sexta-feira, 30 de abril de 2021

Não dá para fazer?

Quando estávamos trabalhando no Projeto Ciclo Rede Butantã (2007) conversamos com gente da Prefeitura para que se fizesse uma ponte para pedestres e ciclistas um pouco mais a frente neste córrego. Já havia uma pinguela muito precária por onde a população cortava caminho. A resposta foi que não dava para fazer porque etc... e tal; resposta padrão de coisa pública envolvida em um milhão de burocracias.
Um tempo depois fui fazer uma vistoria nos córregos da Esmeralda e do Sapê, em Rio Pequeno, que deveria ter sido a extensão do Ciclo Rede Butantã. No Esmeralda, próximo a av. Rio Pequeno, dei com uma ponte de pelo menos uns 5 metros de vão sobre o córrego primorosamente bem feita, em concreto, que dava acesso da rua para a garagem de uma casa. O discreto detalhe: estacionado na garagem uma picape Ford F1000 carregada. Em outras palavras, a pontezinha aguentava mais de 3 toneladas. Fui perguntar para o pessoal da Prefeitura e eles disseram que conheciam a ponte e era ilegal porque tinha sido construída pelo morador.
O projeto Ciclo Rede Butantã não saiu, não entendo até hoje porque, mas a substituição da pinguela por uma ponte decente em concreto poderia facilmente ter sido feita. Foi?
O movimento ciclo ativista fez ações incríveis, conseguiu empurrar muito para melhor a questão da bicicleta. Para quem é dos primórdios, como eu, é um prazer ver o que conseguiram. Mas... não entendo porque não conseguiram até hoje fazer com que as conexões da ciclovia Rio Pinheiros sejam realizadas. Óbvio que uma pontezinha é uma pontezinha, mas que dá para fazer dá. É incompreensível que depois de tantos anos a passarela que deve ligar a ciclovia ao Parque Villa Lobos ainda esteja desmontada e enferrujando, por exemplo. Desculpem, mas não entendo.   


Só como curiosidade:


quinta-feira, 29 de abril de 2021

A perda de uma Senzala

É simbólico que no local onde foi o Senzala vá surgir um Burger King. E surgiu. É simbólico que o tradicional restaurante que tanto marcou gerações de paulistanos, em particular o pessoal do Alto de Pinheiros e Jardins, tenha sido demolido sem que houvessem protestos. Mais simbólico ainda que em seu lugar esteja quase pronta uma construção padrão Burger King, igualzinha a qualquer outra mundo afora, seja nos Estados Unidos ou na dita comunista China. É a simbólica globalização que unifica tudo em nome de preço, pronta entrega e qualidade de serviço padronizado. 
Senzala para minha geração foi uma referência muito forte em diversos sentidos. 

Uma noite quente eu e Teresa fomos ao Senzala e nos sentamos numa mesa ao ar livre. Fizemos o pedido que nos foi entregue com certa demora. Demos dois goles no chopp gelado, comemos umas batatas, eu estava sentado de frente para a rua e vi cruzando a rotatória vindo da Praça Panamericana um imenso rato que sem cerimonias veio em nossa direção, cruzou por trás da cadeira de Teresa, que não o viu, e seguiu em direção a cozinha. Ninguém percebeu até que o sujeito sentado na mesa ao lado deu um grito, puxou uma 45 automática, engatilhou, pude ver e ouvir o clique, e saiu atrás do rato gritando "Deixa comigo". 
O gerente saiu de dentro do Senzala e pediu calma a todos que já saltavam sobre as mesas. Eu avisei que estava indo. "O senhor não pode sair sem pagar a conta. Não precisa ter medo, já resolvemos". "Não tenho medo do rato, mas do louco com uma 45 na mão".

Provavelmente os trinetos daquele rato não irão ousar cruzar a rotatória no sentido do burguer rei, talvez porque fiquem assustados com a arquitetura padrão do negócio. 

A saber, o início da alimentação limpa, saudável e saborosa no Brasil se deu com a vinda dos escravos africanos, ou seja, com a senzala. Por uma questão religiosa o alimento era todo tratado com uma delicada e cuidadosa limpeza. Antes dos escravos a descrição do que era o preparo e as refeições provavelmente daria medo até nos ratos.

