sábado, 29 de fevereiro de 2020

a história morreu e ou a história revisitada

Povo que não conhece sua história é povo que não sabe quem é e não encontra seu futuro. A frase pode não ser esta exatamente, mas meu irmão, Murillo, professor de história da arquitetura e urbanismo, sempre a repetia. Pura verdade hoje confirmada em pesquisas e mais pesquisas.

"A história acabou" disse o pensador Francis Fukuyama. Mexeu com corações e mentes gerando uma confusão sem limites excelente para os oportunistas. Fukuyama prova que a afirmação foi tirada de contexto, provavelmente durante alguma explicação sobre "O fim da história", título original do livro do pensador. Fato é que a história não acabou nem vai acabar, mas de novo e como sempre tem muitos que querem reescreve-la como se ela nunca tivesse existido. Acreditar piamente que nós somos a história é hoje fato trivial, o caminho mais curto para reencontrar a inexperiência e repetir erros passados, até mesmo os mais grosseiros.

No Youtube é possível ver inúmeros documentários que revisitam a história, mais que isto, contam o que aconteceu de fato e não a estória dos vencedores, perdedores, oportunistas ou coiós, que é o que não falta. Esta revisão muito mais apurada e realista de fatos passados tornou-se possível a parir da eficiência dos computadores que conseguem cruzar dados em quantidade e rapidez que nunca tivemos. Como em boa parte do mundo, principalmente nos países mais civilizados, praticamente tudo está digitalizado é muito mais fácil encontrar e ter acesso a documentos do que no passado das bibliotecas e arquivos, alguns fechados a um seleto público. Escancarou-se tudo, escancarou-se nossa ignorância.

Não sei quantos digitalizadores de livros e documentos existem no Brasil, devem ser pouquíssimos. Descobri sua existência quando meu irmão me contou como estava sendo digitalizado tudo que entraria na Biblioteca Brasiliana da USP. É uma máquina sofisticada que rapidamente gira as páginas e as digitaliza. Não faço ideia de como se chamam as profissões envolvidas neste novo processo, talvez ainda bibliotecário, arquivista, museólogo e outros que desconheço; mas sei que no Brasil frequentemente a história vira cinzas. Para mim os que preservam nossa memória, falo de Brasil, são heróis porque o povo mesmo, até os mais educadinhos, fazem a andam. Em todos setores da sociedade, sem distinção. Aqui a história sequer começou talvez porque temos uma profunda vergonha do que somos, de onde viemos, de nossa história. 
Vou estar com Valter Busto, o que era responsável pelo MUBI, Museu de Bicicletas de Joinville. Eu disse "que era". Memória neste país costuma ser projeto de governo. Passados quatro anos de mandato nunca se sabe como vai ficar, se o trabalho continua, ou se a história mais uma vez vai mudar de rumo. Voltando a imensa coleção do Valter, referência crucial da história da bicicleta no Brasil, o mínimo que deveríamos é ter todo seu acervo digitalizado.

Estou em Curitiba, que uma cidade que deveria ter sido referência para o Brasil, mas não colou, não fez história, ou fez ao contrário. No calçadão central encontrei turistas holandeses e conversamos sobre Rotterdam, a primeira cidade da história a transformar uma rua em calçadão, num caótico pós Segunda Guerra Mundial. Roma foi a primeira a ter rodízio, isto no Império Romano, séculos antes de Cristo. Mobilidade não nasceu hoje, como querem alguns. Quem se interessa? 

O que a história tem a nos ensinar?

O NY Times trouxe um artigo sobre como se quer rever a história dos bombardeios que arrasaram Dresden na Segunda Guerra Mundial. Foi o que me trouxe até aqui.

O Brasil tem uma história cheia de buracos, ou melhor, o Brasil tem uma estória, um conto popular que pouco diz respeito aos fatos reais. Não consigo entender por que nos recusamos a buscar nossa verdade e a partir dela olhar para frente e seguir em frente a passos firmes.

Não resta dúvida que neste país é um ótimo pensamento para um 29 de Fevereiro

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

Você se olhou no espelho hoje?

A menina de 14 anos esperou os pais dormirem e sorrateiramente abriu a porta do apartamento e caiu no mundo. Voltou às 4:00 h sem que ninguém percebesse. Aventurou-se por quatro noites seguidas e continuaria se o porteiro não tivesse achado estranho e avisado a mãe, que, óbvio, entrou em pânico. Deu um esporro de ópera italiana, primeiro sozinha, depois junto com o pai. A notícia se espalhou pela família; pânico geral. Uma menina bonita de 14 anos circulando pela noite nestes tempos de Brasil Urgente e outros do gênero é de apavorar qualquer família. Saiu com o namorado que tem mais ou menos a mesma idade, mais motivo para preocupação. Fu? Não! Ufa!
Tudo tem um outro ponto de vista: ela agiu. Quantas meninas, e meninos, choram ou gritam no quarto acatando as ordens dos pais e vão continuar assim para o resto das vidas. É o que mais acontece. Ela agiu com toda imprevidência típica da adolescência, mas agiu, teve atitude. Ponto para ela. Agora é ensinar como agir, o que é atitude, positiva e negativa, e com calma racionalizar os perigos. Racionalizar os perigos. O histórico de escola dela é muito favorável, mas acabou a escola e as lições, que por muito inteligente mata rapidamente, fica o dia todo no celular, sabe-se lá com quem. Perigo! Entre celular e rua, as duas situações com seus perigos, prefiro a rua, mas não tenho ingerência. Depois de assistir o Café Filosófico com Julieta Jerusalinsky sobre Intoxicações Eletrônicas na Primeira Infância não tenho a mais remota dúvida que prefiro os perigos da rua. Ela está com um pequeno skate pendurado na correntinha de pescoço. Opa, ponto positivo, torcendo para que não se quebre. Ralados fazem parte da vida. Gostaria que fosse para a escola, que não fica longe, em skate, mas quem sou eu para autorizar. "As ruas são um perigo... blá blá blá..." depende de onde sejam as ruas e qual o nível de consciência da skatista. Educação, não medo.

