quinta-feira, 11 de março de 2021

Briga contra condomínio no Parque Linear Caxingui

Boa entrevista de Gabriel Rostey, consultor ambiental e membro de um conselho municipal, para Carolina Ercolin e Haisem Abaki do Jornal (da rádio) Eldorado sobre a confusão que está dando a possível ou provável construção de um condomínio no pequeno Parque Linear Caxingui."O problema é que a Prefeitura sempre está correndo atrás..." foi disparada certeira pelo som da rádio define bem o que sempre acontece.

Só a questão da água em si deveria bastar para proibir sumariamente toda e qualquer construção em área de nascente ou nas proximidades de córregos. Nem se fale sobre a necessidade de proteção das poucas áreas verdes que ainda restam ponteadas pela cidade. Até onde sei há uma lei protegendo, mas ter lei neste país não significa muito.

Um condomínio com 5 edifícios de 25 andares num terreno a beira de um córrego? Não se fala uma palavra sobre sombras que serão criadas na área verde, os ventos que baterão nos edifícios gerando turbulências, a poluição sonora e de partículas. São questões ambientais, portanto de saúde pública gerados pela construção de grandes edifícios. São problemas que foram discutidos e estão regulamentados há décadas mundo afora.

Foi citado por Gabriel Rostey o conflito social envolvido, com uma população rica não querendo ter por perto população de baixa renda. Possível que sim, não duvido, já que experiências espalhadas pela cidade mostram que o convívio de diferentes níveis sociais pode ser um tanto conflitivo. Conheço bem pessoas que ainda têm casa na rua Otávio Mangabeira, que desemboca na favela Paraisópolis. Faz tempo que o convívio com uns poucos moradores da favela é bem difícil. Roubos, assaltos, ameaças são muito mais comuns que se possa imaginar. A desvalorização dos imóveis é brutal, o número de placas vende-se impressiona. O problema não é a comunidade de Paraisópolis ou qualquer outra população de baixa renda, mas a total ausência do Poder Público como mediador de conflitos e apaziguador social. Neste sentido entendo a população do Jardim Marajoara onde está o Parque Linear Caxingui.

Gabriel Rostey falou também sobre que o adensamento populacional de São Paulo é mais baixo que o de Paris, por exemplo. O adensamento das cidades brasileiras acontece de maneira disforme, deformada, com picos desordenados e desconexos. Paris, por exemplo, como qualquer cidade civilizada do planeta, tem regras claríssimas e respeitadas de organização urbana. Aqui quem manda são empreiteiras ou quem pode mais, seja pela riqueza, os possíveis ganhos, ou pelo grau de banditismo, aí de todos níveis sociais, do pobre ao rico.

Nunca tivemos um plano diretor que fosse inteligente e realista o suficientemente para estabelecer resultados civilizatórios e perenes. O abismo social prova isto. Nunca se conseguiu estabelecer limites e ordenar para o bem comum. Péssimos e degradantes exemplos são quase regra. O progresso que traz o bem comum vêm a passo de lesma e nem sempre são perenes.

O olhar que se tem é imediatista. Não se pode planejar o imediato. O imediato se vive. O futuro Deus dará nos rege, o que é um crime. “Ajuda-te e ajudar-te-ei” é texto sagrado, portanto verdade milenar. Planejar é ajudar-se e ajudar a todos.

Descrição do Parque Linear Caxingui e...
O trecho em questão tem algo em torno de 450 metros de extensão, final da av. Roberto Lorenz, começando próximo da esquina da rua Gen. Sena Vasconcelos e terminando na Av. Francisco Morato. O córrego passa por baixa da Francisco Morato e desagua no córrego Pirajussara que está canalizado e com ciclovia em cima da canalização na av. Eliseu de Almeida. No trecho entre a Francisco Morato e a Eliseu o córrego está estrangulado entre construções. A sensação que dá é que os terrenos não deveriam chegar tão próximos do córrego, e que são irregulares, mas isto provavelmente está fora de questão (infelizmente). Olhando da Eliseu creio que não há espaço para se implantar um parque linear com passagem para pedestres, muito menos para ciclistas. No projeto Ciclo Rede Butantã pretendíamos olhar com cuidado este trecho. Entre as duas avenidas há um local que dá impressão de ter sido uma rua ou viela que ligava as duas margens do córrego. Queríamos uma ponte, pelo menos para pedestres, que ligasse os dois bairros. Mesmo o bairro sendo de classe média média a briga seria de cachorro grande, com a gritaria “vai ser caminho para bandido”, “vai ser ponto de maconheiro”, e outras falas tão triviais.

Parte dos 450 metros da av. Roberto Lorenz, já no Jardim Marajoara, que corre paralela ao córrego do Parque Linear Caxingui está asfaltado, parte com pedregulho, e um trechinho em terra. De um lado está o córrego protegido por uma micro mata ciliar, do outro lado da avenida estão entradas de garagens de residências. É via sem saída para veículos, mas tem uma discreta e com cara de não oficial passagem para pedestres ligando com a Francisco Morato.

O Parque Linear Caxingui se estende bem mais para frente. Mesmo da rua Comendador Abido Ares, onde termina ou começa o parque, não é possível ver a extensão e a dimensão completa da área verde, nem seu córrego. Há inclusive a Praça Eva Kovacs, que confesso sempre passei batido descendo a rua de bicicleta. Descobri no mapa.

Pedalo com frequência por aquela área e é um dos lugares mais agradáveis de São Paulo para treinar subida. Jardim Marajoara deveria ser declaro patrimônio histórico e artístico pela diversidade de arquitetura e assinaturas de projetos que tem. Bairros tão diversificados como este é coisa praticamente exclusiva de São Paulo, não só no Brasil, mas no mundo.

No terreno onde se pretende construir as cinco torres de 25 andares havia um resto de mata, não sei exatamente quantas árvores e outras vegetações mais. Era bem visível da avenida Francisco Morato.

A questão é simples: não dá mais para continuar derrubando resíduos de mata e principalmente permitindo a construção do que quer que seja, de pequeno barraco a condomínio, em local onde haja nascente ou córrego. Aliás, não dá mais para continuar na baderna de crescimento que temos em nossas cidades. Deixamos para trás a muito a irresponsabilidade.  

https://32xsp.org.br/2018/01/31/parque-no-butanta-pode-dar-lugar-a-cinco-predios-de-25-andares/

 https://www.parquecaxingui.minhasampa.org.br/

E inúmeros outros links e matérias.


o córrego visto da av. Eliseo de Almeida trecho até a av. Francisco Morato

o córrego na av. Francisco Morato, vizinho ao terreno do condomínio

terreno em litígio, lado Francisco Morato

terreno em litígio, centro, face Jardim Guedala

terreno em litígio, direita, face Jardim Guedala

rua sem saída paralela ao córrego, a direta terreno em litígio

terreno a venda nos fundos do terreno em litígio;
pelo gramado passa o córrego


vista do início do resíduo de mata a partir do Jardim Guedala 

Avenida no Jardim Guedala onde está canalizado o córrego. 
A partir deste ponto começa o resíduo de mata Atlântica


Ciclo Rede Butantã, 2007, que pretendia recuperar e perenizar 7 córregos, todos com parques lineares e projeto de mobilidade no entorno, inclusive este resíduo de mata Atlântica agora em litígio.

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