domingo, 30 de janeiro de 2022

De volta à pergunta: que cidade queremos?

Fazendo backup do computador dei com este filme de crianças brincando numa praça em Buenos Aires em 2008. E junto está o vídeo Cidades Sustentáveis de NY, do Sérgio Abranches, de 2007. O número de exemplos atrás de exemplos do que vem sendo feito mundo afora para melhorar as cidades é grande.


Que cidades queremos? Esta foi uma pergunta que não faz muito não queria calar nestas paragens. Como ninguém conseguia dar uma resposta, sequer discutir racionalmente sem tirar os olhos do próprio umbigo, o poder público e a política encontraram um mágico mote para mais uma vez dizer que estavam fazendo algo pelo bem de todos: bicicleta. E a bicicleta colou por que sempre existiu, é divertida, faz bem, dá liberdade individual e de fato é uma resposta, a bem da verdade "uma das respostas", melhor, uma das mais efetivas ações para melhorar a qualidade de vida da cidade, mas definitivamente não é a única nem onipotente.

Dependendo da forma como um bem é colocado se transforma simplesmente em mais um vício de linguagem, nada além, e suas qualidades podem não dar os resultados esperados.

Um dos problemas que assola brutalmente o Brasil, em especial suas cidades, é a violência. O brutal abismo social (e porque não dizer cultural) fez com que os mais abastados (mas não tão bem educados assim) optassem pela inteligência de murar suas casas, condomínios, bairros... O resultado? Parece que não foi exatamente o esperado. Passo seguinte; contratar seguranças, cada dia mais sofisticados. O resultado? Parece que também não funcionou como esperado, parece.
Muros, grades, sistemas de segurança podem ser necessários e eficientes? Óbvio que sim, mas usados com inteligência, do contrário são contra produtivos.

Qual será a relação entre a verdade impregnada nos ciclistas que só há segurança na segregação das ciclovias e a verdade atávica da maioria da população que qualquer pessoa estranha que passe na porta é um assaltante em potencial, por isto só tem segurança quem vive murado?

Como nossa educação é um fracasso a maioria não sabe o que foi a Idade Média, mas acha lindo castelo murado. O sonho de boa parte dos cidadãos brasileiros foi e continua sendo construir e morar em castelos (ou shopping centers) atrás de muros para segregar quem não faz parte da festa. Se a violência não diminui será que estamos no caminho correto? Não seria inteligente tentar outro caminho? 
 
A cidade é reflexo de quem somos. Em todas as partes do planeta foi a população que disse basta, quero paz, quero viver, o que "nos" prejudica não pode continuar, chega! Em nenhum lugar do planeta se ficou contando com mudanças pontuais de fundo eleitoreiro. O povo pressionou e conseguiu.

Não é com muro, não é com ciclovia, não é dando um tapinha na pracinha, não é com ações pontuais, sobretudo definitivamente não é protegendo-se corporativamente nem segregando. 

Não tenho a mais remota dúvida que esta minha ladainha é incompreensível e cansativa para muitos, mas devo recitá-la, está na minha alma. 

O que fizemos por aqui? O que melhorou em nossas cidades brasileiras nestes quase 15 anos? Quantos problemas foram resolvidos definitivamente, quantos deram um passo para frente e três para trás? Os exemplos mais gritantes foram a Copa e as Olimpíadas. Preciso continuar? Quanto, nós brasileiros, caminhamos para frente?

O triste é que nestes últimos 4 anos desintegramos o pouco que tínhamos avançado.


sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

Bêbado de cueca salva bêbada em bicicleta

Na rua os jovens que não conseguiram entrar no bar conversam animadíssimos. O porteiro segurança faz seu trabalho com tranquilidade, conversando calmamente com os que chegam e não param de chegar perguntando quanto tempo para ter uma mesa. Quatro meninas com pernas jovens devidamente expostas, bem formadas e duras, fazem discreto charme para os garotos tímidos que estão no meio do asfalto sem saber como chegar nelas. Um casal encostado ao portão vizinho, rodeado por muitos, está no mundo de carícias deles, sem prestar atenção nem se importar no chamado em voz alta que o segurança faz de quem deve entrar. Valou mais uma mesa, segue o agito tão divertido dentro como na rua.
Sai pela porta um rapaz andar mole peito empinado com um meio sorriso incompreensível, quase cai na rampa, pernas dobradas em zig-zag, retoma a pose ainda na calçada e vai para o meio da rua, onde longe dos olhares perde a pose por completo e se torna trôpego. Já não controla mais a bebedeira, mas mantém o sorriso altivo que é o que lhe resta naquele estado. Alguns olham discretamente para ele que gira o dorso para olhar como se procurando algo que deve ter ficado no bar. Torto, inclina a cabeça, depois um pouco mais o tronco, não vê o que quer. Se dobra inteiro com vontade perdendo o equilíbrio e caindo de quatro no asfalto, apoiado nas duas mãos, braços e pernas abertas, bunda para cima, cabeça para baixo, próprio bezerro recém-nascido recém parido, tropego. Para um pouco de tentar colocar-se em pé e fica nesta posição, de quatro, olhando de perto o asfalto. Tenta de um jeito, tenta de outro, o que chama a atenção da galera, e finalmente termina a dança mole voltando a ficar sobre as duas pernas, corpo duro feito um pau, peito para cima, dignidade plena, pernas nem tanto. Gira a cabeça lentamente, sorrindo, numa última tentativa de encontrar algo que talvez já não saiba mais o que, mas é claro que não ousa tentar dobrar novamente o corpo para frente. Alguma consciência ainda lhe resta. O segurança acompanha tudo sem sair de seu lugar, a porta, e sem muito se preocupar. Alguém da galera solta uma brincadeira, ouve-se risos, alguns comentários, olhares, mas com discrição.
O bêbado continua parado duro no meio da rua. Passa um carro devagar buzinando quase raspando, ele olha e ri, resmunga palavras enroladas e inteligíveis. Um dos garotos próximos o alerta para outros carros que virão. O bêbado faz um giro seco com o corpo e uma perna, estanca para não cair, corrige a posição da outra perna e sai andando como robô pelo meio da rua. Os comentários e risadas sobem de tom e ele sinaliza estar de ouvidos atentos levantando os braços, e assim segue andando passos curtos lentamente agora indo para a calçada. Uns 50 metros depois coloca uma das mãos num poste, depois encosta as costas, tira o suéter e joga na calçada. Alguém solta um fiu-fiu e ele agradece. Desabotoa botão por botão a camisa. A reação da galera na frente do bar aumenta. Quase cai quando tira um braço da manga, mas está gostando dos aplausos e comentários. Tira o cinto e joga para o alto tão forte que fica pendurado no teto de uma van. Admira-se, olha fixo para o feito. Gritos começam no bar. Entusiasmado tira a calça e fica de cueca. Aplausos, assobios, gritinhos de estímulo, meninas rindo e falando comentários sacanas. Ele dá as costas, abaixa a cueca, mostra a bunda e estica os braços em agradecimento, e segue caminhando pela rua bunda de fora. Mais a frente, público alheio, cueca já posta, dobrar a esquina. O bar segue sua festa completa.
E dentro do bar sai uma menina linda, loira, corpanzil cheio, deusa do cinema italiano, vestido solto no corpo, peitos duros formando o decote, sandalinha de tira adornando pés delicados. Na mesma rampa da saída amolece e despenca sua bebedeira nos braços do rápido segurança que a coloca em pé e pergunta se está bem. "Ótima", responde ela com seu bafo etílico e olhos vidrados. Dá mais uns passos, não vê o meio fio, despenca novamente e é segura pelos fartos peitos por um garoto que conversa no meio da rua. Ele se delicia, mas educadamente pede desculpas e pergunta se ela quer ajuda. Repete o "estou ótima" sorrindo, se apluma, e vai no sentido de uma bicicleta. Chega lá, mete a mão na imensa bolsa revirando tudo e derrubando algo e mais um pouco no chão. Um casal vai até ela, pega o que está no chão, devolve, ela agradece e diz que está procurando a chave da trava da bicicleta. O casal fala e insiste que do jeito que está não vai conseguir pedalar, que não deve pedalar, que é perigoso; ela já com a chave na mão sorri enquanto procura o buraco da fechadura rindo. Abre o cadeado, pega a bicicleta solta do paraciclo e cai sentada de bunda com a bicicleta em cima. Mais pessoas vem para ajudar; um deles tenta tirar a bicicleta de perto, mas não consegue. Levantam ela que se agarra forte ao guidão dizendo que está acostumada e quando alguém solta a bicicleta ela capota de frente, por sorte não vai ao chão porque bate a cabeça no ventre de um garoto, quase no púbis, que a segura pela cabeça, como se... Boa parte dos que tentam ajudar se afastam as gargalhadas. E se arma a confusão de conselhos, avisos, alertas, todos retrucados pela língua etílica enrolada.
Uma voz enrolada vem por trás do povo que tenta ajudar ou assiste a comédia. Estica o braço e com a mão espalmada vai abrindo passagem. Ainda em cueca segura o braço da amada, pergunta onde ela estava que não conseguiu achá-la, e tasca um beijo de boca muito comemorado pelo povo que não tem mais o que fazer e se afasta. Cuidadosamente se colocam cada um de um lado da bicicleta freada por ele. Repetem o longo beijo, se aplumam e saem caminhando, bicicleta de bengala, conversando rua abaixo. Passam pelas roupas despidas, ele olha, freia a bicicleta, gira o corpo e grita um agradecimento enrolado para o povo que aplaude. Os dois se abaixam gesto típico de agradecimento de teatro e antes de voltarem a caminhar ele abaixa a cueca e mostra a bunda. Aplausos e assobios são ouvidos. Vê-se que ela gargalha.