Fiquei sabendo que o careca que pedalou 1.000 km subindo e descendo 5 montanhas dos Alpeninos franceses foi levado para pedalar no Centro de São Paulo e ficou maravilhado com a experiência. Imagine se tivesse visto o Centro que vi nas décadas de 70, 80 e mesmo 90. O que hoje se diz sobre o Centro de São Paulo é em parte verdade: está sujo, cheio de mendigos e sem teto, está muito deteriorado, muitas construções pixadas, largadas..., mas é o Centro, tem muita história, é muito interessante, tem construções belíssimas, continua valendo a pena.
No meio social deste pessoal que viaja para Europa com frequência ir pedalar no Centro é uma loucura, tão loucura quanto uma adolescente passar a noite na rua ou ir para escola sozinha em skate. Já viver num enclave, atrás de muros altos, portarias, seguranças, shopping centers, clubes fechados, casa de interior em condomínio distante da cidade e vigiado 24 horas, não é. Intoxicar-se escondendo-se nas redes sociais (redes sociais?) do celular também não. 
Diz se no marketing que notícia boa é repassada 3 vezes enquanto notícia ruim é repassada 83 vezes. O medo generalizado bem mais que real é estimulado. O negócio da segurança privada não para de crescer. "Olha o perigo! Cuidado!" vale ouro, é líquido e certo. 

Gostaria de ter o desprendimento de uma figura que vai pedalando para a academia de um shopping com uma MTB de titânio de encher os olhos, e lá a estaciona sem qualquer preocupação. Não faço ideia, nem quero fazer, como me sentiria caso roubassem uma das minhas tranqueiras. Por conta disto hoje tenho medo de pedalar em certos cantos da cidade ou de ir para estrada. Olha que no passado pedalei por praticamente toda São Paulo indo muito além dos limites então ditos "seguros" do Centro Expandido. Hoje vou preocupado, com muito receio, mas com certeza que é muito mais neurose do que qualquer outra coisa. Tudo está mais perigoso, é certo, mas quanto? É tudo isto que falam? A vida continua.

Seguindo as recomendações de um conhecido que era da polícia criminal evito sair nos horários e locais prediletos pelos ladrões e assaltantes. Também evito (aliás, não gosto, não me sinto confortável) roupa de franga (roupas de ciclismo e capacete) o que diminui o interesse na minha bicicleta. Neurose? Com certeza. Quando entro na estrada luto para desligar das neuroses e aproveitar a bela paisagem. Estou cada dia melhor.

Quando soube da história da menina fugitiva fiquei com inveja, muita inveja, inveja da atitude dela. Tenho inveja dos ditos inconsequentes, dos que partem para a vida com sabedoria para viver. Olho para meus amigos e sei que sentem o mesmo. Poucos foram os que tiveram atitudes que valeram uma vida, falo das verdadeiras. As compradas são divertidas, mas não valem mais que lembranças risíveis. 

Você se olhou no espelho hoje?

