quarta-feira, 24 de novembro de 2021

É lógico que consigo...


"Genial nada! De uma demência impar!!!" comentário sábio de Thomas que estava gravando e assustou-se com o 'pequeno erro' que cometi.

Como tudo nesta vida o discreto tombo foi uma burrice cortada por "faca de dois legumes", o primeiro esportivo(?), se assim se pode chamar(?), o segundo simbólico e metafórico, relativo ao comportamento social.

A razão do tombo esportivo(?) explico no blog Escola de Bicicleta correio, mas o resumo da ópera bufa foi: IDIOTA!

Eu sei o que estou fazendo amaldiçoa nossa humanidade e o planeta, nem de longe é minha exclusividade. Pouquíssimos são os que sabem de fato o que estão fazendo. Menos ainda quando um ser humano vai fazer o que não é o trivial. Estamos na era dos super heróis, dos vencedores, dos que não podem falhar. Somos uma sociedade incutida de todos estes predicados e mais o "vai que vai dar certo". Será? 

Mesmo no mais trivial vira e mexe cometemos erros básicos, risíveis, estúpidos ou qualquer outro adjetivo que se prefira incluir à besteira, burrice, idiotice... Você decide.
Por exemplo: outro dia coloquei óleo de soja diretamente no fogão. Como assim? Para que? Ora, para fritar a cebola e preparar o arroz. A panela estava à minha esquerda. Ora! por pouco! Pequena distração... (só rindo para não chorar). Felizmente estava com o fogo fechado. (Fogo fechado é ótimo, deve ser coisa de religião). 

Começa no "você não me deixa falar", passa pelo "deixa que eu faço", e outras frases afirmativas que têm a ver com a obrigação de ser socialmente vencedor, ou não aceitar que não sabe o que está fazendo, ou não interessa o que o outro sabe... Resumo: quem não é vencedor é perdedor, dogma inquestionável de nossa civilização; ou será civilidade?

Estou tentando ajudar uma prima que está com Alzheimer. Tudo que pensava até entrar neste processo sobre os que tratam, acompanham ou os que não conseguem lidar com o doente simplesmente foi revisto ou caiu por terra, e a maioria das minhas (frágeis) verdades se provaram invalidas, algumas completamente estúpidas.  Meu "é lógico que consigo..." está sendo um fardo além do que posso carregar. 
Somos todos humanos.

Contribuo com um dinheirinho para a AAC, sempre me preocupei com o pessoal que tem necessidades especiais, mas só fui ter a dimensão correta do problema individual, familiar, social e coletivo quando nasceu o filho de um primo com Síndrome de Down; e olha que não fui afetado diretamente, só procurei saber como ia a situação. É uma destas realidades brutas da vida que desmancham, desintegram o "é lógico que consigo...", o conceito de vencedor, de super herói ou qualquer outra besteira.
Vivemos dentro do que nos é suportável, não da realidade.

Minha vida começou a mudar quando ouvi "Quem você pensa que é?". Desmoronou de vez quando vi a largada dos deficientes físicos na São Silvestre. Com eles entendi o correto sentido de "eu vou conseguir".

"Não toca em mim. Eu caí, eu me levanto só. Por favor me ensina a me levantar só. Não quero e não vou ficar dependente de ninguém" disse em voz alta e firme a recém paraplégica para os que a estavam ensinando a andar com as muletas que iriam acompanhá-la até que a morte os separe - literalmente.  
 
Em Werneck, um vilarejo próximo a Paraíba do Sul, pequena cidade no Estado do Rio de Janeiro, conheci um mecânico de bicicletas que não tinha nada dos dois braços. Fazia tudo com os pés, tudo, inclusive montar uma roda do zero, o que para quem sabe como é sabe que com as duas mãos é trabalho para poucos. Ele é meu herói.

É lógico que consigo! É mesmo? Prove! 
(Brasil país do futuro? É mesmo?) 
"Não me interessa o que você está dizendo. Quero saber o que você vai fazer de fato". Palavras sábias.

