terça-feira, 30 de março de 2021

Como será a cidade pós pandemia?

Sonhar não custa nada. Ou custa. Depende.
Não me lembro qual foi o artista, um dos grandes gênios da humanidade, Picasso talvez, que disse que criar era 99% de suor e 1% de inspiração. Se a frase não foi esta eu valido a cópia mal feita ou distorção, como queira, pelo menos aqui. 

O que realmente é essencial para fazer de uma cidade um lugar bom de se viver? - Depende de onde e para quem. Como ficarão pós pandemia? - Ninguém sabe; ninguém sabe sequer quando e como vai parar a pandemia e muito menos suas consequências sociais e econômicas. Não dá para referenciar respostas pelo passado porque já estávamos e seguimos passando por uma mudança brutal; a rapidez e a democratização da comunicação. Democratização ou popularização?
  
Uma coisa é certa, a maioria das cidades sairá desta loucura ou com sérias dificuldades financeiras ou até falidas. Se demorar muito, o que vários cientistas dizem que assim será, vai entrar em colapso. Tem alguém pensando nisto? Se tem, porque não a população não é chamada para buscar saídas? Ou tem gente discutindo este cenário e não está devidamente divulgado? É bom lembrar que a maioria da população mundial vive em área urbana, portanto o que se apresenta aí é um problema do futuro da humanidade.

A bem da verdade temos algumas pandemias atacando as cidades, as principais são o vírus e suas variações e, bem mais perigosa, o individualismo exacerbado um sério problema para a vida comunitária, coletiva e econômica das cidades profundamente agravado pelo principalmente pelo celular.
Só para pensar; como transformar os espaços públicos tendo em vista a necessidade de preservar a saúde pública? E como resolver este mesmo espaço público para uma população cada dia mais individualista-coletiva que provavelmente se aprofundará com o 5G?
As referências usadas para transformar as cidades são milenares, seculares, tendo exemplos de todo tipo como ponto de apoio. E se tudo muda, se a situação que temos hoje está sendo um atirar pedras na cristaleira? Tudo indica que será. E daí?
Ou exagero e nada muda? Os deixados para trás de que se fodam? Se o "ninguém fica para trás" (que nem sempre dá para ser) que nos fez chegar até aqui também cair com este novo individualismo a coisa deve complicar bastante, bastante para valer.

O vídeo da vida numa das maiores cidades da África faz pensar. O que somos? O que são eles? Para o que serve a cidade? Esta é a cidade que a maioria deseja? Desconhecem outra vida ou se acostumaram com o ruim? Quanto mais sei mais sei que nada sei. Só quero pensar. O bom para mim são as cidades europeias, mas são economicamente viáveis ou há um subsídio não explícito? Como ficarão no pós pandemia?  
O que a simples hipótese de uma pandemia continuada vai impor a organização e vida das cidades? O que será das aglomerações de todo tipo, das comerciais tipo 25 de março ao divertido carnaval de rua e procissões? Em Jerusalém este ano retomaram as comemorações do Domingo de Páscoa; e se daqui 15 dias, mesmo com todos vacinados, aumentam as internações e mortes?

Não há respostas, há muitas incertezas. É no caos que surgem as melhores oportunidades. É agora que temos que enlouquecer pensando, sonhando, delirando, trocando ideias, propondo. Não há tempo a perder.

PS.: óbvio que os serviços de água, esgoto, luz, comunicação, transportes, coleta de lixo, têm que funcionar, o que ainda não acontece da maneira correta para a maioria da população brasileira. Óbvio também que a cidade tem que ser segura, o que também as cidades brasileiras não são. A população tem que ser educada, o que também não acontece... E aí vamos com os óbvios que não foram cumpridos antes e mui dificilmente acontecerá daqui par frente. 







segunda-feira, 29 de março de 2021

A reinvenção da Draisiana. (O que?)

O vídeo está francês, mas é tão simpático e simples de entender que merece sua divulgação.
Conta a história destas bicicletinhas sem pedal que os pequenos adoram.
Na sequência explicam o que é uma vaca espanhola, expressão usada pelos franceses.
E finalmente a explicação do porque os alemães não gostarem de cartão de crédito.

Sobre Karambolage; é uma produção franco - alemã educativa simplesmente mágica, genial para quem está estudando francês ou alemão. Ou até mesmo quem quer ver desenhos animados de altíssima qualidade. 
Recomendo e muito. 
Boa diversão



sábado, 27 de março de 2021

Cidades do passado, cidades do futuro

Hudson Yards, um mega empreendimento imobiliário em NY, talvez o maior do planeta ou pelo menos fora dos países petroleiros, já está dando para trás. Uma brincadeira de US$ 20 e muitos bilhões de investimento. NY vem sofrendo muito com a pandemia, mas esta não é a única razão para este imenso e sofisticadíssimo projeto multifuncional estar muito mais vazio que o esperado. Faltou aos responsáveis pelo projeto olhar o que está acontecendo no primeiro mundo, aí incluída a própria NY. Faltou olhar aquilo que caminha por todos os lados que costumamos chamar "ser humano".

Na matéria do NY Times (link abaixo) falam uma coisa que não tinha me dado conta, mas é verdade, que o imenso terreno onde está o empreendimento é meio a parte de NY, um pedaço de terra que estava esquecido por onde a maioria passava batido sem olhar para os lados. Quiseram fazer de lá um dos centros de vida da cidade, mas isto não é tão simples assim. Não se muda usos e costumes, principalmente se estão arraigados, num passe de mágica.