Ajudar os outros

Passei por ele que comia um biscoito encostado a porta de ferro de uma loja fechada naquele domingo de noite fria. Pouco a frente encontrei um mercado, entrei, comprei um lanche completo, dois sanduiches, peru e atum, um suco de uva, e frutas. Voltei, me aproximei devagar para não o assustar, então percebi que não era ele, mas ela, senhora velha, cabelos muito curtos, comendo concentrada uma banana só com rosto descoberto pelo seu cobertor de pobre.
- Quer um lanche?
- Não, respondeu definitiva sem olhar para mim. Por respeito peguei o lanche e sai a procura para quem dar.
Ainda estava distante de casa mesmo assim não encontrei ninguém dormindo pelas ruas. Talvez houvesse naquele Largo de Pinheiros, provavelmente havia, mas não encontrei, ou não vi. Má vontade não tive, meu sentimento de culpa não permite.
Cheguei em casa com o pacote completo e o coloquei na geladeira. "Amanhã entrego para alguém". Cabeça girando fui para o banho quente. Foi passando lembranças das vezes que ajudei e fui bem sucedido, e das que a bondade não saiu como queria. 

Uma história foi marcante e tanto o ocorrido como as explicações que tive depois valeram demais. Recebi meu primeiro salário depois de muito tempo parado e havia feito a promessa de doá-lo em comida para os pobres. Peguei Rafaela para me ajudar, paramos num McDonalds, ainda novidade e o mais desejado da época, enchi o carro de combos e fui para a Praça da Sé. Juntou um povo para receber o Big Mac, batatas fritas e milk shake. O problema começou quando já nos primeiros lanches um dos garotos reclamou que não queria milk shake de chocolate, que queria de morango; e um segundo reclamou que queria um sanduiche diferente, o terceiro reclamou sei lá do que e o primeiro sanduiche voou na minha direção. Pasmo, sem entender o que estava acontecendo deixei os lanches na calçada e tirei a Rafaela dali pela segurança dela. 
No dia seguinte conversei com uma amiga que trabalhava com programas sociais e ela explicou simples e direto: "Eles têm todo direito de gostar ou não gostar. É ponto fundamental para eles, é onde sentem que ainda são gente, ter o direito a opção, a ter o que gostam, querem, sentem prazer"

No banho lembrei o que recentemente ouvi de outra amiga que trabalhou anos com o Cerimonial do Governo do Estado e por isto conhece bem o que dá resultados. "Defesa Social funciona é o melhor caminho", disse ela contando uma série de ações realizadas com sucesso. Depois de ouvir, quieto e com muito interesse as histórias confirmei minha velha convicção que ajudar os outros não é para amadores. 

Tem a campanha "Vacina contra a fome" de doação de um quilo de alimento não perecível na hora de tomar a vacina. Como acabei tomando a vacina porque estava passando e o posto estava vazio não levei nada na hora, mas voltei no dia seguinte. Perguntei às senhoras que estavam recolhendo as doações o que as pessoas não estavam levando, mas era necessário. Olharam para mim e responderam "Arroz, feijão, macarrão..." e repeti a pergunta, e aí caiu a ficha delas: "Material de higiene pessoal, fraldas, fraldas geriátricas..." A lista é grande, comprei pastas de dentes, escovas, um pacote de fraldas (como é caro!), mais alguma coisa que não me lembro. 

Não é o que você acha que o outro precisa; é o que outro precisa. Há uma diferença enorme entre o que pensamos e a verdade deles. 

Estava destravando minha bicicleta em Amsterdam quando apareceram três holandeses com uma roda dianteira completa na mão. A bicicleta estacionada ao lado da minha estava com a roda completamente torta, inutilizada. Destravaram a bicicleta e saíram arrastando-a. Perguntei se queriam que eu fizesse a troca e aceitaram. Quando já tinha soltado a roda torta da bicicleta me estalou "Será que esta roda nova é roubada?", coisa muito mais comum que se possa imaginar por lá. E perguntei a eles, que riram e provaram que tinham comprado a roda nova. 
Eu poderia ter me metido numa enrascada sem tamanho se fosse pego pela polícia com uma roda roubada na mão. Por mais desesperadora que seja a situação precisa acalmar para ver se a sua ajuda é funcional ou não, e se você não vai se meter em encrenca, o que no calor da situação é fácil acontecer.

quarta-feira, 28 de abril de 2021

Não utilizam as pontes velhas porque?

Mandei a ideia de aproveitamento das pontes desativadas para uma amiga com bastante prática com a coisa pública e a resposta dela foi a seguinte:
A principal razão que vejo para que a ponte velha do Morumbi nunca seja utilizada, e futuramente demolida, é justamente o projeto acima, de hidrovias no Tietê e Pinheiros. Essa é a razão para que todas as pontes novas sejam tão altas. Não vão investir num projeto que não tem futuro, mesmo que seja tão remoto.
Minha resposta:
Rio Pinheiros tem pouca profundidade, não permite e não permitirá navegação de grande calado. Para conseguir isto eles têm que dinamitar boa parte do fundo do rio. E este não é o único problema. Navegação no Pinheiros... duvido.
Outra coisa, sai muito mais barato (para a cidade) utilizar a ponte desativada do Morumbi (mesmo que seja até a execução do projeto das hidrovias).
Mais, ligar a cabeceira (das pontes desativadas) não excluí futuramente implodir a velha ponte.