Esta pandemia talvez tenha servido para boa parte da população entender que não sabe nada. Caso tenhamos aprendido esta lição temos boa possibilidade de construir um bom futuro. 
"É lógico que consigo..." vale quando não há qualquer soberba envolvida, o que é difícil acontecer. Consegue quem sabe de fato, conhece seus limites, suas possibilidades e tem responsabilidade para realizar. É disto que precisamos.

sábado, 20 de novembro de 2021

Terrorismo contra os motoristas e pedestres?

SP Reclama
O Estado de São Paulo

Rua Bela Cintra com rua Consolação; rua Groenlândia com rua França; rua dos Pinheiros com rua Capitão Antônio Rosa, são três das esquinas onde recentemente o foco dos semáforos para os veículos e para pedestres teve posição alterada, fazendo que, por exemplo, as duas vias do cruzamento fiquem com sinal verde simultaneamente. Em muitas outras esquinas pela cidade e faz tempo vem acontecendo o mesmo. Parece brincadeira, mas não é. É uma ação estúpida, criminosa, que pode levar a acidentes com vítimas, até mortes. Funcionários da CET SP dizem em off que têm consciência, estão muito preocupados, desconhecem quem tem feito, e quando são alertados ou veem corrigem imediatamente.
É impossível que vento ou mesmo um impacto mude a posição do foco da forma como vem ocorrendo. Vento não tem força para tanto. Impacto não é porque não há marcas nem deformações. Manutenção também não é. Troca de lâmpadas ou limpeza é realizada quando muito com o simples acionamento de uma pequena trava completamente desvinculada do alinhamento do semáforo que é fixo e determinado pela engenharia de tráfego. Para mudar a posição é necessário soltar grossos parafusos, destravar o semáforo da cremalheira, mudar de ângulo, travá-lo e reapertar tudo, o que tem sido feito provavelmente com uso de escada.
Não dá para imaginar do que se trata, se protesto, se contracultura, pseudo ato revolucionário ou o que quer que seja. Tenho dito e repito que (talvez) só se coloque um fim a esta loucura a hora que morrer alguém, ou quem de direito realmente se interessar pela loucura.

A morte da ciclista e modelo Mariana Livanalli Rodrigues no cruzamento da av. Faria Lima com rua Chopin Tavares de Lima, próximo ao Largo da Batata é um exemplo claro de como uma sinalização semafórica mal posicionada pode terminar em acidente grave. No caso, os semáforos para ciclistas e motoristas de ônibus estão posicionados no mesmo poste, um sobre o outro, induzindo exatamente ao mesmo erro que estas interferências indevidas em focos de semáforos vem causando.

sexta-feira, 19 de novembro de 2021

Carro de ciclista, comportamento de motorista.

Deixo aqui a recomendação para que os organizadores da ótima, divertida, bem-organizada prova Desafio da Serra do Rio do Rastro nas edições futuras oriente os motoristas que estejam acompanhando ou participando do evento a ter um pouco mais de paciência e muito mais cuidado ao seguir e ultrapassar ciclistas. Algumas situações que vi estão longe de um comportamento adequado, de uma direção defensiva ou respeitosa por parte de vários motoristas. Sou ciclista urbano, de São Paulo, capital, metrópole, estou mais que acostumado a pedalar no meio dos carros e de trânsito pesado e definitivamente não sou de ficar reclamando. Algumas situações que vi na linda estradinha da serra e no entorno de Lauro Miller e Bom Jardim da Serra são difíceis de aceitar.

Imediatamente após meu retorno de Santa Catarina comecei escrever sobre o comportamento pouco gentil, descuidado, agressivo dos motoristas em relação aos ciclistas que estavam indo para a prova. Motoristas com rack e ou carregando bicicleta se aproximavam, colavam e faziam ultrapassagens nada prudentes sobre os ciclistas. 
É de se esperar que pelo menos quem pedala dirija seu carro com um mínimo de consciência de ciclista.

