domingo, 20 de fevereiro de 2022

Protesto pela segurança dos ciclistas e justiça pela morte de mais um ciclista


Mais um protesto pela segurança no trânsito para ciclistas e justiça pela morte do ciclista Marcelo Henrique Maciel, 44 anos, 5 filhos, do mercado financeiro, que pedalava na Rodovia dos Bandeirantes e foi causada por mais um motorista bêbado. Contou com uma quantidade de ciclistas que há muito não se via, uns mil ou mais. O estranho foi que teve uns participantes deste protesto que não sabiam da morte uns uns dias antes na Av. Corifeu de Azevedo Marques do ciclista de aplicativo de 17 anos e pai de uma bebê de 2 meses, Claudemir Cauê dos Santos, também vítima de um motorista bêbado. Fica a dúvida: tribos diferentes ou o que?
O que acontece, não só entre ciclistas, é que há uma barbaridade de informação, mas tudo é focado no seu nicho específico. Fugiu dele o mundo não existe e se ainda existe está numa fortíssima névoa onde tudo são fantasmas.

PS.: só hoje, dois dias depois, descobri que o movimento de protesto se chama "Ciclismo é vida". Recebi um comunicado sem nome, só com data, hora e local. Na noite após o pedal de protesto, que foi grande, fiquei trocando de canal para ver se saia alguma notícia, mas não consegui ver nada. Descobri agora que o movimento pode (ou só pode) ser seguido pelo Strava. Não é coisa assim tão popular, tão povão. 

De novo e sempre: ou todos temos segurança ou ninguém tem segurança. Simple as that! Este é o "pequeno" detalhe que brasileiro parece não entender ou, pior, não quer entender. Salve-se quem puder.

Este vídeo foi feito bem antes da largada do protesto, quando o local estava lotado.









 

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

Catástrofe em Petrópolis, uma visão leiga um pouco além do óbvio

Quando do início da pandemia postei um breakdown sobre o que eu imaginava que deveria ser trabalhado, não restrito à macro economia e a saúde pública. Quando a pandemia acalmou dois especialistas em economia foram a público e disseram que perdemos uma oportunidade e deveríamos ter tido um olhar bem mais amplo, para os pequenos detalhes que afetaram a população, em especial a de baixa renda. Um pouco diferente do que eu propunha, mas no mesmo sentido. 
Eu não estava tão errado.

Ouso fazer o mesmo para tentar ajudar neste brutal desastre em Petrópolis. 
Jogo perguntas, pensamentos, ideias. Não me preocupo em ser leigo, ou parecer bobo ou louco. Não posso ficar quieto com mais uma barbárie destas.
Espero que ajude.

Repito o posicionamento que fiz na minha última postagem:
A realidade por trás das constantes calamidades que temos no Brasil não pode ser varrida para debaixo do tapete das mortes.

O governo tem que ir para o povo. Não é o povo que tem que ir até o governo para pedir ajuda” – César Tralli, JH TV Globo

Poder Público
  • responsabilidade legal - limites, entraves, escapatórias
  • qual capacidade de ser responsável - órgãos, funcionários, leis...
  • número de especialistas
  • tipo e formação dos especialistas
  • por tamanho de cidade ou área
  • trabalho em época de céu azul
  • material de trabalho – capacidade de trabalho dos especialistas
  • demanda maior que o estado pode dar 
  • eficácia demanda normal
  • demanda emergencial - alternativas
  • legistas
  • perícia técnica
  • funcionários públicos X eleitos
  • política de governo
  • política de estado
  • autonomia dos especialistas
  • invisibilidade dos mortos de baixa renda
"Recuperar o papel do estado" – Médico Sanitarista Gonzalo Vecina

