quarta-feira, 30 de novembro de 2022

Casa projetada por Oscar Niemeyer não é tombada pelo DPH

Passo com frequência na frente de uma casa próxima à Praça Panamericana, Alto de Pinheiros com muita atenção e curiosidade. Da rua pouco se pode ver pela grade vazada de barras de ferro e o farto ajardinamento nada além de uma parede lisa em concreto e uma fachada lateral levemente curvada frente a um jardim com árvores. Nunca consegui saber de quem era o projeto. Sempre imaginei que uma outra casa próxima dali, também em concreto e construção levemente curvada com amplas janelas em madeira, sala envidraçada dando tanto para a garagem e jardim, piano de cauda no meio, fosse do mesmo arquiteto. O que nunca tive dúvida é que as duas construções são fruto de arquitetos de primeira linha construídas provavelmente nas décadas de 60 ou 70. 

Foi publicado no Estadão o comunicado de uma exposição de arte montada numa casa projetada por Oscar Niemeyer que só poderia ser vista marcando data e hora. Rapidinho tentei marcar, mas já estava esgotado. Ironia do destino estou passando mais uma vez pela frente da casa, que não sabia ser a mesma que sempre me despertou curiosidade, vejo o segurança na porta conversando com uma senhora, dou meia volta, pergunto ao segurança se existe alguma forma de ver a exposição sem ter conseguido marcar a entrada pela internet, e a senhora me diz "Eu vou entrar. Estou esperando uma amiga que não chegou. Você quer entrar junto?" e virando para o segurança perguntou "Ele pode entrar comigo?"; "Pode" respondeu, e por pura sorte entrei. 

A casa é simplesmente maravilhosa e não por ter a assinatura "Oscar Niemeyer", mas porque é agradabilíssima, iluminada, bem projetada, racional. A exposição que foi montada nela tinha obras de primeira linha, mas a imponência da arquitetura se impôs para mim.

Na saída conversei com o responsável pela exposição, funcionário da Fundação Oscar Niemeyer, que disse que a casa está à venda e não está tombada. Quase caí de costas. Apavorante! Com o nível de mediocridade que vivemos se corre o risco de um novo rico semianalfabeto demolir este patrimônio cultural e histórico não só do Brasil, mas da humanidade, para construir uma cópia de palacete eclético europeu do início do século XX em versão peru no pires três andares + ampla garagem no subsolo. Exagero meu? Niemeyer é o mais conhecido por aqui, mas são inúmeros os arquitetos brasileiros de sua geração que têm uma obra respeitadérrima mundo afora. Muitas das obras primas destes arquitetos menos conhecidos (aqui) foram demolidas para a construção de cópias chiques do primeiro mundo ou arquitchetchura tupinãodá. Exemplo recente e deprimente desta terra arrasada é uma casa térrea de raríssima qualidade arquitetônica espalhada pelo terreno, jardim contornando sem grade, frente a av. Pedroso de Moraes, única, que acaba de ser demolida, um crime. Quem se importa?

Murillo Marx, Professor Titular de História da Arquitetura da FAU USP; primeiro Diretor do Patrimônio Histórico do Município de São Paulo; CONDEPHAT, dizia que São Paulo provavelmente era o acervo arquitetônico mais rico do planeta, com uma diversidade de estilos e épocas único. Repetindo: São Paulo provavelmente era... O que já foi mandado abaixo é uma barbaridade, um crime em nome do progresso, que eu prefiro chamar de "pogueço" e "mudernidade". Deprimente 

Fórum do Leitor
O Estado de São Paulo

Em conversa com funcionário da Fundação Oscar Niemeyer descobri para meu espanto que a casa no Alto de Pinheiros projetada por Oscar Niemeyer está a venda sem ser tombada pelo DPH. Depois de o Museu Nacional ter virado cinzas é simplesmente inacreditável que as joias de nosso patrimônio histórico não esteja minimamente protegido. Por toda São Paulo, a bem da verdade por todo Brasil, o número de construções históricas que vem sendo demolidas em nome de um dito progresso incerto é assustador. A obra de Oscar Niemeyer é a mais conhecida, considerada patrimônio da humanidade, mas o Brasil teve uma geração de arquitetos geniais que são conhecidos, reconhecidos e respeitadíssimos mundo afora. Aqui suas obras viram da noite para o dia entulho, assim e como sempre nossa história. Reconheço as inúmeras dificuldades de preservar tudo, dificuldades que deveriam ser discutidas de forma mais aberta, mas o que vem acontecendo é um crime. Uma coisa é revitalizar a cidade, outra, completamente diferente, é não respeitar o espírito dos cidadãos, o carácter e a alma da cidade. Quem ganha quando se fecha os olhos para a selvageria? Só um grupo muito seleto.






















segunda-feira, 28 de novembro de 2022

viver com 10%

Uma amiga que hoje vive em Londres está aqui em São Paulo, na minha casa, para fazer um tratamento dentário. Como de hábito entrego a casa para os visitantes e vou para o apartamento de Teresa. Desta vez a estadia vai demorar um pouco mais, melhor, bem mais que o previsto, mas não é o caso. Quando Cristina chegou tirei o básico para viver fora uns dias: umas cuecas, bermudas, camisetas, meias..., o que cabia dentro de uma mochila tamanho normal, 35 litros. Nenhuma novidade, exceto pelo fato que desta vez confirmei que não faz sentido ter tudo que tenho. Não sei onde nem quem falou sobre a quantidade absurda de bens que cada um de nós temos hoje em dia se comparado ao que tínhamos na década de 60 ou 70, por exemplo. Fato é que estou me virando muito bem e feliz da vida com um algo em torno de 10% ou menos do que normalmente tenho disponível. Para que serve ter tantas coisas?