Falo eu aqui:
Minha amiga está certa, sabe o que fala, vão usar qualquer argumento para evitar fazer o que não os agrada, esta é uma técnica velha e usual da coisa pública brasileira, por isto o país não vai para frente. Temos uma lei de Licitação, a 8.666 (oito de infinito, 666 o número da besta do apocalipse), que é ruim, para dizer o mínimo, que faz com que tudo demore uma barbaridade e apresente problemas, como a cada licitação sob seu domínio se prova, enfim, uma...... Mais, até o poder público discutir o projeto, chegar a conclusões, colocar no papel o que pretende, mandar para os revisores, apresentar para concorrência, fazer a licitação, escolher o vencedor, começarem as obras.... e finalmente, se for o caso, implodirem as pontes desativadas... vai tempo, muito tempo. Vou ser bonzinho e colocar 10 anos. Quanto a cidade economizará em 10 anos de bom uso das pontes desativadas por ciclistas e pedestres? Qual o benefício em saúde, transporte, emissão de carbono? Qual é o custo / benefício do gasto de se fazer os acessos? Neste mesmo sentido pergunto qual foi o custo / benefício da reforma completa das marginais Tiete e Pinheiros executada pelo Governo Estadual Serra? Provavelmente já se pagou a muito em se pensando em macro economia. O mesmo para estes acessos que eu tanto sonho. 

Por outro lado, coisas como estas não saem porque não há pressão popular. O que temos hoje para ciclistas não veio por pressão popular, do grande público que pedala, mas por vontade de um punhado de sonhadores e uns pouquíssimos atores públicos e políticos. 
Dá para fazer? Claro que dá. É só ter vontade. Melhor, é só ter um pouco de visão sobre uma vida melhor.

Nosso futuro e nossas comunicações obsoletas

Fórum do Leitor
O Estado de São Paulo

Insisto em ter telefone fixo e o meu ainda é via fio, aliás como acontece na maioria das residências brasileiras. Minha rua tem o luxo da fiação ser subterrânea, uma modernidade por aqui que é secular em qualquer lugar civilizado do planeta. Se antes os caminhões mais altos arrancavam a fiação aérea, coisa comum de se ver pela cidade ainda lotada de postes, agora fico incomunicável quando chove e os fios oxidam impondo um chiado infernal na linha. Normal segundo a Vivo diz em off. Se a comunicação por fios existe a aproximadamente dois séculos, imagino que alguém já tenham descoberto uma técnica para os fios não oxidarem, do contrário não faz sentido a história do progresso dos Estados Unidos e toda Europa, por exemplo. Como é normal chover todos ano sem clima tropical, desde que enterraram a fiação, faz uns 10 anos, meu telefone chia. Não faz muito tive uma experiência interessante: fiquei sem telefone fixo, sem Internet, sem celular e sem 4G, todos juntos, por algumas horas. É normal aqui nesta cidade ficar sem um ou outro, alternados; juntos foi a primeira vez. Mesmo que fosse um problema muito particular seria pouco aceitável, mas não é, é público e notório. Mesmo que os serviços de comunicação no país tenham melhorado muito ainda estamos na idade do código morse na fumaça de índio aqui no Brasil. Faz mais de uma década tive em Utrecht, Holanda, minha primeira experiência com o que deve ser Internet e quase literalmente cai da cadeira com a rapidez que abria tudo. Em 2019 a Internet numa praça de Passau, Alemanha, era absolutamente estável e infinitamente mais rápida que a dita boa e cara fibra que eu, classe média alta paulistana, tenho contratada. Nesta pandemia estamos vendo diariamente que este nosso obsoleto descompasso nas comunicações está matando o futuro de nossas crianças, mesmo as que têm boa condição social e econômica. Pior, um percentual sensível da população sequer tem Internet ou 4G disponível, quando tem sinal de celular. Aliás, pior ainda, muita gente do campo, aquele que responde por 24 % do PIB nacional, ainda não tem um sistema de comunicação decente ou simplesmente não tem nenhum. Ai volto ao fio oxidado do meu telefone fixo: se não aprendemos como fazer funcionar uma tecnologia de uns 200 anos... Encerrando esta antes que caia a conexão.

sábado, 24 de abril de 2021

Parque Novo Rio Pinheiros limita uso das velhas pontes

As ciclovias das duas margens do Rio Pinheiros foram terceirizadas pelo belo e ambicioso projeto Parque Novo Rio Pinheiros. A proposta deles está neste vídeo e nela não é citada a utilização da ponte velha do Jaguaré, o que é uma pena porque estenderia muito as ligações do sistema cicloviário que já está implantado e vem sendo bem utilizado. Mais, diminuiria e muito o problema hoje existente nas duas pontes novas do Jaguaré que tem muito movimento de ciclistas cruzando junto ao trânsito de carros, ônibus e caminhões.