O que deveria existir ou o que existe:
  • mapeamento - de qualidade, eu duvido
  • cidade
  • topografia
  • subsolo área construída
  • subsolo área não construída
  • hídrico solo e subsolo
  • encostas
  • área de risco deslizamento ou alagamento
  • solo solto
  • capacidade escoamento hídrico
  • leis construção – em áreas de risco
  • leis sobre subsolo urbano, cidade e verde
  • departamento coordenação de área de risco
Mapas
  • qualidade
  • data
  • formato
  • específico
  • não específico
  • nas mãos do poder público ou não
  • onde está
  • com quem está
  • nível de acesso
  • digital ou não
  • plotter / impressão mapas
  • caso material não acessível, porque
  • acessível, porque, razão
Escoamento das águas:
  • tubulações
  • valas
  • canais
  • córregos
  • rios
  • drenagem
  • influência do tamponamento dos córregos
  • água que corre no subsolo
  • estaqueamento das construções
  • muros de arrimo
  • cimentação e asfalto
  • tubulação de rua - águas pluviais, água encanada, esgoto, outros
  • lixo
  • coleta
  • entulho
Morro desceu porquê?
  • pedra escorregou porque?
  • pedra estava segura em baixo, no meio ou em cima
  • cobertura do morro e relação com sistema hídrico subsolo
  • fluidez hídrica abaixo da pedra, nas vias urbanas – tubulação
  • falta de drenagem - Gesner Oliveira, ex Presidente da SABESP
  • % morros carecas que desceram
  • % morros invadidos que desceram
  • há diferença entre mata primária e secundária
  • tempo de recuperação da encosta
  • tempo estabilização
  • técnicas drenagem água subterrânea
  • medição > barragens
  • técnicas de construção em encosta
  • população conhece? Faz?
  • leis de construção em terrenos íngreme \ instável
Desmatar \ desestabilizar o solo
  • chuvas consequentes do desmatamento?
  • área de abrangência
  • impermeabilização local do solo
  • cimento / asfalto – ponto de calor
  • coeficiente de encharcamento
  • índices pré e pós calamidade
Traçado urbano
  • urbanização aprovada
  • % inclinação vias – velocidade escoamento das águas
  • patrimônio histórico
  • patrimônio ambiental
Proteção meio ambiente urbano e verde
  • ações poder público
  • punições
  • justiça
  • cumprimento da justiça
Histórico de um desastre:
  • quem permitiu
  • quem vendeu
  • quem fechou os olhos
  • quantos processos pelas irregularidades
  • quantos em andamento
  • transitado e julgado
  • culpados
  • inocentes razões
  • quantos escaparam por causa da forma da lei
  • órgão de investigação \ polícia específica \ formatação processo
Histórico de população em área de risco - histórico
  • como é considerada invasão – real, não na lei
  • outras histórias não contadas
Administração, política, economia
  • posição
  • histórica do Município
  • dos administradores
  • dos políticos
  • das polícias
  • dos órgãos oficiais
  • incidência de autoridades sobre áreas do Município
  • de governo ou de estado?
  • propriedades privadas
  • conflitos de interesses
  • uso da área
  • aproveitamento econômico
  • interesses monetários
  • na construção
  • quantos por % é legal
  • qual a geração de impostos
  • composição impostos
  • quantos % ilegal
  • valor movimentação ilegal, % PIB Município
  • % na venda varejo \ construção
  • % trabalho gerado e potencial compra gerado
  • % destas economias no PIB das áreas afetadas
  • % PIB da cidade
  • % nas entradas de empresas legais da construção civil
custo \ benefício do que vem acontecendo com céu azul, antes da calamidade
  • para a Prefeitura
  • para política
  • população baixa renda
  • empresas
  • manutenção da distorção
  • custo desastres ou calamidades
  • custo \ benefício para toda população
  • curto
  • médio
  • longo prazo
  • evolução de geração de riqueza nestes últimos anos
  • evolução de problemas
  • ONGs
  • tipo de trabalho
  • benefícios / problemas
Cidades pós catástrofe
  • Gabinete de crise
  • comunicações internas
  • atendimento ao público
  • serviços públicos
  • água \ esgoto
  • luz \ eletricidade
  • obras
  • limpeza
  • Bombeiros
  • PM
  • Polícia Civil
  • serviço social
  • trânsito \ transporte
  • esportes \ educação
  • saúde
  • Prefeitura \ Estado \ Federal
  • o que dentro do Município é responsabilidade de quem?
  • coordenação com experiência anterior
  • cronograma
  • de ações e poderes
  • interno / capacidade do Município
  • externo / ajuda de outros poderes ou de...
Serviços públicos na emergência:
  • cortar energia, a lógica e sequência nestes casos
  • como cortar os fios
  • como remover entulho
  • como revolver entulho
  • como parar vazamento de água encanada
  • o que fazer com esgoto vazando? alguma saída
Experiências anteriores:
  • como se mede o tamanho / dimensão da catástrofe
  • existem padrões ou escalas para medir, quais?
  • está padronizado, quem padronizou
  • quais são
  • unificados
  • a experiência de uma cidade pode ser usada em outra?
  • quanto da experiência passada pode ser usada
  • há estudos procurando minimizar erros
  • tempo de recuperação X tamanho / dimensão catástrofe
  • quem estabeleceu \ quem estabelece \ qual órgão responsável
  • olhar por setor econômico
  • quem ganha
  • quem perde
Formar a comunidade
  • monitorar
  • agir
  • evitar
  • quem pode ajudar neste processo
  • ONGs \ aventuras \ turismo \ ecológicos
  • uniformizar discurso
  • discurso para a população
Quais foram os planejamentos lançados para reconstrução?
Quem os fez? Em que circunstâncias?

