quinta-feira, 20 de novembro de 2025

Dois textos que definem Brasil e brasileiros com precisão

O Brasil segue o mesmo ou piorou muito de uns anos para cá? Dois textos publicados pelo Estadão, um editorial e um da coluna do Karnal, acertam em cheio descrevendo nossas chagas, as que não melhoraram, só pioraram.

Humor desapareceu, pelo menos no sentido libertário, o que só acontece quando a inteligência abunda. Hoje, nem abunda, nem 'a bunda'; não se pode tropeçar nas palavras ou escrita que lá vem a Santa Inquisição. Ontem mesmo uma operação policial invadiu uma escola e a diretora teve uma arma engatilhada na cabeça porque uma aluna desenhou uma orixá. Inteligência?

Inteligência? No final das contas é sobre o que falam estes dois textos publicados no Estadão, e é o que carece e muito este país. Não fosse assim, o que seríamos?

Na época do Maluf, saia com a Biba, uma beagle linda e calma. O Itaim Bibi tinha coco de cachorro por tudo quanto era canto. Quem já pisou num sabe como é. Sem querer, mais por rogar praga, iniciei uma campanha que funcionou muito melhor do que a encomenda.

"Não pise na merda, pise no merda". A quantidade de merdas na calçada diminuiu para valer.

Nem sei se posso publicar isto porque estes novos tempos são muito mais mal humorados e inquisidores que aqueles da ditadura. Não sei se deveria publicar, mesmo aquele fato passado sendo bobinho, infantil, risível, mas não inconsequente. As merdas diminuíram. 
De onde virá agora a Santa Inquisição? Da merda ou dos merdas?

E desta forma de pergunta, pergunto exatamente como nos questionávamos nos anos duros: Quem merda pensamos que somos? Esta pergunta que nos fazíamos, mais que pertinente naquele momento, procurava nos fazer olhar no espelho, este mesmo que bem mais tarde, já deixada a ditadura longe, foi quebrado a pedradas. Hoje muitos, mas muitos mesmo, frente a moldura vazia, espelho estilhaçado ao chão, se perguntam "Espelho, espelho meu, há alguém mais inteligente do que eu?", com o obrigatório selfie. Sorria!

Recomendo ler os dois textos na íntegra um seguido do outro, sem ordem necessária. São tão completares que mesmo sem muito esforço se poderia mixá-los continuando a ser tão claros e inteligíveis quanto em separado. São a descrição precisa do que somos. 

Do texto da coluna do Karnal:
Nós detestamos críticas no Brasil. Ninguém será avaliado ou punido. Avaliamos pouco o processo. Não criticamos os trabalhadores porque soa como autoritarismo colonial. Não criticamos os altos poderes acima de todos porque... possuem poder








segunda-feira, 17 de novembro de 2025

Cidades sem carros? Será?

Por mais que se fale, por mais que queiram, não resta mais qualquer dúvida, o automóvel não vai desaparecer. O que talvez aconteça é o número de automóveis circulando dentro das cidades ou em áreas específicas venha diminuir, como já se provou possível, mas em quanto tempo isto acontecerá será resultante de ações dos governos e principalmente da população. Mudar culturas é complicado. Mudar vícios é mais complicado ainda. Automóvel é mais que uma complexa e profundamente impregnada cultura social e econômica muito bem estabelecida e sucedida. Automóvel é um dos mais consistentes vícios sociais. Ou já terá se tornado um dogma?

A história do sucesso do automóvel não ocorreu por acaso ou por vontade deste ou daquele agente, como querem uns, mas porque a ideia foi boa, funcionou muito bem e caiu para valer no gosto popular. Mais, depois do início de sua fabricação em massa, no início do século XX, aos poucos foi se mostrando um fator macro econômico de extrema importância e por isto virou programa de estado fomentado por todos governos.
Reverter o que está aí não é nada fácil. 