Sobre a ponte velha do Morumbi o vídeo mostra que será utilizada para fazer a ligação das ciclovias das duas margens do rio, mas não para dar acesso a população do Brooklin, Chácara Santo Antônio, Granja Julieta e outros bairros da mesma margem, o que também urge ser feito para evitar que ciclistas fiquem circulando tanto pelas marginais dos dois sentidos quanto pelas apertadas pontes.


O possível acesso à Ciclovia Rio Pinheiros pela ponte Jaguaré

Ao contrário do que disse na outra postagem, dá para fazer o acesso na ponte velha e desativada do Jaguaré e é mais fácil que resolver a ponte velha e desativada do Morumbi. Mesmo passando lá com certa frequência nunca tinha olhado com a devida atenção para o que está lá. Para dizer a verdade nunca tinha visto que a velha ponte tem três arcos e que as pontes em paralelo têm passarelas próximas a estes arcos. Mais, que a cabeceira do lado da ciclovia já existente no Rio Pinheiros e que termina próxima dali tem espaço de sobra para uma rampa.


São duas pontes novas, uma de cada lado e paralelas à velha ponte do Jaguaré. As duas têm passarelas dos dois lados, sendo que só a externa, lado direito da mão de direção do trânsito de cada uma das pontes é utilizada por pedestres. As passarelas esquerdas atualmente não estão sendo utilizadas e são a continuação natural da ciclovia da av. Jaguaré que está implantada no canteiro central.



O vão entre as pontes e a diferença de altura entre os arcos e as pontes novas não é grande e permite que se coloque rampas entre elas apoiadas no vão entre os arcos. Isto permite a construção fácil de acesso da passarela existente e sem uso para a ponte velha. 
Entre a ponte velha e a Marginal Pinheiros sentido Castelo Branco há espaço de sobra para a instalação de uma rampa de acesso para a estrada de manutenção que é a continuação da atual ciclovia. O termino da ciclovia atual está uns 250 metros, se tanto.  

A ciclovia de canteiro central da avenida Jaguaré termina praticamente na cabeceira das duas pontes novas. Na foto abaixo é possível ver que provavelmente foi interrompida por causa da reversão de fluxo dos veículos no horário de pico. É possível até ver também que o caminho existente para pedestres ou ciclistas que foi interrompido se dividia aí em dois, direcionando para cada uma das passarelas existentes.
A ciclovia da av. Jaguaré segue longe, dividindo-se para Osasco a direita e para Rio Pequeno a esquerda via av. Escola Politécnica, ambas com ciclovias. Liga também com a av. Corifeu de Azevedo Marques, que passa por trás da USP e uma grande favela. A quantidade de ciclistas que circulam por toda aquela área todos dias é grande. Fins de semana mais ainda. 
O trânsito de ciclistas cruzando as pontes novas do Jaguaré é intenso todos dias, praticamente todas horas. Urge uma solução.

sexta-feira, 23 de abril de 2021

a regra dos 3 ruins e 90 bons

E ficou brava, muito brava quando eu cai na asneira de dizer que não acreditava no que ela estava dizendo. "Pensa que sou uma idiota? Não leio besteira e não acredito nas notícias da Globo. Não vou tomar a vacina Astra Zenica". 
No dia seguinte conversando com um amigo aprendi a lição, fui mais prudente e praticamente só ouvi. "Não vou tomar a Coronavac. Veja bem que vacina vai tomar. Acabei de mandar um paper para você sobre a vacina chinesa. Não dá para confiar". 

E não tomei nem uma nem outra. Sou contra? Não. Não tomei porque quando cheguei havia uma fila grande, simples assim. Distanciamento é o melhor remédio, ou prevenção, eu não duvido, mas tem quem duvide. Hoje à tarde ou amanhã tomo a que tiver.
Confesso que estou exausto não da pandemia, mas das certezas absolutas de cada brasileiro com tudo que ouve e fala. As verdades pétreas brasileiras não vêm de hoje e muito menos são fruto da pandemia. Acho que deixamos bem para trás o brasileiro "individualismo exacerbado" que Eduardo Giannetti aponta e para não perder o costume alcançamos um patamar muito mais alto. A psiquiatria tem algum nome para isto? Deve ter, imagino eu.

Estamos no meio de um tiroteio esquizofrênico. Foram relatados uns 30 casos de coágulos que podem, repito, podem estar relacionados com a aplicação da vacina AstraZeneca de Oxford e Fiocruz; 30 em 6.000.000, ou seja, 1 a cada 200.000, é isto? Caso esclarecido, dos 30 passaram a ser uns 20 e tanto, diminuiu um pouco mais e passado um tempo não há comprovação de qual foi a causa real das embolias, todas. Mas a verdade é que esta vacina é perigosa, mata, é uma porcaria, etc... e tal.  