Planejamento recuperação
  • experiências anteriores documentadas
  • históricos arquivados
  • pressão social X poder econômico > o que vai primeiro?
  • as opções foram avaliadas?
  • quanto estavam corretas?
  • quem ganhou
  • quem perdeu
  • quanto não foi recuperado
  • quanto foi recuperado corretamente, ambiental
  • soluções usadas
  • coletivo / psicossocial
  • como era antes
  • está documentada
  • usar ou não no processo de recuperação
  • usar para evitar novas calamidades
  • diferença entre recuperação por nível social X estrutura da cidade X mentalidade coletiva / psicossocial
O que se diz, o que é publicado? Papel da imprensa e outros
  • a notícia do pós desastre / calamidade, influência
  • quais os vícios de linguagem das notícias bons / ruins
  • reflexo coberturas passadas na recuperação
  • o que gera distorções
  • o que na notícia é reflexo do social
  • o que dá notícia é reflexo do próprio negócio jornalismo
  • o que dá reflexo no coletivo popular
Vida dos que ficaram
  • vontade de voltar para a casa própria
  • perda de familiares
  • perda de comunidade / vizinhos
  • equipe apoio psicólogos
  • coordenação equipe atendimento emocional
Alertas e proteção à vida
  • sirene de alerta
  • população treinada
  • o que saiu do papel / existe algo / foi para o papel
  • quanto se joga com a sorte
  • porque se joga com a sorte
  • cálculo de risco – fórmulas
  • visão de vida curto prazo
  • "amnésia do céu azul"
  • limites legais
  • consequências legais
Gasto previsto orçamento com preventivo
  • previsão orçamentária
  • papel do legislativo / ações práticas
  • divisão legal de responsabilidades no Poder Público
  • Prefeituras
  • % gasto X % previsto
  • quanto necessário
  • histórico
Estratégia recuperação
  • passos a serem dados
  • pontes ruas > mobilidade
  • planejamento - experiência militar de logística?
  • como limpar córregos, rios, águas pluviais
  • como limpar depois
  • como estava antes - quem tem dados
  • pontes de emergência – exército
  • experiências anteriores
Ajuda externa:
  • Guarda nacional? Exército?
  • outras cidades
  • outros estados
  • como chegar no desastre
  • tempo médio
  • literatura a respeito
Eleições
  • projetos de meio ambiente
  • projetos específicos sobre encostas
  • % eleitos com projetos meio ambiente
  • % propostas aprovadas
  • teor das leis
  • porque as que não foram aprovadas
  • conflitos legais para aplicação lei
  • necessidade \ realidade
  • problema das leis obsoletas
Consciência coletiva
  • vícios atávicos população
  • população desassistida
  • população periférica aos desassistidos
  • população rica / classe média
  • estudos acadêmicos
  • ONGs - prós contras
  • informação existente
  • conhecida
  • oficial
  • desconhecida
  • IBGE
  • outros órgãos governos
donativos recebidos na chuva – não havia espaço coberto e seguro?
estabelecer locais de emergência em época de céu azul

Há documentação sobre desastres e calamidades. São usados, são conhecidos? São realistas perante a situação do Poder Público? 
São de conhecimento do jornalismo? Valem como referência para as matérias divulgadas? 

