terça-feira, 31 de julho de 2012

bicicletas elétricas sem rumo

Creio que a primeira vez que ouvi falar sobre bicicletas elétricas foi através de meu pai, faz muito tempo, quando ele testou uma “mobilete movida a motor elétrico que tem (tinha) força suficiente para subir um poste”. Faz 20 anos ou coisa assim. Nunca cheguei a ver a dita. Só fui ver pessoalmente uma bicicleta elétrica em 2007, a que está na foto acima, que estava exposta numa loja de roupas chique de Munique. Na mesma viagem lembro ter visto algumas poucas circulando pelas ruas de Munique e das outras cidades por onde passei: Paris, Barcelona, Amsterdam e e outras localidades Holandesas.

A primeira vez que me chamaram muito a atenção foi em Nova Iorque, por volta de 2010, principalmente pela forma completamente anárquica como eram usadas pelos entregadores de mercadorias. Para eles, a maioria de origem oriental, provavelmente chineses, não havia regra nem lei. Vinham de todo lado, de qualquer forma, em qualquer velocidade, e, não sei por que, todas com saco plástico branco cobrindo o selim. Uma verdadeira loucura. “Quando você compra uma (bicicleta elétrica) você ganha dois destes orientais malucos, para quando o primeiro ficar num acidente você poder continuar as entregas com o segundo”, brincava eu.

Não me interessei pelo assunto nem quando a Porto Seguro lançou, com muita propaganda, as primeiras elétricas Made in Brazil. Teria tido acesso a uma com certa facilidade, mas não quis.

Hoje aqui em São Paulo já começa ser normal ver algumas bicicletas elétricas circulando. Homens de terno, mulheres bem vestidas, e até mesmo alguns esportistas de fim de semana pedalando na subida mais rápido que a gordura certamente permitiria. Sucederam as adaptações de motores 2 tempos em bicicletas normalmente de qualidade bem precária, que em sua maioria provavelmente rapidamente desintegrou – literalmente.

Já faz um bom tempo que o Reginaldo Paiva, Coordenador da Comissão de Bicicletas da ANTP, Associação Nacional de Transportes Públicos – http://portal1.antp.net/site/default.aspx - está cantando a bola, até bem pouco praticamente sem retorno, que a questão da bicicleta elétrica tem que ser vista com atenção e que urge fazer alguma coisa para organizar sua existência. Sei como é porque venho a mais de 30 anos gritando pela qualidade da bicicleta no Brasil sem que praticamente ninguém dê ouvidos. Se a quantidade de gente que se arrebenta em bicicletas de baixa qualidade é absurda e não se faz nada, por que pular para o próximo tema, as elétricas? - Pensamento errado! Por que não tentar evitar um novo complicador, o próximo motivo para o caos? – Pensamento correto. Quem sabe as elétricas abrem as portas para a qualidade das bicicletas? Não custa sonhar.

E na última reunião da Comissão da Bicicleta da ANTP, que guardou um espaço especial sobre as elétricas, lá fui eu e dei com uma sala lotada de gente que sabe para o que veio e onde quer chegar, alguns bons representantes da sociedade civil, indústria e de seis cidades: São Paulo, Santos, Campinas, Sorocaba, São Caetano, São Carlos. E ai caiu minha fixa que o problema é maior do que meus olhos distraídos percebem. Ou se acerta agora ou teremos mais um veículo para confundir a lógica do bom senso.

Para todos está claro que urge a regulamentação das bicicletas motorizadas, tanto para controlar a qualidade do mercado como para estabelecer um padrão jurídico sobre o assunto. Está em jogo a definição legal do que é uma “bicicleta elétrica”, suas atribuições técnicas.  

A outra questão, também urgente, é que o pessoal da reunião diz que já há muitas reclamações de ciclistas que se sentem agredidos por (condutores de) elétricas, principalmente quando partilham a mesma ciclovia. Me faz lembrar a velhinha enlouquecida que circulava a milhão pelas ciclovias de Amsterdam numa cadeira de rodas de 2 tempos. Imagino que aqui no Brasil, com toda a ortodoxia dos ciclistas com relação a seus direitos (a tudo e contra todos), ser ultrapassado por um ciclista eletricamente motorizado deve causar ataques de irritações e fúrias. “Como pode?” “Tem que ir para a rua, com os carros...” “A ciclovia é nossa....”