A China vem tentando dominar o mercado de automóveis elétricos. Está investindo fábulas em novas tecnologias. Um artigo publicado faz tempo no Economia ou Mobilidades do Estadão conta que uma destas fábricas, a mais moderna existente no planeta, estava ou segue produzindo com uma perda em torno de US$ 15.000,00 por unidade, se não falha a memória. Quem faz uma aposta tão pesada num produto não o faz porque acha bacana, mas porque tem dados consistentes sobre as possibilidades do mercado. Não resta dúvida que a China tem um planejamento estratégico bem montado, certo ou errado, é jogo pesado. Diminuição de automóveis circulando pode estar funcionando na Europa e em algumas outras poucas cidades pelo mundo, mas está muito longe de ser uma realidade que venha afetar um macro projeto econômico de uma economia que tudo indica vai ditar o futuro do planeta.
No último Matéria de Capa que passa na TV Cultura, o tema era energia limpa e novas tecnologias, entrando na questão dos paineis solares, que agora ja geram energia mais barata que as usinas de carvão, até agora base energética da China. Os paineis geram energia, que tem que ser armazenada em baterias, e uma das formas de armazenar enegia é usando as baterias dos automóveis para estabilizar o sistema todo. Ups! 

Voltando ao planeta terra tupiniquim. Vou pegar a São Paulo e seu caos completo no trânsito, quantos anos mais serão necessários para que a cidade tenha uma grade de metrô que de fato seja um fator de freio para o uso do automóvel? Escrevendo isto me lembrei que nunca vi dados estatísticos cruzando número de usuários de uma linha de metrô com a diminuição do uso do automóvel. Sim, a lógica diz que uma coisa está diretamente ligada a outra. Ouvimos muita falação, mas números de verdade, não que me lembre. Como será esta relação lá fora, em cidades que têm uma vasta rede de metrô? Lembrando que cidades civilizadas têm metrô para tudo quanto é canto, têm calçadas boas, cruzamentos seguros, ambiente urbano para ficar longe do automóvel, sombra, locais convidativos para sentar e relaxar, e uma taxa baixíssima de roubos e assaltos. Latrocínio banal como temos por aqui? Nem pensar. Tudo isto faz uma grande diferença na hora de pensar em abandonar o automóvel. 

"Bandido bom é bandido morto" é um lema que está um tanto impregnado nas cabeças brasileiras. Fui contra o lema "um carro a menos" tão divulgado pelo cicloativismo porque para mim remete ao carro como o bandido e, para o bem de todos e felicidade da nação, carro morto é o desejável. Como carro não tem vida, leia-se motorista morto. 
  
Temos sim ou sim que diminuir o uso irracional do automóvel porque da forma como está não funciona mais para todos, incluindo e talvez mais ainda para os próprios usuários do automóvel. Mas o problema só será resolvido quando se colocar na equação e trabalhar em conjunto todos fatores paralelos, tangenciais, e externos ao automóvel. Por uma simples razão: somos a sociedade do automóvel; simples assim.  

sábado, 15 de novembro de 2025

Mudar o discurso


Eu tenho um histórico longo com a questão ambiental, desde o começo dos anos 70. Ontem vi um filme 
da EcoFalante na TV Cultura sobre o caos do lixo no Brasil e quais as possíveis saídas para este grave problema. No meio do programa me caiu a ficha que se queremos mesmo resultados urge melhorar o discurso. Estamos na mesma ladainha há décadas, com resultados pífios, em tudo. Lixo é um dos temas que mais me interessa e preocupa. 

Já tomei muita bronca de Teresa porque entrei num processo de neurose completa com a sujeira nas ruas. Hoje trato de me resguardar, de colocar limites, por uma questão de auto-preservação. Para mim "tomar banho de civilização", ou seja, ficar uns dias na Europa, está muito ligado ao prazer de me sentir relaxado ao caminhar por ruas bem cuidadas e principalmente limpas. Dito isto, achar uma chatice o discurso - corretíssimo, sem dúvida - do filme do EcoFalante me fez pensar e chegar a conclusão que não aguento mais ladainha, que na realidade não é. Quero resultados concretos. 
Não sei se este filme que coloquei aqui é o mesmo transmitido pela Cultura, mas a fala, as sequências, o contexto é muito parecido.