O que se tira desta história é que há um gravíssimo problema de miopia por boa parte dos que hoje dizem construir o futuro de nossas cidades. Mesmo que se tenham feito estudos, levantamentos, pesquisas e outros mais, os erros se sucedem em toda parte, são muitos e frequentes, provavelmente fruto das distorções atávicas de nossa sociedade, de nosso tempo. Numa sociedade com forte viés narcisista o olhar de quem projeta não é coletivo, mas muito pessoal. Bate um selfie aí para comemorar a inteligência, a obra prima, a glória social! Sempre foi assim. Somos um contínuo de nomes que fizeram acontecer. Mesmo o mais radical dos “unidos venceremos” foi para frente porque teve alguém a frente, um comando, um narciso. As cidades são reflexo deste comando.

NY está sofrendo com seu próprio sucesso. A exemplar recuperação que vem sendo trabalhada faz décadas, quatro décadas para ser mais exato, praticamente zerou a violência, recuperou a economia que estava completamente falida, mas deixou a vida cidade mais cara, afastou populações menos privilegiadas, ao mesmo tempo trouxe muita riqueza financeira, urbana e cultural. NY tem sido uma das, se não "a" referência de transformação urbana com qualidade e é cada vez mais prazerosa de se vivenciá-la. Mas pelo que a pandemia vem nos anunciar, não é exatamente por aí. Então por onde será? Qual será a cidade do futuro?

How the Pandemic Left the $25 Billion Hudson Yards Eerily Deserted

https://escoladebicicletafotos.blogspot.com/2021/03/hudson-yard.html



terça-feira, 23 de março de 2021

Quem calou consente: esta baderna generalizada não nasceu hoje

A pandemia no Brasil não saiu fora de controle por pura falta de sorte ou acaso. Todos, jornalistas, cientistas, colunistas, especialistas das mais diversas áreas, e própria população dizem e repetem que a pandemia expôs as mazelas do Brasil, que são inúmeras e intermináveis. A pandemia esfrega em nossas caras um país disfuncional, com atos incompreensíveis por parte do Executivo, Legislativo e Judiciário, e por que não dizer da iniciativa privada, vide Vale, todos abrindo o que de pior há em nossa caixa de pandora. Eduardo Giannetti está absolutamente correto quando diz que somos de um individualismo selvagem. Óbvio que o aí está tem raízes num longo passado de interesses particulares e corporativismos que nada tiveram a ver com o interesse pelo bem comum. Somos párias perante o mundo só porque a patética condução da pandemia nos levou a este vergonhoso posto? Acreditar nisto é julgar que os que nos julgam são imbecis. Seguindo a nossa lógica é isto mesmo, são: nós estamos certos e eles estão errados. A verdade é que o que ai está confirma que quem calou consente, e a pandemia prova que por conveniência passageiras todos calamos. Deu nisto.  

A cega viu o tamanduá

Saímos no começo da tarde da casa de Renata para uma viagem que deveria durar umas 3 horas e meia, se tanto. São Sebastião como destino. Dia linda, saída de São Paulo tranquila ou passou desapercebida no meio de tanta conversa atrasada. Rodovia dos Trabalhadores mais tranquila ainda; a sempre paisagem de cair o queixo que a serra de Mogi para Bertioga oferece quando o céu está límpido e translúcido; e ainda dia entramos na Rio - Santos, meio de semana, estrada desimpedida, retão, sem radares, calor úmido que recolhe a sombra até Polícia Rodoviária; já um pouco cansados e ansiosos para chegar no hotel, entrar no quarto, banho, dormir e acordar cedo para começar o trabalho. À esquerda passando a Serra do Mar de denso verde ponteada por manacás floridos e agora algumas nuvens cobrindo os picos era o que salvava o silêncio cansado, o pouco vento abafado que entrava por todas janelas completamente abertas, a monotonia do carro que sequer rodava na velocidade máxima. Ainda tínhamos alguma conversa, mas olhávamos com frequência primeiro para o velocímetro, depois para a o rosto de Renata. E veio a pergunta inevitável "Não dá para ir mais rápido" respondido atravessada com um discurso longo sobre os malefícios do automóvel, da velocidade, número de acidentes..., uns bons tantos minutos intermináveis que não sei ao certo se despareceram com o retão e as curvas que nos entregaram as deslumbrantes praias vazias de ondas calmas.
- Freia! gritei.
E carro foi parado imediatamente no meio da curva sem se importar com quem vinha atrás. Também não faria diferença, estávamos tão lentos naquela curva que não faria diferença, mesmo que o motorista estivesse olhando borboletas. Não sentimos um tranco nem ouvimos som de buzina. Bom sinal.
E o bicho imponente estava lá, no meio da pista, cruzando a seu passo as duas linhas amarelas que separam os que vem dos que vão. Cruzou imponente sob nosso olhar preocupado que de lá viesse um carro, e entrou na mata.
- O que é aquilo? perguntou Renata
- Um tamanduá bandeira. Lindo
- Não consigo distinguir
- Como assim? Você não enxerga?
- Não enxergo nada, estou sem óculos. Porque acha que estamos indo tão devagar.