Em mais de 5 milhões de brasileiros vacinados meia dúzia recebeu vacina de vento. Conclusão: o sistema de vacinação do Brasil é uma porcaria, os funcionários e enfermeiros tem má fé... 

E voltei a tarde, estava vazio, e tomei a vacina. Qual? O que importa? 

Segundo um amigo que trabalha com publicidade tem uma espécie de lei de mercado que diz que para cada notícia ruim quase 90 pessoas ficam sabendo; e para cada notícia boa só 3 tomam conhecimento. Será que dá para construir um futuro acreditando só no que está errado? Mais: será que dá certo pensar tudo tendo como base o que não pode ser comprovado ou é mentira? A era Trump que o diga.

terça-feira, 20 de abril de 2021

Acesso à Ciclovia Rio Pinheiros pela ponte do Morumbi desativada?

São duas as pontes desativadas que podem / deveriam ser aproveitadas para fazer a ligação entre as Ciclovias do Rio Pinheiros e dar acesso aos respectivos bairros: Morumbi, aqui em fotos, e Jaguaré.
A do Morumbi, mais simples de resolver, poderia dar acesso aos bairros de Brooklin e Chácara Santo Antônio.

A ponte Jaguaré tem que ser aproveitada imediatamente em razão do intenso trânsito de ciclistas trabalhadores. Não é solução fácil porque são muitos metros para completar as ligações.
 
Parece simples, mas não é. Para conseguir fazer qualquer coisa na área do rio Pinheiros é necessária a assinatura de um monte de órgãos públicos do Governo Federal, Estado e Município. A saber, correu durante décadas um projeto de ciclovia no rio Pinheiros, (margem esquerda: Socorro, Jardim São Luís, Panambi, Real Parque, Cidade Jardim, Butantã, USP, Jaguaré) que nunca saiu papel porque nunca se conseguiu todas as autorizações necessárias, mesmo com boa intensão de Secretários e Governador.

Outro problema hoje é custo de obra. Para viabilizar o uso da ponte Morumbi é necessário algo em torno de 150 metros de passarela \ ponte para completar a ligação da av. Berrini (Brooklin) com a ciclovia da margem esquerda (Real Parque), mais obras. A carga de ciclistas que hoje estão utilizando diariamente a ciclovia creio que já justifique a obra. A diminuição das cargas das linhas CPTM e de ônibus, e o preventivo de saúde já devem estar compensando com sobra.
Uma opção seria buscar material reciclável, como por exemplo chassis de carretas batidos, containers, ou até mesmo passarelas abandonadas, o que não faz muito vi por aí, não me lembro onde. Ou seja, sonhar, procurar, pegar um engenheiro especializado em estruturas alternativas e buscar soluções possíveis, viáveis; ou impossíveis factíveis. 
Seria o máximo ter uma passarela escultura feita de reciclável. Pode ser um fato tão ou mais marcante que a Ponte Estaiada monumental e caríssima construída só para automóveis e motos.

A antiga ponte do Morumbi em paralelo à nova ponte




As cabeceiras foram cortadas. Aqui e na foto a seguir a cabeceira Morumbi (na margem Real Parque onde se encontra a Decathlon). É fácil fazer uma rampa de acesso (a esquerda da foto) por que já há o talude da cabeceira original. O vão cortado tem algo em torno de 10 metros. 



Como se vê, a condição da ponte é boa. Não há sinais de trincas, rachaduras ou qualquer outra anormalidade. Ela simplesmente foi desativada e está lá sem uso

O corte da ponte para passagem dos trens da CPTM. Vão aproximado de 10 metros. A fiação elétrica dos trens está um pouco mais alta que o alinhamento original da ponte, o que não é grande problema a ser resolvido com boa vontade.

Foto tirada em cima da marginal sentido Pinheiros. Da cabeceira cortada da ponte até canteiro onde está a árvore tem algo próximo a 35 metros, ponto onde se pode instalar um pilar / coluna para sustentar o meio da passarela / ponte. Dai até o outro lado da marginal são mais uns 30 metros para outro pilar, e mais 35 de rampa até o chão da rua. 

Vista de onde tem que terminar a cabeceira da passarela / ponte. Do canteiro onde está a árvore até onde deve ser colocada a cabeceira \ entrada da passarela \ ponte tem mais uns 65 metros. Exatamente neste ponto onde tirei a fotografia a passarela / ponte teria que ser um pouco mais alta que na cabeceira original porque passa uma rampa de acesso de veículos a marginal. 

Onde tem ficar a cabeceira da passarela / ponte para a ciclovia. 