Eu já deveria ter levantado esta questão a tempo. Aqui em São Paulo, nos Jardins onde eu moro e circulo, lugar de bonitinhos e bem arrumados, estou cansado de ver carrões de ciclistas com rack ou adesivo de grupos ou marcas de bicicleta tendo condução inapropriada com outros que pedalam pelas ruas. A sensação que dá é que para este pessoal se o cidadão ou cidadã não está todo paramentado e treinando com sua joia rara não merece respeito. Eu próprio já fui insultado por um destes motoristas por estar pedalando tranquilo, calça jeans, camiseta, mochila, modo de transporte, no meio de um bairro tranquilo de casarões, gente estudada, viajada dirigindo carrões. "Vai pedalar na ciclovia. Sai da frente!"

A bem da verdade, qual a diferença de comportamento por parte destes ciclistas motoristas na direção dos seus carros com a forma como pedalam, se aproximam e ultrapassam em pelotões os ciclistas mais lentos na ciclovia do Rio Pinheiros? O número de incidentes e acidentes conhecidos ou notificados diz tudo. Não generalizo, somos todos humanos, mas tem mais que deveria ou é aceitável.

terça-feira, 16 de novembro de 2021

Baldes, lixeira e consciência ambiental


Estou lavando roupa e, como sempre, faço reuso da água que sai da máquina. O processo todo dá para encher bem mais que estes três baldes e a pequena lixeira. O grosso vai para dois toneis ao lado da máquina.
Duas vantagens nesta história, a primeira ambiental, a outra, para mim hoje importantíssima, é que carregar baldes para despejar no vaso sanitário praticamente acabou com minhas dores de coluna. Ufa!

Quando passei agora pelos quatro recipientes senti um delicioso orgulho. O balde grande em alumínio foi comprado. A lixeira cinza de plástico também foi comprada em 1987 quando entrei nesta casa. Vida longa à lixeira! Um dia quebrou uma alça e depois a borda, mesmo assim dei um tapa com um arame e está aí sendo usada. 
O balde pequeno em alumínio estava jogado numa caçamba com um furo pequeno no fundo. Colei uma manta plástica e já perdi a conta de quanto tempo está em uso.
O balde em plástico azul estava jogado no lixo com um pequeno racho no fundo, o que foi resolvido com Araldite. Já não sei mais quando foi. Um dia quebrou a borda e da mesma forma que fiz como a lixeira cinza passei um arame grosso, também encontrado na rua, para reforçar, funcionou e continua funcionando. 
Ora, direis: Que lindo, reciclado! É..., mas não deixa de ser simplório orgulho. 

De grão em grão a galinha não polui o chão. Ok, não faz o mais remoto sentido, talvez para Kafka; mas fica a rima para que se pense num enredo de escola de samba, o que se tratando em proteção ao meio ambiente faz todo sentido. No final das contas nossas ações pelo meio ambiente, mesmo as mais bem-intencionadas, parecem caminhar cambaleantes como o sonho de uma galinha que não cague todo quintal. Vida longa ao poleiro!

Quantas pessoas podem ou têm capacidade para pegar um balde ou qualquer outra coisa estragada e descartada numa caçamba ou lixeira, para dar um jeito e reusá-lo? Quantos têm tempo para isto? Quantos têm espaço para consertar? Quantos têm ferramentas e habilidade? Quantos, quantos, quantos...? 
Quantos cidadãos se deslocam numa velocidade compatível com o olhar calmo e atento para o que está pelas ruas (fora vitrines, carrões, gostosas e gostosos e outras trivialidades sociais)?
Quantos têm coragem, não sentem vergonha, não ficam constrangidos, assumem a estranheza de "catar" um "lixo" da rua?
Só estas perguntas já colocam a questão ambiental em um patamar muito longe da ação necessária para reequilibrar o meio ambiente. 

Uma vez por mês levo um saco grande cheio de embalagens para a reciclagem e disto não tenho tanto orgulho assim, aliás, nenhum orgulho, acho uma vergonha. Correto seria não ter que reciclar, mas não faço a mais remota ideia de como viver neste círculo vicioso da cidade moderna sem comprar produtos embalados ou produtos com vida útil e ou obsolescência programada.