segunda-feira, 22 de março de 2021

Antes muito tarde que nunca

Um ano depois do início da pandemia transformar o país num completo caos vem a público uma carta manifesto assinada por 200 renomados economistas. Um ano depois? Houveram manifestações anteriores, mas isoladas, sem força para mobilizar a sociedade ou mudar a atitude de um governo já completamente surtado. Informações precisas sobre o rumo da pandemia chegaram de todas as partes, o que permitia prever o que nos aguardava. Instalado o completo caos econômico e social pouco se falou sobre olhar o Brasil de baixo para cima visando corrigir micro erros que pelo menos minimizassem o drama e a consequente fome que se instalou. Ainda no Governo Dilma, Afonso Celso Pastore afirmou que para corrigir os desatinos de Guido Mantega o Brasil precisaria de pelo menos 3 anos para acertar a macro economia, mais uns 20 anos para fazer a vida do cidadão comum voltar aos bons tempos do Real. A pandemia acertou em cheio o povão e se grita aos quatro ventos "educação", o que sabemos faltar e que é o que os fragiliza tanto. Ótimo que importantes economistas e lideranças estejam se manifestando, mas dada a reconhecida capacidade e os serviços prestados ao Brasil dos que assinam, o manifesto diz basicamente o mesmo que já foi dito e repetido a exaustão, com propostas já propostas anteriormente que até aqui pouco resultaram. Espero que a esta altura do campeonato, com a exaustão de todos, sensibilize e que traga alguma melhora. Como diria Garrincha, "os senhores combinaram tudo isto com os russos?" De qualquer forma é bom lembrar o que Pastore disse no passado, 20 anos para corrigir, e lembrar que definitivamente a fome não espera.

sexta-feira, 19 de março de 2021

Lembranças de uma chave de fenda tirada da poeira

Mais uma vez parou o maldito barulho infernal vindo do quarto. Alívio! A música vinda da rádio tocava distante e suave e o até deslizar do pano de pó sobre a estante foi percebido. 
- O aspirador de pó quebrou. 
Ótimo, pensou ele, finalmente silêncio.
- Ei, você ouviu? O aspirador de pó quebrou. Vem consertar.
Ele olhou o pano de pó com uma linha marcada de sujeira, quase toda estante brilhando, dobrou o pano e deixou-o no chão, apoiou a mão no chão e levantou-se sentindo as pernas adormecidas. Em pé esperou um pouco para sentir-se firme e foi ver o que acontecia. 
- Você não puxou até arrancar a tomada da parede, perguntou com ironia antes de entrar no quarto.
- O aspirador de pó quebrou. A tomada está na parede; não tirei ele do lugar. Quebrou. Conserta que está quase na hora do almoço e estou ficando com fome. Quero acabar aqui antes de comer.
Ele ligou e nada. Desligou e ligou de novo. Nada. Mexeu no fio e o aspirador ligou e desligou. 
- Quebrou o fio. É rápido. E saiu para procurar uma chave de fenda e alicate. Abriu o armário da lavanderia dobrou as pernas, sentiu um pouco os joelhos, e viu atrás da sua caixa de ferramentas a caixa de ferramentas que foi de seu irmão. Parou por um segundo olhando curioso, não se lembrava mais dela. Tirou sua caixa de ferramentas e colocou-a no chão, estendeu o braço até o fundo e pegou a outra. Estava leve, sempre foi leve, pensou enquanto ela surgia na luz. Esticou a mão e pegou um paninho e tirou o pó por cima, pelos lados e até no fundo. Sorriu com as lembranças que ela trazia. Sempre foi leve, só o essencial, ele não sabia consertar nada, só consertava quando ninguém consertava, pensou consigo lembrando com carinho do irmão. Colocou sobre a bancada e abriu. E no meio de meia dúzia de ferramentas básicas, uns pregos, parafusos, e outras coisinhas mais deu com a chave de fenda amarela. 
- Achei! Achei! Ela está aqui! Achei! gritou em plenos pulmões rindo. Achei!
Ela veio correndo. Chegou na porta com olhar assustada e perguntou o que estava acontecendo e se ele estava bem.
- Estou ótimo. Incrível, achei, ela está aqui.
- O que? O que foi? Achou o que? interrompeu ela. 
- Esta chave de fenda amarela. Eu sempre acreditei que a tinha perdido, estou falando de 1972, 74. Sumiu. Nunca imaginei que ele tivesse pegado e não devolvido. 
- Por que não?
- Ué, você conhecia ele muito bem. Não tinha jeito para nada, só sabia ler, estudar, trabalhar. Fez um silêncio pensativo e continuou. 
- O que terá feito com esta chave de fenda? A bem da verdade era do pai dele, mas sempre ficou na minha caixa de ferramentas. Quando desapareceu foi um pesadelo para mim, sempre me culpei pelo descuido. Só perdi duas ferramentas em toda minha vida, esta chave de fenda e uma chave 10 mm. 
- Vai ver que está aí dentro. Olha bem, disse ela referindo-se a chave 10.
- Não está. Esta tenho certeza que ficou na garagem do prédio quando fui consertar a bicicleta. Tinha alguém comigo e ficou com ele. 
- Tá bom. Agora pega a chave de fenda e vem consertar o aspirador que quero terminar para almoçar. 

Ela virou as costas e se foi e ele permaneceu olhando com carinho e saudades a chave de fenda carinhosamente deitada sobre a mão espalmada. Distante ela parou, olhou para trás, percebeu o momento, voltou até ele, passou carinhosamente a mão nas costas dele e disse com voz aconchegante - Pega o alicate e vem.