Tenho acompanhado por alto as notícias sobre a COP30 e para minha surpreza ouvi de um dos bambambans sobre meio ambiente que uma das ações urgentes é justamente mudar o discurso. 

A afirmação de Joseph Goebels "Uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade", calha aqui, mas com outro sentido: Repita mil vezes a mesma coisa que o saco do ouvinte um dia vai estourar. Ou ainda, Repita a não poder mais que o que você diz entrará por um ouvido e sairá correndo pelo outro. Também pode ser: Quer ter o resultado inverso do que você deseja? Então repita sua verdade até o outro ficar maluco. Todas as afirmações estão comprovadas como fatos reais pela ciência. Enfim, podesse criar um monte de versões, todas sobre a burrice de repetir monte de vezes a mesma coisa, não importando se a afirmação base é correta, verdadeira, justa. Passou de um certo ponto a coisa se transforma em "engula".

Eu não aguento mais ouvir a mesma baboseira sobre bicicletas, meu ponto de partida de trabalho ambiental e, porque não, de vida. Eu não aguento ouvir as mesmas baboseiras sendo repetidas. A questão é que a maioria do que virou uma chatice ou entra por um ouvido e sai pelo outro é coisa muito séria que deveria nos levar a tomar posições, agir e chegar a resultados. Eu próprio acredito que as pessoas estão cansadas de me ouvir repetir que não sobre bicicletas e ciclistas, mas sobre cidades, cidadãos, com possível ajuda da bicicleta.

O discurso de tudo tem sido vertical, quando deveria ser circular e giratório, até para ser interessante. Tem que cativar o grande público ou é difícil conseguir resultados perenes.
 
Nossa! Incrível! Só agora, depois dos corpos estendidos no chão carioca, o país se deu conta que vivemos numa sociedade insuportavelmente violenta. É novidade? Não. A questão é que todos nós gastamos saliva improdutiva. Goebels na cabeça! 

Sou paulistano, do tempo da terra da garoa. Óbvio que o clima mudou. Não sou cientísta, sou um mero cidadão, hoje ciclista, que sempre olhou para o céu para saber se vai ou não chover. Até que tinha um índice de acerto muito bom, mas de um tempo para cá perdi a minha sabedoria de previsão do tempo. Aliás, ninguém está prevendo o tempo, nem nas agências climáticas se pode confiar. Segundo elas, ontem ia cair os céus, ventos fortíssimos, tempestades, alertas no celular, etc e tal. Nicas, não aconteceu nada. A prova que tem algo muito errado é que a previsão do tempo que fazem é baseada em conjunto de aparatos cheios de sensores e medidores, que mandam informações para computadores de grande capacidade de cálculos, que tem uma capacidade de acerto muio maior que de tempos passados quando tudo era feito por poucos e no lapis e papel. Com tudo que existe hoje estão errando uma atrás da outra. Nunca a expressão "O clima está louco" foi tão certa. Mudança climática ou não, algo está errado.

Como outro especialista na causa ambiental disse em entrevista: "Arvores, pássaros, abelhas, fauna, flora não estão sendo debatidos porque são bonitinhos, mas porque são vitais para nós humanos".

"O problema ambiental é uma doença humana". Vivemos uma pandemia.

Temos que desconstruir o desvio causado pela ladainha ambiental que ouvimos durante tantos anos, correta, mas que se transformou numa tramenda chatice.  
 