Faz muito tempo que venho me perguntando para que tanta bicicleta espalhada dentro do apartamento de Teresa, não vou contar de novo, mas creio que nove; não 10. A pergunta também vem se repetindo cada dia com mais frequência quando estou sentado na sala de minha casa olhando o amontoado de coisas, objetos, brinquedos e memorabilias, roupas, pratos, potes... Não faz sentido. Perdulário, é isto? Ou acumulador? Socialmente normal, mas ambientalmente desequilibrado, insensato, irresponsável. Quanto mais melhor? Com certeza que não. Ter mais que o necessário mais confunde que ajuda, não deixa as ideias respirarem, ganharem fôlego, partirem para a consistência. Não estou falando baboseira, mas repetindo conhecimento comprovado, ciência. Menos é mais, sabedoria milenar.
No consumo desenfreado estamos repetindo o "minta, minta, minta um milhão de vezes e a mentira se tornará verdade" um dos princípios do nazismo e agora do terraplanismo. Compramos, compramos, compramos e nos entulhamos de coisas, a nossa felicidade de mentira. Eu num 'guento mais.  

Cada dia com mais frequência tenho fugido de casa. Preciso dar um jeito na minha casa, no meu armário, na minha vida, preciso respirar, preciso voltar a trabalhar leve, pensar leve. Difícil, muito difícil.

cabides, cabides, cabides, são os deliciosos cabides de..

Ajudei a desmontar um apartamento onde moravam uma produtora de moda, um produtor de vídeos, um adolescente e um guri de 2 anos. Esquece as crianças, vamos ao que saiu do armário dos adultos. Meu trabalho foi organizar os cabides; ("Como assim?") sim, cabides. Contei nada mais que bons 550 cabides, mais pelo menos uma centena de cabides de arame ou de plástico quebrável de péssima qualidade que foram para o reciclável. Separei todos os bons por forma e qualidade e fiz a festa de um monte de gente. 
Óbvio que se tem cabide deve ter roupa. Pendurados nos cabides, fora o que havia nas gavetas, um absurdo de roupas, de tudo quanto é jeito, uso e moda, a maioria femininas, se eu disser umas 350 roupas vou estar errando por baixo. Nunca vi tanta roupa junta, nem em loja. O casal e guri se mudaram para Itália levando consigo 3 malas grandes e três malas de bordo; deixando por aqui para serem levados por pais e amigos outras 7 malas grandes (até onde sei); mesmo assim doaram o que encheria uma Kombi de vestidos, calças, camisas, lenços, suéteres, casacos, camisetas, cintos, meias, sapatos... Maluquice? Não, síndrome que se abate sobre nossa sociedade perdida independentemente do nível social: quanto mais melhor. 

Ciro Marx em sua época, morreu nos anos 70, foi considerado um dos homens mais chiques e bem-vestidos de São Paulo. Em seu discreto armário se encontravam perfeitamente lavadas, passadas, dobradas e acomodadas 4 camisas, 4 gravatas, 4 calças, 4 casacos, 4 cintos..., o estrito necessário. Homem chiquérrimo respeitado pela sua fluidez social. Ciro estava sempre impecável. Como? Simples, se uma peça do vestuário estivesse com qualquer imperfeição imediatamente era substituída por outra nova e a velha doada. Que inveja! 
Cada peça que tenho guarda uma história particular da qual não consigo me desvencilhar. Quero viver hoje, mas...

Tenho que ler o "Small is beautiful" do Ernst Friedrich Schumacher. Já ouvi algumas palestras sobre "menos é mais", faz todo sentido, mas o livro em si não li, está debaixo de minha cama eternamente na fila. Li o curto e incisivo texto "Energia e equidade" do Ivan Illish. Hoje sou muito muito menos consumista do que era antes, mesmo assim gostaria de ser bem menos, muito menos, muito muito menos. Tenho maturidade e cultura suficiente para sentir na alma que o simples, o menos, é muito mais proveitoso. 
 
Continuo sendo um cidadão padrão, leia-se acumulativo, mesmo sendo muito menos que o geral. A cada dia estou mais exausto e me perguntando para que tanto? Quero ser gente, não comprar existência social.

A COP27 que acaba de acabar fez um pedido desesperado pela racionalidade em nome da sobrevivência de todos. Aposto que só a minoria da minoria sabe o que é COP27 e muito menos o que eles discutiram e menos ainda o teor do documento que soltaram. A bem da verdade também não li o texto final, mas em linhas gerais sei muito bem sobre o que se trata. Eu sinto na pele que "mais é melhor" definitivamente não funciona.