Tirando os exageros e falando sério: não chegamos sequer a um mínimo de equilíbrio nas relações entre os automóveis, ônibus e caminhões e todo e qualquer modal de transporte que não seja motorizado. Muitos dos problemas desta novíssima safra de ciclistas são causados pelos próprios, mas justamente agora que a bicicleta está recebendo alguma infraestrutura é uma sacanagem permitir a invasão de outros veículos, desregulamentados e muito mais rápidos. A eterna inexistência do poder público como órgão regulador dos conflitos normais de uma sociedade pode fazer da bicicleta elétrica uma fábrica de tomates amassados. Cabe a sociedade civil propor e pressionar soluções.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Veja SP - Derrapada na inteligência

Veja SP - Eleições
Derrapada no estilo

Candidatos (à Prefeitura de São Paulo) iniciam a campanha sobre duas rodas com estilo bem peculiar
datado 25 de Julho, 2012
A imprensa brasileira vem tratando a questão da bicicleta com pouca inteligência, mas a matéria da Veja SP sobre as eleições de São Paulo, intitulada “Derrubada no estilo” assinada por João Batista Jr., se destaca quando se preocupa em julgar o figurino dos candidatos, como se o importante mesmo fosse o “estilo” correto para usar o veículo de transporte bicicleta. Mesmo que tenha tido a intenção de fazer uma crítica social, uma espécie de comédia de costumes, o que não o faz, deixa transparecer que vê a bicicleta como emergente ou classe média de cidade grande brasileira, ou seja, própria para esporte ou lazer. A matéria parece indicar que o correto é pedalar “vestido de franga”, jargão comum do meio dos ciclistas para o uso de vestimenta esportiva, o que é uma besteira sem tamanho. Houvesse feito uma rápida pesquisa saberia que qualquer população civilizada, incluindo a imensa maioria dos brasileiros, simplesmente usa a bicicleta.  Teria conhecimento também da revolução do pedalar chique que vem acontecendo principalmente em Nova Iorque, tão bem noticiada pelo NY Times em várias matérias – ( http://query.nytimes.com/search/sitesearch/#/NY+cycling+chic ). Com o caos de nossas ruas, o desrespeito à pedestres e ciclistas, os bárbaros índices de mortes no trânsito, gastar o riquíssimo espaço de Veja SP para fazer comentários sobre veículo usado, figurino, e distância percorrida, é tão pueril, tão bobo, tão fora do tempo... Informação de qualidade, cultura e usá-la com inteligência: só assim é possível compreender porque a bicicleta é o que é.  
“Ao final de tudo”, como inicia o último parágrafo da matéria, o que importa mesmo não consta. Triste.


sábado, 21 de julho de 2012

Honestidade perdida


Tive que dar um tempo a mim mesmo. Estou vivo, tenho estômago e a semana foi um horror de notícias. Há limite para tudo, mas nós, brasileiros, parecemos querer ser medalha de ouro em aprofundar o fundo do poço e criar novos absurdos sociais.

Foi notícia em todos jornais, TVs e rádios, a devolução de R$ 25.000,00 encontrados por um casal de moradores de rua. A honestidade virou notícia, recebeu seus merecidos minutos de fama. Vivemos hoje, neste Brasil do nunca antes, tempos onde honestidade causa espanto. Vale tudo. Eu não sigo novelas, mas dizem Avenida Brasil é um dos melhores textos escritos na história da dramaturgia brasileira. Expõe o que somos, ou melhor, onde chegamos. Onde chegamos? (Sem querer errei a tecla e a grafia e saiu “Onde chagamos?”, que também é uma boa pergunta). O brasileiro é, em sua maioria, honesto; mas nos dias atuais não ‘estamos’ honestos; principalmente honestos com nós próprios.

Também foi notícia, e também não é nenhuma novidade, que o Brasil é um dos campeões em mortes violentas contra crianças e adolescentes. Conta ai só barbárie de trânsito, assassinados, executados...; descarta-se qualquer outra violência, daquelas que matam o ser humano, mas mantém a pessoa viva e aos pedaços, o que é vivido diariamente por milhões. Genocídio físico e moral.

Roberto da Matta, antropólogo da PUC-RJ, deu uma entrevista na TV Cultura sobre seu livro “Fé em Deus e pé na tábua” onde falou sobre o trânsito ser um espelho da condição social. Nada mais óbvio e sensato. João Assumpção, meu caro primo, ponderou que trânsito é um dos sistemas legais mais simples criados pela humanidade e que todos saem de casa conscientes de que vão respeitar ou desrespeitar as leis. Também nada mais sensato e óbvio. Até uma criança pequena sabe que vermelho é para parar e verde é para seguir e que 50 km/h da placa é 50 km?/h do velocímetro. Como nós, brasileiros, (infelizmente) não acreditamos na lei, e (infelizmente) com alguma razão, fazemos o que achamos adequado. Simples. Salve Roberto da Matta!