  

quarta-feira, 12 de novembro de 2025

Jornalismo militante, o caso BBC e o que se transformou o jornalismo

Ouvi pela Rádio Eldorado este editorial do Estadão e dei pulos de alegria aos urros de "Bravo! Bravo! Bravo! Bravo!...". Como o Estadão não permite a leitura de não assinantes fiz uma molecagem e printei o texto, que segue no final.

Não sou jornalista, mas gostaria muito de sê-lo. Não tenho os quesitos necessários: ter a neutralidade investigativa obrigatória e um texto rápido, preciso e conciso para expor o que foi investigado. Sou emocional, quando o jornalismo obriga a uma frieza racional. 

Pela quantidade de textos meus publicados na grande imprensa, que começou com uma coluna no Estadão, "Guidão e Pedal", 1987, eu poderia (passado) ter um documento que me atestasse "jornalista". Não quis, mesmo desagradando alguns jornalistas conhecidos e profissionais do meio de comunicação que me chamaram de "bobo", dentre outras. Não considerei, como ainda não considero honesto. Sou, quando tanto, um..., boa questão, um maluco que escreve. Colunista, articulista, comentarista, blogueiro (?!?), e outros tantos adjetivos, já me chamaram de tudo. Fato inequívoco, para minha tristeza, é que jornalista não sou, mas tenho uma inveja deles... Hoje me esforço para investigar, melhor, pesquisar o que escrevo, mas isto está longe de jornalismo que tanto invejo, repito. 

Neste meu desabafo está muito do vejo no jornalismo, e não é de hoje.

Dei pulos de alegria com este editorial do Estadão porque coloca o dedo na própria ferida. 
Imediatamente lembrei de um passado, durante a ditadura, anos de chumbo ou periodo militar, como queiram, quando em casa líamos no mínimo o O Estado de São Paulo, Jornal da Tarde, o Jornal do Brasil obrigatoriamente aos domingos, vez ou outra com certa frequência a Folha de São Paulo. Meu irmão, Murillo, ouvia notícias nas rádios e ainda víamos alguns noticiários de TV. Muita coisa? Não. Procura por detalhes que tentasse dar uma noção mais acurada do que realmente estava acontecendo. Diversas versões do mesmo fato, isto que interessava, e é isto que deveríamos estar interessados agora e sempre.
Jornal O Globo líamos raramente. Bobagem nossa. O Globo tinha textos longos, muito mais longos que os outros jornais, com muito mais detalhes sobre os acontecidos. Ali era preciso garimpar e filtrar informações preciosas. Globo era tendencioso? Na acepção da palavra, provavelmente não mais que os outros. O Globo era tido como jornal chapa branca, o que talvez não fosse o tanto quando julgávamos. Estávamos atolados neste estupidez de a favor ou contra, aliás, lembrando e rindo, "Brasil, ame-o ou deixe-o", nada diferente o que temos agora, muito menos histérico e ridículo com certeza. O julgamento estava, como segue, ainda mais agora, muito comprometido, julgamento muito fundamentado no que o jornalismo trazia.  

Neste editorial do Estadão estão números que apontam, segundo pesquisa, para mais de 80% dos jornalistas como de esquerda e boa parte tendenciosos em seus textos. Minha experiência de vida, como alguém que esteve no meio deles e foi bem entrevistado, os resultados da pesquisa não surpreendem.

Temas como sistema cicloviário, transformação da cidade, desenvolvimento urbano, mobilidades, explosão imobiliária, meio ambiente, saneamento, educação e violência, para citar os assuntos que me interessam e sempre procurei me informar, foram e são tratados de forma raza ou, pior, tendenciosa. Principalmente no que diz respeito à bicicleta, ao ciclista, e sua segurança, que foi meu objeto de trabalho por mais de 30 anos, o jornalismo realizado é simplório, para dizer o mínimo. Para falar ou escrever sobre estes assuntos, os que se apresentaram (e seguem se apresentando) como jornalistas colheram (e seguem colhendo) de fontes viciadas que davam sustento aos próprios medos e angustias. As inúmeras possibilidades de ganho que a bicicleta poderia ter oferecido a um melhor desenvolvimento urbano e social foram distorcidas e o resultados está ai. Jornalistas divulgaram o mesmo do mesmo, e afirmo que não foi jornalismo.
A especulação imobiliária traz uma série de questões e dúvidas que nunca foram abordadas, não entendo por que. Sacaneando: será porque uma posição mais crítica colocaria em risco precisos anúncios? Creio ser possível fazer a mesma pergunta sacana, mas talvez não impertinente a vários outros temas sensíveis.

