Será que nós, brasileiros, sabemos o que de fato é elite e qual sua importância para a construção de uma sociedade estável, justa e sustentável? Quando passo pela memória a história de várias elites que tivemos, dos mais variados setores da vida nacional, respeitadas dentro e fora do Brasil, vejo que nós, brasileiros, temos uma impressionante capacidade de esquecer os bons exemplos, seus bons resultados e de destruir o que está bem-feito. Elite? Faz tempo que nossa opção tem sido pela mediocridade.
Já tinha começado a escrever sobre a questão das elites quando saiu o artigo acima no Estadão, daí a modificação do título original deste texto que público para: "Urge abandonar a mediocridade de nossas elites", ênfase no plural "elites".
O que está havendo, perdemos a noção do que é elite? Estamos fazendo confusão de elite com liderança? Com o efeito boiada das redes sociais o conceito "elite" mudou radicalmente, virou sei lá o que que não entendo. Parece que a ansiedade desesperada pela novidade meio que cancelou nossas boas elites do passado e do presente. Quem está por cima (lidera?) tem consistência imediata para ser elite?
Estamos vivendo uma transição planetária que ninguém se arrisca dizer no que dará? O que acontece daqui para frente?
Talvez com resultado das eleições e os acontecimentos tragicômicos pós eleições venhamos a ficar mais atentos às lideranças, às verdadeiras e representativas elites. Sonhar não custa nada, nem que seja com base na ilusão.
O Brasil é um país de memória curta; ou melhor dizendo, cada dia mais e mais pessoas tem a consciência que o Brasil não tem memória. Este é principal empecilho para que a compreensão necessidade e importância de termos, olharmos e ouvirmos uma elite que tenha consistência, mas não só.
Há muito que venho tentando encontrar o que poderia ser o nó maior que impede que este país deixe o lamaçal que estamos metidos não é de hoje.
De certa forma encontrei uma resposta plausível no livro do pensador romeno Andrei Pleşu "da alegria no leste europeu e na Europa ocidental e outros ensaios", um dos livros mais marcantes que li em toda minha vida. São quatro palestras:
1 - Da alegria no leste europeu e n ocidental
2 - Das elites do Leste e no Oeste
3 - Tolerância e o intolerável: crise de um conceito
4 - As ideologias: entre o ridículo e a subversão
Andrei Pleşu em Das elites do Leste e no Oeste faz uma comparação entre o que era a sociedade romena antes e depois da queda do muro de Berlim. Discorre sobre o grave problema de não se ter elites ou tê-las medíocres e as consequências sobre as vidas dos cidadãos comuns, e não só sobre eles. Definitivamente elite não se relaciona única e exclusivamente a quem tem poder econômico como tantos querem e repetem, muito menos a quem impõe valores sociais que não se fundamentam como querem outros. Muito menos aos vendedores de ideologias, como o próprio pensador romeno coloca em sua última palestra do livro.
Elite:
- o que há de mais valorizado e de melhor qualidade, esp. em um grupo social
- sociologiaminoria que detém o prestígio e o domínio sobre o grupo social
Acredito que perdemos no Brasil a noção do que deve ser mais valorizado e de melhor qualidade. Noção do que é qualidade no Brasil? Qualidade só se estabelece com a estruturação de um caldo cultural consistente ou não se consegue entender o que é e para o que serve "qualidade".
Não sei de quem é a frase a seguir, mas tem tudo a ver com "elite":
Política com carácter, virtude e civilidade; esses atributos são vitais para reconstruirmos um país dilacerado pelo populismo, pela estagnação econômica, imoralidade política e degeneração do tecido social.
talvez seja deste artigo:
A reconstrução do Brasil e a escolha de cada um.
Quando fazemos política baseada em valores e princípios, focarmos a nossa atenção na qualidade das propostas que importam para o País.
Luz Felipe D'Avila, O Estado de São Paulo, 26 de outubro de 2022
Enfim: Diz me com quem andas e dir-te-ei quem és. Saiba eu com que te ocupas e saberei também no que te poderás tornar - Johann Goethe
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