quarta-feira, 17 de setembro de 2025

Coelhinha de pelúcia decepada

A mãe está visível irritada com os urros selvagens vindo do carrinho de bebê que segue a frente empurrado por ela. É fácil perceber pelos movimentos triscados do corpo da jovem e seu andar curto e apressado. A criança se retorce, seus berros são tão fortes que ela se engasga e tosse, esperneia tentado se livrar do carrinho, pernas escapam para os lados, vê-se as mãos tentando agarrar o braço da mãe. A mãe para, agacha de frente para ele, o diabinho tenta arranhar o rosto dela, que desvia do ataque. Exausta, desiste e o tira do carrinho. Solto na calçada, a criança se acalma, corre um pouco, vira-se para provocar a abatida e envergonhada mãe. A mãe se levanta segurando no carrinho, a criança corre mais um pouco e novamente para e se vira em provocação sorridente. A mãe inclina o corpo para frente e abre os braços na esperança que ele volte. Seu braço direito aberto derruba uma garota bem vestida que sem olhar para frente, olhos no celular, vem rápido pela calçada num patinete. Bolsa para um lado, sapato social de salto alto para o outro, meia rasgada, joelho e cotovelo arranhados, ela se levanta grogue ainda sem perceber que está com a testa sangrando. A mãe, já sem saber mais o que acontece ou onde está seu filho endiabrado, pede desculpas, mas imediatamente é ofendida e quase recebe um tapa. Alguns passam só olhando, uns poucos param incriminando a menina do patinete e a mãe. A criança assustada volta para a mãe, vem acompanhada por uma boa alma preocupada com tudo que via. A criança agarra-se desesperadamente à perna da mãe e desanda a chorar, agora um choro de susto e não mais um choro de raiva mimada.  
A garota do patinete enquanto limpa o sangue que escorre aos olhos é contida por um senhor que lhe agarra os pulsos. Grita palavrões e chora, reclama que não vai poder trabalhar, mais palavrões.
A mãe estoura sua irritação, agarra o malcriado com força pelo braço, o coloca a força no carrinho e o prende com as alças de segurança. O diabinho agora chora de susto e medo, chora alto, sem parar. Uma senhora tenta acalmar a fera e toma um tapa no rosto. Ela se afasta. A mãe, ainda atordoada com tudo, parte em palavras para cima da garota do patinete, que agora tem o rosto bem ensanguentado. O corte é pequeno, nada grave, afirma o senhor que a contem e tenta acalmar a situação. 
A mesma senhora que tomou um tapa de raspão da criança vê um coelhinho de pelúcia na bolsa do carrinho, o pega e entrega a criança. Ele o arranca da mão da senhora, o chacoalha para todos os lados, o atira ao chão e a senhora o pega novamente e devolve à criança.

A confusão é generalizada. O senhor ainda segurando o pulso da garota para um taxi, pega todas as coisas dela, abre a porta, joga tudo dentro, a empurra junto, fecha a porta e manda o taxista seguir para um hospital. A mãe, mesmo com a criança histérica, aos berros no carrinho, se alcama e agradece. Fica um pouco imóvel sem ouvir os que lhe perguntam se está bem e se quer ajuda para voltar para casa. Olhar perdido, coloca a mão sobre a cabeça da criança que aos poucos vai também se acalmando, agradece a ajuda.  

O pequeno coelhinho de pelúcia está jogado na calçada, cabeça para um lado, corpo para o outro. De tanta raiva a criança mimada decepou a cabeça de sua coelhinha e a atirou longe. A mãe triste recolhe cabeça e corpo e os encosta na quina da parede lado a lado. Os que estão em volta olham com tristeza e certo horror a cena. 

A coelhinha decepada fica lá, esquecida. Tem uma feição muito leve, simpática, sorridente. Os pedestres começam a passar por ela sem percebê-la. É o único depoimento, o único testemunho do ocorrido. Quem se importa? Destes que passam, ninguém viu, ninguém ouviu, ninguém fala.

Um casal passa, vê a coelhinha decepada, esquecida, largada. A pegam, cabeça numa mão, corpo noutro, admiram a expressão simpática, leve, o pequeno corpo de braços abertos, convidativos. Juntam as duas partes. Demoram um pouco para perceber que é uma coelhinha e não um coelhinho, quando percebem se afeiçoam mais ainda. Segurando com carinho a levam para casa. Uma boa lavada, alguns pontos aqui e ali, cabeça presa ao corpo, de volta a vida.