Usar container? Uma possibilidade

segunda-feira, 19 de abril de 2021

Falta de política de transporte permanente e o desenvolvimento da cidade

Fórum do Leitor
São Paulo Reclama
O Estado de São Paulo

Ponte Estaiada só para carros tendo uma favela na sua cabeceira?
Monotrilho aéreo de construção cara e complicada em vez de VLTs, Veículos Leves sobre Trilhos, que aqui chamamos de bondes, que demandam trilhos no meio da rua?
Linhas de ônibus vazias? Ônibus da mesma linha vindo dois vazios e juntos? Terminal de ônibus? 
Trechos do Sistema cicloviário completamente sem uso? Ciclovias sem continuidade nas pontes? Ciclovias sem rampas de acesso? 
Pedestre sem calçada, com circulação dificultada ou impedida por obstáculos?
Tem razão as autoridades quando reclamam do comportamento do pedestre?
Qual é o preparo da cidade para as novas mobilidades elétricas?
Qual a qualidade da cobertura de celular e internet em toda a cidade? Com o que temos dá para aplicar inteligência artificial no sistema de transportes da cidade? Como fica a periferia?

Qual é a política de transportes e mobilidades que queremos? Qual é custo / benefício que queremos? O que temos hoje? Como vai ficar a cidade se não for acertado o sistema de transportes e as mobilidades?

Só vamos alcançar os resultados desejados quando tivermos uma política de transportes e mobilidades permanente, contínua, integrada, que não seja mudada de governo para governo. Muito menos de Plano Diretor para Plano Diretor, que muda com frequência indesejável e parece atender a interesses muito particulares. Pedalando pela cidade fico abismado com o que o mercado imobiliário chama de desenvolvimento urbano.  Desenvolvimento imobiliário / urbano ou interesses mui particulares? Bato aposta no segundo. Deprimente.  

domingo, 18 de abril de 2021

Alzhaimer

Estou perdido no tempo dos outros. Precisam de ajuda, eu ajudo, ou tento, e ainda sinto dolorido que deveria fazer muito mais, mas não sei como, e meu tempo próprio se esvai. Preciso de tempo para estar comigo mesmo e quando tenho estou tão pilhado que não tenho, minha cabeça voa com os mosquitos que enfestam minha sala em busca de um calcanhar para pousar sem saber em qual, de preferência não os meus. Minha fuga tem sido abrir a porta, que traz mais mosquitos, cruzar o corredor onde bato na folhagem que agita os mosquitos, abrir o portão, vestir a máscara que sufoca, pedalar ou correr onde não tenha e não veja ninguém. Ainda tenho esta alternativa, mas volto para casa e os mosquitos estarão sempre lá imunes a inseticidas. Alongo empurrando a parede, meu suor pingando no chão, mente mais tranquila, mas com os mosquitos comendo meus calcanhares. “Por que não picam os outros?”

Penso em amigas e amigos que estão trancados em casa com seus pais e filhos desde o primeiro dia da pandemia. “Como aguentam?” Milhões passaram a Segunda Guerra Mundial enfurnados em cubículos ou casas destroçadas por bombas que transpassavam ventos gelados do inverno e cobriam do branco de neve o quarto de dormir. “Eles passaram, aguenta quieto”. Não sei o que ou quem eu teria sido no meio de uma situação onde simplesmente não pudesse colocar o pé fora de casa, olhar o céu, sentir o vento, ver a paisagem, suar... Ainda posso sair e correr, andar, pedalar, o que importa se estou cuidando de outros, descuidando de mim mesmo; não é um drama, é a vida, agora quem precisa são eles. Os mosquitos me comem, eu os vejo voando errático, pousando na minha perna, mas não sou tão eficiente para matá-los numa palmada.

"Você não pode mudar o mundo". Já ouvi isto várias vezes, a pouco ouvi de Lícia. Ela está certa. Ou estará errada? Não vou, eu sei, hoje tenho certeza; minhas ilusões ficaram para trás; mas não posso deixar os mais próximos para trás assim assim sem mais. Ou posso ajudar a mudar o mundo? “Matar mosquitos, posso?”, eles me infernizam meu silêncio.

De quem é o tempo? Insisto em olhar os relógios sem enxergar os ponteiros e sem conseguir organizar meu próprio tempo. Tic-tac. Improdutivo, mas sigo. Faço um pouco por mim agora, outro tanto depois, coloco aquilo no lugar, produtivo desconexo que quando deito não terminei, mas fiz. Encostado nos travesseiros escrevo bilhetinhos para lembrar o que fazer, organizar, mas se perdem no chão junto aos livros que aos poucos leio.

Vício, doença ou responsabilidade? "Primeiro o dever" foi dito e repetido para mim e hoje não sei se é carapuça, fogo que me queima por dentro, ladainha religiosa, se é funcional ou disfuncional? Qual é a responsabilidade, eu ou os outros? "Se não cuidar de si não terá condição de cuidar dos outros" tantas vezes já ouvi. Ok! Entendi.

