Saímos no começo da tarde da casa de Renata para uma viagem que deveria durar umas 3 horas e meia, se tanto. São Sebastião como destino. Dia linda, saída de São Paulo tranquila ou passou desapercebida no meio de tanta conversa atrasada. Rodovia dos Trabalhadores mais tranquila ainda; a sempre paisagem de cair o queixo que a serra de Mogi para Bertioga oferece quando o céu está límpido e translúcido; e ainda dia entramos na Rio - Santos, meio de semana, estrada desimpedida, retão, sem radares, calor úmido que recolhe a sombra até Polícia Rodoviária; já um pouco cansados e ansiosos para chegar no hotel, entrar no quarto, banho, dormir e acordar cedo para começar o trabalho. À esquerda passando a Serra do Mar de denso verde ponteada por manacás floridos e agora algumas nuvens cobrindo os picos era o que salvava o silêncio cansado, o pouco vento abafado que entrava por todas janelas completamente abertas, a monotonia do carro que sequer rodava na velocidade máxima. Ainda tínhamos alguma conversa, mas olhávamos com frequência primeiro para o velocímetro, depois para a o rosto de Renata. E veio a pergunta inevitável "Não dá para ir mais rápido" respondido atravessada com um discurso longo sobre os malefícios do automóvel, da velocidade, número de acidentes..., uns bons tantos minutos intermináveis que não sei ao certo se despareceram com o retão e as curvas que nos entregaram as deslumbrantes praias vazias de ondas calmas.
- Freia! gritei.
E carro foi parado imediatamente no meio da curva sem se importar com quem vinha atrás. Também não faria diferença, estávamos tão lentos naquela curva que não faria diferença, mesmo que o motorista estivesse olhando borboletas. Não sentimos um tranco nem ouvimos som de buzina. Bom sinal.
E o bicho imponente estava lá, no meio da pista, cruzando a seu passo as duas linhas amarelas que separam os que vem dos que vão. Cruzou imponente sob nosso olhar preocupado que de lá viesse um carro, e entrou na mata.
- O que é aquilo? perguntou Renata
- Um tamanduá bandeira. Lindo
- Não consigo distinguir
- Como assim? Você não enxerga?
- Não enxergo nada, estou sem óculos. Porque acha que estamos indo tão devagar.
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