosão e edifícios nas proximidades do transporte coletivo é uma ideia simplória sem tamanho. Aceitar passivamente esta estratégia demonstra uma falta de noção dos paulistanos do que pode e deve ser viver com qualidade numa cidade. A cidade que se está construindo com este Plano Diretor tem tudo para aprofundar os problemas e o abismo social que temos hoje. O disparate é tamanho que sequer sabem o que fazer com o transporte coletivo: gratuito ou não. 

Ônibus parisiense encostado no ponto para receber passageiros. Reparem na distância e no desnível entre o ônibus e o piso do ponto. É assim em todas as paradas de toda Paris. É assim mundo afora. O que importa é o passageiro, e os motoristas tem plena consciência disto. 

Os edifícios estão sendo erguidos próximos aos corredores de ônibus, mas... 
Fui entregar uma bicicleta no Tremembé, a exatos 20 km de minha casa, 1:20 h pedalando com calma, média de velocidade 15 km/h. A volta em transporte coletivo estava prevista no aplicativo para as mesmas 1:20 h de tempo de viagem, sem contar o tempo de sair de onde estava, caminhar até o ponto de ônibus, mais tempo de espera e o tempo de viagem até a integração com o metrô, sair da estação e caminhar até minha casa. De bicicleta o tempo é porta a porta, ou seja, exatas 1:20 h de viagem. Às 11:10 h o aplicativo do transporte coletivo apontava que, no ponto de ônibus, a demora para embarque seria de 8 minutos, mas passados 15 minutos nada. O primeiro ônibus, metrô Santana, chegou lotado e optei por não embarcar. O próximo para Santana demorou, optei por pegar um para o metrô Tucuruvi, mais mais longe, mas que acabou sendo melhor. A estação / Shopping Tucuruvi estava movimentada, mas não lotada, o vagão estava vazio, viajei sentado. Em Santana uma multidão esperava para entrar e nem todos conseguiram. Fiz conexão na estação Paraíso e saí do metrô depois de 1:40 h de viagem. Uma caminhada de 10 minutos e cheguei na casa de uma amiga. Mais 4.5 km chegaria em minha casa, de onde pela manhã tinha saído pedalando. 
Terminado almoço, experimento de novo o transporte coletivo para minha casa, ou mais 4.5 km, com opção ônibus ou metrô. Optei pelo ônibus, que me deixa mais a mão. Demorou exatos 35 minutos para aparecer, e só esperei por que queria ver no que dava, quanto demoraria. Fiz parte do trajeto, uns 1.5 km ou mais, a pé seguindo a linha do ônibus. Se não estivesse garoando forte seguiria em frente e chegaria a pé em casa antes do ônibus. Fiz várias vezes o mesmo trecho a pé e meu tempo normalmente é mais rápido que no ônibus, sei porque li várias vezes o número do ônibus na Augusta e depois fiquei esperando o mesmo no terminal Pinheiros.

É só a questão do tempo de viagem para derrubar o desejo, ou o prazer, de se transportar por ônibus? Não só. O ônibus Tremembé - Tucuruvi era dos de carroceria montada em chassis de caminhão, que não deveriam mais circular. Alto para os passageiros, principalmente idosos, crianças, obesos e pessoas com problemas de mobilidade. Transmissão manual, mas bem conservado e muito bem dirigido, motorista muito cuidadoso com os passageiros e com o trânsito, o que fez a viagem bem agradável. O da área nobre, que peguei nos Jardins e fui até o Terminal Pinheiros, era dos ditos novos, carroceira moderna, baixo, de fácil acesso, câmbio automático, aceleração mais suave, mas barulhento, batendo lata ao passar pelas menores irregularidades que são uma constante do nosso pavimento, e dirigido por um motorista com baixo treinamento que freava brusco e fazia curvas rápido, um balancê completo, viagem desagradável. 
Nos dois trajetos, o da Zona Norte e dos Jardins, os motoristas tiveram que praticamente parar os ônibus para passar por crateras do asfalto. Aliás, incomoda muito a baixa qualidade do pavimento por onde passam os ônibus. É comum ver asfalto bom para os carros e em péssimo estado para os ônibus. Os passageiros que chacoalhem infelizes.
Sempre gostei de viajar em ônibus e por isto tenho que reconhecer que fora dos horários de pico, quando os ônibus estão vazios, melhorou, a não ser pela completa falta de previsão de quando vai aparecer um e pela falta de treinamento adequado de alguns motoristas É muito comum que depois de um tempão venham dois ou três juntos, o que é profundamente irritante. Nos dias de trabalho e horário de pico usar o transporte coletivo só por obrigação.

Um político disse que vão transformar São Paulo numa Manhattan. Que bobagem! São Paulo é São Paulo, ter edifícios altos não significa nada, a não ser que teremos privilegiados com uma bela vista de seus apartamentos, e nada mais. Fora isto, o delírio só vai melhorar o bolso de alguns. Manhattan, a dita referência, vem melhorando porque é respeitado um plano de recuperação da qualidade de vida que foi estabelecido há décadas e que não trata só de concentrar a população em volta do transporte de massa. Todas as cidades do mundo que melhoraram sua qualidade de vida pensam, criam e respeitam um planejamento o mais abrangente possível, e não ideias geniais oportunistas. Lembro que estas cidades tem uma vasta transporte coletivo e ou rede de metrô que são funcionais, o que aqui, pelo andar da carruagem e dos burros que constroem, demoraremos anos luz para chegar perto.