Teve que pegar uma chave de fenda mais fina na sua própria caixa, colocou a de seu irmão no bolso e foi desmontar a tomada do aspirador. Sentou no chão, tirou a tomada da parede, e enquanto desmontava a mulher seguia passando paninho nos móveis, objetos e o que mais encontrasse pela frente. Desatarraxou o primeiro parafuso, abriu a tomada e lá estava o fio quebrado. 
- Num minutinho fica pronto, disse sem ouvir resposta. Soltou os dois fios elétricos da tomada, cortou as pontas, e se levantou para pegar um estilete. Voltou em pouco tempo e olhou para ela que não parava de limpar. Sentou-se e descascou os fios.
- Bom achar a chave de fenda, mas porque tanta festa?
- Ferramenta é sagrada. Sei o que perdi em toda a vida; esta chave de fenda de cabo amarelo que nunca esqueci e a chave 10 mm Craftsman, um crime. O canivete de ferramentas da bicicleta que emprestei para alguém naquele passeio e não voltou foi numa boa porque estávamos nos divertindo e realmente acredito que não foi sacanagem. Era dos bons, paciência. Que façam bom uso. E uma bomba Zefal que sei quem pediu emprestado e sumiu. Me senti um trouxa. Mas trabalhando sozinho, com minhas ferramentas..., fora estas duas não perdi nada.
- Quatro a vida toda, não é nada. Esquece.
- Não é tão fácil assim. Quem sabe trabalhar, quem gosta de consertar, ajeitar, fazer, sabe que ferramenta é sagrada. Tem de cuidar, manter, usar direito. Quando faz besteira dói. Agora perder... 
- Ok; achou. Senta lá na sala que já termino aqui e almoçamos. 
- Você quer comer o que?

Pouco depois ela entra na sala. A mesa estava cuidadosamente arrumada. Ele, sentado numa cadeira e olhando sorridente a chave de fenda pergunta - Vai uma cervejinha gelada para comemorar? Coloquei no freezer para gelar... com os copos. 
E brindaram.

Levar os negacionistas in loco e ao vivo

Na Suíça, em 1976, ouvi uma propaganda que mudou minha vida. Dizia em outras palavras que 'cada cigarro de haxixe comprado e fumado é uma bala que se dá para os traficantes', na época terroristas. A bem da verdade não muito diferente de hoje. Faz muito tempo colocaram no início da Rodovia Anchieta um bem visível outdoor pedindo para dirigir com cuidado tendo junto um carro completamente destruído por acidente. Entraram na justiça e mandaram tirar "aquilo" de lá por que era ofensivo. Hoje no noticiário uma médica que está na linha de frente da luta contra o genocídio que vivemos disse que seria útil levar para uma visita num hospital de catástrofe os que não creem na pandemia e os que aglomeram sem máscaras em festas. É óbvio que a justiça não permite, mas é uma pena porque seria muito instrutivo e explanativo. Há uma foto do pós Segunda Guerra Mundial onde se vê três crianças numa estradinha indo para escola, uma delas olhando para a direita onde se encontra literalmente um muro de corpos humanos amontoados mais alto que elas, provavelmente aguardando para serem enterrados ou cremados. Quem viu com os próprios olhos ou vivenciou sabe o que é e não brinca com a realidade. Faz muito que o Brasil vive genocídios, sejam eles por assassinatos, trânsito ou falta de saúde preventiva, mas são dramas particulares vivenciados por familiares, amigos, quando muito a comunidade, quando muito motivo de bate papo de boteco para a massa. Não nos sensibiliza mais as tensas imagens da TV; viraram programas de sucesso, negócio rentável, audiência certa. A realidade brasileira é tão abstrata que talvez mostrá-la ao vivo e in loco se transforme em um novo BBB. 

Faz um bom tempo dei uma palestra para funcionários de uma concessionária de rodovia em Araçatuba e fui alojado junto com socorristas. Almoçamos juntos o que me deu a oportunidade de ouvir suas histórias. Entre histórias reais de terror um dos socorristas falou baixinho "O duro mesmo é ter que raspar corpo que grudou no asfalto depois de múltiplo atropelamento". Aos motoristas pouco importa.  
Por causa do trabalho tive que ver algumas fotos e documentos impublicáveis de acidentes com ciclistas e deles aprendi muito. Hoje pedalei atrás de um ciclista desconhecido que pelas barbaridades que fazia na avenida sei que num determinado momento vai se acidentar feio. Tive a tentação de emparelhar e dar dicas, mas a vida me ensinou a ficar quieto, a sequer tentar passar meus conhecimentos, porque cansei de ser agressivamente questionado ou tratado como imbecil.
Como saímos desta?

terça-feira, 16 de março de 2021

É a economia, é a saúde, ou é o desprezo pela vida?

Fórum do Leitor
O Estado de São Paulo

É deprimente o aumento exponencial de mortes causadas pela pandemia e pela completa inépcia do Governo Federal, mas é necessário dizer que morrer de forma não natural faz parte da cultura nacional, não fez diferença no passado e só talvez por estar parando a economia faça diferença agora. Sempre tivemos números vergonhosamente campeões mundiais de todo tipo de violência, assassinatos, mortes de trânsito e sequelados inclusive por acidente de trabalho, o pior de todas as mortes. Dr. Boulos disse, em entrevista a Rádio Eldorado, não entender este desprezo do brasileiro pela vida. Eduardo Giannetti em entrevista ao Manhattan Conection, falou sobre a formação ética (brasileira) e seu forte individualismo selvagem. Dane-se o outro! Passamos e muito o momento de abrir uma discussão séria e objetiva sobre morte e suas consequências macro sociais e econômicas para o país. Reverter fatores culturais atávicos e profundamente enraizados como o "mata!" ou o "morreu, morreu, antes ele que eu", dentre outras jabuticabas, não será fácil, mas determinante para termos bom futuro. Esta na hora de falar abertamente que não é só a dor da morte para quem fica, mas o brutal custo Brasil inerente ao inútil, desnecessário, sem sentido, improdutivo. Morrer todos morreremos e tudo passará, disto ninguém e nada escapa. Outra coisa é estupidez completa, com que brincamos sem medir as consequências. O resultado está ai e é pandêmico. Morrerão muitos mais, mas o custo mortal desta nossa singela displicência pagaremos caro todos, estejam  certos. 