Rindo, num humor macabro, lembram que depois de guilhotinada a cabeça humana segue por um breve instante falando, piscando, se expressando, enquanto o sangue do corpo espira em jatos intermitentes, bate na lamina da guilhotina e morre na madeira até a próxima execução. O farto público que acompanha entusiasmado a execução só pode ver a cabeça rolando, quando vê, pelo menos até ser recolhida.

Execuções foram por séculos diversão para grande público. Acionada a lâmina, o som seco do corte, cabeça ao chão. Aguardavam breve momento e voltavam conversando para suas casas conversando, julgando. 
Execuções foram substituídas por cenas de histeria, patéticas.

A coelhinha decepada foi indiferente para os que passaram. 

O enchimento da coelhinha teve que ser retirado para um bom banho. Seca mais rápido. O tecido não desbotou. Secou, é levado à mesa e espalhado para ser remontado e costurado com cuidado e carinho.

- Será que esta geração mais nova sabe o que é destripar o mico?
- Se souberem, o que duvido, é coisa de antigamente, não devem falar porque é politicamente incorreto.
- Estás brincando? 
E riem.
- ... poeticamente incorreto...
E seguem cuidadosamente reconstruindo o brinquedo 
- Agora, não resta dúvida que até estas criancinhas de hoje na mais tenra idade já sabem como decepar uma cabeça. Os tempos são outros.

A coelhinha está remendada. Simpática, doce. Antes de ter seu destino tomado, vai ficar ali para ser acariciada.

terça-feira, 16 de setembro de 2025

Viver nas ruas e viver as ruas e a transformação das cidades

Em 1987 a revista Time aceitou que um dos seus jornalistas fosse viver nas ruas de NY por seis meses. Foi uma das matérias mais pesadas que li na vida. Ele teve tempo suficiente para não só entrar a fundo na realidade dos moradores de rua, mas também transformar se num deles. Cruzou o terrível inverno de NY vivendo como mendigo, sobrevivendo no calor das grelhas de exaustão de vapor, enturmando se em túneis de manutenção, em locais proibidos, dormindo de dia quando o sol esquentava um pouco, sofrendo presão da polícia e desprezo da população, comendo o que aparecia, pedindo esmolas, sem banhos, sem trocar a roupa. Mais, sem qualquer ajuda da revista, de seus companheiros de trabalho, amigos e da própria família. Mendigo, morador de rua, miserável como a materia demandava. Este foi o trato e foi cumprido. Mesmo com todas terríveis dificuldades passadas quando chegou o tempo de voltar para a vida 'normal' ele não quis sair das ruas. A Time teve um trabalho para conseguir trazê-lo de volta e reintegrá-lo a vida que ele tinha antes da experiência. Acho que encontrei a matéria - Slow decent into hell - mas estranho que nela não está o processo de retirada do repórter das ruas, que foi tão brutal quanto a sua experiência como mendigo.

Lembrei desta matéria do Time porque o Estadão colocou em suas memórias, que estão sendo publicadas na versão digital, a experiência da jornalista Rebeca Krischt que também foi Viver nas ruas, série especial do Estadão, vira livro nos 30 anos de sua publicação. Ela viveu nas rua por 7 dias aqui em São Paulo.

Há números oficiais e não oficiais sobre o número de moradores de rua na capital paulista, São Paulo. Variam de um pouco menos de 40 mil, que já é um absurdo, até algo em torno de quase 90 mil, o que é um escândalo, uma vergonha para todos.

Para mim ficou claro que tínhamos perdido a mão quando vi pela primeira vez, já faz décadas, um mendigo nissei. A comunidade japonesa sempre havia cuidado dos seus, nunca permitindo que alguém parasse nas ruas ou ficasse abandonado. Pouco tempo depois apareceu o primeiro homossexsual maltrapilho, comunidade que até ali também cuidava dos seus. Para mim foram marcantes até porque eu não estava errado: alguma coisa não boa estava a caminho. Está aí, berrando, para quem até não quiser ver.

O que dá para fazer? Não sou especialista, prefiro não opinar, mas digo que não dá mais para cair em soluções descontínuas ou mágicas. 
A busca de soluções eficientes e duradouras se faz reunindo todos agentes e interessados, olhando o passado, sabendo o que deu e o que não deu certo, juntando e estudando o máximo de informações possível, para só então partir para um planejamento de longo prazo que seja realista em todos sentidos. Vale para absolutamente tudo.