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

0 descartável e lixões entupidos

Feliz da vida com meu novíssimo assento de privada da Tigre voltei para casa pedalando pela ciclovia atrás de uma 29 das baratinhas que estalava tanto o eixo traseiro que se podia ouvir a mais de 10 metros de distância. Quanto tempo vai durar? Onde será que vai travar, longe da casa do ciclista, longe de uma bicicletaria? "Não é uma Brastemp muito menos tem a qualidade Tigre" pensei. 
O assento de privada que vai ser substituído partiu ao meio com muito menos uso do que deveria é da marca Astra, uma das mais tradicionais e respeitadas marcas do mercado para acessórios de banheiro. Comprei na Leroy Merlin, empresa multinacional de origem francesa de sucesso que costuma vender produtos confiáveis. A Astra não poderia dar errado, mas deu, quebrou, as duas partes do assento se separaram, machuca a bunda.
Instalei o assento da Tigre e ao abrir a tampa ouvi um barulho e o encaixe da tampa com o parafuso de suporte estava quebrado. Epa tigrão! A qualidade dos produtos para hidráulica da Tigre é muito boa, dá segurança, provavelmente o melhor, é sempre minha primeira opção. Como pode a tampa quebrar desta forma? Olhando com cuidado a resposta veio fácil, fácil: rebarbas e a pouca espessura do material no ponto de fratura. O fato é: quebrou. É Tigre, mas pelo menos o assento de privada não é uma Brastemp.
O que faço agora? Pego a nota fiscal Extrato No. 117421 ; CNPJ 60521 663/0001-83 ; IE 105798571110 e troco o produto? Este é o correto, assim dita o Código do Consumidor, mas... Se eu trocar o produto, o que o local onde comprei fará sem discutir, a Lei manda, qual será o destino da peça com defeito? O distribuidor da Tigre vai pegar e daí para frente? Duvido que o produto volte para a fábrica e seja avaliado por um técnico, engenheiro de materiais, projetista e menos ainda pela diretoria, e olha que não duvido da Tigre e de sua qualidade geral. Duvido, e tenho boas razões para tanto, dos processos, procedimentos e filosofia comercial brasileira. A bem da verdade, da industrial também.
O que vai acontecer com o assento, vai ser descartado? Vai virar lixo ambiental? Isto já virou, mesmo que reciclem. Reciclar não passa de um paliativo, um engana que eu gosto. Deveria ser exatamente como a medicina nos ensina: tem que prevenir para não remediar. Prevenir sai muito mais barato para todos, principalmente para o meio ambiente. Ou seja, não pode dar problemas, não pode ser descartável tão fácil e rapidamente. Reciclar também tem um alto custo ambiental. A medicina nos ensina, mas nos recusamos a aprender, vide uma farmácia em cada esquina. 
Comprei uma torradeira elétrica, deu defeito. Comprei a segunda, deu defeito. Comprei a terceira, esta bateu o recorde, quebrou na terceira torrada. Nenhuma teve concerto, todas de marcas diferentes. Lixo! Lixo? Uma delas uso até hoje e para isto tenho que ficar grudado nela porque o termostato que solta as torradas não funciona e se deixar a torradeira toca fogo na casa, o que já quase aconteceu. Vai um carvãozinho aí? O mesmo com a cafeteira expresso. Melhor, com as cafeteiras expresso. Faço café no coador, paciência. Por curiosidade você já pediu para ver o lixo de uma bicicletaria? As mais divertidas são as de periferia, as que trabalham com bicicletas baratinhas, o grosso do mercado. Sempre bem cheias, com os mais variados defeitos de peças inimagináveis. O que rende mesmo é a oficina e a troca de peças. O povo acha normal. O lixo, ora o lixo, sei lá onde vai parar.
Quebrou, joga no lixo, descarta, este é a forma como nos comportamos aqui no Brasil. 
O que faço com os assentos de privada? Vou lá e troco? Ou dou um jeito de ser usado por mais um bom tempo? Tentei mandar uma mensagem para a Tigre no contato do site deles, mas a mensagem não foi enviada, sei lá por que. Não foi a primeira vez que uso o contato de uma empresa e a mensagem não vai. Estranho, não é? Talvez, mas comum.
Não posso deixar de ficar pensando que o Brasil recicla praticamente nada e que nossos lixões estão todos transbordando. Ou o lixo é jogado no terreno baldio ou córrego mais próximo. Não temos uma política minimamente eficiente e muito menos ainda uma prática correta para o descarte de lixo. E parece que ninguém está muito preocupado. Quando muito querem uma lixeira em cada poste, mesmo que joguem o lixo no chão. Mais ou menos como uma farmácia a cada esquina.