No dia seguinte encontrei junto a lixeira a camisa, camiseta, suéter, mas a calça com carteira e documentos, cartões e dinheiro se foram. Que porre!

quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

Ciclo Faixa USP - Cidade Universitária - Butantã - fotos

 A área externa da Cidade Universitária da USP não é de responsabilidade da USP, mas em nome da segurança de seus alunos 'talvez' pudesse ser, talvez, quem sabe.

Estas primeiras fotos são do acesso de ciclistas pela portaria principal, pela av. Afrânio Peixoto. 

O ciclista desceu pela calçada da rua Alvarenga, na contramão, e entra na USP. 





E bem-vindos a Ciclo Faixa USP. As fotos contarão por si o que se passa lá.

avenida entre portaria e rotatória MAC / Biblioteca Brasiliana

Correr na contra mão é comum fechando o circuito com a avenida da raia.
 Os ciclistas cruzarão a avenida para chegar na portaria ou virão na contramão?

Rotatória CEPEUSP

Fazendo o caminho natural

A sinalização diz que o ciclista deve ir até a faixa demarcada para cruzar.
Esqueceram de contar para os ciclistas

Rotatória Biblioteca Brasiliana


Rotatória Biblioteca Brasiliana e subida para rotatória Instituto Butantã.
No meio da subida há marcação para ciclistas cruzarem a avenida.

Cruzamento na metade da subida para rotatória Instituto Butantã

rotatória Instituto Butantã

rotatório Instituto Butantã, subida para a Química e HU

avenida entre Instituto Butantã e IPT.
Há quem critique os carros estacionados onde estão, mas a mesma técnica é comum na Europa e NY e funciona bem. É de se esperar alguns problemas ocorram no início, com passageiros esquecendo a existência da ciclo faixa e dos ciclistas, mas é normal e com o tempo para. Esta demarcação é segura.

avenida entre Instituto Butantã e IPT, cruzamento para a Letras

O ciclista vai descer, em velocidade.
Onde está a sinalização para os veículos que convergem à direita?
Também não há sinalização para o ciclista diminuir ou até parar (que não pararia) 


Como detalhe se pode ver um corredor a pé (no meio do ônibus) subindo

Pedestres cruzando, quase invisíveis, por trás do carro estacionado. 

Subida no contra fluxo para a rotatória da FAU
Rua em frente a FAU, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, e acesso a escola. Mesmo tendo vários ciclistas estudando aí estranhamente não demarcaram ciclo faixa desde antes da rotatória Instituto Oceanográfico até o início da subida para a Química. A subida do Matão, paralela a esta subida / descida continua com placas proibindo a circulação de ciclistas, mesmo tendo a Biociências no meio do caminho.   

 de volta para a avenida entre Instituto Butantã e IPT

pela foto é difícil entender que um cadeirante, mesmo o mais hábil e forte,
vai ficar entalado nesta valeta

rotatória Monumento a Ramos de Azevedo. O ciclista vai completar a rotatória segundo o que manda a ciclo faixa?

avenida entre Monumento a Ramos de Azevedo, ao fundo, e a portaria da av. Escola Politécnica, ainda não demarcada, mas apontada no mapa

avenida entre Monumento a Ramos de Azevedo e a portaria da av. Escola Politécnica, ainda não demarcada


Passar?


...olha o poste, olha o burro, fom! fom!

Esta placa me levou a pensar (ou será melhor dizer especular para ser politicamente correto?) que a prioridade da Cidade Universitária ainda será os automóveis. Como as avenidas são muito largas, projeto de outros tempos, dá para manter as vagas de estacionamento. Em engenharia de trânsito uma das preocupações com a segurança de pedestres está exatamente em avenidas muito largas pelo tempo que o pedestre demora para atravessar. 