Me considero um cidadão com interesse e alguma atitude em relação ao meio ambiente, mas tenho certeza absoluta de que sou um imbecil funcional para o assunto. 
Tenho um amigo que estuda e trata de ter uma postura de vida de fato ambientalmente correta, mas muitas de suas opções definitivamente não funcionam em larga escala, mesmo sendo corretíssimas.
Outro dia me foi mandado uma charge onde se via um congestionamento de carros com os dizeres "no futuro o congestionamento será de carros elétricos". Define com perfeição o problema que temos. Urge passar de palavras não direto para a ação, mas para a educação, o entendimento, para um projeto com princípio meio e fim. A única saída é o conhecimento. 

"O problema não é o lixo visível..." Amir Klink. 

sexta-feira, 12 de novembro de 2021

Estrada, flora e flores do entorno de Jardim da Serra, Santa Catarina em fotos









Foram 45 km para descobrir a riqueza da flora. Não sou fotógrafo, mas gostaria de ter o dom e dos bons para dar a dimensão correta da variedade e beleza das flores que encontrei na beira da estrada, algumas muito pequenas, todas de uma delicadeza impar. Não me lembro de ter visto tanta variedade em outra estrada.



 

Turismo a brasileira?

O que conto a seguir parece frescura minha, mas definitivamente não é. É nos detalhes que as coisas deixam de funcionar.

Como regra em hotéis o quarto é do hóspede até que ele faça o check-out. Também via de regra a limpeza do quarto só é realizada depois que o hóspede fez o check-out e deixou o hotel. Arrumar o quarto antes vai ter que fazer duas vezes, o que por diversas razões é ruim para o hotel e de certa forma uma falta de respeito com o trabalho das faxineiras, aliás, uma puta sacanagem. Se o hotel está lotado pior ainda porque as meninas têm que correr para conseguir dar conta do recado. Dito isto...

O que relato aqui foi um problema com uma funcionária, problema este que é reflexo deste Brasil e de seu setor de turismo que não passa nem perto de seu imenso potencial. Por que será?

Ao sair do quarto para meu último café da manhã no hotel em Lages, Santa Catarina, bom hotel, encontrei no corredor a faxineira e avisei, como sempre faço, que estava de saída (check-out do hotel) e que, por favor, só fizesse a limpeza depois que eu voltasse da caminhada. É uma simples questão de respeito com estas trabalhadoras que dão um duro danado. Ela agradeceu.

Passei pela portaria, deixei a chave e saí. Quando voltei minha chave não estava lá. A atendente disse sem levantar a cabeça do que estava fazendo, em tom seco, bem desagradável, que tinha entregado a chave para a limpeza "adiantar o serviço". Subi e já do corredor pude ver toalhas e roupa de cama no chão da porta de meu quarto. A mesma menina a qual tinha dito para não arrumar o quarto disse que não me preocupasse que ela faria a limpeza de novo. "Não está certo. É uma puta sacanagem com o seu trabalho" respondi. O quarto já estava impecável para o próximo hóspede. Não tive nem vontade nem coragem para tomar meu último banho e dar uma cochilada antes do check-out. Fechei a mochila, peguei a bicicleta, entreguei a chave para a atendente grosseira que novamente sequer olhou para mim e saí com a sensação que tinha sido convidado a me retirar do hotel porque já estava chegando o próximo hóspede.

Fato isolado? Sim e não.

Acabo de telefonar para o Hotel Cattoni e falei com um dos donos, por ironia é o rapaz que estava na portaria quando a indelicada me avisou que a chave não estava lá. O dono me agradeceu muito o telefonema e disse que já tinha conversado com a atendente e iria conversar novamente; pediu para eu voltar e me hospedar lá...

Antes de toda esta baderna que estamos vivendo por causa da pandemia quem fazia cálculo na ponta do lápis não tinha dúvida que ir para fora saia muito mais barato e oferecia muitíssimo mais valor agregado. A diferença é absurda.

Lá fora é tudo perfeito? Não, não é, mas os erros e problemas são infinitamente menores e mais difíceis de acontecer que aqui. Lá todos têm consciência plena que turismo é um senhor negócio, que dá muito dinheiro, gera muito emprego, direto e indireto, é bom para todos. No Brasil ainda não há esta consciência, turismo é só um emprego, nada mais. E nossas leis trabalhistas ajudam a melar qualquer negócio e no turismo definitivamente não poderia ser diferente.