Ai entra a bicicleta. Brasil sempre teve usuários da bicicleta como modo de transporte; dezenas de milhares sempre fazendo da bicicleta o veículo mais usado do Brasil. Trabalhadores, periferia, pobres, se movimentando principalmente fora do horário de pico do trânsito motorizado. Portanto invisíveis. Inexistentes para o poder decisório que vai trabalhar de carro. Eu próprio fui um deles. Pedalei por mais de uma década numa São Paulo onde bicicleta em bairro chique praticamente só circulava uma vez por ano, no Passeio Ciclístico da Primavera. É fácil entender como os ciclistas pensam. Se eu, ciclista, não existo, porque devo seguir regras? Se não existo para eles, os outros, porque eu, ciclista, devo fazer o que eles mandam? Bem vindos à parte da liberdade que a bicicleta traz.

O ciclista que respeita as regras e leis o faz por causa de sua honestidade, tanto a social como a com consigo próprio. Creio que a própria seja a mais preciosa. Nada como deitar e dormir em paz – literalmente. A maioria de nós (mais de 90% da população) joga neste time; inclusive ciclistas. Bicicleta oferece liberdade, o resto fica pelo bom senso do ciclista. Ou da sociedade.

Honestidade existe. Primeiro passo vencido. O segundo é reconhecimento e respeito. Segue educação, ou treinamento. Passo a passo. No caso do trânsito, em muitos países civilizados o primeiro passo é dado na escola com a ajuda da bicicleta. As crianças são educadas desde muito cedo a pedalar com civilidade. São países com baixíssimos índices de mortalidade no trânsito, portanto com alto índice de honestidade social, que fazem a criança entender que se comportar bem, ou melhor, cumprir as estritas regras, vão ter o direito da liberdade do uso da bicicleta. O resultado é que a relação com trânsito, cidadania e vida será honesta, tranquila, civilizada, pacífica. Funciona maravilhosamente.  

Bicicleta consegue melhorar índices sociais de países ou cidades onde estes índices já são baixos, civilizados, considerados exemplares. Imagine o que não aconteceria se ela, bicicleta, fosse estimulada (com Inteligência) na baderna social que temos nestes dias de nunca antes. Mas eu não me engano com o projeto social deste pessoal que comanda o Brasil do nunca antes é ver todo mundo dirigindo seu carro novo. É isto ai. Muito justo, muito honesto! E eu não tenho dúvida, eles estão certos; bicicleta é coisa de pobre.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Texto contra ciclista em Diário Oficial vira polêmica

O Estado de São Paulo
São Paulo Reclama:


Trapalhada (do Diário) Oficial
C4 | Cidades/Metropole | quinta-feira, 12 de Junho de 2012 – O Estado de São Paulo
Texto contra ciclista em Diário Oficial vira polêmica – Reportagem publicada em jornal do Estado recomenda evitar pedalar na capital paulista

Segue a matéria do Cidades: O Diário Oficial do Estado, veículo editado pela Imprensa Oficial, empresa do governo paulista, recomendou a ciclistas não usar bicicleta para se locomover no trânsito da capital. A recomendação faz parte de reportagem que saiu ontem (11/07/2012), intitulada “Mais ciclistas, mais acidentes”...

... A reportagem do Diário Oficial ouviu apenas um especialista – o chefe do Grupo de Trauma Ortopédico do Hospital das Clínicas, Jorge dos Santos Silva... (que) afirmou que não é recomendável que ciclistas pedalem no trânsito de São Paulo...

Primeiro comentário: Que resposta esperar de um médico, um dos melhores em sua área, que só recebe ciclistas arrebentados?

Segue do Cidades... Sugestões. Outro trecho da reportagem traz recomendações atribuídas à Companhia de Engenharia de Trafego (CET), da Prefeitura de São Paulo, para que o leitor “não seja a próxima vítima”. Uma delas diz que “o tráfego em avenidas, apesar de permitido, é pratica pouco segura para o ciclista”. Essa informação, porém, não consta do site da companhia. Em suas páginas na internet a CET afirma que uma de suas principais diretrizes é estimular o uso da bicicleta.