segunda-feira, 15 de março de 2021

Algumas perguntas sobre os novos 158 km cicloviários da capital

Mais uma vez o jornalismo divulga que São Paulo está aumentando os quilômetros de ciclovias, vide "Ciclovias se espalham por mais de 158 km da capital" de Priscila Mengue, O Estado de São Paulo; A12 | Metrópole | segunda-feira, 15 de março de 2021. Sobre o assunto deixo algumas perguntas. Nos locais onde estão sendo implantados os novos km foi realizada pesquisa O.D. que justifique o gasto e a implantação? Como é a curva de aumento de ciclistas circulando e por onde estão circulando? Qual é a influência dos entregadores de aplicativos nesta contagem e no aumento de ciclistas nas ruas? Se há contagem, estão incluídos nela os inúmeros trabalhadores de baixa renda que pedalam de madrugada em horários que normalmente não aparecem em pesquisa de campo? Está sendo realizada pesquisa O.D. específica ou ainda se usa o O.D. do metro? Qual a metodologia e o critério usado nas pesquisas O.D.? Para que público, incluindo nível social e econômico, está sendo direcionado estes novos km? O gasto com novos km de ciclovias e ciclofaixas vem acompanhado de ação relacionada a educação geral dos ciclistas? Há pesquisa confiável sobre incidentes e acidentes nas ciclovias e ciclofaixas que balize os projetos dos novos km para corrigir inúmeros erros do passado? Qual é o gasto com sinalização vertical e semafórica e o que será feito? Nestes novos km o que se fará para aumentar a segurança de pedestres? Como a SVMA a destruição e diminuição sensível do verde de canteiros centrais e outros verdes para a implantação de ciclovias? Está previsto alguma ação para resolver o problema nas pontes, onde não há sequer espaço apropriado para pedestres? Está previsto algum gasto para solucionar os acessos à Ciclovia Rio Pinheiros realizados pelas calçadas das pontes Cidade Jardim e Cidade Universitária, esta com pesado fluxo de pedestre por dar acesso estação Metro / CPTM? Alguém está controlando os custos de implantação destes novos km, principalmente os de ciclofaixas? Por que tantos km simplesmente ficam as moscas? Qual é o critério para implantar ciclofaixas em locais que é sabido não circulam ciclistas? Por que não se fala uma palavra sobre traffic calming onde é tecnicamente viável, mais barato e mais seguro para pedestres, principalmente no interno de bairro? Por que pedestres têm que ficar sempre em segundo plano?

Hoje se fala muito sobre a importância da ciência. Definitivamente a terra não é plana. Segurança no trânsito é uma ciência construída em cima de pesquisa, dados, detalhes, investigação, da busca dos fatos, da verdade. Bicicleta gera entusiasmo, gera esperança num futuro melhor, o que está correto; mas a segurança do ciclista só existe quando o entusiasmo dá lugar ao investigativo, a busca de detalhes que de fato constroem um futuro melhor e perene. Não é quantos km, mas é a qualidade do sistema e antes a qualidade da cidade e de todos cidadãos, ciclistas ou não.

quinta-feira, 11 de março de 2021

Briga contra condomínio no Parque Linear Caxingui

Boa entrevista de Gabriel Rostey, consultor ambiental e membro de um conselho municipal, para Carolina Ercolin e Haisem Abaki do Jornal (da rádio) Eldorado sobre a confusão que está dando a possível ou provável construção de um condomínio no pequeno Parque Linear Caxingui."O problema é que a Prefeitura sempre está correndo atrás..." foi disparada certeira pelo som da rádio define bem o que sempre acontece.

Só a questão da água em si deveria bastar para proibir sumariamente toda e qualquer construção em área de nascente ou nas proximidades de córregos. Nem se fale sobre a necessidade de proteção das poucas áreas verdes que ainda restam ponteadas pela cidade. Até onde sei há uma lei protegendo, mas ter lei neste país não significa muito.

Um condomínio com 5 edifícios de 25 andares num terreno a beira de um córrego? Não se fala uma palavra sobre sombras que serão criadas na área verde, os ventos que baterão nos edifícios gerando turbulências, a poluição sonora e de partículas. São questões ambientais, portanto de saúde pública gerados pela construção de grandes edifícios. São problemas que foram discutidos e estão regulamentados há décadas mundo afora.

Foi citado por Gabriel Rostey o conflito social envolvido, com uma população rica não querendo ter por perto população de baixa renda. Possível que sim, não duvido, já que experiências espalhadas pela cidade mostram que o convívio de diferentes níveis sociais pode ser um tanto conflitivo. Conheço bem pessoas que ainda têm casa na rua Otávio Mangabeira, que desemboca na favela Paraisópolis. Faz tempo que o convívio com uns poucos moradores da favela é bem difícil. Roubos, assaltos, ameaças são muito mais comuns que se possa imaginar. A desvalorização dos imóveis é brutal, o número de placas vende-se impressiona. O problema não é a comunidade de Paraisópolis ou qualquer outra população de baixa renda, mas a total ausência do Poder Público como mediador de conflitos e apaziguador social. Neste sentido entendo a população do Jardim Marajoara onde está o Parque Linear Caxingui.