Fato é que existe um forte corporativismo no jornalismo, meio tipo "ou você está junto, fala em coro, ou está fora, não fala mais". Não sei como, mas tem que acabar imediatamente.

Não tenho a mais remota dúvida que uma das saídas para a estúpida crise geral que vivemos está num jornalismo investigativo, neutro e com espaço de redação suficiente para textos que nos façam pensar e questionar com fundamentos.
 
Para mim, um dos piores momentos da imprensa foi o "padrão Folha (de São Paulo)" que impunha regras a todos seus jornalistas e quem mais escrevesse para o jornal. Fui convidado para ter uma coluna de página inteira, escrevi, para meu horror o texto publicado foi todo deformado por um ignorante sobre o tema, bicicletas; e assim tive o imenso prazer de entrar na redação e mandar o editor chefe enfiar a coluna no cú (na época cú com acento e sem politicamente correto), e algo mais. Quando cheguei em casa recebi uma ligação de um dos principais jornalistas perguntando se eu tinha feito o que fiz, respondi que sim, e tomei uma das maiores descomposturas de minha vida, que a recebi às gargalhadas. Hoje este jornalista ri comigo. 
Enfim, "padrão"? Textos sob medida, curtos e de fácil leitura? E o jornalismo, onde fica?
A saber, tenho orgulho de ter desbocado com vários outros meios jornalísticos. Há limites para tudo. 

Bravo! Bravo! Bravo, Estadão. Parabéns pelo editorial. Salve o jornalismo! Eu disse: o jornalismo!









segunda-feira, 10 de novembro de 2025

Pichações, e violência urbana

Limpando meus E-mails dei com esta mensagem de Pedro Cardoso sobre o problema das pichações mas cidades. As ponderações são claras e bem posicionadas. Pichação é um problema que extrapola e muito a questão 'sujeira' ou 'poluição ambiental'. Até consigo entender quando dizem que é uma forma de expressão de jovens, um grito social, uma expressão artística, e outros entendimentos mais. Seja o que for, acaba se transformando num sério fator de degração urbana, o que pelo sim e pelo não acaba facilitando contravenções maiores que entram sem constrangimentos no departamento da criminalidade. Quanto mais degradada o meio ambiente, mais suscetível a crimes. Teoria da janela quebrada.  

Como controlar? A curto prazo não sei. Não sei se usando as técnicas que foram usadas em NY teríamos os mesmos resultados por aqui. Tolerância zero, que tantas pessoas acham que é a saída, só funciona quando a maioria absoluta da população quer mudar, melhorar, e entra no jogo, o que não acredito que aconteça por aqui. Mesmo os cidadãos mais furiosos com "tudo que acontece" deixariam de jogar lixo nas ruas? Deixariam de cometer "pequenos deslises" sociais, como furar fila? Deixariam de levar vantagem? Duvido.

A escola de Cubatão eleita a melhor escola do planeta tem muito a ensinar. Reverteu uma situação caótica dentro de uma comunidade socialmente desequilibrada, transformando a escola em um ponto de sucesso completamente fora da curva não só em Cubatão, ou no Brasil, mas no mundo. Mas, será que alguém por aqui tem algum interesse em ouvir o que foi realizado ali? Duvido. Não ouvem sequer ideias de outros que só querem conversar, por que ouviriam os caminhos de um trabalho de sucesso de uma periferia que não sabem onde é?