Plano Diretor da Cidade de São Paulo: Me engana que eu gosto. Estamos muito mal.





quarta-feira, 6 de dezembro de 2023

Vaga viva ou vaca viva?

Num passado distante, lá por 2005, nos reunimos para discutir o que fazer no 22 de setembro, Dia Mundial sem Carro, que viria. Uma das ideias apresentadas foi instalar uma vaga-viva na lateral do Conjunto Nacional, Avenida Paulista. Na época poucos sabiam o que era uma vaga-viva, o tirar uma ou mais vagas de estacionamento de carros para transformá-la em um espaço para as pessoas conviverem sentadas, bebendo, comendo ou simplesmente lendo. Creio que algo semelhante já existia em Paris, mas foi a ação de San Francisco, Califórnia, que deu o pontapé para outras cidades adotarem a boa ideia. 
A questão foi levantada já quase no fim da reunião e agradou a todos. O passo seguinte foi apresentação de sugestões de como fazer, já que o local, Conjunto Nacional, rua Padre João Manuel, praticamente Avenida Paulista, estava definido por sua importância estratégica. Coloca banco e mesas, cerca o espaço como, areia ou grama...? E foi aí que sugeri que se colocasse uma "vaca viva", ideia que foi recebida com risos e gargalhadas por uns e pesadas críticas por outros. A ideia foi recusada porque "coitada da vaca".

Hoje a conversa voltou a baila, não me lembro porque, e de novo ouvi "coitada da vaca", a ideia foi considerada um absurdo. Ainda considero que minha vaca viva na Paulista teria sido uma ótima ação.

O número de vagas-vivas na cidade cresceu e muito, mas a ideia demorou para colar e decolar. A pergunta que ainda faço é: qual teria sido a diferença de impacto na sociedade se em vez de instalar uma uma vaga-viva demonstração, com foi feito, tivessem instalado o espaço com uma vaca - múuu - viva para as pessoas verem, tocarem, sentisse o cheiro, e pudessem sentar-se ao lado, no banco grudado na cerca? Será que o impacto teria sido maior, que mais pessoas teriam se interessado, ficariam mais atentas para a instalação de futuras vagas-vivas? Maior a propaganda, talvez maior a ideia de se lutar pela racionalização do espaço público, a rua? Ajudaria a chamar a atenção para a pergunta chave de nossas vidas: Que cidade queremos? 

Coitada da vaca. Coitada da vaca? Por favor, explique. Sei, sei, o transporte do campo até São Paulo, ficar no meio da confusão dos carros passando, da poluição, de pessoas em volta...

Para fazer o sucesso desejado a vaca teria que ser bonitinha, apresentável, quanto mais melhor. Uma vaca avacalhada iria depor contra o excelente projeto "vaga-viva".
Supondo que fosse trazida fosse uma vaca hiper sadia, hiper bonita, hiper bem cuidada, provavelmente ela, a vaca, seria tirada de uma fazenda de alto padrão, portanto com aplicação de tecnologia pecuária de alto nível. Saindo de um lugar destes provavelmente os cuidadores da vaca saberiam qual trazer levando em consideração inúmeros fatores clínicos. Eu concordo plenamente que vacas não foram feitas para passear de caminhão e muito menos ruminar na avenida Paulista, mas que faria sucesso, isto faria, creio que ninguém duvida. E, pelo que já disse, a segurança e a saúde dela certamente estariam muito bem controladas. É bem provável que a vaca em exposição tivesse momentos mais agradáveis, para ela, que a maioria das vacas brasileiras.

Uma coisa eu garanto: a vaca, caso ela tivesse ido para a Paulista, teria tido cuidados com o transporte que matariam de inveja os milhões de trabalhadores que no mesmo dia enlatados estavam no transporte coletivo, mas o que importa, os trabalhadores que se danem, o que importa é uma vaca sadia.

Se os mesmos trabalhadores enlatados no transporte coletivo tivessem a noção que uma cidade com uma vaga de estacionamento a menos significaria uma cidade com menos carros, portanto uma cidade menos congestionada, portanto um transporte público melhor, talvez não só teriam forçado a presença da vaca na Paulista como depois teriam feito um churrasco com ela. 
 
Olhem em volta e vejam a cidade que temos hoje. Caminhem pelas ruas onde foram criadas vagas-vivas, vejam se quem usufrui delas está feliz com elas, se a vida parece melhor que com um carro estacionado.

Coitada da vaca? Concordo plenamente, mas acima disto, tenho certeza que alguns sacrifícios, por assim dizer, tem um valor inestimável para a boa construção do futuro.