Sempre cito NY como referência de transformação de cidade, porque acompanhei o antes e o depois, e os resultados no geral são ótimos. Óbvio que o planejamento de longo prazo, décadas, foi bem sucedido. Transformou uma das cidades mais violentas dos EUA dos 82 assassinatos / 100 mil habitantes, (aceitável abaixo de 12/100 mil, OMS ONU), que estava a beira da falência, e a transformou numa cidade segura, financeiramente estável, que a cada dia é mais agradável para a maioria dos seus moradores e turistas. Turismo é importantíssimo tanto na economia quanto na venda da imagem da cidade para o mundo, ou seja, na estabilidade financeira da cidade. 
Tem contra ponto? Lógico que sim. Viver em NYC está cada dia mais caro, o que tem afastado os menos privilegiados para longe ou fora da cidade que sempre viveram. Enrequecimento, como tudo, tem seus prós e contras. Os efeitos colaterais preocupam não só as autoridades de NY, mas de todas as cidades que melhoraram sua qualidade de vida. Qualidade de vida para quem? Em que condições? Turismo traz dinheiro, mas a qual custo? Etc...

Vi uma palestra sobre o Tolerância Zero de NY na sede da Prefeitura de São Paulo, Edifício Matarazzo. Mostraram com detalhes o que custa para os cofres públicos e de toda população cada um dos pequenos crimes, até deslises sociais, como jogar bituca no chão, pixar uma parede ou mendigar. Mesmo antes desta palestra já tinha lido sobre o problema sério que os mendigos que ficavam sentados na escadaria da Catedral de St. Patrick estavam criando para as finanças da própria igreja. Aliás, desta e de todas outras. No caso, em vez de enxotá-los a cassetetes, fizeram reuniões com todos e explicaram que da forma como estava entrava cada dia menos pessoas, que por sua vez as doações estavam minguando, e sem as doações a igreja estava com dificuldades financeiras e não poderia continuar com seus trabalhos assistenciais, o que só pioraria a situação dos miseráveis. Funcionou.

No momento certo Janette Sadik-khan, com a cidade muito mais calma, menos violenta, começou a implantar mudanças nas ruas de NYC, tirando espaço dos automóveis e devolvendo espaço para transeuntes e ciclistas. Não foi só aumentar o espaço para os "não motorizados", como eram chamados na época, mas criar espaços de convivência, cadeiras, mesas, e outros, onde a população conseguisse sentar e fazer o que bem entendesse no meio da rua, leia-se espaço público.

Aqui, lembro que o centro de São Paulo está meio as moscas porque a população tem medo de ir lá, seja por medo de assalto, seja por medo dos moradores de rua, ou até para não ver miséria. 

Menos pessoas circulando, mais violência, é líquido e certo.
Menos pessoas circulando, menos dinheiro circulando, maior a miséria, também líquido e certo.

Por outro lado:
Mais dinheiro circulando, melhor para todos, incluindo os mais necessitados
Muito dinheiro circulando, sem o controle, sem uma política civilizatória, sem programas cidadãos, se transforma em um sério problema até para a classe média baixa. E aos poucos este problema se volta contra os que tem condições de bancar a vida na cidade 'rica'. 

Desajustados sociais foi, é e continuará sendo uma realidade inevitável. Para início de conversa faço a pergunta: Como definir desajustados sociais? A pergunta merece uma resposta realista, pricipalmente em nosso caso, Brasil. E para São Paulo, Município.

Moradores de rua, mendigos e pessoas com problemas mentais são considerados um sério problema para a maior parte dos paulistanos. "Incomodam demais". A questão sequer é pensada com o devido cuidado e atenção. "Tira eles da rua", como temos visto faz muito, definitivamente não resolve. É tão burro quanto o '
"prende quem usa ou tem drogas", o que obviamente nunca deu nem dá resultados, como os números provam. 

O que fazer então? Em todo planeta se provou que devolver os espaços públicos para a população, inclua aí ruas e avenidas, dá ótimos resultados. Quanto mais gente nas ruas, menos problemas com moradores de rua e miseráveis, isto sem higienização. Afastar, limpar, tirar, extinguir... os diferentes, empobrece, é líquido e certo. Não há dado que prove que higienização funcione, muito pelo contrário. Todos dados apontam para que quanto mais diversidade, mais riqueza em todos sentidos. Riqueza se constrói com a diversidade de pensamentos e formas de viver, ponto final. Quem duvida disto é porque não tem cultura, é chucro.

Distorções sociais se resolvem com programas realistas de longo prazo. Não há soluções fáceis, muito menos ideológicas ou religiosas. 