O casal que foi e já está instalado em Roma recomeça a vida numa Europa que terá problemas sérios com aquecimento das casas neste inverno que se inicia. Como brasileiros eles tem uma vantagem: estão acostumados com frio dentro de casa. Nossas casas não tem aquecimento nem vedação, são muito frias para o padrão americano e europeu onde se mantém a temperatura interna de 26ºC para cima. Na Europa eu dormia com a janela um pouco aberta ou fritava com o aquecimento interno. O casal hoje romano conta que outro dia passou pela porta aberta do vizinho do andar de baixo e ficaram assustados com o bafo que saía de lá. Os governos estão pedindo que se mantenha a calefação em 19ºC máximo, agradável para nós brasileiros, frio para eles, europeus.

Não sei o que vai acontecer quando voltar para minha casa. Sim ou sim tenho que reformar o banheiro e trocar minha geladeira que não tem mais conserto. E sim ou sim tenho que me livrar de um monte de coisas que estão lá dentro e que se por um lado contam minha história de vida pelo outro me angustiam. Não culpo a loucura dos outros e talvez isto é uma forma de escusa para minha própria loucura. Uma coisa todos, incluindo eu, temos certeza: do jeito que está não pode continuar, o planeta simplesmente não aguenta.

terça-feira, 22 de novembro de 2022

Qualquer discussão rasa afeta o mundo ESG e tudo mais

Environmental, Social and Governance
os três intimamente ligados e interligados

"Pessoas que jamais trataram de assuntos densos começaram a tratar deles sem robustez e passamos a ter discussões rasas" - Fábio Alperowitch

Será que nestes tempos de rede social e... e... e... os Twiter da vida com suas reduzidíssimas palavras eu preciso explicar o que é discussão rasa? Espero que não. Sendo justo tenho a dizer que discussão rasa não é nenhuma novidade, sempre foi uma prática útil para certos fins, mas só piorou muito, muito mesmo. 
Neste momento de discussão planetária sobre nós e eles o pensador Andrei Pleşu coloca com conhecimento que "As ideologias não estão preocupadas em encontrar e expressar a verdade por seu valor de verdade. O que lhes interessa é confeccionar uma verdade utilizável. Em outras palavras, "a verdade" não é, para o ideólogo, senão um instrumento manipulador, um dispositivo apto a servir, funcionalmente, um interesse político determinado e um projeto de ação". E viva o efeito boiada. 
Estes campos de redução de inteligência, portanto de discussões rasas, vêm de longa data, como vêm!
   
Estamos sendo entrevistados pelo IBGE, eu fui no questionário básico que é muito mais reduzido do que esperava. E quando entrei em contato com meu entrevistador ele contou que dos 200 papeis pedindo retorno que deixou nas caixas de correio das casas por onde passou sem encontrar ninguém fui o único que retornou. Literalmente deprimente; efeito cloroquina provavelmente.

Viva o churrasco com cerveja e amigos. Viva!

Neste domingo passado não vi os cones de Ciclo Faixa de Domingo, mas como sempre acontece quando a ciclo faixa não é montada vi ciclistas pedalando à esquerda como se lá os houvesse. Fato comum. Parei para orientar uma menina jovem, uns 18 e linda, que vinha pimpolha à esquerda da av. Brasil na altura da Nove de Julho com os carros esquentando sua orelha e brincos como se o que não existisse fosse ela. Induziram toda população a pedalar na esquerda e é isto que dá.
Os demais, muitos, que se aventuravam pelas invisíveis porque inexistentes Ciclo Faixas que deveriam estar conificadas seguiam felizes à esquerda para meu completo pavor. E mais um carro passa raspando; "Ufa! desviou!" e seguiu em frente mão na buzina provavelmente mandando saudações à mãe do ciclista; e com toda razão. O que eles fazem a esquerda (da rua)? 
Sem os cones como fica o uso de bicicletas como prática ambiental, social e de boa governança? A resposta é um tanto complexa, bem a frente da luta por uma causa, mas quem se interessa. Eu quero o meu, ponto final. Carros malvados! Conificar vias nos fins de semana é como reflorestar uma área devastada com eucalipto. Para quem não entendeu, a área fica verdinha, reflorestada, linda de se ver, mas a verdade é que o bioma não foi restaurado, muito pelo contrário, criou-se com o simplismo outros problemas. Sem aprofundamento da discussão, solução rasa. Ciclo Faixas prestaram grande serviço no estímulo, mas não se transformaram em mudança ambiental da cidade, muito pelo contrário. A discussão foi rasa e aceita em nome da causa; fortaleceu a ideia que bicicleta é para fim de semana e carro, o grande problema, é para a semana. Mais: pedalar só é seguro quando segregado. Mais ainda: e a cidade que existe fora das vias conificadas, existe?
Discussão rasa: Levar a discussão da segurança do ciclista para dois vocábulos, ciclofaixa e ciclovia, é para lá de discussão rasa. Daí Ciclo Faixa de Domingo é meio que consequência, ou seja, conversa rasa. 
   