Comentário: 1 - Vítima de quem? Do trânsito ou da ausência da autoridade legalmente competente que não cumpre seus deveres legais? (Vide CTB) 2 – Pedalar em avenidas de fato não é recomendável, mas muitas vezes inevitável, principalmente para trabalhadores que simplesmente não tem alternativa de transporte e caminho. O problema sempre existiu, principalmente na periferia, muito antes da classe média redescobrir a bicicleta, e sempre foi negado. De novo, houve e segue havendo ausência das autoridades competentes. Não haver qualquer referência sobre o assunto na página oficial da CET fala por si só. Isto não faz da CET a única culpada. 3 – É normal que uma diretriz imposta de cima para baixo, como “estimular o uso da bicicleta ou melhorar a segurança dos pedestres”, encontre resistência dentro de um grupo de profissionais, excelentes em sua área específica, que trabalham numa companhia, CET, que por sua vez foi criada para “dar fluidez” ao trânsito de veículos motorizados. Se Thiago Benicchio, da Ciclocidade, entrevistado na mesma matéria do Estadão, nunca ouviu a CET falando que considera a bicicleta um sério perigo, eu, nestes meus mais de 30 anos de convivência com eles, ouvi muitas vezes e em diversos tons. E, de certa forma, entendo as razões deles; as profissionais e as legais. Eles, sabiamente, usam a lei a seu favor. Dentro da CET há alguns amigos de pedestres e ciclistas; e um bom grupo que, por força de vício, faz tudo pela fluidez.  

Como toda imprensa, sem exceção e não só o Diário Oficial, acaba escrevendo sobre as coisas de trânsito como inocentes motoristas, não vejo esta matéria do Diário Oficial com espanto, mas como mais um fato habitual e normal. O grau de erros, distorções e medos explícitos e implícitos sobre a questão da bicicleta e dos pedestres publicados e divulgados até hoje deixa claro que o artigo do Diário Oficial não passa de mais um “pequeno” deslize.

A verdade incontestável é que todo veículo mal conduzido é perigoso, independente de ser uma bicicleta, moto ou automóvel. Dependendo da qualidade da pesquisa ou estatística, da fonte e principalmente de saber entender o que lá está escrito, provavelmente o automóvel não seja tão seguro assim. E não é.

Em absolutamente todas as partes do mundo “quanto mais ciclistas nas ruas, menor o número de ciclistas acidentados”. Esta é uma verdade cientificamente incontestável.

Bicicleta é um fato. Ponto final. O que falta é tratar o assunto com inteligência. Parece que esta é a dificuldade.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Medo de ir para o trabalho pedalando.

O vizinho vai todo dia de ônibus para o trabalho, que é bem próximo. Não sei quanto demora, mas só até o ponto de ônibus, mais a espera, descer do ônibus e caminhar até o escritório deve dar o tempo que ele levaria pedalando. Não inclui no cálculo o tempo de viagem do ônibus no trânsito, que hoje em dia já não se pode mais precisar. Eu venho tentando convence-lo, sem sucesso, a fazer a experiência de ir de bicicleta. A desculpa, educada, é a mesma da maioria: é perigoso. Ele tem uma linda filha pequena, o que valeira como desconto pelo receio, mas, racionalmente, não é.
Mesmo com o crescimento do uso da bicicleta tudo o que não temos é uma discussão racional sobre a questão da segurança de pedalar no trânsito, principalmente entre a classe média que trabalha em escritório. Infelizmente nós vivemos um tempo no qual dar ouvidos aos medos parece ser o mais sensato. A verdade parece não interessar.
O que é seguro ou inseguro? Com certeza não é o que se diz em conversa de botequim. Numa sociedade viciada em violência sentar para conversar sobre amenidades, de preferências as boas, agradáveis, racionais, realmente sensatas, costuma cansar a plateia. Talvez a melhor definição do que nos tornamos seria a primeira página do Noticias Populares, extinto jornal sensacionalista que sempre estampava na primeira página o pior ou mais bizarro. Tipo a fotografia do bebe diabo, corpos mutilados, facas ensanguentadas, etc... Isto muito antes do Massacre da serra elétrica. Hollywood não sabe o que perdeu. Todo mundo adorava - e a sociedade incorporou.
Medo talvez seja o melhor negócio dos dias atuais. O mercado internacional pode estar um desastre, mas a indústria do medo continua muito bem; obrigado. Acabou a Guerra Fria, alguém tem sustentar a indústria bélica. “Apavora os trouxas”. Sei lá como foi; talvez tenha sido por ai, mas de qualquer forma vender medo é muito lucrativo. Muito!
Mikael Colville-Andersen, em uma palestra em Copenhagen, disse que um dos grandes interessados na obrigatoriedade de ciclistas usarem capacete é a indústria automobilística. Talvez tenha a ver com o fato que em absolutamente todo local onde o capacete é obrigatório o número de bicicletas circulando diminuiu e o número de ciclistas acidentados aumentou. E que capacete está intimamente ligado a queda, acidente. Simples coincidência. Provavelmente mais uma teoria de conspiração. Existem pesquisas científicas que provam que o uso de capacete em carros de passeio seria realmente útil para diminuir as vítimas. Porque não?
Não importa que a distância seja a ideal, menos que 4 km; que paralelo a av. Nove de Julho tenha um monte de caminhos alternativos arborizados e seguros; que o caminho no sentido do trabalho seja uma leve descida, portanto vai suar pouco; que sua vizinha de porta sempre foi para o escritório bem vestida e pedalando e trabalhe na mesma área que ele; que eu me disponha a emprestar uma bicicleta e vá acompanha-lo para dar dicas; que indo de bicicleta ele chegue mais rápido e vá ter mais tempo para ficar com a sua filhinha, que ele tanto ama. Não importa nenhum argumento racional. Não dá para ir pedalando. Bicicleta é perigosa e ponto.