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

Nossas verdades varridas para debaixo do tapete das mortes.

Fórum do Leitor
O Estado de São Paulo

A realidade por trás das constantes calamidades que temos no Brasil não pode ser varrida para debaixo do tapete das mortes. Vidas perdidas não podem nem devem encerrar a discussão sobre todo e qualquer fator envolvido numa tragédia. Limitar-se a saber quanta chuva caiu em quanto tempo, as condições do terreno, construções regulares ou irregulares em área de risco e o consequente número de mortes, deve ser tomado como simploriedade irresponsável. Não abrir uma investigação ampla e inteligente é manter a população, a maior vítima destas calamidades, no escuro, na ignorância, deixando-a a mercê do próximo evento que com certeza virá, disto ninguém duvida. Se faz necessário expor com detalhes a completa cronologia, ditos erros em cascata, geradores do evento sem deixar escapar nada, investigação atemporal, completa e abrangente. Não lembrar ou excluir de responsabilidade os que "lotearam", "venderam", permitiram ou fecharam os olhos é seguir dando aval a mortes ou assassinatos, resta saber qual crime hediondo, diria eu. Qualquer exclusão da responsabilidade legal sobre atos passados é o habeas corpus para o próximo crime. "A gente nunca imagina que isto vá acontecer com a gente" antes de ser uma lamentação trágica é uma vergonha nacional, portanto de todos nós, brasileiros. Limites dos direitos sobre o uso do privado já estão estabelecidos em leis muitas das quais simplesmente não são cumpridas. Limites de específicos interesses privados, inclusive sobre a propriedade, que sobreponham os interesses de segurança e saúde pública devem entrar na pauta com urgência urgentíssima. Vidas, bairros, cidades, meio ambiente e o país não podem soterrar pelos escombros de direitos anacrônicos e distorcidos. Centrar as tragédias só nas mortes distorce uma discussão que deve ser ampla e realista. Ou seguiremos varrendo para debaixo do tapete das mortes nossas vergonhas. 


sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

Morte de mais um ciclista de aplicativo e a apologia do faz nada

Fórum do Leitor
O Estado de São Paulo

Morreu ontem à noite mais um ciclista em acidente na av. Corifeu de Azevedo. Ele foi "atropelado e arrastado, o motorista visivelmente embriagado se recusou a fazer o teste" dizem os noticiários. A história se repete e o final que virá é previsível. O ciclista de 17 anos tem um bebê de 2 meses em casa, feliz e entusiasmado fazia bico para ajudar no orçamento.
Quando será o próximo? Para a grande maioria da sociedade brasileira pouco importa. O imediatismo da entrega dos documentos, pequenos pacotes ou exigência da comida no prato já do contratante causa acidentes, sequelas e mortes no trânsito há décadas. O banho de sangue dos motoboys só diminuiu muito porque estes envelheceram e criaram família. Quantas vidas ficaram pelo caminho para este aprendizado? 
José Luiz Tejon, especialista em agronegócios, chamou a atenção para o absurdo dos 20 anos de discussão no Congresso Nacional até aprovarem a nova lei dos defensivos agrícolas, que obviamente já nascem um tanto obsoletos num setor que literalmente é vital para a sobrevivência do Brasil. Um Ministro do Supremo falou sobre o combate a qualquer tipo de apologia e na fala incluiu na fala "apologia às drogas". Um dos principais fatores relacionados a violência e mortes no Brasil e no mundo é o álcool, não há discussão, é dado estatístico. Como frear apologias, malucos, sociopatas e sua consequente estúpida violência e desorganização social num país que leva 20 anos discutindo até o pão nosso de cada dia? Discussão burra nunca leva a nada. Por favor um pouco de inteligência, portanto presteza e bom senso. Brasileiro precisa se olhar no espelho e se perguntar como faço para sair deste anacronismo perene? Nossas inúteis apologias e nossa letargia são históricas, como mudar?