Discussão virou politizar, primeiro erro ou erro primário, a escolha é sua e está aberta a discussão. 
Politizar alguns temas é uma besteira que não tem tamanho e estamos politizando tudo numa escala completamente irracional. O que deveria importar numa discussão é o resultado alcançado, o mais abrangente, portanto melhor possível, nunca a forma. A questão é que na maioria dos casos a equação está se restringindo a 2+2=4, quando tanto, ou pior, em discutir se 2+2 pode ou não resultar em 4 como já afirmou um(a) presidente(a) num brilhante questionamento metafórico da tabuada. Agora cloroquina. 
Discussão: a complexidade da vida está muito mais para a equação do caos, algo como esta figura com uma equação a seguir que não faço a mais remota ideia do que signifique. Tenho ideia do que possa ser, mas paro por aí, não dá para discutir sobre, disto procuro ter esta consciência, procuro.

O simplório (ou o despreparo extremo) sempre vai deixar futuras arrestas, algumas incontornáveis. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa, não tão simples assim.

O governo que sai simplesmente implodiu as práticas ambientais, sociais e principalmente de governança. "A terra é plana", ponto, e a boiada foi atrás. A maluquice não começou com eles, mas foi refinadíssima por eles.
Infelizmente funciona assim: num projeto de ampla repercussão as discussões iniciais por aqui não costumam ser rasas, mas a medida que o processo vai evoluindo as variantes vão encolhendo, encolhendo, encolhendo até atender a interesses particulares os mais rasos possíveis. 
Talvez o lado bom desta barbárie que espero tenha ficado para trás é a retomada de discussões que não sejam tão rasas. 

"Pessoas que jamais trataram de assuntos densos começaram a tratar deles sem robustez e passamos a ter discussões rasas"
Discussão rasa afeta mundo ESGentrevista - Fabio Alperowitch, especialista em investimento ESG. é sócio da Fama Investimentos. fundada em 1993 /
Estadão - BLUE STUDIO / 20 de novembro de 2022


ESG é uma sigla em inglês que significa environmental, social and governance, e corresponde às práticas ambientais, sociais e de governança de uma organização. O termo foi cunhado em 2004 em uma publicação do Pacto Global em parceria com o Banco Mundial, chamada Who Cares Wins. Surgiu de uma provocação do secretário-geral da ONU Kofi Annan a 50 CEOs de grandes instituições financeiras, sobre como integrar fatores sociais, ambientais e de governança no mercado de capitais. Na mesma época, a UNEP-FI lançou o relatório Freshfield, que mostrava a importância da integração de fatores ESG para avaliação financeira. Já em 2006, do PRI (Princípios do Investimento Responsável), que hoje possui mais de 3 mil signatários, com ativos sob gestão que ultrapassam USD 100 trilhões – em 2019, o PRI cresceu em torno de 20%.

segunda-feira, 21 de novembro de 2022

No bom pedal "Ninguém fica para trás" - (Estadão Blue Studio / Mobilidade)

O primeiro passeio noturno de bicicleta foi realizado em São Paulo numa noite quente de 1988. A partir daquele "Night Bikers" saindo do Estádio do Pacaembu para o Centro a delícia não parou de crescer. Durante muito tempo a maioria dos grupos de pedal eram pequenos e por princípio havia um cuidado muito especial de nunca deixar ninguém sobrando. Creio que mesmo no grupo da Trilha de Luizinho, de longe o maior grupo de São Paulo daquele início dos anos 90 que saía do Tremembé com mais de 1.000 ciclistas, ninguém era esquecido.
Hoje a regra do ninguém fica para trás é respeitada pela quase totalidade dos ciclistas. É comum ver grupos numerosos parados na calçada esperando o conserto de um pneu furado. Para e tagarela sem afobação. Assim deve ser. Com os mais lentos sempre tem alguém ou alguéns num para trás pode até ficar; sozinho e abandonado jamais. 

Lembro muito bem o quanto fiquei bravo, para dizer o mínimo, quando vi pela primeira vez uma menina abandonada por um desembestado grupo. Eu estava no fundo do passeio, vi a jovem pendurando a língua, passei a acompanhá-la, avisei aos gritos para diminuírem, mas que nada, eles precisavam provar que eram os gostosos. Sumiram e a abandonaram, olha só, justamente a patrocinadora do grupo. Pedalei em outro grupo cujo lema era "vai quem quer, volta quem pode" e saí quando o lema passou da gozação para uma triste realidade. Exceções, felizmente, e muito fácil identificar quem quer provar que é o bom no pedal e não está nem aí para os outros. De minha parte digo: fuja deles, até porque se fossem tão bons assim comportariam se como verdadeiros ciclistas, ou seja, com um coletivo.

Segundo a matéria publicada no Estadão a Ciclocidade diz que são "cerca de 300 grupos", só não está claro se estão na região metropolitana ou na cidade de São Paulo. Até onde sabia eram uns 110 grupos que aparecem num PDF que está na Internet, o que já é notável. Sempre há um guia e ciclistas orientadores ou "apoio", como são chamados, boa parte são grupos uniformizados e têm por princípio pétreo "ninguém fica para trás". É comum fecharem os cruzamentos para todos ciclistas passarem juntos, o que deixou uma marca entre motoristas, que, diga-se de passagem já acostumados, que até reclamam, mas no fundo veem a situação com carinho, disto não tenho dúvida. Virou patrimônio de Sampa. 