Brasil tem quase 3 mil lixões em 1.600 cidades, diz relatório

Brasil é o 4º maior produtor de lixo plástico do mundo e recicla apenas 1%

https://revistas.ufrj.br/index.php/rec/article/view/19713/0

Parques lineares, Programa Córrego Limpo e as bicicletas

Para mim um dos legados dos holandeses do I-Ce foi mostrar a importância de usar a bicicleta para proteger a qualidade das águas. Os Países Baixos, que inclui a Holanda, só existem porque sua população aprendeu a controlar as águas e água não admite erros. Errou ou morre afogado ou morre de sede, simples assim. Mais, é um povo com história ligada ao comércio marítimo, portanto sempre conviveu com outras culturas e delas se apropriou. Holandês procura viver com o que é necessário, olhando sempre para o que é prioridade, para o que for melhor para o coletivo. Eles não estão preocupados com detalhes, mas com a essência, com o que de fato é importante. 
No último texto que publiquei, a guerra d'agua, acabei apagando um parágrafo que ali ficaria um pouco solto, mas cabe perfeitamente aqui. Conta a história do projeto "Um milhão de árvores" da SVMA MSP, com Werner Zulauf então Secretário de Meio Ambiente. O projeto parou no meio porque de cada 10 árvores plantadas pelas ruas da cidade 9 acabavam depredadas, partidas ao meio, arrancadas do solo, mortas. Erraram em fazer o plantio com as mudas ainda pequenas, mas isto não justifica a barbárie. Mesmo nos bairros da "zelite" paulistana, os Jardins, pouquíssimas sobreviveram para contar história. Desde a casa Madre Teodora, em 1982, um relatório com proposta de Raul Ximenes, Asis Ab Saber e outros, apontava para a urgência do plantio e replantio de árvores em São Paulo, e que estas deveriam ser de espécies típicas da região que atraíssem pássaros, e o aumento do sombreamento da área urbana do Município.
Anos depois voltaram a plantar mudas maiores, com uns 2 metros, e a selvageria continuou em menor grau, mas continuou. Quando não arrebentavam a muda arrebentavam a grade de proteção, ou estragavam tudo. Muitas estão por aí dando sombra, atraindo pássaros que comem insetos, e diminuindo a temperatura local, o que dentre outras coisas diminui a possibilidade das tempestades.
Há muito, muito mesmo, se fala na necessidade de se aumentar as áreas verdes e a permeabilidade do  solo paulistano. Um dos trabalhos realizados pela SVMA na gestão Werner foi localizar e oficializar as praças da cidade. Até 1997 a Prefeitura de São Paulo não tinha certeza do que era público ou não, simples assim. O cocuruto verde do bairro Cidade Jardim, por exemplo, foi colocado no mapa porque Luis Fernando Calandrielo, o saudoso Tio Lu, sempre pedalava por lá e chamou a atenção da SVMA que aquilo era o último resquício de mata atlântica do bairro. Não fosse isto provavelmente teria virado uma majestosa mansão com invejável vista para os Jardins e a Paulista e ninguém jamais saberia.
Só para entender a baderna que sempre foi esta cidade, só quando Eduardo Jorge foi Secretário de Meio Ambiente, gestão Serra, 2005 - 2008, é que se corrigiu os esgotos dos edifícios dentro do Parque Ibirapuera, que ninguém sabia de onde vinha e para onde ia. Boa parte para o lago, certamente. Os bares e restaurantes funcionavam em situação irregular desde a inauguração do Parque, ou seja 1954. Em 2007 tive que fazer uma vistoria nas ruas próximas a estação do Metro Guilhermina - Esperança, Zona Leste, e para meu espanto quando fui olhar nos mapas oficiais da Prefeitura umas das ruas, aberta na década de 70, simplesmente não constava mesmo com residências estabelecidas lá desde então.  
Sobre o Programa Córrego Limpo não falo mais para não repetitivo, mas é um completo absurdo terem parado. Poderia ter ajudado e muito a diminuir as enchentes de segunda-feira.
Um técnico da SABESP deu uma entrevista dizendo que o problema das enchentes só vai ser resolvido quando se resolver os problemas dos córregos. Diminuindo a velocidade de vazão destes córregos, hoje em boa parte canalizados, o Tiete e o Pinheiros vão encher mais devagar e ter mais tempo para escoar, portanto diminuindo a possibilidade de alagamentos. O mapa hídrico de São Paulo diz tudo. 
Obras atrasadas? Qual a razão? Todas as administrações que tivemos em São Paulo, sem exceção, e porque não dizer em todas as cidades brasileiras, sempre foram acusadas de falta de ação. Qual a razão, qual a raiz do problema? O que precisa ser corrigido aqui e em todo Brasil? Esta é a questão. 
Termino repetindo que um país que tem uma lei de licitação com número 8.666 não pode funcionar. 8 de infinito. 666 da besta do apocalipse. Lei que tem como prioridade o menor preço, não a qualidade, a durabilidade, a funcionalidade, a inteligência....

🆘 São Paulo submersa ‼
“Há muito tempo tenho alertado e reivindicado o preparo de São Paulo para as chuvas violentas das mudanças climáticas. Poucos dão importância! A Lei de Mudanças Climáticas está abandonada.  Pararam com o Programa Córrego Limpo e a Operação Defesa das Águas.  Deixaram de fazer calçadas permeáveis;  as matas da Cidade estão sendo dizimadas por quadrilhas do crime; nossos Parques estão abandonados;  quase zeraram o plantio de árvores. Gastaram menos de 50% da verba para enchentes em 2019. O valor disponível para usar em obras e serviços de combate às enchentes era de mais de R$ 973 milhões, o valor usado de fato foi R$ 474 milhões. E digo: piscinão somente, não é solução! ❌ Precisamos pensar em soluções sustentáveis. ✅ 🌳 A prevenção e o combate às enchentes tem sido precários! E as chuvas serão cada vez maiores e mais violentas.”  ⛔⚠
Gilberto Natalini
Vereador (PV-SP)
Presidente do Comitê de Chuvas e Enchentes da Câmara Municipal de SP
Relatório do Comitê de Chuvas e Enchentes:
http://bit.ly/3bnzSct

Olá,
Entre obras atrasadas, cortes de orçamento e falta de planejamento adequado, é revoltante imaginar que, se não tivessem sido abandonados os parques lineares planejados pelo então secretário do verde Eduardo Jorge, há quase uma década, a situação da cidade hoje poderia ser bem diferente.
Não bastasse o drama de quem teve a casa alagada e correu risco de vida, além de ficar debaixo d'água, São Paulo travou.
Nossos desafios são enormes; estruturais, ambientais, de saúde, de mobilidade...
Como já informado no email enviado mais cedo, hoje, esta terça temos audiência pública sobre a Reforma Administrativa.
Mas a pauta legislativa tem de ir além! Temos de avançar em projetos que transformem o modelo de drenagem da capital, como a Operação Urbana Bairros do Tamanduateí, e colocar em prática as ações indicadas pelo Comitê de Chuvas e Enchentes da Câmara, mas também precisamos usar criatividade e inteligência para tirar do papel projetos que ajudam a desatar os nós da mobilidade, como o incentivo ao trabalho à distância, o home office.