E... uma semana depois...
mais um motorista bêbado...
Quando será o próximo? Quem será o próximo?

Apologia...

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

Rio de Janeiro cidade maravilhosa, trânsito louco

'Daqui uns dias vou a um casamento no Rio de Janeiro. Não vejo a Cidade Maravilhosa faz bem mais de duas décadas. Como será a experiência?'
E fui.

Fórum do Leitor
O Estado de São Paulo

Depois de muito tempo fui ao Rio de Janeiro. Me instalei no Leblon, passeei pela cidade, tive uma estadia muito tranquila e a bem da verdade segura. Nada de assaltos, tiroteios ou outros tão noticiados. Triste só a quantidade de mendigos e desabrigados, bem grande, nada diferente de qualquer outra capital aplastada pela pandemia. Rio é uma cidade como outra qualquer deste país, pelo menos dentro da área nobre. Ou quase. Ah! o trânsito! Quanta emoção!
Roberto da Matta, antropólogo, um dos mais respeitados pensadores sobre este Brasil, diz que "o comportamento do motorista é reflexo da formação social do brasileiro". Absolutamente correto.  Complemento eu "e principalmente reflexo da cidade". O trânsito carioca aponta em boa parte para o Rio de Janeiro tão propalado: inconsequente, desordenado, imprudente, rápido, agressivo. Para quem vem de uma cidade com trânsito muito mais civilizado e está com netos a experiência é um tanto preocupante. Até eles, netos, que adoram montanha russa e outras maluquices de parque de diversão  arregalaram os olhos num taxi ou no ônibus; e não ouse reclamar.  
João Assumpção diz com sabedoria que "trânsito é o sistema de organização social mais básico que existe. São poucas regras, poucas sinalizações, muito fácil de entender e respeitar. O sinal está verde e você passa; o está vermelho e você para, simples assim". "Não respeita quem não quer" termina ele.
Mundo afora cidades estão acalmando seus trânsitos como forma de melhorar a qualidade de vida de toda a população e com isto estão conseguindo diminuir o desequilíbrio social e violência. Os resultados tem sido notáveis até na economia destas cidades. Nas cidades turísticas então... Ninguém mais duvida que o caminho do futuro seja este. Aliás, tem quem ainda duvide.


quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

Trânsito violento em 2013 e... continuamos muito longe da paz no trânsito.

Limpando meu computador dei com esta capa e matéria de uma Veja de 2013 "Assassinos ao volante" com subtítulo "As mortes no trânsito já superam os crimes de homicídio". Estamos em 2022 e a bem da verdade os números vem caindo, mas muito lentamente. Dirão uns, sim, melhoramos, mas não resta qualquer dúvida que estamos muito muito longe de números minimamente civilizados. Se fossem só os números da violência no trânsito,  mas no geral os números sociais do Brasil continuam aquém do potencial que temos.
Em 2020 chegamos a 30.168, uma redução considerável em ralação aos 42.266 de 2013, mas não basta. As grandes vítimas continuam sendo pedestres e motociclistas. 

Para mudar esta loucura só também mudando a forma de agir. 



Primeira pergunta: a sociedade brasileira considera aceitável esta situação? Minha resposta é "sim, considera aceitável", do contrário reagiria forçando ações mais eficazes.

Segunda pergunta: Por que aceitamos esta situação? É atávico a cultura brasileira o "não tem jeito". Será? Não acredito nisto. São inúmeros os exemplos que desmentem esta besteira. Eu começaria pela evolução no tratamento de pessoas com deficiência intelectual e viciados. "Está maluco?" Não, não estou. Estou falando de técnicas de pedagogia específicas que podem e devem ser usadas num vício coletivo.