Como assim não é uma vaca?  Cavalo? Quem disse? Ah! Vá! Tá bom. 

sábado, 2 de dezembro de 2023

Meio ambiente e pobreza; e a única saída: educação

Fórum do Leitor
O Estado de São Paulo

Lula fez mais uma vez um discurso onde coloca a necessidade, justíssima, de se atacar o grave problema da pobreza mundial. Disse que a questão ambiental tem que ser atrelada a da pobreza, o que a princípio faz sentido. O problema é que esta matemática não se resume a 1+1=2, pela simples razão que com a diminuição da pobreza haverá o aumento do consumo, que por sua vez é um dos principais problemas ambientais. A questão é como, ou melhor, o que significa pedir para reduzir o drama horroroso da pobreza. Se for com o quanto mais se gasta, mais gira dinheiro, melhor para os mais pobres, como o PT fez na nova matriz econômica do governo Dilma, o desastre ambiental está definitivamente plantado. Se for sem controle de gastos públicos, o resultado desastroso para os pobres se repetirá mais uma vez, o que trará mais consequências para o meio ambiente. Uma das razões para a pobreza é a questão da propriedade, do direito a moradia e a terra, o que tem que ser resolvido de maneira racional, com acordos que não sejam ideológicos, ou teremos mais derrubada de verde, morte de nascentes e perda de biomas, como aconteceu por todo Brasil, principalmente o urbano. Alguns comentaristas políticos perguntaram: o discurso de Lula foi para seus apoiadores ou com vontade sincera de resolver graves problemas que afetam o planeta? Acredito que os dois. Misturar prioridades urgentes pode dispersar soluções necessárias, a história ensina. Sob a ótica da economia e das ideologias que nos regem hoje, ter poços de petróleo na foz do Amazonas pode melhorar a economia e hipoteticamente ajudar a reduzir a pobreza, mas os especialistas dizem, e há boas razões para acreditar, que é um perigo de crime ambiental sem tamanho. Golfo do México, por exemplo, que o diga. Nosso meio ambiente sofre muito pela ineficiência, para dizer o mínimo, de nossos órgãos fiscalizadores e reguladores, aliás sofremos todos, principalmente os mais pobres. Todos, sem qualquer exceção, afirmam que tudo passa pela educação, mas estranhamente nestas últimas muitas décadas não conseguiram fazer educar. Não temos projeto de Estado, projeto para o Brasil, mas projetos destes ou daqueles que se dizem salvadores da pátria. Até a qualidade da educação de nossa elite é questionável, o leva a tomada de decisões equivocadas, para não dizer a facilidade para a má fé. Ninguém duvida que se todos governantes e políticos tivessem cumprido o dever constitucional pela educação teríamos menos problemas ambientais, de pobreza, e sem a menor sombra de dúvida menores problemas ideológicos; mas aí complica para eles, incluindo os aproveitadores de plantão. É  vital que se resolva o absurdo da pobreza, mas não serão emocionantes palavras corretas num plenário mundial que farão diferença. Só a educação resolve. Temos urgências urgentíssimas em relação ao meio ambiente, que é prioridade inquestionável  e absoluta, ou ninguém vai se dar bem, sejam ricos, remediados e pobres. A pobreza só resolveremos quando as ideologias forem silenciadas em nome da racionalidade, dos resultados, o que só se consegue com educação, e a isto estamos um ano luz de distância. Resolver a pobreza à luz da ideologia ou populismo com o povo e sua elite ignorantes poderá ser nosso fim, e com ele o do planeta.

E o entulho, para onde vai?

SP Reclama
O Estado de São Paulo

O coração de uma cidade é seu centro histórico, ele não pode morrer; é princípio inquestionável. As razões estão amplamente pesquisadas, documentadas, planilhadas, e são consideradas incontestáveis em todo planeta, pelo visto menos aqui.
O Centro da cidade passou a ser um grave problema depois que foi abandonada pelas grandes empresas que se transferiram primeiro para a Av. Paulista, depois para a velha Faria Lima e logo Berrini, que também já apresentam problemas de ociosidade e decadência. A coqueluche do momento é a Nova Faria Lima, sabe-se lá até quando. Mesmo com este histórico de transferências / decadências que deveria servir de alerta, não param de pipocar por todos lados novos empreendimentos empresariais, muitos já nascendo ociosos.

A administração Haddad tentou reverter o abandono do Centro de São Paulo, mas tudo aconteceu de forma pouco funcional e a situação se agravou e muito. De boa intenção o inferno está cheio. Inúmeros imóveis comerciais abandonados foram invadidos por movimentos sociais reivindicatórios com o olhar de complacência da administração pública, o que afastou mais ainda a população e empresas que ali estavam. O "pequeno" erro vai custar décadas de ajustes para sanar o coração dos paulistanos.


Na Nove de Julho, na altura dos Jardins, já mandaram abaixo edifícios na beira da avenida entre os quarteirões das ruas Bandeira Paulista e da Mata, e começaram a demolição dos edifícios entre as ruas Japão e Antônio Felício. Na rua Pinheiros inúmeros imóveis já viraram poeira. Na esquina da rua Capitão Antônio Rosas o terreno vazio é imenso. O Brooklin está sofrendo uma guerra devastadora. Poderia continuar citando outras demolições que estão por toda cidade. Tem muita gente achando legal, um progresso, mas pouquíssimos se perguntam onde está indo parar as montanhas de entulho que estão sendo geradas.
Outra questão, não menos importante, é a circulação sem controle de caminhões muito acima do peso ligados a estas obras, o que causa danos ao pavimento e sub-solo. Mas quem se importa?

segunda-feira, 27 de novembro de 2023

Olhe-se no espelho. O que eu gostaria de ter sido e vivido - revisão

Quanto mais velhos ficamos, mais olhamos para trás.

