Descobri que no meio do caminho por onde passo com frequência tem uma bicicletaria e não descobri por que vi, mas porque alguém viu, entrou e comentou, portanto ela existe. Distração minha? Não.
Mais uma vez pelo mesmo caminho, agora avisado, acredite, de novo não vi a bicicletaria. Praticamente invisível. Eu teria passado batido achando que quem me avisou estava louca, mas diminuindo a velocidade da bicicleta e sabendo exatamente onde deveria estar acabei encontrando. De fato está lá com seu letreiro por trás do vidro.
Quem perde com a invisibilidade de um negócio? A princípio o proprietário, mas definitivamente não só ele. Parece um detalhe, mas pode muito bem ser encaixado como exemplo de "Custo Brasil".
São Paulo aprovou a lei Cidade Limpa que removeu a absurda poluição visual que tínhamos antes. Eu aplaudi, aplaudo e continuarei aplaudindo a limpeza. É assim em qualquer lugar civilizado. O caso desta bicicletaria é diferente, ela simplesmente está praticamente invisível, não tem sequer uma plaquinha do lado de fora e o reflexo nos vidros dificulta ver o nome e o que tem dentro.
Entrei e conversei com o simpático proprietário da D'Huez Bike Shop, Daniel, um ex-ciclista profissional de estrada que correu por 20 anos pela principal equipe de então, a Caloi. Conhece o que faz. A bicicletaria 'invisível' é muito legal, pequena, justa, bem organizada, limpa, aconchegante, com um ótimo atendimento. Tem um jeitão das boas bicicletarias da Europa. Mas da rua é praticamente invisível. Por que invisível? O condomínio não permite que as lojas que circundam o térreo do edifício coloque qualquer nome ou cartaz na fachada. Sei lá qual a razão ou razões, mas não faz sentido. A loja vizinha tem um destes letreiros eletrônicos, briga constantemente com o condomínio e paga multa todo mês.
Tem gente que gosta de encasquetar com umas coisas que não fazem sentido, são contraproducentes. Pior quando quem encasqueta tem poder na mão. A rua Augusta tem várias pequenas galerias que hoje estão com um monte de lojas vazias. Precisei entrar em duas para conseguir serviço, numa de costura e noutra de relojoaria; nas duas fui impedido pelos seguranças de entrar com a bicicleta e estacionar na janela dos negócios mesmo com o pedido de permissão dos proprietários dos negócios. "Não pode!" Por mais razões que tenham que se dane o monte de loja vazia, que se dane as perdas das galerias, que se dane quem ainda está lá sobrevivendo e precisando de clientes, que se dane tudo, "não pode" e ponto final.
Irracionalidade e falta de bom senso tem custo. Os exemplos que dou aqui são banais, mas os causos são intermináveis. Colocando isto em uma escala nacional tem nome: Custo Brasil. Perdemos todos, sem exceção, e não perdemos pouco, perdemos uma barbaridade. "Que pobreza!"
Hélio Beltrão, criador do Ministro da Desburocratização do Brasil, 1979 é meu herói. Estou a espera de um novo herói, desta vez para criar o Ministério do Bom Senso e da Sensatez, mas esta vai ser missão difícil, praticamente impossível.
Como sempre lembro, a velha sabedoria diz que "Mingal quente se come pelas bordas". Enquanto não tirarmos da frente os encasquetadores de plantão que emperram as coisas mais bestas não vamos colocar este país nos trilhos. Bons exemplos temos. Uma amiga brasileira que hoje é cidadã inglesa trouxe os filhos para regularizar seus documentos. Foram ao Poupa Tempo e rapidinho estavam com tudo em órdem. Ela e os filhos ficaram pasmados com a eficiência. "Nem na Inglaterra".
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