Gabriel Rostey falou também sobre que o adensamento populacional de São Paulo é mais baixo que o de Paris, por exemplo. O adensamento das cidades brasileiras acontece de maneira disforme, deformada, com picos desordenados e desconexos. Paris, por exemplo, como qualquer cidade civilizada do planeta, tem regras claríssimas e respeitadas de organização urbana. Aqui quem manda são empreiteiras ou quem pode mais, seja pela riqueza, os possíveis ganhos, ou pelo grau de banditismo, aí de todos níveis sociais, do pobre ao rico.

Nunca tivemos um plano diretor que fosse inteligente e realista o suficientemente para estabelecer resultados civilizatórios e perenes. O abismo social prova isto. Nunca se conseguiu estabelecer limites e ordenar para o bem comum. Péssimos e degradantes exemplos são quase regra. O progresso que traz o bem comum vêm a passo de lesma e nem sempre são perenes.

O olhar que se tem é imediatista. Não se pode planejar o imediato. O imediato se vive. O futuro Deus dará nos rege, o que é um crime. “Ajuda-te e ajudar-te-ei” é texto sagrado, portanto verdade milenar. Planejar é ajudar-se e ajudar a todos.

Descrição do Parque Linear Caxingui e...
O trecho em questão tem algo em torno de 450 metros de extensão, final da av. Roberto Lorenz, começando próximo da esquina da rua Gen. Sena Vasconcelos e terminando na Av. Francisco Morato. O córrego passa por baixa da Francisco Morato e desagua no córrego Pirajussara que está canalizado e com ciclovia em cima da canalização na av. Eliseu de Almeida. No trecho entre a Francisco Morato e a Eliseu o córrego está estrangulado entre construções. A sensação que dá é que os terrenos não deveriam chegar tão próximos do córrego, e que são irregulares, mas isto provavelmente está fora de questão (infelizmente). Olhando da Eliseu creio que não há espaço para se implantar um parque linear com passagem para pedestres, muito menos para ciclistas. No projeto Ciclo Rede Butantã pretendíamos olhar com cuidado este trecho. Entre as duas avenidas há um local que dá impressão de ter sido uma rua ou viela que ligava as duas margens do córrego. Queríamos uma ponte, pelo menos para pedestres, que ligasse os dois bairros. Mesmo o bairro sendo de classe média média a briga seria de cachorro grande, com a gritaria “vai ser caminho para bandido”, “vai ser ponto de maconheiro”, e outras falas tão triviais.

Parte dos 450 metros da av. Roberto Lorenz, já no Jardim Marajoara, que corre paralela ao córrego do Parque Linear Caxingui está asfaltado, parte com pedregulho, e um trechinho em terra. De um lado está o córrego protegido por uma micro mata ciliar, do outro lado da avenida estão entradas de garagens de residências. É via sem saída para veículos, mas tem uma discreta e com cara de não oficial passagem para pedestres ligando com a Francisco Morato.

O Parque Linear Caxingui se estende bem mais para frente. Mesmo da rua Comendador Abido Ares, onde termina ou começa o parque, não é possível ver a extensão e a dimensão completa da área verde, nem seu córrego. Há inclusive a Praça Eva Kovacs, que confesso sempre passei batido descendo a rua de bicicleta. Descobri no mapa.

Pedalo com frequência por aquela área e é um dos lugares mais agradáveis de São Paulo para treinar subida. Jardim Marajoara deveria ser declaro patrimônio histórico e artístico pela diversidade de arquitetura e assinaturas de projetos que tem. Bairros tão diversificados como este é coisa praticamente exclusiva de São Paulo, não só no Brasil, mas no mundo.

No terreno onde se pretende construir as cinco torres de 25 andares havia um resto de mata, não sei exatamente quantas árvores e outras vegetações mais. Era bem visível da avenida Francisco Morato.

A questão é simples: não dá mais para continuar derrubando resíduos de mata e principalmente permitindo a construção do que quer que seja, de pequeno barraco a condomínio, em local onde haja nascente ou córrego. Aliás, não dá mais para continuar na baderna de crescimento que temos em nossas cidades. Deixamos para trás a muito a irresponsabilidade.  

https://32xsp.org.br/2018/01/31/parque-no-butanta-pode-dar-lugar-a-cinco-predios-de-25-andares/

 https://www.parquecaxingui.minhasampa.org.br/

E inúmeros outros links e matérias.


o córrego visto da av. Eliseo de Almeida trecho até a av. Francisco Morato

o córrego na av. Francisco Morato, vizinho ao terreno do condomínio

terreno em litígio, lado Francisco Morato

terreno em litígio, centro, face Jardim Guedala

terreno em litígio, direita, face Jardim Guedala

rua sem saída paralela ao córrego, a direta terreno em litígio

terreno a venda nos fundos do terreno em litígio;
pelo gramado passa o córrego


vista do início do resíduo de mata a partir do Jardim Guedala 

Avenida no Jardim Guedala onde está canalizado o córrego. 
A partir deste ponto começa o resíduo de mata Atlântica


Ciclo Rede Butantã, 2007, que pretendia recuperar e perenizar 7 córregos, todos com parques lineares e projeto de mobilidade no entorno, inclusive este resíduo de mata Atlântica agora em litígio.