Saída / entrada Ponte Cidade Universitária - Alto de Pinheiro - Ciclovia Capivara / Rio Pinheiros 

De novo, não é responsabilidade da USP, mas dali surgem seus alunos, professores e funcionários...
Finalmente algumas fotos da saída para Ponte Cidade Universitária, que em horário de pico para entrada das aulas e dos trabalhadores fica lotada de pedestres, principalmente, e ciclistas. O cruzamento do acesso para a Marginal Pinheiros sentido Santo Amaro hoje está mais civilizado, mas ainda muito mal resolvido. O tempo de semáforo e a largura da travessia estão ou continuam, com sempre foram, subdimensionados
Me chamou a atenção que colocaram a placa aérea iluminada "pedestres", dupla face, no sentido de quem está saindo da marginal, solução que melhorou muito a visibilidade inclusive para quem desce a ponte e converge para o acesso para a marginal. O motorista vê antes de dar com a faixa de pedestre e o semáforo, melhorando a segurança do pedestre, e ciclistas. Parabéns. 


o tempo de espera para abrir o semáforo para os pedestres é longo, como em toda cidade. Não entendo por que, só sei que é comum cansar de esperar e atravessar no vermelho. Depois culpam o pedestre, e ciclista 

Portão da USP ao fundo. Esta rampa sempre tem conflito, com pedestre sendo "atropelado" pelos ciclistas que descem a milhão

já vi de tudo aí, mas ciclista seguindo reto... Aliás já vi, mas para o ciclista cruzar no meio da curva e seguir para a av. Alvarenga - McDonalds

Esta calçada não suporta pedestres mais ciclistas. Tem ciclista entrando e saindo da Ciclovia Capivara, principalmente no sentido Praça Panamericana. Tem ciclista estudante indo para USP. Tem trabalhador...
Soube de um projeto de uma passarela larga para pedestres e ciclistas que trasporia o rio Pinheiros, mas, pelo que me lembre, foi descartada pelo Conselho da USP, mesmo sem custo para eles. Uma coisa posso afirmar sem dúvida: foram feitos projetos para resolver o problema, que considero sério, e nenhum foi em frente. Por que será?




Ciclo Faixa USP. Na casa da inteligência uma burrice sem tamanho. E cara!

Vou publicar fotos para que façam seu juízo sobre o que foi implantado na Cidade Universitária da USP - Butantã. Deixo uma prévia aqui. E com ela uma canção de minha infância:
Motorista, motorista, olha o poste, olha o poste, não é de borracha, não é de borracha, dim dem dom! Motorista, motorista, olha o burro, olha o burro... 
A forma como permitimos o gasto de dinheiro público é vergonhosa. No frigir dos ovos dinheiro público é meu, seu, nosso, de todos. Com os problemas que temos na educação, incluindo a universitária, se deve ter prioridades, usar racionalmente o pouco que se tem. Ou sou um chato idiota que não sabe o está falando? Se for, por favor, me avisem. 



Por outro lado e até criticado, Inteli – Instituto de Tecnologia e Liderança

quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

Galão com resto de produto industrial estranho que causa reação alérgica descartado na rua como reciclável

Fórum do Leitor
SP Reclama
O Estado de São Paulo

Capto água de chuva mais água de reuso, é o mínimo que posso fazer para ajudar a crise hídrica que vivemos que é certo que não vai acabar mesmo que chova muito, o que já foi dito e repetido por especialistas.

Na rua encontrei uns galões plásticos pretos de 20 litros de ótima qualidade que são perfeitos para dar descarga no vaso sanitário porque não fazem glube-glube-glube, despejando a água uniformemente, sem engasgos, com o volume correto para mandar embora tudo. Mas estes toneis vêm com um finzinho de um produto químico líquido de cor amarela e cheiro acentuado que causa reação alérgica e é grudento. Acredito que provavelmente o produto deveria ser descartado de forma e em local específico. Descartar o líquido no vaso sanitário me incomoda muito. Há vários textos sobre o descarte indevido de remédios, incluindo no vaso sanitário, o que causa problemas ambientais graves mais para frente.

Para descobrir o que é o produto químico industrial tentei contato via E-mail com a CETESB que respondeu prontamente me indicando órgãos da Prefeitura. Ok, mas... 
A AMLURB, Autoridade de Limpeza Urbana, vai fazer o que? O descarte indevido de resíduos tóxicos, se é o caso, é com eles? Não faz sentido. Ou passando por eles serei encaminhado para quem?
Ligar para o 156? Confesso que tenho bronca do 156. Já tentei algumas vezes o 156 para resolver outros problemas e não me lembro de conseguido o queria. Fora que normalmente é um parto irritante conseguir falar com o 156.
A Prefeitura não tem um órgão específico para produtos contaminantes? No final das contas é com a SVMA PMSP que tenho que fazer a denúncia? Faz sentido, mas quem dentro da SVMA?
Porque quem faz denúncia, qualquer que seja, não tem caminhos mais curtos e diretos?