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Sai Eliseu, sai! Movimento de reivindicação


Infelizmente em algumas cidades as melhorias para o uso da bicicleta só saem a tapa. Parece não importar às autoridades que o número de ciclistas circulando aumente a cada dia e com este fenômeno os problemas consequentes do abandono e desordem provocada pela ausência do próprio poder público. Só depois de muito incidente, acidente, muita imprensa, muita pressão popular, algumas infelizmente pesadas e desagradáveis, é que o Poder Público se mexe. Tem sido assim mundo afora principalmente em cidades que tem uma qualidade de vida baixa ou que são diretamente desumanas.

A bicicleta sempre empurrou os espíritos a lutar por seus direitos. Movimento cicloativista, como é chamado hoje em dia, existe desde os primórdios destes veículos de duas rodas. Paris, Londres e várias outras mais importantes capitais e cidades da época chegaram a ver manifestações imensas, com milhares de ciclistas organizados, já bem antes de 1900. Com apoio dos clubes de ciclismo movimentos forçaram mudanças sociais: melhorias nas condições de trabalho, maiores liberdades para mulheres, voto feminino, melhorias para a condição de uso da bicicleta, construção de vias especiais... O que acontece hoje não é novidade, a não ser pela posição anacrônica, portanto vergonhosa das autoridades.

Um dos focos atuais de luta em São Paulo é a construção da Ciclovia Eliseu de Almeida, uma importante ligação entre os bairros dormitórios e o trabalho da Zona Oeste. Muitos ciclistas passam por esta avenida, que é caminho alternativo entre a Rodovia Raposo Tavares e a completamente saturada av. Francisco Morato, corredor de ônibus e continuação da BR 101, Regis Bittencourt. Boa parte dos ciclistas vai pela Eliseu de Almeida porque é fundo de vale, portanto plana, e muito menos movimentada. O que eles não sabem e o detalhe desta história: há um projeto de ciclovia que deveria estar pronto faz muito tempo.

A Ciclovia Eliseu de Almeida faz parte de um projeto maior, que inclui uma segunda ciclovia ligando a própria Eliseu à favela Paraisópolis, passando pelo Estádio do Morumbi, o do São Paulo Futebol Clube, e uma rede cicloviária complementar de 95 km no interno dos bairros. Este projeto complementar propõe a reurbanização, paisagismo, recuperação 7 córregos, criação de novos parques, melhorias para pedestres, pessoas com deficiência, etc... Bicicletário, para-ciclos, ruas acalmadas, melhoria de calçadas, totens indicativos e explicativos, ponte para ciclistas e pedestres, plano de educação, monitores-ciclistas... Foi colocado no projeto muito trabalho e dinheiro público, privado e internacional (ITDP.org).

Mesmo quem acompanhou o projeto não sabe ao certo o que aconteceu, porque não foi construída pelo menos a Ciclovia Eliseu de Almeida, o trecho mais necessário e urgente. Não faz muito morreu um ciclista ali, o que reacendeu os ânimos. Dá raiva porque o processo foi todo bem amarrado e tinha tudo para sair. Contam que, mais uma vez o determinante foi o poder da assinatura de uma única pessoa, que simplesmente não quis. A lei assim o diz. Ponto final. O fato é que além da necessidade do ciclista qualquer melhoria cicloviária traz benefícios para toda a população, em especial para mulheres, mães, crianças, idosos, o que está provado e comprovado por inúmeras experiências.

São poucas as cidades do Brasil que tem um grupo de cidadãos usuários da bicicleta tão bem articulados e com tamanha capacidade de pressão coletiva. E eles estão se mexendo. Como referência e querendo ajudar entre em contato com http://www.ciclocidade.org.br/.