Estas fotos foram tiradas em Paris, onde quase apanhei de uma parisiense por estar fotografando um mendigo que dormia na escadaria de um edifío histórico. A mulher furiosa partiu para cima de mim e queria por todo custo que eu apagasse a foto. Tentei encontrar a foto, mas não consegui.
Negar uma situação não funciona, só aumenta o problema.


domingo, 14 de setembro de 2025

Número de ciclistas não acompanha os km de ciclovias

Este artigo apresenta percentuais, não números brutos. Quantos ciclistas a cidade tinha antes deste sistema cicloviário que vem sendo implantado e quantos temos hoje é sabido, pelo menos espero.
Em 2005 os números oficiais foram facilmente contestados porque os critérios adotados para a coleta davam muita margem a erros. Nada demais, números são números e nem sempre dizem a realidade. Hoje temos grupos organizados com é cultura, conhecimento e técnicas que evitam erros crassos, como aconteceu em 2005.

Fato é que não se pode pensar em cidade sem mobilidades ativas, o que inclui a bicicleta, ponto final. Mas...

Começo por uma pergunta que já fiz mil vezes: Que cidade você quer? O que você acha que deveria 
ser a função do sistema cicloviário perante o desenvolvimento urbano e social da cidade? Sem ter uma resposta para estas perguntas se vai continuar nesta política de estímulo que considero ser inconsistente. A cidade somos todos, não a vontade ou voluntarismo de uma parcela, qualquer que seja. Quanto mais todos melhor.

Por que o resultado não está sendo o esperado? Ou, qual o número de ciclistas que se esperava por kms implantados? Quantos ciclistas estão usando as ciclovias e quantos circulam fora delas? Em que o sistema cicloviário estimulou o uso da bicicleta fora do sistema cicloviário? Com os ciclistas que agora estão mais habituados com o trânsito, que critérios adotar para a segurança deles?

Qual o total de ciclistas na cidade? Para quantas bicicletas? Quantos ciclistas em dias úteis e nos fins de semana? Quantas bicicletas não saem das garagens e por que?

Os números oficiais são confiáveis? As pesquisas realizadas por entidades estão corretos? Não estou colocando em dúvida, estou lembrando que mesmo em pesquisa de alta qualidade há distorções. Mais, há metodologias para uma leitura e entendimento corretos que demandam conhecimento específico para obtenção de posições apropriadas. 

Creio que chegamos no momento de fazer uma avaliação do que foi realizado para estimular o uso da bicicleta.




Fim das atualizações Microsoft e nossa segurança

Rádio Eldorado FM
Fórum do Leitor 
O Estado de São Paulo se


Pergunta ao professor: em outubro a Microsoft para de dar assistência a todos que ainda estiverem usando sistemas que não o 11, o que inclui a imensa maioria dos brasileiros. Se as barreiras de segurança vão ficar mais frágeis, como diz a própria Microsoft, como fica a Segurança Nacional? Sim, Segurança Nacional, a do Brasil. O que a ação vai acarretar na vida da maioria da população?


Fórum do Leitor 

Faz alguns meses fui refazer minha carteira de motorista e deu uma confusão porque no nome de minha mãe havia uma discordância, um erro no sobrenome. Tive que ir à Receita Federal para corrigir e foi prontamente corrigido. Mais ou menos no mesmo tempo o meu aplicativo Gov.br parou de permitir meu acesso. Fui orientado no Poupa Tempo que deveria resolver no INSS, o que aconteceu graças a boa vontade e conhecimento de um funcionário. O sobrenome de minha mãe simplesmente desapareceu do sistema. Conversando com vários funcionários, de vários órgãos do Governo Federal, descobri que estes problemas digitais são 'relativamente comuns porque tanto a Internet quanto o sistema digital do governo falham com certa frequência, e que várias vezes foram pedidas providências que sempre são negadas sob a alegação de falta de verba'. 
Que nós, cidadãos, temos um grave problema com Internet, que varia muito, falha com mais frequência do que o aceitável, quando não se está em locais sem sinal, isto sabemos. Também sabemos que o funcionamento digital dos órgãos oficiais não são totalmente previsíveis. Ou seja, nesta nova era digital inevitável, imprescindível,  fundamental,  estratégica, não será um sério risco para o nosso futuro a falta de investimento pesado num programa de correção e estabilização de todo sistema de comunicações do país?  

quarta-feira, 10 de setembro de 2025

Eu não quero velório nem missa de 7° dia

Acabo de vir da missa de 7 dia de um primo. Igreja cheia.

Eu não quero. Como disse Paulo antes de morrer: Eu não vou estar presente, portanto não façam (a missa).