Acabei de passar pessoalmente na CETESB e na recepção falei que tinha amostra de um produto estranho. A menina pronta e educadamente me disse que não era lá, OK, que eles não recebiam produtos para exame, OK, e logo me perguntou que produto químico era. Uai! "Como vou saber se não sou químico? Por isto estou aqui". A pergunta me foi repetida, vi que a conversa não ia dar em nada, e até por minha irritação, agradeci, resmunguei e saí. 
Por incrível que pareça quem me deu uma orientação mais precisa foi o porteiro Cândido da CETESB, um senhor gentil, educado e atencioso. Dada a boa informação perguntei:
- Você tem filhos? Netos? 
- Tenho filhos e netos, respondeu
- Enquanto as pessoas deste país não derem informações com valor, como a que você me deu, e que na recepção não obtive, este país não vai para frente"; e ele acenou discretamente com a cabeça concordando.

Mais uma vez, em mais de uma situação que procuro fazer o bem comum, caio numa espécie de empurra empurra. O cidadão que se mexa. Agradeço a resposta dada pela CETESB via mensagem, mas agradeceria muito mais caso tivessem tomado a simples iniciativa de ter encaminhado minha mensagem denúncia para o órgão ou a pessoa competente.

Nas mensagens trocadas com a CETESB reproduzidas a seguir tomo o cuidado, por razões óbvias inerentes ao momento que vivemos, e apago a empresa e o local onde encontrei os galões. Não sou químico nem justiça para avaliar, só sou um cidadão preocupado. Vai que o produto pode ser descartado em qualquer lugar... vai que vivemos no Brasil e que nosso meio ambiente está uma maravilha... vai que eu sou o problema, que sou alérgico ao produto, um chato, ou que não deveria estar mexendo onde não fui chamado...


De: Denúncia Ambiental - CETESB <wordpress@cetesb.sp.gov.br>
Enviado: quinta-feira, 16 de dezembro de 2021 08:13
Para: CETESB - Fale Conosco <faleconosco_cetesb@sp.gov.br>; CETESB - Agencia Ambiental De Pinheiros <pinheiros_cetesb@sp.gov.br>
Assunto: Denúncia ambiental - Descarte de Galão com produto estranho

De: Arturo
Assunto: Descarte de Galão com produto estranho

Agência: 
Nome: Arturo 
CPF/CNPJ: 
Cidade: SÃO PAULO
Estado: São Paulo
Telefone: 
E-mail: 
Empresa Denunciada: 
Endereço da Ocorrência: 
Cidade: São Paulo
Estado: SP
CEP: 
Assunto: Descarte de Galão com produto estranho
Mensagem: Bom dia. Uma empresa, ....., está descartando galões com produto estranho, líquido amarelo, cheiro acentuado e que sensibiliza a pele. Os galões são ótimos, estou usando um para água de reuso no vaso sanitário, mas estou preocupado.
O descarte dos galões tem sido realizado junto com outros plásticos que são recolhidos pela manhã, próximo as , na Coleta Seletiva.
Nos galões pretos, Dr Ing W Frohn GMBH & CO KG, nome do fabricante dos recipientes, se lê:
3H1/Y1.9/200/21/D
BAM12025 - WERIT - UK
Fiz uma pesquisa e pelo que entendi o material não deveria ser descartado junto com recicláveis.
Agradeço a atenção e agradeço a discrição já que sou vizinho da empresa.

Arturo Alcorta
Este e-mail foi enviado de um formulário de contato do site da CETESB - https://cetesb.sp.gov.br


De: "CETESB - Agencia Ambiental De Pinheiros" <pinheiros_cetesb@sp.gov.br>
Enviada: 2021/12/20 16:09:16
Para: arturoalcorta@uol.com.br
Cc: faleconosco_cetesb@sp.gov.br
Assunto: (Prefeitura AMLURB CFA OGM) Denúncia ambiental - Descarte de Galão com produto estranho

Prezado Senhor Arturo,

Em atenção à denúncia em questão, referente ao descarte de galões com produto estranho, recolhido pela Coleta Seletiva às terças feiras pela manhã, ocorrência... 

Informações e orientações junto a Prefeitura Regional que atende o seu bairro; pela AMLURB - Autoridade de Limpeza Urbana, é um órgão vinculado à Secretaria Municipal das Subprefeituras (SMSUB), que regula e fiscaliza a gestão de resíduos sólidos e a limpeza urbana na cidade de São Paulo, sito à Rua Azurita, nº 100, Canindé, CEP. 030334-050, São Paulo, fones: 11 - 3397-1750, 11-3397-1756 ou 11-3397-1805, e-mail amlurb@prefeitura.sp.gov.br ; e também por meio da Coordenação de Fiscalização Ambiental - CFA da Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente da Prefeitura de São Paulo, sito à Rua do Paraíso, nº 387, Paraíso – São Paulo.

Denúncias podem ser feitas pelo Sistema de Atendimento ao Cidadão - SAC da Prefeitura, fone:156, ou pelo site: https://sp156.prefeitura.sp.gov.br/portal.