Para saber mais sobre o home office 👉🏽 http://bit.ly/2NAVyYq

Para conhecer o relatório do Comitê de Chuvas e Enchentes da Câmara, acesse: https://www.saopaulo.sp.leg.br/wp-content/uploads/2019/12/Relat%C3%B3rio-Comit%C3%AA-de-Chuva-e-Enchentes.pdf

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

Fim das Yellow: diminuíram sensivelmente os assaltos

Ontem ouvi que o fim das Yellow Bikes fez diminuir radicalmente os assaltos. Hoje sai perguntando para PMs e todos, em vários cantos da cidade, confirmavam com alívio o fim das Yellow. Estavam sendo usadas não só para assaltar ciclistas e roubar suas bicicletas, mas para vários outros crimes, em especial assalto para levar celulares. Segundo ouvi a maioria era menor de idade e pouco se pode fazer para controlar a grave situação. O mesmo está acontecendo com as Tembici, as bicicletas do Itaú, mas numa escala muito menor. 

Perguntei sobre os patinetes e a resposta foi que o problema é muito menor. Pelo jeito continuará sendo. É comum ver os patinetes usados de forma estranha que nada tem a ver com mobilidade. Criança brincando com patinete é natural, ótimo, mas pré adolescente circulando com olhar de caçador não. O quase atropelamento de um garoto cruzando a Faria Lima em fuga não sei de quem num patinete verde foi cena de terror. 

Não me lembro de ter lido, ouvido ou visto notícia sobre mais estes problemas. Vi sim muita Yellow com sua trava machucada por batida de pedra, a forma encontrada para destravá-las. As notícias falaram sobre atropelamentos de ciclistas, alguma coisa sobre segurança dos patinetes, umas poucas matérias sobre os assaltos na ciclovia da Faria Lima e da Pedroso, mas específico sobre o uso intensivo das Yellow para assaltar não. Por que será? Se noticiaram por favor me comuniquem.

Misturando canais, o que ouvi foi o comentário que os patinetes não deram certo por aqui porque a cidade não foi preparada, e que Paris tinha sido preparada para receber os patinetes elétricos de aplicativo. 
 Primeiro: o uso de patinete comum, sem motorização, é hábito do parisiense muito antes da existência dos aplicativos. A criançada de lá vai para escola em patinete muitas vezes acompanhados por seus pais ou mesmo avós, o que vi pessoalmente mais de uma vez. Cansei de ver velhinhas em patinetes. Sem querer escrevi "parinetes", pois então, Paris é também dos parinetes.

Segundo: em nenhuma cidade civilizada do planeta mudanças são realizadas na porrada como se fez por aqui. Também nunca vi ou ouvi "somos diferentes (do resto do planeta) e fazemos do nosso jeito" típico do que foi feito em São Paulo. Muito menos "Faz, depois a gente corrige", que não sei de quem é a brilhante frase, mas é típica de brasileiro. Como assim "faz, depois a gente corrige"?, tá louco? Também nunca ouvi ou li que em qualquer cidade civilizada que a prioridade deveria ser quantos km e não a qualidade do sistema, único caminho para perenizar os resultados.

Nunca me disseram, nunca vi, nunca soube que a dita mobilidade deveria ser enfiada democraticamente goela abaixo de toda a população, só aqui. Sim, preparar as cidades para os novos tempos se faz urgente, mas existem formas e formas de se fazer. 
Da mesma forma que me deprime ver lixo jogado nas ruas passei todo este tempo de existência das Yellow deprimido com o nível de depredação, roubo, descuido na condução, desrespeito aos outros, uso indevido que tivemos aqui. E não foi só pelos ladrões e assaltantes, ou gente pobre que aproveitou a situação de boa fé, ah!, não foi não. Pouquíssimas vezes vi cidadãos de boa condição social e econômica levantar uma Yellow do chão, reposicioná-la para não atrapalhar os outros. Mas vi montes destes cidadãos privilegiados largando as bicicletas no meio da calçada, na frente da entrada do edifício, no meio do cruzamento dos pedestres, largando onde lhes fosse mais cômodo. Também nunca ouvi uma palavra sobre estes problemas por parte dos que lutam pela mudança de paradigmas da vida da cidade. 
Mobilidade não é ideologia, mobilidade não deve ser luta, revolução, porrada. A nova cidade com sua nova vida e mobilidade deve ser alcançada pelo convencimento, e não existe convencimento sem respeito, sem acordo, sem educação. Convencimento a força é submissão, e a história prova que submissão não funciona.
Mais uma vez nos comportamos como brasileiros, mais uma vez perdemos uma oportunidade. Tudo é assim. É deprimente ver a Cidade Universitária da USP emporcalhada sem que um universitário se dignifique a se abaixar e pegar um saquinho de salgadinho do chão para jogar no lixo. Queremos mudança, que é definitivamente necessária e urgente, mas queremos já e não queremos sequer pensar nas arestas.