quarta-feira, 10 de março de 2021

66

66
666 é o que deveria ser neste dia 10 de março de 2021 quando completo 66 
666, o número da besta do apocalipse. Não vou pesquisar para colocar direitinho aqui, nem preciso por que já ouvi as notícias deste Brasil brasileiro e tenho certeza que o apocalipse é aqui e agora e em notícias populares, parafraseando notícias daquele programa e daquele programa de TV campeão de audiência. Espremendo jorravam sangue e o povo adorava e segue adorando. 
666? Nosso apocalipse é mais sofisticado: temos inúmeras bestas leves, livres e soltas; não precisamos espremer para jorrar maldade espontaneamente, não precisamos sequer de ventilador para a merda voar respingando até perdigotos para tudo quanto é canto. Temos o Capetão Cloroquina nos matando asfixiados por um lado e o Supremo buscando a justiça da justiça pela justiça pelo outro, o que mais podemos querer? Não fala, não fala, o buraco dos infernos sempre pode ser mais embaixo. E pelo jeito que vamos será. Hordas de fanáticos, religiosos, puristas, moralistas, populistas, utopistas, farão de nosso buraco uma cratera campeã do mundo, como sempre. Em busca da justiça perfeita e irrepreensível nunca teremos um norte e continuaremos andando perdidos em busca da perfeição que inexiste. Não existe, nunca existiu, nem Deus acredita que existirá. A Graça está em oferecer um caminho cheio de pedras, mas que com sabedoria leva a um bom fim. Não precisa ter Fé para entender isto, basta não ser idiota.
66, mas hoje 666.

segunda-feira, 8 de março de 2021

A culpa nunca é dos iguais.

Fórum do Leitor

O Estado de São Paulo


Mesmo antes da pandemia o culpado sempre foi "os governantes", em nenhuma hipótese a própria população, os iguais. O lixo jogado nas ruas é "o" melhor exemplo. Não me lembro de alguma vez ter ouvido gritaria e protestos da população contra absurdos cometidos por seus iguais, a própria população.

Nunca soube de caminhoneiro pedindo balança nas estradas para evitar que caminhões acima do peso arrebentem o asfalto e com isto sejam responsáveis pelo aumento do pedágio, estragos na suspensão, aumento de consumo de combustível.

Nunca soube de protesto de caminhoneiro contra caminhoneiros que mudam as especificações técnicas do caminhão tornando-os mais instáveis, diminuindo a capacidade de frenagem, tornando-os poluidores, diminuindo a visibilidade do motorista, tomando rebite, e com isso aumentando o número de acidentes que param as rodovias, o que diminui os ganhos de todos caminhoneiros. Nunca soube de um grupo de caminhoneiros pararem um caminhoneiro bêbado ou rebitado.  

Nunca soube de motociclistas protestarem contra uma minoria de motociclistas completamente irresponsáveis que causam seguidos acidentes e param as cidades, exigem socorro especializado (chegamos a ter 70 por dia em São Paulo parando o trânsito), enchem hospitais, prejudicando muito outros acidentados e doentes de causas naturais. 

Nunca vi ciclistas protestando contra a falta de educação de outros ciclistas, o pedalar com agressividade sem respeitar pedestres, contra os que atacam motoristas sem razão só porque são motoristas. 

Nunca vi dono de bar por limite em cliente por conversa alta, falta de distanciamento, falta de uso de máscara, ou pedindo respeito aos seus próprios garçons.

Nunca ouvi um caso de reação da comunidade indo atrás, pegando e entregando para a justiça os responsáveis conhecidos e da própria comunidade por assaltos, roubos e depredações em escolas, serviços sociais, hospitais, depredação de transporte, entupir córrego com entulho ou qualquer outra barbaridade que prejudique enormemente a própria comunidade. 

Nunca soube, nunca ouvi, nunca vi.

Semana passada vimos várias categorias fazendo protestos e parando São Paulo e outras localidades em nome de seus direitos exclusivos. Ter as UTIs lotadas não é problema deles. A morte de desconhecidos não é problema deles. Os sequelados não é problema deles. O custo Brasil, problema crônico muito anterior à pandemia e um dos mais altos do planeta, simplesmente não tem nada a ver com a responsabilidade individual e coletiva de cada uma das categorias que pararam São Paulo. “O que é meu ninguém tasca a mão!” e assunto encerrado.

sexta-feira, 5 de março de 2021

mata o FDP!

Eu, como qualquer ser normal, sempre quis tirar na Mega Sena, por isso sempre faço minha fezinha. Nunca deu certo, mas sigo tentando, faz bem para a cabeça sonhar com uma vida no paraíso.
Agora temos um novo jogo: Pandemia Covid 19. Não deixa de ser um sorteio; nunca se sabe quem ou quando se vai morrer. A pandemia pode levar ao mesmo resultado sonhado da Mega Sena: ter paz. A sutil diferença é que caso seja sorteado o paraíso, definitivo e sem imposto de renda, chega seja porque você morreu ou porque foi para os quintos do inferno aquela besta que você não aguentava mais. E como dizem, antes ele do que eu. Pois então:

Mata o filho da puta!