Uma das qualidades que adquiri com a maturidade é rever, revisar e repensar o que fiz - passado - para avaliar o que ainda posso melhorar e desta melhora o que posso oferecer para as pessoas, principalmente para os mais próximos, os que acho que valem a pena. 
Estou cansado de apostar em cavalo manco, o que deveria ter feito muito antes. 

Sempre fui muito crítico em relação aos mim próprio. 
Um dia fiz alguma besteira, sei lá qual, e minha mãe me puxou pelo braço para dentro do banheiro, me colocou frente ao espelho, e disse com voz baixa, calma e firme "Olhe-se no espelho" (para descobrir quem você realmente é)". Sempre me olhei no espelho procurando ver-me, mas foi muito tempo depois que eu realmente me vi, me enxerguei, frente ao espelho. Ali começava mais uma revisão de vida, quem eu era, quem eu gostaria de ser, e o que eu gostaria de ter vivido, provavelmente. 

A ideia deste texto surgiu quando tive que resolver umas questões de família. É voz comum o "evitar que eles repitam nossos erros", e estou nesta, gostaria que não repetissem erros básicos. Tenho consciência que tentar passar para eles é uma tentativa, e nada mais, mas quero tentar.
Não sei como, mas eu gostaria de encontrar o caminho para educar meus netos a não ter que olhar para trás e pensar "O que eu gostaria de ter vivido" com alguma dor. Tudo, ninguém consegue, mas organizar o que vale mais, isto é possível. É aí que eu gostaria de entrar. Educar, informar, falar ao vento, qualquer coisa que possa ajudar.

Agora, neste domingo quente e ensolarado, enquanto tomava café da manhã reli, como normalmente faço, alguns textos que publiquei para repensá-los e corrigir pequenos erros que sempre passam desapercebidos. Esta publicação em particular, o "O que gostaria de ter vivido", achei longo, cansativo, um porre. Ruim.

Ter sido simples, claro e direto, com uma comunicação fácil de entender, que não deixasse dúvidas, o que definitivamente não é do meu feitio, teria sido o melhor de minha vida, com certeza facilitaria e muito alcançar todas vivências que quisesse. Sigo fazendo um grande esforço para me comunicar melhor. O escrever me ajuda uma barbaridade, recomendo a todos.

Vou deixar o texto original publicado e publicar esta revisão aqui, mas fica para mais tarde. Neste exato momento, saio desta revisão e vou aproveitar o domingo maravilhoso. Aproveitei bem os fins de semana, mas poderia ter aproveitado mais ainda. Upa! lembrei de uma oportunidade que deixei passar e que me arrependo. Lá pelos anos 90 teve um final de ano que o trânsito ficou praticamente parado de Santos até aqui, São Paulo. Vi tudo parado, pensei em descer para Santos pedalando, mas voltei para casa e fui. Se arrependimento matasse...

Que mais? O que gostaria de ter vivido?
Nenhuma sombra de dúvida que gostaria de ter estado pessoalmente na queda do Muro de Berlim e no atentado terrorista de 11 de setembro em NY. O Festival de Woodstock, que cito no texto original, pensando bem, dispenso.
  • Ter corrido a pé desde sempre.
  • Ter jogado futebol com conhecimento das técnicas para diminuir significativamente minhas lesões, que foram muitas, muito mais que se possa lembrar. 
  • Ter ido buscar informação com donos de bicicletarias e seus mecânicos para fazer menos besteiras. Leitura é uma ferramenta preciosa, mas precisa ser complementada.
  • Ter acompanhado meus amigos surfistas nos primórdios, quando praias e natureza ainda eram praticamente virgens. 
  • Ter feito skate com este mesmo pessoal do surf, que foi quem começou o skate no Brasil. Tenho uma ponte de inveja dos skatistas.

Lembrei de uma interessante: eu deveria ter trabalhado como office-boy para aprender o que é a vida de fato. Ter sido filhinho de classe média alta me incomoda profundamente.
Pensando nisto, queria ter tido a infância num bairro popular, com um monte de crianças para brincar e brigar no meio da rua. Nasci e cresci até meus 11 anos no meio do Jardim Europa, um porre total. Zero crianças por perto, zero rua, zero zero. 

Tenho que sentar com outros e perguntar o que eles gostariam de ter vivido. 

Bom, fim.

terça-feira, 21 de novembro de 2023

O que gostaria de ter vivido - texto publicado, o original

Quanto mais velhos ficamos, mais olhamos para trás.

Vou manter o texto original publicado muito mais para minha referência; porque achei longo, cansativo e chato, a bem da verdade rui. Se quiser encarar, divirta-se.


São três eventos da história que me lembro de bate pronto e gostaria de ter vivenciado: a queda do Muro de Berlim, o atentado terrorista de 11 de setembro em NY, e o Festival de Woodstock.

Woodstock em particular, sempre sonhei ter vivenciado, pelo menos no meu imaginário, porque se estivesse pessoalmente sei que não iria ficar ali por muito tempo, se é que ficaria. Desde de novo não sou chegado a bagunça e barulheira. 
Ouvir música demanda um ambiente favorável, é muito diferente de show ao vivo, de sentar no barro e ouvir um som distorcido pela distância e ventos no meio de gente falando, gritando, se agitando, passando... . Show ao vivo é uma experiência multi sensorial, e eu não dou conta.
Se é para sonhar em ter estado em Woodstock, eu teria sido um dos poucos que teria ido pedalando, isto sim seria divertido. Se estivesse de carro no meio daquele congestionamento brutal com certeza teria dado meia volta ou largado o carro. Moto? Talvez. Odeio filas e congestionamentos.