Só me lembro de uma situação destas fora do Brasil, em Paris, num pequeno hotel onde a recepcionista foi grossa. Fui reclamar com a gerente, que muito cordial e divertida explicou que a dita estava fazendo uma substituição de emergência e completou: “Vou levar sua reclamação para a mãe dela, que é a dona do hotel. Não vai ser a primeira vez que ela ouvirá reclamação como a sua”. Mimada é assim, fazer o que?

Centro Cultural Movimento, em Socorro, SP - inauguração: maravilhoso acervo, brilhante iniciativa da cidade

Ontem, 11 de novembro de 2021, foi inaugurado o Centro Cultural Movimento em Socorro, interior de São Paulo. Nascido de um trabalho intenso de Carlãozinho Coachman, resultado do longo, detalhado e precioso https://motostory.com.br/pt/
Para quem conhece todo trabalho, todo acervo, as fotos abaixo dizem muito pouco, mas já dão água na boca.





























Carlãozinho um pouco antes da cerimônia de abertura do CCM





O número de ex campeões e figuras importantes do motociclismo provou o tamanho do respeito que eles têm por Carlãozinho.


Portas abertas... Bela festa, ótima organização do evento. 

quinta-feira, 11 de novembro de 2021

(Meu) Desafio da Serra do Rio do Rastro 2021 e pedais Santa Catarina

O sprint do 14º Desafio da Serra do Rio do Rastro, definem bem o que foi esta prova para mim, mas só? definitivamente não.
Não gosto de largadas, foi a única razão para ansiedade na prova. Ter muito ciclista em volta sempre me deixa ansioso, com uma sensação de insegurança - até em Amsterdam. 
Burrice: durante os 24 km de subida fiquei preocupado com detalhes para subir mais rápido e baixar meu tempo. Erro crasso! Só quando faltavam umas poucas curvas me dei conta que praticamente não tinha curtido a beleza deslumbrante da serra, que até completamente nublada, como estava, é imperdível. Mesmo tendo delírios de chegar na frente sabe-se lá de quem ou do que curtir a paisagem faz bem para a cabeça, relaxa a musculatura, ajuda muito a controlar o cansaço  e com certeza baixaria mais o tempo.  
Mesmo com o sprint final, genial, divertidíssimo, terminada a prova minhas pernas estavam mais inteiras do que gostaria. Poderia ter subido um pouco mais forte, mas isto é algo que só se sabe depois da linha de chegada. Ter controle preciso sobre os próprios limites só praticando. Cobrar-se exageradamente não vale a pena, é contraprodutivo, burro. Olha, quer saber, me diverti pacas, valeu cada segundo, cada metro, cada respirada, cada olhar.

Pelo sim e pelo não, também pelo também, tudo junto, estou feliz, muito feliz. O conjunto da obra vai além da prova. Em 4 dias tive um ganho de altimetria próximo a 2.500 metros em um pouco mais de 100 km pedalando. Não, não estou me vangloriando, simplesmente adoro subir e aqui transbordo minha alegria, o que não faço normalmente. Hoje pela manhã acordei pensando "E daí, qual e quando vai ser a próxima brincadeira?" Vontade mesmo tenho de jogar tudo para o alto e desaparecer pedalando, mas a vida não é simples assim (infelizmente ou felizmente?).

Quatro dias de diversão na veia (ou no véio, como queira):

Gerusa com Rio do Sul ao fundo 
Dia 1: Cheguei de ônibus em Rio do Sul, Santa Catarina, pela manhã, 18 horas de viagem noturna, fui recebido, muito bem recebido, diga-se de passagem, pela Gerusa e Rone. No almoço, bela macarronada a bolognesa preparada por ela,  veio o convite para uma "pedalada levinha" à tarde: um pouco mais de 25 km com um pouco mais de 300 metros de subida. E lá fomos nós, eu e ela, fritando no sol do sul. Lugar lindo!!!!

Dia 2: No dia seguinte, já em Bom Jardim da Serra, saí com Solange e Dayse, amigas de Gê e Rone, para uns 22 km aí sim leves, mas logo à frente a neblina baixou, tudo desapareceu, e achamos sábio dar meia volta. 