Gosto muito de artes, vi a cidade se encher de grafites maravilhosos, e a bem da verdade um monte de porcaria também, mesmo neste campo "das artes" tenho questionamentos. Agora, por mais que me esforce simplesmente não consigo achar a menor graça em pichação. Não tenta sequer ser inteligente. Não passa de um grito desesperado de "estou aqui" que só pode ser lido e entendido pelo próprio grupelho. Não tenho a mais remota dúvida que muito que do que está aí é resultado de uma educação para lá de precária, e não só dos pichadores, que os são de todos níveis sociais. Toda a sociedade tem uma educação social e civilizatória para lá de qustionável. Vide o que são nossas cidades. Mais, vide no que estão se transformando. 

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Prezado(a) senhor(a),

Encaminho esses textos para demonstrar um posicionamento de um cidadão comum, que foge um pouco das posições da imprensa tradicional. 

Se preferir, eu retiro seu contato da minha lista. 

Combate às pichações

Empresas

07/09/2025

Senhoras(es),

 

A maior dificuldade para enfrentar um problema é decidir por onde começar. E um problema grave, que salta aos olhos, são as pichações em praticamente todas as cidades brasileiras. Onde quer que se vá, as marcas estão presentes: prédios públicos federais, estaduais e municipais; escolas e instituições de ensino; fóruns, procuradorias, delegacias; portas de aço de estabelecimentos comerciais. Nada escapa.

Em alguns locais, chegam a ser colocadas placas pedindo “respeito” e solicitando que não haja pichações, sob o argumento de que o condomínio ou a instituição contribui com alguma ONG ou entidade filantrópica. Esse tipo de apelo, no entanto, revela a rendição tanto da sociedade quanto do Estado diante do problema. O resultado é visível: cidades inteiras, de ponta a ponta, tomadas por pichações.

A solução definitiva talvez ainda não exista. Mas é indispensável dar o primeiro passo: reconhecer o problema como tal e implementar ações práticas de resistência.

Um exemplo concreto: a expressiva verba gasta com segurança privada por órgãos públicos deveria incluir também a proteção das fachadas externas, sacadas e muros. Contratos poderiam prever esse tipo de cuidado e, além disso, equipes de ronda poderiam ser reforçadas para coibir pichações em tempo real.

Fiz pedido ao governo do estado de São Paulo para participar desse combate e citei um prédio da Procuradoria do Estado na rua Maria Paula, Centro/SP, totalmente pichado, com cara de “coisa pública” e ao lado a sede da OAB/SP sem um rabisco.

Também é possível adotar medidas diretas, como repintar imediatamente portas ou paredes pichadas, instalar câmeras e repassar, às polícias, as imagens de quem for flagrado cometendo o ato.

Não cabe aqui apontar exatamente o que cada empresa ou instituição deve fazer, mas é inegável que todas podem — e devem — agir de alguma forma para mudar essa situação.

Atenciosamente,

Pedro Cardoso da Costa

Interlagos-SP

Pichar é crime

Não existe cidade brasileira que não sofra com pichações. Esse problema se agravou a partir da década de 1980, quando a prática passou a ser vista como diversão e disputa de território entre grupos urbanos. Em São Paulo, maior cidade do país, a destruição ficou ainda mais evidente: não há muro limpo, mesmo antes e depois da chamada Lei Cidade Limpa.

Além das pichações, os muros também foram tomados pelas propagandas irregulares. Transformaram-se em espaço de comércio e fizeram das cidades verdadeiros corpos tatuados — um espetáculo deprimente para os olhos de todos. Nada escapa, como prédios públicos, igrejas, hospitais, escolas, residências.