Esta história das Yellow me faz lembrar a filmagem das duas mulheres sendo assaltadas e espancadas perto do Hospital Universitário da USP. Aconteceu faz muito tempo, bem antes de existir aplicativos. O violento roubo das duas bicicletas não foi o único na USP, muito pelo contrário. Todo mundo sabe onde vão parar as bicicletas, poucos vão atrás, menos ainda fazem B.O.. A maioria cala.

Como a maioria não se dignifica a teclar o 190 a PM não vai ter informação, sem informação a história vai continuar. "Com o fim das Yellow eles só vão mudar o modus operandi" foi o que ouvi. Alguém duvida?

terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

a guerra d'água

nenhum carro e rio Pinheiros já de volta ao leito
Foi divertido pedalar numa Marginal Pinheiros completamente impedida para o trânsito. Apesar do prazer de ir pedalando da Ponte Cidade Universitária até a Ponte Jaguaré cruzando com pedestres caminhando tranquilamente no meio do asfalto e sem nenhum barulho de motor por perto a visão dos estragos causados pelo transbordamento do rio Pinheiros não foi nada agradável. 
Acordei no meio da noite, 2h30, e não consegui dormir por conta da assustadora tempestade que caia e não parava mais. Quando começaram os noticiários na TV às 4h00 era possível ver que São Paulo já tinha entrado em colapso. Pinheiros e Tietê transbordaram, as pistas das marginais próximas ao Cebolão desapareceram, a fila de carros, caminhões e ônibus parados perdeu se de vista. Triste.
No meio da tarde, com a cidade em colapso, mas já com uma chuva mais fraquinha, fui ver como estão o nível das represas que abastecem São Paulo. Estão quase todas cheias, exceto o sistema Cantareira, o maior e mais importante para a região Metropolitana, que está com 49.8% de sua capacidade total. Boa notícia? Bom, melhor que a secura que tivemos no passado, mas longe de deixar despreocupado. Na crise que tivemos mudaram a forma de medir o volume total de água. Incluíram os volumes mortos na medição e pelo que entendi assim será daqui para frente. Num dos gráficos do site https://www.nivelaguasaopaulo.com/ subentende se que só agora o Cantareira está saindo do volume morto. Num outro site os números apresentados o Cantareira está com um pouco menos que 25% de sua capacidade, descontado os dois volumes mortos. Para quem não se lembra as autoridades diziam na época da seca que demoraríamos pelo menos 5 anos para voltar ao normal. Estamos tendo sorte.
O fato é que as águas desta tempestade que caiu em cima da região Metropolitana de São Paulo não vão para os reservatórios. Talvez nem possam ir dado os níveis de poluição que carregam. Esta tempestade vai desaguar e dar problemas em Osasco, Barueri, Santana do Parnaíba, Bom Jesus do Pirapora, Cabreúva, Itu, Salto e ai para frente, mas com certeza não vão para os reservatórios. Como o volume de chuva foi brutal, coisa que não se via a décadas, é muito provável que tenham acionado a Usina da Traição e revertido o fluxo do rio Pinheiros para evitar uma tragédia maior diminuindo a enchente do Tietê e reduzindo a velocidade de escoamento das águas para o interior. 
A quantidade de sujeira espalhada na Marginal e ruas vizinhas pelo transbordamento do Pinheiros com certeza é muitíssimo menor que a de bairros mais pobres, mesmo assim deprime. Não precisa de transbordamento, basta pedalar na ciclovia da CPTM e ver a vergonhosa cor da água, a quantidade de lixo flutuando e nas margens, sentir náuseas com o forte cheiro que as borbulhas que vem das profundezas exalam. Enfim, água podre, imprestável; vergonha!
Desde de sempre água foi razão de conflitos, mas com o aumento da população mundial a luta pelo acesso a água está ficando cada dia mais crítico. O Brasil é um dos países mais abençoados pelas águas, mas um dos mais desrespeitosos no seu trato. Os números não mentem, são simplesmente deprimentes. E o número de conflitos registrados em B.O. aumentam a cada dia, de todos tipos, de todas formas, com todos graus de violência. Só olhamos para as águas quando elas transbordam e batem nas canelas. Ou quando elas desaparecem. Aí vira uma gritaria contra os governos. Nós nunca temos responsabilidade direta.
imagem divulgada no Whatsapp, autor desconhecido

O rio Paraopeba, aquele do rompimento da barragem de Brumadinho, subiu e transbordou com as chuvas em Minas Gerais. Onde a água contaminada tocou as plantações simplesmente morreram imediatamente.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

Laudas, toques, textos curtos.. e os problemas vão continuar

Faz uns dias li mais um brilhante texto de colunista na Folha de São Paulo que no meio de preciosos pensamentos e ideias do nada acabou. Terminou como se cortado impiedosamente por um machado. Não foi o primeiro, nem único nos grandes jornais e revistas brasileiras. Como já escrevi para jornais e revistas sei como é: uma lauda ou duas laudas no máximo. ordens da casa. A saber, uma lauda hoje é 20 linhas de 70 toques, total do texto 1400 toques. Conforme o jornal, regras e mais regras. 

