Fórum do Leitor
O Estado de São Paulo
Muda, muda, muda, muda....
Esta é a esperança da maioria.
Uai, se já tinham tanta vontade de mudar e tanto para mudar por que não mudaram
antes? Tinha um bocado de gente trabalhando para mudar situações críticas antes
da pandemia, no contexto geral eram poucos, muitos heroicos, alguns barulhentos,
outros utópicos. O grau de eficiência não foi medido, mas é certo
que bem poucos foram eficientes.
Esta maioria dos que agora
estão no grito da torcida muda muda até o começo dos males do coronavírus até
pensavam, falavam, resmungavam, brigavam em nome de suas mudanças, de novo, de suas mudanças, mas
praticamente não fizeram nada prático. A verdade é que aqui no Brasil nem jogar
lixo no lixo se joga, vejam nossas ruas. Portanto muda, muda, muda... o que? Mudar o que, para que, como,
de que forma, em quanto tempo, com que objetivo, para qual resultado, para
quem?
Muda, muda, muda, muda....
O que é capaz de mudar o
carácter de uma pessoa? E de um grupo social? E de uma nação? Uma nação. Exemplos
e respostas não faltam.
Bombas atômicas mudaram o
carácter do Japão? A devastação imposta pelos Aliados à Alemanha Nazista na
Segunda Guerra Mundial mudou o carácter de seu povo? Não, definitivamente não. Alemães
e japoneses entenderam seus erros, aprenderam com eles, e mudaram, mas o
carácter secular voltado ao bem coletivo continua exatamente o mesmo. Não os
únicos.
Pelo andar da nossa carroça a
pandemia não deve mudar o Brasil. Somos o que somos e nos orgulhamos disto.
Fazemos parte de um país que foi loteado, fragmentado, usurpado,
descaracterizado, principalmente nestas últimas décadas. Pior, um país que parece se orgulhar de sua pobreza e ignorância. Definir o Brasil como um país bipolar é uma
definição simplória. Não exagero dizendo que o carácter do brasileiro está intimamente
ligado à usurpação. Usurpação de uns pelos outros, de grupos sociais e da sociedade
por alguns, independentemente do nível social. Usurpação da terra, dos bens naturais,
das riquezas, também independentemente do nível social. E justificamos por ser um
país diverso. Diverso sim, mas sem unidade, que não se reconhece mais como Brasil,
mas como “nós e eles”, muitos “nós” e muitos “eles”, muitos, tantos que mal
sabemos.
Os erros do Brasil são
gritantes, mas parece que nada nos faz vê-los, sequer esta loucura da pandemia. A cegueira faz parte de nosso
carácter. A pandemia nos fará mudar?
Parece piada macabra, mas definitivamente não é.
No meio de toda esta baderna mortal as usuais práticas de autoridades e
políticos não mudaram, continuando seu persistente trabalho de autoproteção e a incessante busca
de vantagens. A sociedade é incapaz de manter um mínimo de estabilidade mesmo
em acordos os mais básicos e necessários. Ladrões e golpistas continuam os
mesmos agindo sem uma reação civil. Faz parte de nosso carácter a aceitação. Estamos acostumados a chorar nossas mortes inúteis.
Depois de um certo tempo as
coisas vão voltar mais ou menos para o que eram antes da pandemia. É humano. É
o que dizem pensadores, analistas e historiadores.
Depois deste tranco mundial
vai mudar o que? O valor humano, o valor ambiental, ou o ecológico? Vai mudar
para quem?
Tudo muda. Depende do que,
depende de cada momento e depende do carácter.
"Que a gente saia da epidemia sem amar controles de
comportamento" diz Pondé
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