Como em todas as atividades humanas têm os que mancham as boas práticas. 
Primeiro foram dois ciclistas sem luz ou refletores que cruzaram a av. Brasil a pleno pedal. Mesmo eles tendo passado longe de mim tomei um susto e imediatamente no canto do olho vi um terceiro que vinha a toda e também cruzou batido sem olhar o para os lados portanto sem me ver. Não passou perto, mas me deixou bem esperto. "Se vieram três deve vir mais", e vieram. Eu já estava quase no cruzamento da rua Colômbia e dei um grito para não ser atropelado pelos outros três ciclistas que também cruzavam a av. Brasil sem olhar nem os carros e muito menos para mim, ciclista como eles. E ainda ficaram bravos porque chamei atenção.
Foi uma sensação muito desagradável porque achei que os dois últimos iam me acertar no meio. Tem muito motorista que reclama destes ciclistas que são minoria e deixam uma imagem negativa para a maioria. Fico triste também que os próprios ciclistas não deem um basta nesta minoria. 

quinta-feira, 17 de novembro de 2022

Bicicletaria invisível; um exemplo de Custo Brasil

Descobri que no meio do caminho por onde passo com frequência tem uma bicicletaria e não descobri por que vi, mas porque alguém viu, entrou e comentou, portanto ela existe. Distração minha? Não.
Mais uma vez pelo mesmo caminho, agora avisado, acredite, de novo não vi a bicicletaria. Praticamente invisível. Eu teria passado batido achando que quem me avisou estava louca, mas diminuindo a velocidade da bicicleta e sabendo exatamente onde deveria estar acabei encontrando. De fato está lá com seu letreiro por trás do vidro.

Quem perde com a invisibilidade de um negócio? A princípio o proprietário, mas definitivamente não só ele. Parece um detalhe, mas pode muito bem ser encaixado como exemplo de "Custo Brasil".

São Paulo aprovou a lei Cidade Limpa que removeu a absurda poluição visual que tínhamos antes. Eu aplaudi, aplaudo e continuarei aplaudindo a limpeza. É assim em qualquer lugar civilizado. O caso desta bicicletaria é diferente, ela simplesmente está praticamente invisível, não tem sequer uma plaquinha do lado de fora e o reflexo nos vidros dificulta ver o nome e o que tem dentro. 

Entrei e conversei com o simpático proprietário da D'Huez Bike Shop, Daniel, um ex-ciclista profissional de estrada que correu por 20 anos pela principal equipe de então, a Caloi. Conhece o que faz. A bicicletaria 'invisível' é muito legal, pequena, justa, bem organizada, limpa, aconchegante, com um ótimo atendimento. Tem um jeitão das boas bicicletarias da Europa. Mas da rua é praticamente invisível. Por que invisível? O condomínio não permite que as lojas que circundam o térreo do edifício coloque qualquer nome ou cartaz na fachada. Sei lá qual a razão ou razões, mas não faz sentido. A loja vizinha tem um destes letreiros eletrônicos, briga constantemente com o condomínio e paga multa todo mês.

Tem gente que gosta de encasquetar com umas coisas que não fazem sentido, são contraproducentes. Pior quando quem encasqueta tem poder na mão. A rua Augusta tem várias pequenas galerias que hoje estão com um monte de lojas vazias. Precisei entrar em duas para conseguir serviço, numa de costura e noutra de relojoaria; nas duas fui impedido pelos seguranças de entrar com a bicicleta e estacionar na janela dos negócios mesmo com o pedido de permissão dos proprietários dos negócios. "Não pode!" Por mais razões que tenham que se dane o monte de loja vazia, que se dane as perdas das galerias, que se dane quem ainda está lá sobrevivendo e precisando de clientes, que se dane tudo, "não pode" e ponto final. 

Irracionalidade e falta de bom senso tem custo. Os exemplos que dou aqui são banais, mas os causos são intermináveis. Colocando isto em uma escala nacional tem nome: Custo Brasil. Perdemos todos, sem exceção, e não perdemos pouco, perdemos uma barbaridade. "Que pobreza!"

Hélio Beltrão, criador do Ministro da Desburocratização do Brasil, 1979 é meu herói. Estou a espera de um novo herói, desta vez para criar o Ministério do Bom Senso e da Sensatez, mas esta vai ser missão difícil, praticamente impossível. 
Como sempre lembro, a velha sabedoria diz que "Mingal quente se come pelas bordas". Enquanto não tirarmos da frente os encasquetadores de plantão que emperram as coisas mais bestas não vamos colocar este país nos trilhos. Bons exemplos temos. Uma amiga brasileira que hoje é cidadã inglesa trouxe os filhos para regularizar seus documentos. Foram ao Poupa Tempo e rapidinho estavam com tudo em órdem. Ela e os filhos ficaram pasmados com a eficiência. "Nem na Inglaterra".