Terceira pergunta: Se não está dando o resultado esperado porque continuar no mesmo caminho? Rebato com outra pergunta que não quer calar: Quem ganha com a barbárie que vivemos? Óbvio que alguém está ganhando muito com toda esta loucura, mas quem (fácil saber) e quanto (mais complicado, mas não impossível saber)

Quarta pergunta: Então, sabichão, o que fazer? 

As campanhas normalmente focam muito na responsabilidade do condutor ou pedestre, mas agem pouco no uso de uma engenharia de trânsito mais radical. Alegam que algumas práticas de engenharia de trânsito não foram testadas no Brasil, o que é difícil de aceitar quando se tem a fartura de números e experiências vindas de todas as partes. 

A transparência sobre custos de acidentes e mortes também é meio que tabu e raramente são colocados para o grande público ou detalhados da forma correta, o que deixaria claro que a história definitivamente não acaba ou morre no acidente, mas tem consequências muito além.   

Outro dia alguém falou que quem não tivesse vacinado deveria se responsabilizar pelo próprio tratamento. Isto me remete a uma lei que enviei para o CTB quando de sua feitura que responsabilizava o condutor de qualquer veículo pelos danos causados a terceiros, e que em casos extremos (bebedeira, chapadão, muito excesso de velocidade, ou outros absurdos) que o mesmo perderia o direito de tratamento pago pelo poder público.
Nada dói mais que o bolso. Fez besteira, paga! Não dá para um imbecil irresponsável literalmente parar uma marginal ou estrada e sair de lá como vítima. Chega!

Quer diminuir as mortes de pedestres? Hoje tenta-se conciliar a segurança do pedestre com a fluidez dos motorizados, para mim só pode ser brincadeira. Prova disto? Vai até um semáforo para pedestres, aperta o botão e espera, espera, espera, espera. Se isto é normal me digam.
 Acalmamento de trânsito para valer e respeito ao caminho que o próprio pedestre faz para começar. Deu certo em todas as partes do planeta, por que não daria aqui?

Motociclista: os vícios perigosos são os mais variados. Hoje se impõe o CTB. Que tal entender a realidade deles, motociclistas, e combater o banho de sangue dentro do campo deles?

Quer resolver os eternos problemas que temos? Pressione, mas pressione exigindo legitimidade para as ações que propõe. O Estado e o Poder Público cumprem leis e estas nem sempre estão atualizadas em relação a realidade. 
Não se resolve nada enfiando o dedo na cara do outro, como vem acontecendo no trânsito e com a violência no geral. A solução é entender o que está acontecendo e só a partir daí agir. 
Toda mágica é uma mentira. Toda construção é uma verdade.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2022

Ser ou não bom, eis o pecado?

Quando ainda trabalhava dando consultoria mais de uma vez me foi dito que era incapaz de entender a realidade dos ciclistas comuns. Fui acusado de ser um ciclista diferenciado. Diziam que minhas soluções eram irreais, perigosas, impraticáveis. Não interessava a eles minha história. Eu ensinei por mais de 7 anos alunos que nunca conseguiram pedalar, traumatizados, com problemas clínicos físicos e psiquiátricos. Minhas aulas começavam em local sem movimento e terminavam dando segurança para o aluno para ele ter liberdade e pedalar em qualquer local, evitando avenidas de preferência. Tampouco interessou aos meus detratores o longo histórico como guia de passeio que começou em 1988. Não importa em que situação sempre tive preocupação especial com os pregos, os que ficam no fundão, que não tem prática, pedalam mal e até mesmo uns poucos que não sabiam pedalar e não confessavam só para participar. Eles sabiam de toda minha história, mesmo assim eu 'não sabia de nada', não era confiável porque era bom, seja lá o que isto signifique na cabeça dos que me acusavam. 