Diante desse cenário, muitas autoridades preferiram relativizar o problema, atribuindo a culpa apenas à “má formação” dos vândalos e passando a chamar pichação de grafite. Chama-se de arte aquilo que, na prática, é sujeira. Grafite ou pichação, sem autorização do proprietário, resultam no mesmo: deterioração do patrimônio alheio. Há até locais onde se implora para não pichar, fixam uma placa pedindo para não picharem já que o dono contribui com alguma entidade social, um retrato claro da rendição da sociedade e do Estado.

Em Campinas, interior de São Paulo, chegou a ser divulgado em rede de televisão, há alguns anos, que pichar é crime. Mas as autoridades falharam em esclarecer amplamente a figura penal prevista na lei federal 9.605/98, artigo 65, que tipifica o crime de pichação. Essa lei estabelece uma punição, mas muito branda e ineficaz diante da realidade.

O domínio dos pichadores é tão grande que nenhuma escola pública em São Paulo tem muros limpos. Certa vez, perguntei à Secretaria Estadual de Educação como encontrar uma escola sem pichações para registrar em foto. A resposta foi que isso caberia à delegacia de ensino a que a escola pertencesse, que transferiu a responsabilidade para cada escola. No fim, ninguém quis admitir: simplesmente não existe escola limpa, sem pichação. É a rendição irrestrita do Estado brasileiro diante do problema.

Os pichadores fazem o que querem, sem resistência e sem combate efetivo. No mínimo, o poder público poderia pintar estrategicamente alguns muros-alvo, instalar câmeras com transmissão em tempo real e posicionar policiais à paisana para prender em flagrante. O exemplo seria eficaz. Mas nada disso foi feito, e não há registros de prisões por pichação.

Enquanto não vem uma proteção mais eficiente por parte das autoridades, o cidadão pode ajudar pintando o muro ou as portas da garagem.

Há necessidade de reforçar que pichar é crime e os pichadores precisariam, ao menos, ter conhecimento disso.

Pedro Cardoso da Costa

Interlagos-SP                                                          

   (escrito em 2011)

 

 

quinta-feira, 6 de novembro de 2025

Quem vai discutir e decidir sobre a violência?

Forum do Leitor
O Estado de São Paulo

Não se pode duvidar que as muitas e seguidas notícias sobre a ligação de políticos e partidos com o crime organizado sejam fake news. Vou mais longe, e creio ter boas razões para acreditar na ligação do que se chamam "igrejas" com o que está acontecendo.

O ponto de partida para reverter a violência na qual estamos atolados é ter conhecimento de quantos políticos e partidos políticos estão ligados diretamente e indiretamente com o crime organizado. Quantos têm só interesse político mais ou menos temos consciência, está mais ou menos explícito. Quantos têm interesse financeiro direto em empresas ligadas às empresas de segurança, rentabilíssimas, também é fácil saber. E quantos são idiotas para, por ideologia ou estupidez mesmo, dar apoio consciente ou não ao crime, isto é mais complicado dimensionar porque entra aí boa parte da população que nem poder de decisão tem, mas pela quantidade acaba sendo fator decisório. Partindo deste conhecimento se pode saber qual é o jogo real, só então se pode estabelecer um plano de ação realista. Sem isto estamos de peito aberto para fogo amigo.

Para começar, cito o governador Leonel Brisola, cujas posições em relação ao tráfico estão até publicadas em jornais, vide o que aconteceu no carnaval de 1994, dentre outros. Leia-se reportagens mais reportagens sobre denúncias de políticos e partidos sobre 'possíveis ligações' destes ao tráfico e crime organizado, de todas as linhas ideológicas, sem distinção, ou melhor, populistas. Aliás, cunho um termo: populismo auto financeiro, o que melhor se aplica aqui. Incluo aqui também os ditos religiosos milagrosos (para o próprio bolso).

Pior, por razões puramente eleitorais, certos do apoio de vasta parte da população, vão fazer o que quiserem, e nós vamos permitir? Mais uma vez?