Dia 3: A prova. 14º Desafio da Serra do Rio do Rastro, segundo o Strava da prova dela precisos 23.8 km, 1.339 m de ganho de elevação. Pelo Google dá 1.200 de elevação, mas vou pelo Strava. Tesão!
Dia 4: Para completar, sem saber como ficaria as pernas, fui pedalando de Bom Jardim da Serra até São Joaquim, uns 45 km com 698 de subida, algumas tão pesadas quanto as da serra. Vento chato de proa logo depois de sair de Bom Jardim da Serra, onde deveria fazer uma média lá pelos 18 km/h não consegui passar dos 13 km/h. Cheguei no final das subidas bem cansado, não arrebentado porque a beleza da paisagem é estonteante.
Queria completar estes dias de diversão pedalando os 80 km para Lages, mas tive que apressar minha volta para São Paulo. E, confesso, duvido que teria pernas para tanto. Mesmo que tivesse, seria um pouco de irresponsabilidade, risco de lesão. Lesionar-se por excesso de entusiasmo é de uma burrice sem tamanho, lição que aprendi pela vida. Com calma se vai longe. Sem lesão mais longe ainda. 
 
Não sei se volto a fazer o Desafio do Rio do Rastro principalmente por causa da logística que feita às pressas é chata. Vai para Bom Jardim da Serra, no sábado desce a serra de carro para pegar a inscrição, sobe a serra para dormir, acorda às 4:00 h para tomar café da manhã, pega carona para descer a serra antes que seja fechada ou desce pedalando, o que não é meu negócio. 
Ou volto a fazer o Desafio, mas indo com bastante antecedência, ficando em Orleans ou Lauro Miller, no pé da montanha, para ter tempo de fazer a subida da Serra do Corvo Branco, uma pauleira sem tamanho, com tempo para descansar e subir a Serra do Rio do Rastro no Desafio. E lá no topo parar e ficar pelo menos uns dias na pequena e muito simpática Bom Jardim da Serra, na pousada Tafona de meu amigo Paulo, simpatia em pessoa. Aí sim!

Como já recomendei, volto a recomendar mais muitas vezes esta experiência de vida. Imperdível. E leva a família porque passeios é que não faltam.

postada em 11 11 21

Serra do Corvo Branco - a próxima 



terça-feira, 2 de novembro de 2021

Portaria 122 e a proibição de grupos de ciclistas nas estradas

Mensagem do Aparecido Inácio recebida pelo Whatsapp:

DEPOIS DE MUITA PRESSÃO DER.SP REVOGA PORTARIA 122 QUE PROIBIA GRUPOS DE CICLISTAS NAS RODOVIAS. E agora, o que fazer para que isto não se repita?

Eu tenho muita admiração pelo trabalho do Aparecido Inácio vem fazendo em prol dos ciclistas. Confesso que não estava acompanhando toda esta história, mas a revogação desta portaria é no final das contas mais que sensata. E só agora, digitando este texto, acabei me lembrando que proibir ciclista em estradas já aconteceu inúmeras vezes, talvez não através de portaria, não que me lembre, mas com certeza com policiais rodoviários criando problemas e até apreendendo a bicicleta. Numa destas, faz muito tempo, fiz questão de parar na Polícia Rodoviária com risco de ter a bicicleta apreendida. A única coisa que ouvi foi para tomar cuidado que eles estavam de saco cheio de ter problemas. A sensação que tive é que eles tinham passado por fato isolado e decidiram dar uma basta momentâneo.

Aparecido soltou junto com a mensagem um vídeo no Instagram falando sobre a Portaria 122 e a situação dos ciclistas nas estradas. Boa fala.

Respondi com alguns áudios para o Aparecido, primeiro parabenizando-o e depois fazendo alguns comentários que repito aqui, incluindo mais alguns.

O maior problema ou dificuldade para as autoridades é a área conurbada das estradas, onde acontecem a maioria dos acidentes e incidentes. É muito provável que tenha acontecido algo num destes trechos. Ciclista fora do acostamento, na pista? Carro de apoio atrapalhando o trânsito? Briga, xingamento? Motorista idiota sem paciência?
"Ciclista não tem lugar para treinar em São Paulo" diz Aparecido, daí sair para estrada. E vão longe os trechos conurbados de todas estradas.