quinta-feira, 10 de novembro de 2022

NY: mais de 200 incêndios em baterias de veículos elétricos



Mundo a fora são várias as notícias sobre incêndios em veículos movidos a eletricidade. Já vi vários filmes de bicicletas, patinetes, carros e até um ônibus explodindo em um fogo incontrolável. O mais impressionante foi o incêndio num navio que transportava milhares de carros de luxo híbridos e elétricos que não só queimou inteiro como foi para o fundo do mar, tragédia ambiental. Não é regra, mas exceção que perturba. A bem da verdade os elétricos ainda são uma novidade que estão no topo da pauta e qualquer fato vira notícia, principalmente se for tragédia. 
O incêndio que aconteceu num edifício da 52st em NY chamou a atenção de que as consequências destes defeitos nas baterias, ou em seus sistemas ou causados por má operação, sei lá, podem gerar problemas muito mais graves que o simples (simples?) carbonizar de um veículo. O que parece é que depois que começou o fogo numa destas moderníssimas baterias não há forma de parar. 
Outro detalhe que chama atenção na matéria do NY Times é que tinha uma placa que proibia a entrada de bicicletas elétricas no edifício (tradução livre), sinal de que o problema já é bem conhecido e preocupa. Queimaram 5 bicicletas elétricas, o que levanta a suspeita que estavam em manutenção num edifício residencial de 20 andares, mais outro problema, senão ilegalidade. Dos resgatados 38 moradores acabaram no hospital. Estão relatados pelas autoridades de NY outros 200 incêndios relacionados com baterias elétricas; assustador.
Desconheço casos iguais por aqui, mas confesso que fiquei muito preocupado com a bicicleta elétrica que Ana Elisa guarda dentro do apartamento, o que deve ser mais comum e preocupante que eu possa imaginar. 
Sei que uma oficina de carros caros e sofisticados tem por precaução depois de encerrados os trabalhos diários manter um atento funcionário especializado em elétricos e incêndios.  As bicicletarias não tem condição de ter alguém olhando. Luiz só não perdeu toda sua por pura sorte; foi avisado por um vizinho e como mora próximo conseguiu entrar e controlar a situação. Ele contou que outro dia aconteceu um incêndio numa loja de motos elétricas novas. 
Enfim, o problema existe, só não se sabe a escala que estamos tendo aqui no Brasil. É para ficar com orelha em pé.
Soube que um especialista recomenda que mesmo com as bicicletas elétricas caras, topo de linha, que se mantenha um balde de arreia e um extintor próximo quando der a recarga. Upa!




quarta-feira, 9 de novembro de 2022

Boldrin e Gal, com muita dor digo tchau

+As imagens que passam nas TVs contando, homenageando, duas peças fundamentais não só de nossa música, mas de nossa história, história de um Brasil múltiplo, profundamente complexo, rico, por mais que sejam precisas não fazem justiça à importância que Boldrin e Gal tiveram para este mesmo Brasil, Brasil que só conhecemos um pouco, muito pouco. Pena. 
Vindo para o computador para escrever algo que não sabia o que, estômago embrulhado, vi o por do sol alaranjado na Praça do Pôr do Sol, belíssimo, e este foi deles. Inesquecíveis, de certa forma faz bom tempo meio esquecidos, meio de escanteio. Pena. 
No supermercado a caminho de casa encontrei um jovem jornalista com uma camiseta de Woodstock, o original, 1969, e ele discursou seu sonho atávico, paz e amor, não a guerra. Mesmo jornalista, portanto investigativo, é apaixonado pela imagem, pelo sonho, lhe falta ter vivido no contexto da época. Somos assim. Neste Brasil perdido e sem memória somos mais perdidos ainda. O que foi aquele Brasil?
O velho mecânico de bicicletas falou pela primeira vez em nosso longo e sempre rápido relacionamento sobre algo não relacionado a bicicletas e para meu total espanto citou Lima Barreto que "era negro, bêbado e marginal como eu". Nunca soube que era um devorador de livros de história e que agora está "lendo autores que foram esquecidos até pela intelectualidade da USP". Olhávamos e seguimos olhando o próprio umbigo. Boldrin e a geração de Gal nos fizeram levantar a cabeça e olhar em volta.

No fim da manhã soube da morte de Gal Costa. Só consegue realmente entender o impacto que a Tropicália e os Doces Bárbaros causaram quem viveu aquela época fechada e tradicionalista de nossa sociedade. A comparação com os revolucionários de hoje e de faz um bom tempo são patéticas, ignorantes, para dizer o mínimo. Gal de pernas abertas e peitos de fora, cabelos black power e uma sonoridade afinadíssima e refinadíssima, nova. Nova! Gesto e canção, música pura, arte; mas muito além: fez história. Gostava, não fã, mas reconheço o valor brasileiro. "Sou uma cantora brasileira" dizia ela. Poucos entendem o significado desta afirmação, precisa ter estofo para chegar lá. 

E no fim da tarde vem a notícia da perda de Rolando Boldrin. Felizmente a obra de vida dele e de Inezita Barroso estão fartamente documentadas. Difícil que aconteça um incêndio como o da TV Record que queimou grande parte de nossa história. Quando soube da perda de Boldrin imediatamente me veio a cabeça o incêndio no Museu Nacional. Exagero a parte, Boldrin expôs um Brasil perdido na cegueira para estes interiores e sertões de botecos, rádios, cantores e duplas como Tonico e Tinoco que vendiam mais que Roberto Carlos. Boldrin, "O senhor Brasil", abriu as portas... Abriu as portas! Dele eu era fã. 
 
A mudança social tão necessária que está aos trancos e barrancos em curso neste país começou com uma geração de uma riqueza impressionante, daquelas que temos que agradecer aos céus por existirem. 
Por mais que sejam feitas homenagens a Boldrin e Gal elas serão pelo que fizeram como artistas. Poucos saberão dimensionar a imensidão do que eles fizeram para o enriquecimento de nossa história.