A coisa que mais me irrita é ouvir de amigo quando este me apresenta para alguém, "Arturo é o maior conhecedor das coisas da bicicleta no Brasil". Doi no fígado.
Sempre gostei do meu canto, nunca fui afeito a elogios, passei toda minha vida aprendendo muito mais com as críticas, que sempre considerei mais que bem vindas. Ficar só me faz bem. Trabalho, penso, me divirto, leio, vejo besteiras. Conviver com outros eu adoro, mas canso com certa rapidez, mesmo que o contato seja ótimo. Preciso de minha solidão para respirar.

Não quero sequer velório. Custa caro e reúne gente que só se reúnem nos velórios. Que desperdício deles. Como seria bom vê los com frequência. Como eram bons os tempos de portas abertas, casa cheia, conversa farta, gente inteligente. Já naquele tempo, bons tempos, eu precisava respirar, ia para a cozinha organizar o que servir ou lavar pratos. Ah! Lavar pratos.

Eu dispenso velório e missa de 7° dia. Reúnam se num café expresso com mesinhas na rua, vai ser infinitamente mais agradável que o maldito café com bolachinhas do velório. Ademais, cheiro de flores de caixão...

Muito menas

Vai que meu velório estoure nas mídias sociais. Não posso, porque é proibido, ser colocado no caixão nú. Nossa, quanto narciso! Narciso porra nenhuma.

Descobri que enterrar nu "não pode" quando estavam preparando o corpo de meu irmão. Fui levar a garrafa de Coca-Cola, a original, de vidro, cheia, é  lógico, para por no caixão e dei com os funcionários de olho nos sapatos italianos que Teresa e Cida escolheram para vestir o meu querido defunto irmão. Aliás, ele estava vestido de gala, terno, camisa, gravata, tudo chiquérrimo. "Que loucura! O que é isso?" falei rindo olhando para Teresa. Perguntei quanto os funcionários calçavam, um deles batia, e disse para pegar os sapatos. "Aliás, deixa ele nú, que era o que mais gostava na vida. Trabalhou muito, trabalhou duro, fez um trabalho importante para esta cidade e para o Brasil, trabalhou em casa horas a fio sem parar, e sempre nú, nú como um indio. Despe ele. São Pedro não vai notar". E a resposta veio melancólica: "Não podemos, a lei não permite". 'Que porra! Nem na morte se tem paz'.

Pulei de paraquedas uma vez. Divino. Repetiria caso saltasse solo, o que só depois de muita aula. Se me mandarem pro inferno, que tem grande possibilidade, vou poder despencar num solo. Se me mandarem subir vou fazer o caminho inverso, o que como última vontade prefiro fazer só. Enfim, pelo menos na morte quero fazer o que bem entender. 

Na vida, de duas coisas ninguém foge, pagar impostos e morrer. Já que eu vou estar morto espero que não me imponham mais nada.

Como dizia sempre meu irmão: vamos comemorar!
Já que não estarei junto digo: vão comemorar.
 

PS. Estou vivinho da silva é assim pretendo ficar. A bicicleta me espera 

segunda-feira, 8 de setembro de 2025

Bandeiras fora de local e momento adequado

Fórum do Leitor
O Estado de São Paulo

Sobre bandeiras inapropriadas e os comentários menos ainda

Cara! Quanta loucura! Quanta falta de inteligência! Quanta imaturidade! Fato é que a bandeira americana não estava no local e momento adequado. Fato é que bandeiras vermelhas também aparecem em locais e momentos inadequados. O que esquecem os dois lados e suas bandeiras inconvenientes é que a imensa maioria de nossa população não estava nem num nem noutro evento, um, um pouco maior, outro, um pouco menor, mas absolutamente insignificantes perante os mais de 220 milhões de Brasileiros que querem ter uma vida digna, em paz, de preferência sem pancadões atormentando seu merecido descanso de uma semana de trabalho duro. Nós, brasileiros, queremos que se resolvam os nossos problemas, os problemas deste país, não os vossos. Brasil segue em voo de galinha muito por conta desta ridicula rinha de galo.






domingo, 7 de setembro de 2025

Quem veio antes? O STF ou...?

Fórum do Leitor
O Estado de São Paulo

Quem veio antes, o ovo ou a galinha? Quem veio antes, este STF ou o "sabe com quem está falando" dos bacharéis (como está numa ótima analise do Estadão)? Quem veio antes, os erros, absurdos, a lentidão histórica de todos nosso sistema judiciário ou as brechas jurídicas deixadas (propositalmente, diga-se de passagem) pelos políticos legisladores? As questões que se apresentam agora no e pelo STF são novidades, nasceram antes ou depois dele? Fato é que neste galinheiro fica muito difícil saber quem realmente se interessa por um país chamado Brasil. Afinal, sabe com quem está falando?