Tendo em vista que o interesse deles não são exatamente os nossos, vamos ficar quietos para sermos trucidados num futuro próximo? Quando vamos nos interessar de fato por dar um basta a barbárie? Quando vamos poder andar na rua sem se assustar com o pedestre que vem atrás? Quando vamos ter uma vida minimamente normal, sem a enxurrada diária de notícias violentas? Quando nossos filhos vão poder brincar na rua soltos?

terça-feira, 4 de novembro de 2025

Fato é que... da operação no Rio

Fato é que depois da operação policial no Rio de Janeiro todos passaram a discutir a questão da segurança pública, leia-se violência. Antes das mais de 100 mortes, chacina, guerra, massacre, vitória, chame do que quiser, a discussão era menos abrangente, menos profunda, digamos a verdade, superficial, pueril.

Fato é que pelo sim ou pelo não, foram mortes, muitas mortes, a maioria de pessoas com algum passado criminal, o que faz diferença para a compreensão dos fatos. 
Fato também é que a maioria da população carioca concorda com o que aconteceu. 
Fato é que a quase totalidade da população favelada ou de comunidades concorda com o resultado da operação policial, algo em torno de 80% pelo que foi divulgado, o que demonstra de maneira inequívoca que a vida que estes mesmos vêm tendo em seus lugares de moradia está longe de ser tranquila.

Fato é que até agora o que acontecia dentro das favelas ou comunidades entravam na pauta geral, dos botecos ao jornalismo, das decisões de governadores e prefeitos, e da maioria da população, só quando acontecia algo "anormal", o que quer esteja sendo definido como "normal".
Fato é que dizer que o que aconteceu não é normal soa como uma vergonhasa cegueira para todos fatos passados triviais. 

Fato é que, segundo autoridades, 20% do Grande Rio está nas mãos do crime organizado, e para ter chegado aí muita água rolou, balas e violência também. 
Fato é que o número de criminosos, segundo as autoridades, passa de dezenas de milhares, numa das reportagens foi citado algo em torno de 60.000 criminosos. 

Fato é que sendo crime ou terrorismo, como queiram definir os que acordaram agora, o treinamento e munição deste pessoal é assustador.
Fato é que a entrada ilegal de armas era conhecida pelo grande público, que não entendeu a gravidade e precisionou para que tivesse um fim.
Fato é que agora sabemos que a fabricação informal de armas de grosso calibre para o crime organizado existia, se não continua existindo.   

Fato é que comércio e serviço dentro destas comunidades, e provavelmente em muitas outras, estava e segue sob controle do crime organizado. Fato é que o volume de dinheiro que esta situação gera é enorme. Fato é que houve um profundo silêncio por parte das empresas que perderam mercado. Fato é que só agora foi publicado que a quantidade de galpões vazios no Rio de Janeiro cresce sem parar.

Fato é que só agora as autoridades estão dizendo que vão tomar providências para parar o crime organizado. De fato, o que aconteceu nesta operação na Penha - Alemão obriga (?) uma posição, ou reação, ou ação política, ou uma caça aos votos, até de cegos, surdos, e dos mudos que não são, porque gostam de falar o que farão, mas não falam o que durante décadas não fizeram nada.

Fato é que o silêncio das igrejas é sintomático. 
Fato é que não sabemos se foi uma ação com apoio dos milicianos.

Fato é que todos nós aceitamos o que está acontecendo, não tivéssemos aceitado, não teríamos chegado onde chegamos.
Fato que simplesmente não adianta ficar repetindo as mesmas coisas. 

Fato é que "Nós não podemos falar nada que o Alexandre de Moraes censura ou prende. Você não viu a pena que ele deu para aquela manicure que rabiscou a estátua. É injusto, foi demais! Censura! Nós não podemos falar nada!" - palavras da salvação! Desculpem, palavras de uma senhora sobre o porque aceitamos o que aceitamos e ficamos calados. Palavras da salvação! 

Quantos 'fato é que' se poderia colocar aqui. Pense, se de fato você quer paz.