Saia na Noite 30 anos

2017: prontas para sair da pizzaria Primo Basilico, ponto de encontro 

Em outubro de 1992 um pequeno grupo de mulheres se reuniu na Casa Europa para tomar uns drinks e no meio da conversa surgiu o Saia na Noite, até onde se sabe o primeiro grupo de "mulheres no pedal", como elas gostam de serem lembradas, oficializado no Brasil. Uns dias depois elas saíram para pedalar juntas pela primeira vez já como "Saia" pelas ruas tranquilas dos Jardins. Passaria desapercebido não fosse o contexto daquele Brasil de então. 
Naquele tempo mulheres pedalando nos centros das grandes cidades não era fato comum. Em São Paulo e nos Jardins, área nobre e tradicional da cidade, menos ainda. Mesmo com o surgimento do mountain bike no Brasil quatro anos antes, em 1988, com a chegada das bicicletas importadas a partir de 1990 e a consequente moda que se seguiu em bairros ricos de São Paulo e Rio, contava se nos dedos o número de mulheres de classe média e alta pedalando. Sendo mais preciso, naquele tempo bicicleta no Brasil, mesmo com todo interesse despertado pelas importadas, ainda era visto como "coisa de pobre", "muito perigosa", "para meninos e homens", quando não descriminada e debochada pela elite motorizada. E havia um pequeno detalhe pouco conhecido:  um terço da população brasileira usava a bicicleta como modo de transporte (ABRACICLO 1992 - IBGE 1981), sendo que boa parte por mulheres e meninas de baixa renda. Os dois grandes fabricantes de bicicleta do Brasil, Caloi e Monark, colocavam no mercado mais de 4 milhões de bicicletas/ano, a maioria básica, e o modelo popular mais vendido eram as de cano baixo, femininas. Mas, repito, isto acontecia fora dos grandes centros, portanto longe da grande imprensa, e aí entra a grande diferença que o Saia na Noite viria fazer.

Saia na Noite nasce "... para se encontrar, conversar, para poder fazer fofoca, falar mal de todo mundo sem homem enchendo o saco..." diz Teresa D'Aprile rindo da conversa que tiveram na Casa Europa Nilva, Silvia Roseto, Vera Brilho, Elia, "e a menina que criou o logo que eu não me lembro o nome", completa Teresa envergonhada com o esquecimento. 
As meninas do Saia na Noite nunca tiveram a intenção sequer sonharam em aparecer, chamar mídia, fazer sucesso. Queriam se divertir e ter um momento delas, nada mais, simples assim. Mas esta curiosa reunião ao pedalar estava destinada a não passar desapercebida, e não passou. Deram entrevistas para rádios, TVs, jornais, revistas e mídia eletrônica, o que acabou por influenciar o surgimento de novos grupos de mulheres por todo Brasil.

A partir de novembro de 1992 passam a sair semanalmente às noites de terça-feira. O primeiro passeio uniformizado, que elas se referem como "oficial", aconteceu em 08 de março de 1993, Dia Mundial das Mulheres, quando foram convidadas mais mulheres e o grupo realmente cresceu. Na manhã de um destes Dias da Mulher chegaram a sair com 120 "meninas", uma divertida barulhenta algazarra de conversas e fofocas que cortou o sul paulistano. Em certos domingos saiam em passeios especiais para pedalar em novos lugares ou até mesmo parar num boteco para beber e petiscar. Diversão sem regras, mas com cuidado especial para todas. Ninguém fica para trás.

Mais e mais mulheres decidirem se juntaram ao grupo, algumas partindo para novas experiências, novos grupos. Nunca foram numerosas no pedal, o que ajudou na troca de conversas e a formar amizades fortes. Bastava ser mulher, não interessando a idade, a história, quem eram, o que faziam, pensavam ou pretendiam com o pedal, uma mistura social ampla, de origem, educacional, cultural, pensamentos, atitudes... Boa parte das que se juntaram ao grupo o fizeram pela certeza de que seriam acolhidas mesmo que se sentissem inseguras ou não pedalassem bem ou até caso não soubessem pedalar, o que aprenderam com aulas particulares oferecidas pelas próprias do Saia para depois juntar-se bem-vindas ao grupo. Esta neutralidade resultou num profundo respeito de outros grupos do pedal, independente de masculinos ou femininos.
Saia na Noite comemoração dos 25 anos. Teresa no centro com camiseta branca. 

Aos 25 foi feito uma bandana comemorativa com mais de 300 nomes das participantes, a maioria ainda vivos na cabeça de Teresa. E agora o Saia na Noite 30 anos comemorado com muita pizza, chopps e risadas até a pizzaria fechar. A bem da verdade, até a última ligação entre elas "cheguei bem". Sim, 30 anos!

sexta-feira, 4 de novembro de 2022

Urge abandonar a mediocridade de nossas elites

Será que nós, brasileiros, sabemos o que de fato é elite e qual sua importância para a construção de uma sociedade estável, justa e sustentável? Quando passo pela memória a história de várias elites que tivemos, dos mais variados setores da vida nacional, respeitadas dentro e fora do Brasil, vejo que nós, brasileiros, temos uma impressionante capacidade de esquecer os bons exemplos, seus bons resultados e de destruir o que está bem-feito. Elite? Faz tempo que nossa opção tem sido pela mediocridade. 
Já tinha começado a escrever sobre a questão das elites quando saiu o artigo acima no Estadão, daí a modificação do título original deste texto que público para: "Urge abandonar a mediocridade de nossas elites", ênfase no plural "elites".