A queda do Muro de Berlim, em 09 de novembro de 1989, foi transmitida ao vivo e assisti dando pulos na frente da TV. Chorei, disse para minha mãe, que também assistia, que daria a vida para estar lá no meio da festa. Não menos emocionado fiquei quando não faz muito estive em Berlim e vi um pequeno pedaço do muro que agora serve como marco histórico. Para mim é monumento sagrado, mas para o brasileiro que o pichou não, é simplesmente um bloco de concreto que serve para rabiscar seu nome. De qualquer forma, o pedaço do muro na minha frente só aumentou a vontade de ter vivido sua queda, e de novo com lágrimas e voz embargada.

Ainda em Berlim, não muito distante do pedaço de muro, está uma imensa praça / monumento / escultura, o Memorial aos Judeus Mortos da Europa, um espaço de uma força indescritível, duro, muito duro emocionalmente. Me remeteu a tudo que ouvi, vi e li sobre a Segunda Guerra Mundial, outro momento histórico marcante que gostaria de ter vivido, ou não. Tenho algum conhecimento sobre a realidade brutal e não sei se aguentaria vivenciar aquela loucura. Passar por um muro contínuo de quase dois metros de cadáveres empilhados a beira da estrada deve ser uma experiência brutal para todos sentidos, principalmente para o olfato. A imagem gravada na minha cabeça vem de uma foto de três crianças caminhando na estradinha e olhando para os cadáveres sem grande espanto. Nos documentários "A WWII a cores" e "Revisitando a WWII" é possível 'vivenciar' por imagens brutais que agora estão sendo liberadas. Para mim talvez já baste. Melhor, já basta.


Se eu estivesse naquele fatídico 11 de setembro em NY sei que teria corrido no sentido contrário dos que fugiam das torres em fogo e desmoronando. Iria tentar ajudar o pessoal desesperado, está no meu sangue. 
Fui tomar um café enquanto minha mãe estava na cadeira da dentista. Entrei na Tabacaria Ranieri e umas poucas pessoas estavam lá vendo pasmadas na TV o incêndio na primeira torre atingida. No exato momento que perguntei o que estava acontecendo, com os olhos grudados na tela, o segundo avião bateu na segunda torre. Houve um silêncio profundo. Demorei para entender que aquilo não era trailer de filme de ação, que estava acontecendo de fato, até porque não houve tempo para alguém responder a pergunta que fiz quando entrei na tabacaria. Voltei para o consultório, peguei minha mãe, contei o que estava acontecendo para o espanto de todos, fomos para casa e enquanto víamos o resto do absurdo eu fiquei no telefone tentando saber se tinha alguém conhecido nas torres. 
Só muito tempo depois soube que a menina bonita, tímida, formal, muito educada, Anne Marie, que vi crescer, e que morava com a mãe e a irmã no 5° andar, foi uma das vítimas. Estar pessoalmente no memorial dos torres gêmeas foi uma emoção muito difícil de ser controlada. Ler o nome de Anne Marie gravado no parapeito foi... Não sei descrever. 

Sei que teria corrido no sentido das torres gêmeas porque quando desmoronou a construção da Estação Pinheiros, vesti uma bermuda e sai correndo para tentar ajudar o pessoal. Dobrei a esquina, muitos fugiam da cratera que ainda desmoronava, e fui para lá, no sentido contrário de todos, e para a borda do precipício que se abria, para ver no que poderia ajudar, e ajudei. Fui gravado uns momentos depois pela TV Record. Não tenho dúvidas que no 11/09 teria feito o mesmo e hoje provavelmente estaria morto, ou pelo desmoronamento ou pelo câncer que ele causou em muitos.

Infelizmente descobri a corrida a pé muito tarde, mesmo assim me diverti montão. Me lembro que quando jogava futebol e pedalava ter visto notícias e reportagens bacanas sobre corridas a pé, e ter tido uma coceirinha, mas nunca me mexi para ir atrás. Se arrependimento matasse... A bem da verdade, nunca corri, nem gostava, mesmo não sabendo o que era, tipo pirraça de criança. Não me lembro mais porque desandei a correr, acho que foi um no final dos anos 90, quando já tinha uns 35 anos. Talvez tenha sido um dos grandes erros de minha vida não ter começado antes. Encontrei faz pouco minha baba e ela vive dizendo que eu não parava de correr. Nunca deveria ter parado. Hoje não posso mais correr por conta de desgaste nas juntas e quando passo por um ou uma corredora sinto uma puta inveja. 
Cheguei a fazer umas 4 ou 5 São Silvestres e duas meias maratonas, mas meu sonho mesmo seria ter feito pelo menos uma maratona, o que não deu ou não teria conseguido, sei lá. O futebol detonou meus joelhos.
Correr na terra era mais que um prazer, era o santo remédio para qualquer saco cheio que estivesse a ponto de explodir. O Parque Volpi foi meu santuário até as últimas corridas. A mata da USP, mais curta, fui quando podia e ainda não estava cercada. Dar a volta externa do Ibirapuera fazia bem, mas correr em mata fechada é uma outra história. 
Minha corrida mais marcante foi em Jundiaí, numa mata virgem, primária, que só tinha uma picada. Fui uns poucos km mata adentro, uma corrida completamente diferente, com cada passada procurando onde aterrissar, com a perna solta para não torcer o pé ou joelho, uma técnica completamente diferente dos terrenos limpos, planos e lisos. O cheiro, o silêncio, a umidade, o pisar... nossa! Quando decidi dar meia volta e voltar, parei por um bom tempo no silêncio sombreado daquele verde maravilhoso e lá entendi pela primeira vez o que de fato é o corpo animal, humano, quem pode ser Deus, o Deus da natureza, de tudo, o que deve ser a vida de um índio, o que foi a vida dos desbravadores... No momento nem me lembrei que tive uma sensação paralela no meio do Oceano Atlântico olhando o infinito  do mar e das estrelas. Lá descobri que não somos absolutamente nada, nem insignificantes somos. 
Aquela corrida na mata simplesmente mudou minha vida, mas nunca se repetiu, só na lembrança sorridente quando corria no Parque Volpi. Cada vez que vejo um dos riquíssimos biomas brasileiros torrando choro. Gostaria de vivido tudo aquilo ainda virgem, ter trabalho em algum projeto de trabalho voluntário na minha época da faculdade.