Limitar as laudas tem por objetivo captar mais leitores, simples assim. E funciona, como funciona. Quantos mais leitores, mas publicidade, ponto, não preciso explicar o resto. A maioria dos leitores compra o pensamento pela metade sem se questionar. Ideias podem ser comprimidas até um certo ponto ou ficam cheias de buracos, não fecham, não fazem sentido, ou pior, vendem gato por lebre, o que é comum. Ou de propósito fazem todo sentido, dependendo para quem são direcionadas e qual nível de interesse devem despertar. Como, quando, porque, onde, para que.... e outras perguntas pertinentes que deveriam ser regra nunca foram o forte da educação e do pensamento brasileira e vem caindo em desuso, dito isto sobre as coisas práticas. Agora, com as redes sociais, ir longe no pensamento virou chatice, aliás, é impossível devido aos limites impostos pelas próprias mídias. Bom mesmo é texto de no máximo 140 toques de um Twitter. Chacrinha estava muito a frente de seu tempo e rouco soltava para o povão "Eu não vim para explicar, vim para confundir". A técnica é simples, suba frases no Twitter de meia dúzia de palavras uma atrás da outra sem parar e crie meias verdades que serão repassadas. Maquiavel? Quem sabe. Goebbels iria adorar. Funciona, e como funciona! até para eleger presidentes, imagina para tratar de temas cotidianos.
Ser conciso é um dom precioso que poucos, bem poucos têm, mas mesmo a melhor concisão deixa em aberto pensamentos. O que temos hoje não é concisão, é algo que não sei bem com definir. Ok, twitter.

Os tempos que vivemos não são de fácil compreensão. Textos curtos normalmente dão pistas, pontuam quando muito, mas não levar a entender o que realmente acontece. Os exemplos são inúmeros ou, diria eu, infinitos. Chegamos onde chegamos porque compramos esta leitura fácil. Pensar cansa!, mas não querer pensar tem consequências, algumas sérias.
Para de fato conseguir resultados perenes é preciso ter uma visão ampla de contexto. Ou fica o ó do borogodó.

Neste exato momento São Paulo tem mais de 60 pontos de alagamento intransitáveis. Choveu em menos de 12 horas a metade do previsto para todo mês de Fevereiro. Na Lapa de madrugada caiu mais de 70 ml em uma hora, o que é água de chuva para ninguém botar defeito. Por conta disto as marginais Tiete e Pinheiros estão alagadas, portanto intransitáveis, o que simplesmente parou três estradas. A TV está mostrando esta e outras situações e os jornalistas estão fazendo comentários, formatam a notícia para o que o público consegue entender. Não entram em detalhes que podem fazer que num futuro a situação não se repita.
Exemplo: administrar significa levar em consideração variantes e ou imprevistos que entram no cálculo tendo como base uma média das experiências passadas. Se o administrador usar como referência os picos excepcionais para fazer cálculos de obras e ações necessárias provavelmente vai acabar linchado ou preso porque vai sair caríssimo e vai ter utilidade uma vez na vida, se tanto.  Não temos uma discussão mais profunda de como se faz uma formação de custos, não interessa.
O Município de São Paulo mal tem verba para cumprir o básico, o que dizer de verba para obras que evitem este volume de água. Pelo menos hoje estão falando que é um absurdo terem permitido invasões de áreas de várzea como a que aconteceu no hoje Jardim Pantanal, mas ainda não se tem uma reação geral para devolver esta e outras tantas áreas inundáveis para o rio Tiete.
Em suma, textos curtos, ideias incompletas, problemas futuros. Vale para tudo.

Brasileiro não tem o hábito de ler principalmente textos longos; aliás, não tem o habito de ler. Felizmente está mudando e o número de leitores vem aumentando, pelo menos os de livros, ótima notícia. Agora precisamos entender que para resolver problemas cotidianos é necessário aprofundar-se. 