O que está havendo, perdemos a noção do que é elite? Estamos fazendo confusão de elite com liderança? Com o efeito boiada das redes sociais o conceito "elite" mudou radicalmente, virou sei lá o que que não entendo. Parece que a ansiedade desesperada pela novidade meio que cancelou nossas boas elites do passado e do presente. Quem está por cima (lidera?) tem consistência imediata para ser elite? 
Estamos vivendo uma transição planetária que ninguém se arrisca dizer no que dará? O que acontece daqui para frente?
Talvez com resultado das eleições e os acontecimentos tragicômicos pós eleições venhamos a ficar mais atentos às lideranças, às verdadeiras e representativas elites. Sonhar não custa nada, nem que seja com base na ilusão.
O Brasil é um país de memória curta; ou melhor dizendo, cada dia mais e mais pessoas tem a consciência que o Brasil não tem memória. Este é principal empecilho para que a compreensão necessidade e importância de termos, olharmos e ouvirmos uma elite que tenha consistência, mas não só.

Há muito que venho tentando encontrar o que poderia ser o nó maior que impede que este país deixe o lamaçal que estamos metidos não é de hoje. 
De certa forma encontrei uma resposta plausível no livro do pensador romeno Andrei Pleşu "da alegria no leste europeu e na Europa ocidental e outros ensaios", um dos livros mais marcantes que li em toda minha vida. São quatro palestras:
1 - Da alegria no leste europeu e n ocidental
2 - Das elites do Leste e no Oeste
3 - Tolerância e o intolerável: crise de um conceito
4 - As ideologias: entre o ridículo e a subversão
Andrei Pleşu em Das elites do Leste e no Oeste faz uma comparação entre o que era a sociedade romena antes e depois da queda do muro de Berlim. Discorre sobre o grave problema de não se ter elites ou tê-las medíocres e as consequências sobre as vidas dos cidadãos comuns, e não só sobre eles. Definitivamente elite não se relaciona única e exclusivamente a quem tem poder econômico como tantos querem e repetem, muito menos a quem impõe valores sociais que não se fundamentam como querem outros. Muito menos aos vendedores de ideologias, como o próprio pensador romeno coloca em sua última palestra do livro. 

Elite:

  1. o que há de mais valorizado e de melhor qualidade, esp. em um grupo social
  2. sociologia
    minoria que detém o prestígio e o domínio sobre o grupo social

Acredito que perdemos no Brasil a noção do que deve ser mais valorizado e de melhor qualidade. Noção do que é qualidade no Brasil? Qualidade só se estabelece com a estruturação de um caldo cultural consistente ou não se consegue entender o que é e para o que serve "qualidade".

Não sei de quem é a frase a seguir, mas tem tudo a ver com "elite":
Política com carácter, virtude e civilidade; esses atributos são vitais para reconstruirmos um país dilacerado pelo populismo, pela estagnação econômica, imoralidade política e degeneração do tecido social.
talvez seja deste artigo:
A reconstrução do Brasil e a escolha de cada um.
Quando fazemos política baseada em valores e princípios, focarmos a nossa atenção na qualidade das propostas que importam para o País.
Luz Felipe D'Avila, O Estado de São Paulo, 26 de outubro de 2022

Enfim: Diz me com quem andas e dir-te-ei quem és. Saiba eu com que te ocupas e saberei também no que te poderás tornar - Johann Goethe



quarta-feira, 2 de novembro de 2022

Outras possíveis consequências destes bloqueios de rodovias

Fórum do Leitor 
O Estado de São Paulo

Transporte e logística são cruciais para o mínimo funcionamento da vida de todo cidadão. Estes bloqueios devem servir para conscientizar o povo sobre quão crucial é seu bom funcionamento, o que pode ser proveitoso para uma abrir uma discussão mais profunda sobre políticas públicas mais progressistas, modernas, e aqui falo sobre eficiência, resultados. Por outro lado, estes mesmos bloqueios vão tirar apoio de todos os caminhoneiros, indiscriminadamente, o que pode ser um grande problema não só para a categoria, mas para a discussão e implementação de futuras políticas públicas.
Já desde o primeiro protesto dos caminhoneiros o Brasil despertou para que não podemos mais ficar sujeitos a praticamente só o transporte rodoviário e as leis vigentes. Desde aquele momento deveríamos ter aberto uma discussão em nível nacional sobre que ações tomar para o fato não se repetir, já que qualquer que seja o caminho tomado sua implementação é para médio e longo prazo, período no qual continuaremos sujeitos a paralizações suicidas para o país.
Mal que me lembre, transporte foi considerado área de segurança nacional pela ditadura. Por experiência própria sei que mesmo um inocente protesto de alunos contra a troca de um professor que fechou uma rua de bairro foi considerado ato terrorista (LEP, rua Tabapuã, 1973).