Fazer trilha pedalando é outra coisa, a atenção tem que estar na trilha, tudo passa rápido, na velocidade da máquina bicicleta, é uma outra dinâmica, que se não respeitada acaba em chão ou com a bicicleta torta. A pé você você vira índio, vira parte integrante da natureza. Uau!

Gostaria de ter corrido acompanhado por um cachorro, mas também passou. Pena. Só cachorreiro entende o tamanho da magia.

Não faz muito quase comprei uma viagem em veleiro para a Antártica e, pensando bem, olhando para minha condição física, acabei desistindo. A possibilidade de ficar mal no meio da viagem e azedar a viagem dos outros me fez desistir. Já estive em mar revolto, daqueles que o veleiro entra de proa no meio da onda. Adorei. Vivi e gostaria de viver a loucura de novo, mas não sei se meu corpo aguenta.  
Meu sonho com mar ainda está vivo. Gostaria de repetir a viagem em navio cargueiro, para qualquer lado, mar adentro, dias e dias de solidão. Fui para Europa em navio de cruzeiro, por sorte com menos da metade da lotação, mas não é a mesma coisa. Num cargueiro onde o mar é praticamente o único companheiro. Muda a cabeça, muda tudo. 
Pegar um veleiro e fazer uma viagem longa em mar aberto... Pode ser. Sempre quis fazer uma, mas não corri atrás.

Fui de Caloi 10 na minha primeira romaria, para Bom Jesus do Pirapora. Cheguei lá no final da tarde, dormi no concreto de uma pracinha no meio dos romeiros, estes de fato romeiros, acordei no dia seguinte batendo o queixo de frio. E voltei para casa. Deveria ter seguido em frente, sei lá para onde, me perder no mundo.
Fui um dos que começou o mountain bike no Brasil, mas com certeza fui daquela adorável geração o que menos fez mountain bike. Não tinha dinheiro para ficar passeando. 

Das boas recordações, lembro de uma São Paulo que explodiu em festa quando ganhamos a Copa de 70. Só quem esteve na rua Augusta é que sabe o que foi aquilo, o tamanho da loucura. Ainda posso ver todos os semáforos mudando freneticamente vermelho, amarelo, verde, amarelo, vermelho, amarelo, verde, amarelo..., do Corcel duas portas onde um casal tirou a roupa e estava transando sem qualquer constrangimento e sem ser incomodado mesmo com janelas abertas. Do povo cantando, dançando, pulando, se abraçando sem parar, bandeiras por todos lados, verde e amarelas, do Brasil, de tudo quanto era jeito, de todos clubes, estados, cidades, até o dia seguinte, numa festa que só acabou dois dias depois.    

Fiquei feliz em ter ficado com o velho Arturo, meu avô, sentado no morgue ao lado de mesa onde estava seu corpo. Não sei quanto tempo fiquei com ele até aparecer o pessoal que faria os trabalhos finais. Estranho, mas quando cheguei lá estava com o rosto tenso, quando o deixei estava com o rosto leve e quase sorridente, como que agradecendo eu ter ficado ali em seus momentos finais. 

O que não gostei e voltaria atrás tem de monte. 

A vida nos leva por seus caminhos. Não sei como, mas eu gostaria de encontrar o caminho para educar meus netos a não ter que olhar para trás e pensar "O que eu gostaria de ter vivido". Tudo, ninguém consegue, mas organizar o que vale mais isto é possível. 

segunda-feira, 20 de novembro de 2023

Bicicultura Florianópolis - balanço

Faz de conta que alguém está me perguntando "O que achou do Bicicultura?" Minha resposta é "Tenho que tirar o chapéu para quem organizou, quem pôs em pé tudo aquilo. Foi uma trabalheira sem tamanho. Parabéns, mas parabéns mesmo!" Se o alguém me perguntasse a seguir "E o que mais...?", responderia "Bom, quer ouvir, então lá vai..."