Tenho uma prima com Alzhaimer que passei cuidar. Passo a passo vamos em frente. Longe de estar no estágio avançado de meu avô que afundou nas ondas de um mar impiedoso de altas cristas espumadas que engolem a proa com um vento gelado cortante, afundar, escorregar, subir, balançar que não para. Enjoa, desnorteia, arrebenta com os sentidos de vida, mas navegar é preciso. Eu talvez esteja sadio, ela não, vê-se pelo olhar vazio. Sua memória imediata está muito prejudicada, mas segue sendo uma mulher agradável. O passado distante está vivo, é trazido à tona como se vivesse hoje. Os detalhes são impressionantes, vivos, simplesmente vivos.

No meio do mar revolto, já apático com esta vida, jogado a uma cadeira de rodas, sentado longe da mesa de jantar onde estávamos, desandou a chorar e fui lá ver. Os outros seguiram jantando. "Meu neto, a única coisa que quero fazer é alguma coisa humanamente normal" disse com absoluta consciência olhando nos meus olhos e um segundo depois afundou nas profundezas de seu mar revolto e nunca mais voltou. Eu fiquei ali olhando aquele rosto que não existia, não vivia mais, mas de olhos vazios respirava firme e forte. Foi seu último retorno a superfície, seu último folego, sua última tentativa de viver. Acabou. Tive um silêncio interno brutal, rápido e interminável, lapso de tempo onde nos perdemos, acariciei a mão daquele morto, meu avô, que respirava apático na cadeira de rodas e voltei para a mesa para terminar o animado jantar de conversas, comentários, fofocas, pequenas cutucadas, alguns sorrisos, indiferença, vida que segue. E voltei para casa, dormi, acordei, trabalhei... a vida segue. A vida segue. Devia ser uma noite fira porque não me lembro dos mosquitos.
Dormi, acordei, fui ao banheiro, tomei café da manha... tic-tac.


quarta-feira, 14 de abril de 2021

Caos no acesso a ciclovia do Rio Pinheiros

São Paulo Reclama
O Estado de São Paulo

As calçadas das pontes Cidade Jardim e Cidade Universitária são os acessos às ciclovias do Rio Pinheiros. O conflito entre ciclistas e pedestres na estreita calçada é constante mesmo durante a semana, principalmente em horário matinal de pico, momento preferido para o treino dos ciclistas. Nos fins de semana a situação fica insustentável. O sonho que as autoridades de trânsito têm que o ciclista acesse a ciclovia empurrando a bicicleta só pode ser entendida como total ignorância do que é um ciclista. Ciclista não desmonta e raramente empurra, é um fato que qualquer planejador sério do planeta sabe de cor e salteado. Nas duas primeiras semanas de funcionamento da Ciclo Faixa de Domingo a CET delirou que "em nome da segurança dos ciclistas" conseguiria obrigá-los a desmontar e empurrar a bicicleta em alguns cruzamentos. Não é seguro porque dentre outros "detalhes" atrapalha o pedestre. Virou piada, gerou longas e sonoras gargalhadas e um "não se fala mais nisto".
A Prefeitura vem gastando a olhos vistos na reforma e implantação de ciclovias e ciclofaixas. Seria sensato que o Secretário dos Transportes e ou um dos seus assessores diretos fossem até as pontes Cidade Jardim e Cidade Universitária para ver in loco o que acontece. Sei que a solução não é fácil, mas para isto serve a inteligência. 

Ponte Cidade Jardim, domingo, 10:50 h;
lá na frente, do lado de fora da barreira, um corredor

O número de ciclistas circulando pela cidade aumenta a cada dia, mais ainda nos fins de semana. Resolver os problemas que se avolumam com o aumento desenfreado de ciclistas deveria ser prioridade absoluta. Perenizar o uso da bicicleta está diretamente ligado a qualidade do que é ofertado ao ciclista, não a quantidade. Muito do desrespeito dos ciclistas para com os pedestres, o problema mais crítico que temos hoje, está de certa forma sendo estimulado pela própria Secretaria de Transportes quando não corrige erros de projeto, mas com mais quilômetros busca aplausos e votos.

Como sugestão chamo a atenção que próximo à Estação Jaguaré há uma rampa de acesso desmontada tomada pelo mato e enferrujando que deveria fazer a ligação entre a ciclovia Rio Pinheiros e o Parque Villa Lobos, o que pode ajudar a diminuir o fluxo de ciclistas na Ponte Cidade Universitária. 
acesso a ciclovia Rio Pinheiros sentido Santo Amaro

Recomendo também que olhem com respeito os pedestres trabalhadores que no horário matinal de pico circulam pela rua Dr. Cardoso de Melo entre a rua (avenida) Funchal e a Marginal Pinheiros, onde se encontra a Estação CPTM Vila Olímpia que também é um dos acessos (por uma escada perigosa) para a ciclovia Rio Pinheiros.  
Deixo ainda a ideia de se aproveitar as velhas e desativadas pontes Morumbi e Jaguaré para que ciclistas possam cruzar para outra margem do Rio Pinheiros sem ter que enfrentar o trânsito pesado de veículos. Um acesso à ciclovia do Rio Pinheiros pela velha e desativada Ponte Morumbi provavelmente diminuiria e muito a circulação de ciclistas pelas Marginais, em especial a sentido Santo Amaro / Socorro.