Não é um problema só do pessoal que treina. Nunca ouvi alguém falar sobre os perigos que passam os trabalhadores que pedalam em estradas em horários que autoridades e classe média ainda estão na cama ou tomando café da manhã.

A Rodovia Dutra entre Hélio Smitd e Bonsucesso apresentava em 2010 no horário de entrada das fábricas um ciclista a cada 27 segundos, coisa que ninguém sabia da existência, sequer as autoridades.
Quem conhece a história dos inúmeros operários ciclistas mortos na então Rodovia dos Trabalhadores, hoje Ayrton Senna, no trecho conurbado de Guarulhos? Quem fala sobre o gravíssimo problema dos ciclistas na SP 55? Em Ubatuba no horário de pico o número de ciclistas pedalando na estrada é impressionante, assim como o número de acidentes? No interior paulista há vários locais com problemas sérios, mas quem fala? De vez em quando, talvez até num ato de desespero, uma autoridade tenta acabar com o problema proibindo a circulação de ciclistas.

Definitivamente não é primeira vez que proíbem e espero que seja a última, mas tenho todas as razões para duvidar que seja. Problemas pontuais sempre acontecem.

O que temos hoje é o pessoal que treina, classe média e alta, fazendo barulho e sendo ouvido, situação considerada normal e referência numa sociedade como a nossa. Pião que se vire.

Precisa ver o que detonou a publicação desta portaria. Por experiência sei que sempre que sai uma besteira destas tem alguma história por trás, basta procurar que aparece.

Exemplo fácil: Quem sabe ou quem se interessou em saber por que a Cidade Universitária da USP fechada? Maldade?
Ora, os próprios ciclistas vinham reclamando bem antes do fechamento da agressividade de um grupo que pedalava na USP. Vi pessoalmente e prefiro a palavra "selvageria".
O "basta" que definiu o fechamento dos portões foi a agressão contra a mulher de um dos vice-reitores da USP, uma senhora que dirigia seu carro e tomou uma bofetada na cara de um ciclista. Duas ou três semanas antes um triatleta foi espancado por um grupo de ciclistas também por ter reclamado da agressividade deles. Antes destas duas ocorrências a USP vinha recebendo pelo menos duas reclamações formais, lavradas in loco, daquelas que o sujeito vai lá, senta-se numa cadeira, espera e faz o B.O., sobre agressões, comportamentos inadequados e outras situações pouco civilizadas dos ciclistas. Brasileiro só formaliza uma reclamação quando a situação passou e muito de qualquer limite. Por que sei disto? Meu irmão era do Conselho da USP.

Lembrei de outra: depois de inúmeros problemas envolvendo ciclistas no Parque do Ibirapuera Jânio Quadros, Prefeito de São Paulo, decidiu proibir a circulação destes dentro do parque. A gritaria foi generalizada. Acabei descobrindo que a maioria dos acidentes dentro do parque tinham como responsáveis ciclistas, mais, que o Ibirapuera na época tinha 7 vezes mais acidentes com ciclistas que qualquer outra parte da capital paulista.

Deixo a pergunta: o que terá acontecido para o DER-SP ter baixado a portaria 122?

Já vi muitos fecharam os olhos em situações erradas para proteger seus próprios interesses ou interesses corporativos. Upa! o corporativismo no Brasil...

É muito difícil que alguns professores ligados ao movimento da bicicleta não soubessem o que estava acontecendo na USP e o que iria acontecer, no caso fechar. Lobo em pele de cordeirinho tá cheio.

Quem tem interesse real precisa fazer um esforço para identificar com precisão quem é quem no jogo, ou fica difícil colocar ordem no galinheiro.