Na persistência dos incômodos, solicitação realizada sem sucesso, sugerimos entrar em contato com a Ouvidoria Geral do Município de São Paulo (OGM-SP) que recebe denúncias, reclamações, sugestões e todo tipo de manifestações pelos seguintes canais: pelo SAC telefone nº 156 (opção nº 5) ou pelo e-mail: ogm@prefeitura.sp.gov.br

Ficamos a disposição para outros esclarecimentos, caso necessário.

Atenciosamente,

Agência Ambiental de Pinheiros
CETESB - Companhia Ambiental do Estado de São Paulo
Tel. (11) 3133.3833
pinheiros_cetesb@sp.gov.br - htpp://www.cetesb.sp.gov.br

terça-feira, 25 de janeiro de 2022

Demolir patrimônio histórico e construir um futuro pobre?

Fórum do Leitor
O Estado de São Paulo

Derrubaram um dos raríssimos exemplares de arquitetura expressionista residencial que restava não só em São Paulo, mas provavelmente em todo país. Ficava na rua Butantã quase esquina da rua Eugênio de Medeiros e permaneceu preservada até sua demolição. Pinheiros é ótimo exemplo da depredação que toda memória nacional vem impiedosamente vem sofrendo. Da arquitetura dos centenários sobrados e comércios dos Largos de Pinheiros e da Batata, uma das localidades históricas mais importantes da cidade, nem sequer chão restou, transformado num inóspito espaço cimentado. A estação de metrô foi construída de costas para o espaço público, com frente para a av. Faria Lima, que por sua vez foi desnivelada, deixando o cimentado vizinho ao Mercado Municipal como terra morta destinada ao estacionamento de algumas linhas de ônibus. Perto dali, na rua Fernão Dias, se permitiu a demolição de raros exemplares de casas do século XIX de paredes duplas, duas janelas e porta altas em madeira alinhadas à calçada. Pinheiros contava muito da história do progresso de São Paulo e do país por ser ponto de chegada de tropas e viajantes vindos do Sul, história que foi varrida para sempre. Apaga-se, mais uma vez e como sempre, nossa memória, o que somos, nossas referências. Neste sentido não há o que se espantar com a demolição de exemplar raríssimo de residência expressionista. Como devemos medir nossa cultura? Depois de ver torrar sem sentido do Museu Nacional parece que muitos acreditem na patética falácia que dá para restaurar. Não dá, mesmo que tivéssemos consciência do drama, do absurdo, o que não fazemos ideia.
Educação começa em casa e a casa de 85% dos brasileiros está na cidade. Preservar o patrimônio histórico, cultural e ambiental sobretudo tem cunho educativo, formativo, cunha identidade, carácter. É muito difícil que o brasileiro entenda realmente a importância de não devastar quando em sua própria casa acha normal tanta displicência por motivos tão fúteis, pobres e mesquinhos.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

Enfim, COVID

Muita informação, pouca informação. Muita informação, saturação. Muita informação cansa, desorienta.

- Olha (as placas de sinalização da entrada da cidade) e me diz o que você vê
- Está bem-sinalizado. Não dá para entender por que o pessoal erra o caminho.
- Quantas placas de sinalização o motorista tem que ver e em quanto tempo?
E ele contou as que estavam naqueles 500 ou 700 metros de estrada reta antes da rotatória.
- Total 17; e parou para pensar. É muito; completou.
Sobraram umas sete, se tanto, e os motoristas passaram a entrar na cidade pelo caminho correto.

E daí, o que faço?

Depois de ficar relativamente quieto em casa por uns bons dias pensando estar com esta nova gripe acatei a ordem de meu médico e fiz o teste. Na mosca; positivo. Enfim estou com COVID. Ou talvez estivesse faz um bom tempo e a gripe não fosse exatamente uma gripezinha assim. Sintomas? Uma rara tosse seca que pensava fosse efeito do refluxo. No fim da consulta com a internet caindo e voltando, tossi, meu médico ouviu e perguntou sem titubear;  
- A quanto tempo está com esta tosse? 
- Porque?
- Esta tosse seca é tosse de COVID. O som é diferente. Vai fazer exame.
Ontem a Renata Vasconcellos, apresentadora do Jornal Nacional, voltou depois de sua quarentena covidiana. O relato dela bate exatamente com o que senti, e continuo sentindo, e com o que tenho ouvido de amigos e conhecidos; sintomas muito leves, uma garganta arranhando, uma tossezinha mui de vez em quando, um pouco de cansaço, nada demais. É o efeito de estar vacinado, do contrário seria barra pesada, hospital, muitos na UTI, como o zelador do edifício que depois de meses ainda reclama de algumas sequelas.
- Enfrente qualquer fila e faça o teste. A situação está muito feia. Conversando com o pessoal (médicos do sistema público de saúde) eles dizem que temos mais de 600 infectados. Não dá para brincar; ordenou meu médico.  
No Jornal da Tarde da TV Cultura abriram os dados e temos 870 mil infectados. A noite o diretor do Instituto Butantã, Covas, afirmou que temos mais de um milhão por dia. Tá feio!