Devia ter caído minha ficha muito antes o que realmente se passava. Numa reunião em 1983 com técnicos de trânsito, a bem dizer cardeais do pedaço, onde deveriam dar aval para um projeto de mais de 250 km de sistema cicloviário para São Paulo, aconteceu o mesmo sem que dissessem uma palavra. Eu os irritei porque de fato conhecia o que estava falando e saber o que estava falando foi a ponto para a negação para seguir em frente.

A vida é interessante. Nunca tinha me dado conta do tamanho do elogio que é "você pedala como profissional...". Sério, nunca tinha caído a ficha. 
Tenho facilidade para receber críticas, que sempre viram estímulo para procurar os erros e melhorar, mas no caso de "você  pedala como profissional" era ouvir a frase e ficar completamente irritado porque sabia que aquilo era o "não" ao que propunha. Para quem saber o que foi e continua sendo: http://escoladebicicleta.com/bicicletatransporte.html. O projeto original é de 1983, só foi atualizado, mas basicamente é o mesmo.

Ciclistas diferenciados, profissionais ou amadores, como é meu caso, leem, estudam, procuram se informar, buscam se especializar, questionam, buscam respostas. Alguns seguem ditames de competição, ou seja, a busca pela perfeição na técnica de pedalar, condicionamento físico, manutenção da bicicleta, procura dos melhores caminhos, o que foi meu caso, mas sem exageros. Qualquer esportista de ponta é neurótico com o fazer bem feito, com o melhor resultado possível, com chegar ao zero erro. Zero erro, zero acidente, é o objetivo final da segurança no trânsito em países civilizados. 
Mais um detalhe crucial: ciclismo é um esporte individual no qual tudo gira em torno do coletivo, ou resultado não vem. Quem compete pensa em todos e em tudo, portanto tem uma boa noção do que é trânsito e mobilidade.

Enfim, obrigado pelo elogio, ou acusação, como queiram.

Acredito no que falo por que tive muita sorte no convívio com pessoas com qualidades especiais em suas áreas e me esforcei para fazer igual, o que nem sempre foi possível. Agradeço de todo coração a todos que me ensinaram algo. Mesmo que não tenha caído a ficha me esforcei. Incluo aí os sacanas, de quem se aprende muito. A vida é assim.

Agora, que estou mais velho, ganhei a consciência que quanto mais sei sei que nada sei.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2022

A história da bicicleta em São Paulo por trás dos panos antes de 2009, por Walter Feldman

Entrevista realizada em 22 de março de 2009 no evento Pedalando e Aprendendo realizado na Marginal Pinheiros, fechada, óbvio, entre Ponte Estaiada e... e..., que seja.
Walter Feldmann, então Secretário de Esportes e Lazer no Município de São Paulo fala sobre o processo ocorrido a partir 2005, na administração municipal Serra, quando se começou a falar para valer sobre a questão das bicicletas e ciclistas. O processo começa logo após Serra assumir com o Projeto GEF Banco Mundial, que foi a primeira vez na história deste país que sentaram a mesa para reuniões todos os que sempre deveriam estar envolvidos num projeto para implantação de sistemas cicloviários: SVMA, SPtrans, CET, Secretaria de Obras, Metro, CPTM, Secretaria de Transportes, Secretaria de Transportes Metropolitanos do Estado, Chefia de Gabinete do Município, entidades civis, representantes dos ciclistas, Banco Mundial, ITDP, Sabesp e outros que não me lembro mais, se não me falta a memória 17 representantes ao todo. 
Walter também dá uma dica que sobre a futura Ciclo Faixa de Domingo, peça fundamental para forçar a Prefeitura a realmente implantar sistemas cicloviários. 
Só para entender, atrás do Walter está o que depois se transformaria na Ciclovia Rio Pinheiros, um projeto antigo, bem mais antigo que se possa imaginar, que nunca saiu do papel porque o rio e seu entorno têm cinco autoridades ou responsáveis, sim 5 mandando, Federal, Estadual e Municipal, que nunca se entenderam e nunca deram uma resposta.
Para quem não acompanhou ou desconhece o trabalho do Walter Feldmann, recomendo que vejam. De minha parte fica um profundo "Muito obrigado".