Proibir ciclistas nas estradas é pouco sensato. Óbvio que tirar o sofá da sala não vai fazer nenhuma diferença para a virgindade da menina. O negócio é conversar, explicar, educar, entender e respeitar as necessidades. Também é óbvio que tem que conversar não só com todos, não só com os namorados que querem dar vazão a seus instintos. Tem que ter limite e responsabilidade, ou vai dar ruim.

tem um ciclista na frente do caminhão
O problema de ciclista (e pedestres) circulando em estrada conurbada é muitíssimo maior que esta leva de novos ciclistas diz. É absolutamente impossível de parar a circulação de qualquer ciclista, sejam esportistas ou trabalhadores.
Este é o país das leis e decretos que não colam, simples assim.

Estrada conurbada é em si um problemão para todos que ainda não tem uma solução fácil ou mesmo complicada. Quem tiver uma solução viável que apresente.
Quando vamos começar a discutir a sério nossos problemas?

segunda-feira, 1 de novembro de 2021

O erro grosseiro do "vota no novo que dá certo"

 

Troca tudo e resolvido todos nossos problemas? Será?

Aqui em São Paulo os semáforos quebram na primeira chuvinha. O problema, exatamente como na política nacional, se arrasta há décadas. O que deve ser feito para resolver?
O problema dos semáforos paulistanos é que o sistema todo está completamente obsoleto. Uma parte dele é americana, outra inglesas, e a outra italiana. Tentaram integrar os sistemas numa gambiarra que definitivamente não deu certo e o resultado está aí. Chove, molha o sistema e dá pane, simples assim.
O que fazer para ter um trânsito que vá em frente? Trocar toda a direção da CET? Já tentaram e não funcionou porque a CET é altamente complexa e, mais ainda, é quem sabe fazer funcionar o trânsito paulistano, mesmo trabalhando com condições precárias. Trocar toda a direção da Secretaria de Transportes renovando tudo? Tentaram, não funcionou como esperado na melhor das gestões. Por quê? Porque tudo funciona em cima de leis. Então a solução está em trocar todos os vereadores, mas a questão é que os novos não fazem ideia do que é transporte, trânsito e logística, e na melhor das intensões passam leis de boa intensão que mais atrapalham que ajudam. Pior, como não conhecem o funcionamento da própria Câmara dos Vereadores demoram para começar a agir ou são engolidos pelo sistema, leia-se funcionários corporativos da própria Câmara.

Então não tem solução? Claro que tem! Os incomodados que se mexam. Fiscalizar, cobrar, se interessar, pressionar, saber quem faz o que, quem conhece, quem é bom, quem tem capacidade para resolver, quem faz acontecer, desatar nós.

Qual a solução para os semáforos, portanto para o trânsito de São Paulo? Não tem outra alternativa senão trocar todo sistema por um de última geração, óbvio inteligente, que integre todos modais de mobilidade e transporte nos moldes europeus, ou seja, sem privilégios para o transporte individual, que é o caminho a ser seguido pela cidade do futuro. Em Los Angeles trocaram tudo num trabalho de 10 anos que custou algo em torno de US$ 1 bi, o que não é custo, mas investimento. É uma referência.
A única coisa que todos que conhecem de fato o problema concordam é que tem que trocar tudo, semáforos, cabeamento, central de controle, computadores... o que é complexo, demora e custa.

Toda população reclama, mas ninguém se interessa pelo que realmente está acontecendo ou pelas possíveis soluções; dos semáforos ou de qualquer outro problema crônico que freia nosso progresso.

Quando fizerem a troca, se um dia será feita, e se fizerem correto, deve acabar o sagrado direito ao uso indiscriminado e pouco racional do automóvel. Como tem muita gente que não concorda com restrições dos próprios direitos então fica assim; choveu quebrou.

Mais, semáforo faz parte do trânsito, trânsito faz parte da cidade. cidade existe por que tem população, população civilizada facilita a fluidez...
Definitivamente não se resolve um problema com um único fator.

"Vota no diferente", independente do que seja, deu nisto. Não seria mais correto votar no que já provou que é bom, que tem qualidade? Se quer algo diferente não é sábio pesquisar antes?

"No Brasil, isso é um desafio, porque a nossa situação fiscal é muito fragilizada e o que se percebe é que a saúde pública não tem sido prioridade – quanto e como gastar não aparece no debate público sobre o que fazer com o nosso dinheiro". Armínio Fraga em entrevista para o Estadão sobre a saúde pública no Brasil