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020

36 ciclistas mortos em São Paulo


Repetindo o título: 36 ciclistas mortos em São Paulo, um crescimento de 64% em relação a 2018. Aí veio uma gritaria generalizada, "absurdo!". Os números de acidentes fatais no Município de São Paulo no geral, de todo trânsito, incluindo ciclistas, melhoraram quase nada ficando quase na mesma, de 888 para 874, o que também não é exatamente uma boa notícia. Como dizem os que gritam e os especialistas o ideal é zero mortos, objetivo que é meta em alguns países europeus.  Seria ótimo se conseguíssemos, mas aí sim nossa realidade é outra e estamos a um ano luz disto, principalmente porque se fala muita besteira e tem muita gente vesga ou dando palpite interessada só no seu próprio, nunca no coletivo.
Provavelmente este aumento de ciclistas mortos tem relação com as entregas por aplicativos, disto ninguém duvida, mas duvido que apareça em algum B.O. para confirmar. A maioria dos meninos e meninas que trabalham para aplicativos são de periferia, onde o trânsito é muito menos intenso e menos controlado que na área central; portanto, vem de um meio que vale tudo e pedalam com tal. Motoristas e motociclistas de áreas mais pobres e afastadas têm uma formação educacional e comportamental de condução de veículos bem mais precária que os de área central, isto aqui ou em qualquer parte do planeta. A diferença é que aqui no bang bang temos um problema sério de formação cidadã, que é essencial para a segurança no trânsito. O pensamento genérico é “eu tenho que ir para lá” e o resto é resto, os outros que saiam da frente. No meio dos bairros dormitórios e de periferia o controle e fiscalização de trânsito é praticamente zero, muita gente não habilitada circula motorizada, inclusive menores de idade, todos livres, leves e soltos... Via de regra o pessoal destas periferias vêm de cidades muito mais tranquilas, menos densas, que a megalópole que é São Paulo, o faz toda diferença na noção dos perigos do trânsito. Estes jovens vêm trabalhar no centro expandido, uma das áreas mais bem organizadas do Brasil, onde se cumpre a lei tanto quanto em outras grandes capitais do mundo, e saem pedalando leves, livres e soltos da mesma forma que fazem na sua periferia ou nas cidades de origem suas ou de suas famílias. É óbvio que motoristas e motociclistas não esperam que surja uma bicicleta descendo uma avenida a milhão na contramão, por exemplo. E por estarem pedalando uma bicicleta as leis dificultam ou praticamente impedem que as autoridades organizem, freiem, punam, eduquem. Estes ciclistas de aplicativos sabem disto, trabalham com isto na cabeça e estão única e exclusivamente preocupados em entregar o máximo de mercadorias para ganhar mais no fim do dia, o resto é resto. E, pelo outro lado, os aplicativos querem exatamente isto, que eles entreguem rápido, o resto é o resto. E os que usam aplicativo querem rapidez, o resto é o resto. Pausa para o selfie da plateia, o resto não importa.
A população da área central, rica, quando pede sua comidinha está fazendo e andando para a forma como estes jovens estão pedalando nas ruas ou calçadas; querem comer a comida quentinha e com gosto de saída do fogão, querem entregue o mais rápido possível. Como fica seu humor quando a pizza chega mole e o queijo endurecido? Este "já" coletivo foi e continua sendo regra com os motoboys: eu quero ontem. Se morrer morreu, eu quero é o meu - agora! Porque haveria de ser diferente com os ciclistas de aplicativos? Estas mortes sempre foram um efeito colateral, nada mais, e não se fala mais nisto, ou continuamos falando fala para atender o politicamente correto, e ponto final. Se a sociedade paulistana (e brasileira) estivesse mesmo interessada em diminuir as mortes no trânsito primeiro se olharia no espelho do banheiro.
Outro ponto para o aumento das mortes de ciclistas apontada pela pesquisa está nos fins de semana, este sim com números. Tem gente relacionando estas mortes com o fim da ciclo faixa de domingo. Concordo, de fato, mas com uma outra visão. Não acharia estranho que este aumento de mortes nos fins de semana fosse resultado exatamente de anos de Ciclo Faixa de Domingo. Existe a palavra deseducativa? (Google. Sim existe.) Pois bem, deseducativa, a Ciclo Faixa de Domingo foi profundamente deseducativa. Com a ciclofaixa conificada à esquerda em grandes avenidas para chamar atenção do público em geral, não só motoristas, o ciclista aprenderia, como aprendeu direitinho, que pedalar à esquerda das avenidas é o correto, o que muitos continuam fazendo quando a ciclo faixa de domingo não foi montada. Mais, a maioria dos ciclistas domingueiros continua pedalando pelos mesmos caminhos do automóvel, ou seja, em avenidas. O interno de bairro continua não existindo, ou seja, a cidade se resume aos caminhos das avenidas, o que é de uma pobreza e de um deseducativo sem tamanho. São Paulo é de uma riqueza impressionante, praticamente única no planeta, fruto de nossa diversidade sem igual – no interno dos bairros, não nas avenidas onde tudo fica igual, seja aqui ou em qualquer cidade do planeta.
Não sei onde li ou ouvi que uma das razões para este aumento de mortes pode estar no pedalar em ruas mais vazias. Precisaria cruzar com os índices de atropelamento de pedestres, de crianças para ter um mínimo de base para uma afirmação destas. Quem já pedalou no interno de bairro num domingo sabe que você consegue ouvir o carro vindo de longe e que se você não estiver viajando na maionese é muito mais tranquilo e seguro que em ruas movimentadas ou avenidas. Só sofre acidente em local tranquilo quem não tem a mínima noção do que é pedalar numa rua. Será que tem a ver com os ciclistas que acham seguro pedalar nas ciclovias? O que quer que seja é fato que estamos muito atrasados em relação a implantação de acalmamento de trânsito e redução de velocidade.
Ah! esqueci: tem a questão da qualidade, nível de segurança e manutenção das bicicletas, o que não se ouve uma palavra a respeito. Sobre erros de engenharia de trânsito não volto a falar porque já fiquei chato. Yo no creo em brujas, pero que las hay las hay.