Quando supunha que estava gripado me encheram o saco de todos os lados para fazer o teste. Até saí de casa e circulei pedalando pela porta de vários locais, mas todos completamente lotados. "Assim não dá. Só falta o pessoal trocar tapa para fazer o teste". Num deles, todo envidraçado, dava para ver a aglomeração lá dentro, só faltando luz escura e música para virar boate.
- Lotado do jeito que está ou você pega COVID ou você transmite o COVID, não tem alternativa, disse Tereza depois de minha justificativa.
- Está faltando teste e acho uma puta sacanagem tirar o teste de quem realmente precisa. Estou me sentindo bem, deixa para quem precisa.
Repeti a mesma coisa para meu médico que me deu uma tremenda bronca. 
- Tem que pensar quantas pessoas dependem de você. Se ficar doente quem vai cuidar delas?

Se estou com COVID faz tempo provavelmente contaminei muita gente. Deveria ter testado quando passei uma trade toda dormindo e fiquei uns dias com a garganta arranhada. Foi ou não foi gripe? Sei lá, pelo jeito foi COVID, mas me sentia relativamente bem e não tem teste para quem realmente precisa.

Parei de pedalar em grupo quando o grupo que participava cresceu e começou a deixar para trás os que furavam o pneu, caíam, quebravam ou paravam por qualquer razão.  
Mesmo sendo uma ostra, acredito em prioridade, não tenho estômago para ver gente ficando para trás. Acredito que este deveria ser um ditame na organização social. Partindo deste princípio agi com relação a fazer o teste, mas definitivamente a coisa não é tão simples assim.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

Steve Tilford, primeiro campeão da história do mountain bike mundial

peço desculpas por não pedir autorização para a foto, mas há de compreender que Steve merece

Fazendo uma pesquisa sobre a primeira mountain bike de produção em série introduzida no mercado americano acabei dando com a notícia da morte em 2017 de Steve Tilford vítima de um acidente de automóvel do tipo "Jesus me chama". Faz uns bons dias e desde então simplesmente não tive condição de escrever o texto.

Steve Tilford e Trudi, sua mulher, estiveram duas vezes aqui no Brasil. A primeira vez em 1995 acompanhados de Todd Turner, do downhill; fui eu o responsável por recebê-los. A segunda em estada 1996 vieram acompanhados de Ned Overend, ainda competindo e já uma lenda do mountain bike; desta vez não me lembro quem os acompanhou, mas novamente estivemos juntos. 

A simpatia e a simplicidade de Steve e Trudi foram marcantes para todos. Não demorou muito para me fazerem sentir como se fosse um amigo de longa data. Confesso que tinha certa noção de quem ele era como ciclista: campeão americano de ciclocross e o primeiro campeão da história do mountain bike, ponto, o que em nenhum momento Steve fez transparecer. A imagem de Steve estava deslocada do que esperávamos; zero, nem um traço de "sou o bom, sou campeão".
 
Na primeira estadia chegaram à noite e no dia seguinte Steve e Todd teriam que dar uma entrevista na Rádio Jovem Pan, marcada para 14:00 h. Peguei os três próximo ao meio dia, entraram no carro e disseram que estavam com fome. Dei opções, falei sobre o tempo breve antes da entrevista, e eles quiseram experimentar o hambúrguer daqui, brasileiro. Levei-os a uma das boas hamburguerias e não só eles se deliciaram para valer com a comida como sem parar de conversar sobre tudo menos ciclismo, rindo muito, acabamos perdendo a entrevista na rádio. Na Specialized quiseram me matar, mas isto é outra história. Todd mostrou-se mais tímido, formal, fechado, mas muito simpático; e para minha completa surpresa mórmon. "Downhill mórmon? Esta não poderia imaginar." 
Steve e Trudi me marcaram como abertos, leves, despreocupados, cultos, vividos, curtindo o melhor da vida numa conversa rica, cheia de graça.

Depois da bronca por ter perdido a rádio, e que bronca, que começou pelo celular, passamos pela bicicletaria Pedal Power que também estava agendada pela Specialized, onde Steve e Todd foram recebidos quase como heróis ciclistas, só faltando fogos de artifício, mesmo assim continuaram sendo o que eram e nada mais.