É preciso maturidade para saber o que fazer com o desejado prêmio que cai do céu ou a alegria dura pouco. A maioria dos que acertaram a Mega Sena acabaram na rua da amargura. A maioria dos que queremos matar não merecem sequer morrer; é muito rápido e definitivo, tipo ejaculação precoce. É preciso muita maturidade para saber acertar quem realmente deve ir pros quintos do inferno ou ficar sofrendo por aqui. A nossa falta de maturidade é a provável causa de não resolvermos de maneira tão singela nossos problemas (matando o fdp!). De repente, assim sem mais nem menos, num acesso de..., do que mesmo?... espirramos ou tossimos e acabamos matando até quem faz faxina na casa. Se eu fizesse isto me suicidaria em seguida, mas esta é outra história. Acertar na Pandemia definitivamente não é sair matando todos que passam pela frente, mas sonhar que ela mate a pessoa certa.

E aí, quem a pandemia deve matar? Filho da puta é o que não falta, de todos os tipos, formas e gêneros. Tem o cara que já te deu facada pelas costas, mas que serve para alguma coisa, esquece ele. Tem o fdp que sacaneou meio mundo, mas coloca o pão nosso de cada dia no prato do pessoal; esquece. Tem o que dá vontade de esganar porque é chato e pensa radicalmente diferente, mas estes não valem nem resfriado. Tem um monte de idiota que poderia entrar na lista, mas pensando com muita calma e sabedoria deixa o fdp aí que faz parte da vida. Tem os que dão golpe, os que roubam, os que mentem.... Tem os fdp que nem o diabo quer por perto. Os que a pandemia não tem forças para matar. Aqueles que se fica na torcida “mata!, mata! mata!” e o filho da puta ressuscita e aparece sorrindo na sua frente. Haja saco! Porque só o outro tira na Pandemia? Pensando bem, que chatice seria a vida sem estes filhos da puta.

E tem o bonzinho, aquele que todo mundo acha adorável, de quem só se fala bem, educado, simpático, colaborativo, gentil, mas tão sutil em alguns detalhes, destes que fazem toda a diferença entre o bem e mal, diferença para o mal, para o ruim, o realmente reprovável. Tipo João de Deus.

Pandemia, mata o filho da puta!
“Aqui se faz, aqui se paga” a puta que pariu. Pandemia, mata o filho da puta!

Ser humano é ser humano, sempre foi e sempre será; é biológico, genético e tudo mais inerente e atávico. Como devem ter sido estes sentimentos homicidas durante a Peste Negra ou as Guerras Mundiais? É humano sentir, pensar, querer segurança e paz, dependendo da situação a qualquer custo, sonhar com saídas para seus problemas, dramas, lutar pela sobrevivência física e psíquica. Quantas vezes foi dito pela história da humanidade "morra e me deixe em paz"?
Desejar sumir com o outro da sua frente na pandemia dói menos porque se ele morreu de Covid não fica sentimento de culpa. Se ficou é por que você é burro e deve procurar um psicanalista. Não foi morto; morreu! você não tem nada com isto. Vão lhe perguntar e você fará cara triste de ópera bufa respondendo "Morreu de Covid". Evite rir e seus problemas acabaram.
Comemore, você tirou na Pandemia!

Aqui no Brasil virou loteria tão aleatória quanto qualquer outro jogo de azar. Mas bem que poderia matar o filho da puta! Mas, ô pandemia, vê se acerta o alvo.


PS.: Pelo que falam especialistas, estudiosos e cientistas, se não perdemos o controle da pandemia, estamos a um passo. Não podem falar outra coisa, não podem espalhar pânico.
É difícil tomarmos consciência sobre a possibilidade da morte de uma pessoa muito próxima, muito próxima mesmo. Nesta baderna que vivemos é uma possibilidade cada dia mais real e apavorante.
E aqui, sem piada, porque a porra da pandemia não mata os filhos da puta e desaparece de nossas vidas?

quinta-feira, 4 de março de 2021

Victor Gurman e nossa justiça

Não consigo escrever o texto. Estou com muita raiva e desesperançado com o Brasil. 
Não consigo.

Dez anos depois do atropelamento que causou a morte de Victor Gurman sai o veredito. No veredito está posto pela Juiza "que é de constatar que Gabriela realmente agiu de forma imprudente..." Mesmo sendo comprovado que a motorista havia ingerido bebida alcoolica um pouco antes, que o veículo estava em velocidade acima do permitido no local, que nunca ficou claro quem estava de fato ao volante, o que facilmente poderia ter sido comprovado através de perícia, o julgamento definiu-se em "imprudente", o resto é resto. "Não foi acidente" propagandeou a família em nome de Victor Gurman, e de fato não. Não teve intensão de matar definiu a justiça. Quem conduz um veículo com habilitação é signatário de um código, conjunto de leis, e o descumprimento delas não pode mais ser definido como "imprudente" ou "sem intenção". Não pode!
Só os que tem alguma relação com os três poderes dizem ou acreditam que no Brasil temos justiça. Dez anos depois racionalmente é o suficiente para dizermos que não temos justiça.
Jairo Gurman o pai de Victor faz parte do que chamamos de elite e mesmo ele, com todo apoio que teve, não foi capaz de lutar em pé de igualdade pela justiça para a morte de ser filho. Ninguém é; não funciona; não é justa; as leis são um emaranhado, são uma baderna, que não se presta mais nem aos poderosos. De bundinha de nenem e da justiça brasileira nunca se sabe o que vem.    

Diz a matéria da UOL:
A nutricionista foi condenada a três anos de serviços comunitários, pagamento de multa no valor de 20 salários mínimos e perdeu o direito de dirigir.... - Veja mais em https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/agencia-estado/2021/03/02/juiza-condena-nutricionista-por-atropelamento-e-morte-de-jovem-na-vila-madalena.htm?cmpid=copiaecola
Piada macabra!