Ato final do Bicicultura: um passeio de bicicleta de 20 km pela cidade reunindo participantes do congresso, terminando numa confraternização num bar cervejaria. Passeio levado por um grupo de mulheres que pedalou no ritmo delas um tanto sem olhar para trás, sem se preocupar com participantes que não fazem parte da turma, alguns com pouca prática de pedal e outros turistas na cidade de Florianópolis. Pelo caminho, quatro rotatórias bloqueadas pelos guias para que os ciclistas ficassem girando duas ou mais voltas em cada uma destas rotatórias gritando palavras de ordem, e que se danem os motoristas. No meio do passeio, numa ciclo-faixa que pulava do asfalto para a calçada a queda, feia, de uma ciclista, Vera. O resto da história quem quiser que vá se informar.
Terminado o passeio foram para a confraternização num bar / cervejaria de cardápio não popular, por assim dizer, onde as puxadoras meio que 'ouviram' alguns protestos sobre a condução do passeio para então meio que 'pedir desculpas'. "Nós fazemos assim..." respondeu uma delas. Ótimo, então que seja. De minha parte, Arturo, sei como são alguns passeios, então não estranho.

Peço desculpas se erro na forma e tom que escrevo aqui, mas traduzo em minhas palavras debochadas o que me foi dito. Vera, a que tomou o tombo, está com várias lesões, mas está bem, tudo está dentro do terreno do bem dolorido até aqui; faltando a radiografia do braço.

No Bicicultura caiu a ficha que o que me incomoda em algumas mulheres do movimento feminista é que elas são muito, mas muito mesmo, parecidas com homens chatos, mal humorados, de estranha soberba, e não raro prepotentes, porque não dizer empoderados, com os quais tenho dificuldades de comunicação. Não, não foram assim comigo, até porque não interagi tempo suficiente, mas pelas brevíssimas respostas que tive algo me dizia que eu terminaria tenso se a conversa se alongasse. Não senti muito clima, então mantive certa distância.
A sensação que me deu, mais uma vez e como sempre, é que como todos movimentos sociais de frente, de ponta, os que se dizem ou não, mas se acham "revolucionários", há um sentido de nós estamos certos, ou, mais, nós é que temos razão e vocês são uns idiotas. Eu fico com a definição sobre ideologia do filósofo, ensaísta, jornalista romeno Andrei Plesu (com cedilha no "s") que está no seu livro "Da Alegria no Leste Europeu e na Europa Ocidental".

Teresa D'Aprile e Vera, do Saia na Noite, estiveram no Bicicultura e certos momentos, para um público específico delas, foi como não estivessem lá. Não foram elas que disseram isto, mas eu é quem afirmo porque vi. Teresa e Vera têm uma história de muito valor para contar, são revolucionárias de verdade de uma outra forma, abrangem um campo social muito maior do que se possa acreditar só olhando "a revolução". Ou será um "carro a menos e um homem a menos" e ainda não caiu minha ficha? A bagagem e a experiência delas é notável e deveria ser imperdível, mas pelo visto não interessa.

Termino meu comentário, até diria protesto, tirando a generalização, e pedindo que o pesado de minhas palavras, o acido de meus comentários, fiquem no terreno do bom humor e do politicamente incorreto, o que definitivamente vai ser bem difícil. Não iria escrever sobre o azedume que senti se não tivesse tido a nítida impressão que o mesmo respingou até sobre outras mulheres, não só as duas do Saia na Noite. Da mesma forma que não aceito o "a bicicleta, pela bicicleta, para a bicicleta", definitivamente não entendo uma parte do movimento feminista, feminismo que acho mais que pertinente, com um discurso soando "a mulher, pela mulher, para a mulher". Mais ainda quando dito com tons empoderados. Empoderado deve ser chiquérrimo, mas não sei porque me embrulha o estômago. Talvez Gabeira um dia consiga me explicar. Talvez meu problema seja a forma como tem sido usada, aliás o mesmo problema que começo a ter com a palavra democracia.
A minha discordância sobre o uso de social e afins, incluindo socialismo, já deixei mais que claro, de qualquer forma acredito que exista uma diferença abissal entre ideologia, populismo e esquerda, que não raro são mescladas e confundidas. Para mim esquerda não é venda de um produto, mas a entrega de resultados sociais.

A definição de uma das mais ativas participantes do cicloativismo sobre o que aconteceu no Bicicultura foi precisa: "Isto aqui é uma igreja". Genial, brilhante!
Dito isto, em parágrafo de destaque, vou dizer que não valeu a pena? Muito pelo contrário, valeu e muito. No geral foi a mesma ladainha de sempre, mas tiveram ótimos momentos.

Para mim o ponto alto foi ter visto a prestação de contas da UCB, União dos Ciclistas do Brasil. Devia ter gritado "parabéns, parabéns mesmo!". Como acompanho a UCB desde o início, para mim foi uma gratíssima surpresa ver que a entidade tem um bom dinheiro em caixa, que recebe apoio até de banco, que faz contabilidade, auditoria, ou seja, que usam ferramentas monetárias capitalistas para chegar um fim de cunho social, porque não dizer, e de esquerda. Bravo! Bravo! Os puristas, a quem devo meu carinho e respeito, mas discordo, e seu purismo, que entendo, ficaram para trás, mas ainda estão junto na luta. Bravo! Eu queria ter dado um beijo em todas as que fizeram a apresentação financeira, mas pelo clima tenho certeza que me enquadrariam na Lei Maria da Penha, ou mandariam para o hospício. De qualquer forma, querendo ou não, fica meu beijo de agradecimento estalado e babado em todas. Bravo! Bravo! Quer saber, ali valeu minha ida ao congresso.