A noite fizemos um passeio pela cidade. É o que mais me impressiona das lembranças que tenho de Steve e Trudi. Parecia que os tinha encontrado numa padaria e depois de uma agradabilíssima conversa eu tenha dito "A noite está agradável e tô indo dar uma pedalar por aí. Querem ir?" Vieram e continuamos a conversa. Jamais diria que ele foi um dos mais importantes ciclistas da história dos Estados Unidos e que Trudi pedalava uma barbaridade (desconheço seu currículo, mas sei que é bom).
Ps.: No meio do passeio o pneu do Steve furou. A velocidade da troca provavelmente inspirou a equipe Red Bull de F1. Ali entendi que Steve pertencia a um outro planeta. Teria demorado mais para encher o pneu se fosse com o calibrador do posto de gasolina, o que pode parecer um exagero, mas não foi. Queria ter cronometrado.

No domingo Steve e Todd fizeram uma corrida completamente absurda, debaixo de um temporal próprio para a Arca de Noé, que terminou literalmente com um palmo de lama tipo milkshake. Uma forçada de barra, uma irresponsabilidade sem precedentes que só aconteceu porque foi transmitida pela TV. Steve, 5 vezes Campeão Americano de Ciclocross, são provas completamente meladas, um barro só, disse que nunca tinha participado de nada sequer parecido. Todd Turner terminou apavorado com a possibilidade de contrair alguma doença de rato por causa de um corte na canela. Só quem viu as bicicletas depois da prova consegue entender o que aconteceu ali.

A paciência e a cortesia de Steve com o público antes e depois da estúpida prova sem sentido me impressionaram muito. Todd foi cordialmente profissional. Trudi ficou no canto dela, conversando descontraída com quem se apresentasse. Steve, exausto e desesperado para tomar uma banho desinfetante, atendeu a todos com uma gentileza rara.

No dia estava programado pegar Steve e Trudi para levá-los para Ilha Bela. Enfim férias! Entramos na Marginal Tiete com outra tempestade brutal, passamos um pouco do estádio da Portuguesa e trânsito parou. Depois de um tempo saí do carro para ver o que acontecia, mais a frente vi carros naufragados e a água vindo rápido em direção ao nosso carro. Foi das poucas vezes que por dentro entrei em pânico. Eles perceberam e me acalmaram. Disse para eles que se fosse o caso os colocaria para dentro do ônibus que estava ao lado, e de novo me acalmaram. A enchente parou na roda de uns dois ou três carros a frente. Ficamos presos lá algo como 5 horas ou mais, óbvio que sem água e comida, e neste meio tempo os dois decidiram que queriam ir para o aeroporto e voltar para casa, o que fizeram. Telefonei para a Specialized que ajeitou tudo. Entre o hotel e o aeroporto demoramos pouco mais de 8 horas. Era simplesmente impossível sair de onde encalhamos. As ruas em volta simplesmente submergiram. Eles não só não perderam a calma como mantiveram todo tempo uma conversa divertida e um bom humor notável.

Quando vieram pela segunda vez para São Paulo achei que eu seria um mero conhecido, mas quando os dois me viram sorriram, Steve me deu um longo abraço, mais um abraço carinhoso de Trudi, e ele me perguntou quando iríamos comer hambúrguer. Desta vez tivemos pouca chance de uma conversa longa, mas a toda oportunidade trocávamos piadas e comentários como se fossemos amigos de infância. As atenções maiores foram naturalmente para Ned Overend, o que em nada parecia incomodar Steve que circulava sorridente e solícito.

A partir daí trocamos mensagens de Natal, Ano Novo, e outras datas, sempre com textos carinhosamente elaborados. Fazia um tempo que não nos comunicávamos, que me lembre alguns anos antes de 2017, ano do acidente fatal de Steve.

Um caminhão deslizou na pista e tombou no meio da estrada. Steve parou e saiu de sua vã quando foi colhido por um segundo caminhão. Pelo que entendi o impacto foi tão violento que a vã literalmente transpassou o compartimento de carga do caminhão. O lado que Steve estava desintegrou, como se vê na foto.

Steve, meu caro, agradeço e muito a você por sua simplicidade. Se não tivesse visto a notícia trágica do acidente jamais teria descoberto o quão grande você foi. Como dizem os comentários de pessoas que conviviam ou competiram com você: "Steve foi um hippie que pedalava muito." "Era o melhor dos companheiros e o pior dos adversários." Estas duas frases, dentre muitas, resumem o sempre achei que um verdadeiro campeão deve ser. Você era e pela tua simplicidade eu jamais teria descoberto. Obrigado.

Campeões de verdade não deveriam morrer antes do tempo. E não morrem.
A forma de manter Steve vivo foi criar uma fundação: https://www.stevetilfordfoundation.org/ 

Confesso que nesta era dos falastrões vazios ditos mitos, salvadores da pátria ou heróis, a morte de Steve me pegou muito pesado. Difícil, muito difícil.
Trudi, espero um dia ir até aí para dar te um forte abraço.