Não preciso aqui dizer que o CTB estabelece calçada como direito pleno do pedestre. Manter os acessos como estão é um crime - literalmente.

quarta-feira, 7 de abril de 2021

Vai fazer besteira? Pelo menos faz bem feito, não se machuca.

O pessoal está pedalando na contramão como se fosse a coisa mais normal.
Os dois acidentes mais graves que um ciclista pode sofrer é colisão lateral e frontal, nesta ordem.

Todos tinham dito que contratar aquela empregada não ia dar certo. Era uma belíssima mulher, e põe belíssima, com um dos pares de seios mais perfeitos criados por Deus mal escondidos pelo uniforme de tecido fino. O dia que ela começou a trabalhar até as mulheres da casa ficaram impressionadas. Mais que os homens da casa, todos em constantes sorrisos, de bem com a vida, os adolescentes se inquietaram, suavam frio e andavam sem parar pela casa da avó. Um dia aconteceu não o que se esperava, mas aconteceu. Um dos garotos, alucinado com a beleza da menina, subiu no telhado e foi espiar a beldade tomando banho; só que, de tão excitado, enfiou a cabeça inteira para dentro do vitro. Gritos, família correndo, garoto entalado no tesão, incapaz de fugir ou se esconder é facilmente descoberto por dedos apontados. "Desce daí moleque! Desce!"; "Cuidado para não cair"; "Cara, antes de descer põe para dentro e fecha o ziper". Pai chamado as pressas sem saber o ocorrido chega em casa e senta a frente do cabisbaixo adolescente e sua mãe séria explica a inaceitável besteira. Não teve bronca, o pai caiu na gargalhada, não conseguiu falar nada, acompanhado pelo filho. Aliás, bronca bem dada. Retomado o folego pediu para o filho tomar cuidado. Assunto encerrado.

Pedalar em completa liberdade é ter a frente as maravilhosas tetas da liberdade. Mas as tetas da liberdade definitivamente não são airbags, muito menos amortecem a porrada. Pedalando, besteira não costuma terminar em risos. Em muitas ocasiões é na besteira que está o bom caminho, mas é preciso saber olhar para não ofender nem tomar um murro na cara. Respeito é bom e todo mundo gosta.

Da molecagem o mais sério, fora o desrespeito à menina, seria ele ter caído do telhado, um acidente besta que normalmente não termina bem. Poderia ficar aqui contando histórias horrorosas das fraturas, rupturas de ligamentos, lesões permanentes na coluna vertebral e outras mais de pessoas que caíram do telhado e só voltam a vida normal depois de longa recuperação. Quem caiu aprendeu da maneira mais estúpida que ser displicente em certas situações é de uma burrice sem tamanho.

Chapar um carro de frente é acidente horroroso, dependendo da velocidade do ciclista e automóvel fatal.

Domingo de manhã na rua Canada e passou um casal pedalando tranquilamente exatamente no meio da rua e na contramão. A rua Canada é tranquila, naquela hora, cedinho, ouvia-se claramente os pássaros, e pedalar na contramão pode parecer não tão problemático. Mas se aproximar e entrar na av. Brasil da forma como fizeram, exatamente no meio da rua, devagar, distraídos, um olhando para o outro numa conversa sem fim, completamente alheios ao trânsito da avenida e sem olhar para ver se vinha alguém... Tivesse um carro dobrado a esquina simplesmente não teria para onde desviar. É o tipo de situação que a a cada dia é mais comum. Não há estatística sobre acidentes provocados por ciclistas completamente displicentes.  

Você é o coelho e o carro (ou moto) é a bala do caçador. Só em filme de ficção o coelho desvia de bala certa. Não existe ciclista que pedalando na contramão consiga desviar de um carro que vem rápido. Mais, na contramão você está fora do olhar normal do motorista (motociclista, pedestre). Na contramão você está praticamente invisível, especialmente nas esquinas. 
Nunca ouvi falar de motorista que quer chegar em casa com o capo amassado e o para-brisa quebrado.

Um dia o pai de um amigo deu uma bronca federal na minha presença: "Quer fazer merda? Pelo menos faz bem feito!" Verdade. Vai fazer besteira pelo menos faça de forma a não se machucar ou machucar os outros.