De minha parte gostaria que eu, Arturo Alcorta, não fosse citado, de preferência fosse esquecido por completo, como de certa forma está provado que quase estou. O Brasil não tem memória, caga e anda para sua história, porque seria diferente com o que aconteceu no passado da bicicleta.
Se faz muito não interessa o que penso e falo, se faz muito dizem que falo sem parar, que lá vem o Arturo, então peço desculpas por não ter me retirado definitivamente antes, mas tenham certeza que aqui me retirei. Mesmo que alguns tantos digam que meu trabalho serviu de referência, serviu é passado, foi-se. Minha voz, minha experiência, minhas contribuições e ou discordâncias, a bem da verdade de qualquer um, não interessam mais. Hoje é o tempo da bicicleta pela bicicleta, para a bicicleta, da ciclovia e ciclofaixa, do carro a menos. Não ouvi uma palavra sobre pedestres e pessoas com necessidades especiais, aliás ouvi, quando para pedir melhoras para ciclistas foi citado o número absurdamente alto de pedestres mortos em Florianópolis. Quem estava lá para ouvir um senhor vestido de preto, um Secretário ou o próprio Prefeito? Que me lembre chamaram o Prefeito. 
Pessoas com necessidades especiais e suas mobilidades? Pelo que entendi das falas, a cidade tem que se curvar à revolução da bicicleta. Che Guevara pedalava ou só usava moto, como aparece no filme?*

Para mim é uma surpresa, Che Guevara nunca disse “hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás”. De quem quer que seja, o "tem que endurecer, mas sem nunca perder a ternura" faz todo sentido, mas eu completaria com "sempre olhando os mais necessitados".

Sem mais, boa sorte a todos e todas.
Talvez vocês estejam certos e eu completamente errado, mas sigo porque acredito o que meus próprios erros me ensinaram: pensa em todos, pensa em tudo, não confronta, trate bem até seus inimigos porque mais vale um mau acordo que um confronto, e talvez ele tenha alguma boa razão. Olhar no espelho e me achar lindo e inteligente não fez parte de minha formação. 

Inté, caros amigos. Boa sorte






*Respondo eu: Che estudou no mesmo colégio que meu pai, Colégio Marista Champagnat, era três anos mais velho, e naquela época, por volta de 1944, ninguém usava bicicleta, principalmente numa Argentina tão rica como era*. Era carro mesmo, algumas pouquíssimas motos. Via de regra era carro bom para circular numa Buenos Aires riquíssima, Belle Époque tardia e total. O resto, até que a história seja revista, é história.

*... Argentina tão rica como era... até entrar num ciclo vicioso de um populismo assistencialista que há 50 desintegra o país e empobrece brutalmente os mais necessitados.
Responsabilidade social é uma coisa, aquilo, o que houve, é outra coisa, completamente diferente. 
É deprimente, mas agora votaram pelo fim dos donos da pobreza entregando o poder a um mucho loco, para dizer o mínimo minimorum. Deprimente, mas previsível. A toda ação existe uma reação. Aquilo deu nisto. 

Serve de exemplo.

sábado, 18 de novembro de 2023

O valor das coisas

No meio de um trânsito infernal o que me salvou foi o som do carro com Larry Adler com sua mágica gaita acompanhando várias versões de clássicos da música americana. Maravilhoso. Odeio trânsito e minha relação com estar dentro de um carro é cada dia mais precária. Largo o carro na garagem e volto para minha casa pedalando numa das tardes mais quentes da história paulistana. Em ruas onde um dia sonhei que passariam os ciclistas o entupimento está tão grande que tive que seguir pela calçada.

Chego em casa exausto do calor e deito por uns minutos no chão, o local mais fresco de toda a casa. O silêncio não tem preço. Fico com olhos fechados por um bom tempo, mas não cochilo, os pensamentos não param, muito menos as obrigações. 

Sinto saudades de minha cidade, esta mesma que vivo hoje e que no maldito que acabo de passar não reconheço mais. É o preço do progresso? Será progresso? 
Quero sair de casa para caminhar e fazer umas compras para a geladeira, mas o mar não está para peixe, os ladrões estão em tempo de pescaria, os vizinhos contam um assalto atrás do outro. Não acredito, mas por via das dúvidas é bom ficar em casa.

Quero tirar os 550 milhões na Mega Sena. Quem disser que não quer não está falando a verdade, ou não sabe sobre o que se trata. Vou mudar minha forma de vida? Não. Então para que tanto cacau? 

Quero comprar um destes morros carecas cheios de cupins que cansei de ver quando viajava para Cambuquira e reflorestá-lo. A ideia não é idiota, o único problema é que não estarei vivo para ver o resultado. O resto dos desejos sobre o que fazer com os trocados se eu ganhar a Mega Sena são mais banais, mas definitivamente não incluem comprar um carrão. Nada contra carros, muito pelo contrário, mas no meio deste engarrafamento ele não servirá para nada. Prefiro a liberdade, que não tem preço.