sexta-feira, 31 de julho de 2020

Sinalizações e viabilidade da mobilidade

Reginaldo Farias sempre repete que "Somos todos pedestres, mesmo quando estamos de carro, porque temos caminhar até o carro". 
Somos todos pedestres! ponto final e não há discussão.

Você já se perdeu num shopping? Não? Nunca ficou sem encontrar o banheiro quase fazendo pipi nas calças? Duvido. Se encontrou é por que você sabe onde é o banheiro; do contrário, se não conhece o lugar, o que é muito comum aqui no Brasil, tem que perguntar para um funcionário. 
Sinalização! 
Básico; o meio mais fácil de estimular o ser humano é através do prazer. Estimula-se o caminhar também pelo prazer. Normalmente quem fica desorientado não quer seguir caminhando. Sem uma boa sinalização para. O que leva supor que mobilidade ativa depende de orientação, portanto sinalizar maneira minimamente adequada.

Tive que ir ao Shopping Eldorado para resolver um problema com a Claro. Saí da Estação Pinheiros e fui a pé para o shopping, exatos 1 km, cruzei a passarela dos pontos de ônibus na av. Euzébio Matoso, desci a escadaria e dei de cara com a grade do shopping fechada - e sem nenhuma sinalização, seja por onde entrar ou para que lado ir. Por pura sorte fui para o lado certo e entrei no estacionamento do shopping pela grade que fica escondida debaixo da escadaria, onde também está a rampa para deficientes. Na minha frente todas as portas do shopping fechadas e novamente por sorte, e por já ter entrado no shopping uns dias antes, fui para a entrada correta. Sinalização? Nada. 
Uns dias antes tinha ido ao mesmo Shopping Eldorado pedalando para resolver o mesmo problema com a Claro, que claro não foi resolvido e por isto tive que voltar lá. Que seja. Cheguei no portão do estacionamento próximo da CPTM e estava fechado; e sem qualquer sinalização por onde deveria entrar. Dei a volta, fui para a entrada da Reboucinhas, e de novo sem sinalização para ciclistas imaginei que deveria entrar pela entrada das motos. Um funcionário me parou e deu o caminho correto. Se não conhecesse o local do bicicletário, que fica num canto do segundo subsolo, teria me perdido novamente. Sinalização? Nada! Deixei a bicicleta no bicicletário e a porta de entrada no shopping em si, a área das lojas e da grande academia, estava fechada. Para onde ir? Sinalização? Nada. Caminhei até a próxima porta onde o segurança me disse que a porta estava quebrada. Reclamei da falta de sinalização. Quando voltei ele me avisou que a porta já estava consertada. Sinalização? Nada.
Dentro do shopping descobri que as lojas só abrem às 16:00 h. O shopping fica aberto antes disto por conta do supermercado. Sinalização avisando horários? Nada.
Minha pergunta: o que custa para um dos principais e mais movimentados shoppings do Brasil sinalizar cordialmente para seus clientes? E agora, no meio da pandemia, quando diminuíram sensivelmente os clientes, não valeria a pena ser mais atencioso ou do jeito que está, está bom? Duvido.

Aos ativistas da mobilidade ativa. (rima)
Não estar bem sinalizado não é um problema exclusivo deste shopping, mas de todo Brasil. A regra aqui é "os idiotas têm que saber onde têm que ir". Sabem quando vamos ter a utopia sonhada por todos, incluindo eu, na mobilidade ativa? Quando os idiotas descobrirem para onde tem que ir, ou o processo vai ser lento, lento, lento.... , bem ao estilo brasileiro.


Sobre a Claro: prestou bons serviços durante uns 20 anos, mas que troquei por uma outra por uma simples questão de custo, oferta irrecusável. Depois de fazer a portabilidade comecei a receber ligações da Claro dizendo que tinha algo pendente. A princípio pensei que fosse golpe, mas não demorou muito, ainda antes da pandemia, chequei via internet e nada constava, depois fui até a loja da Claro no Conjunto Nacional e lá me repetiram que estava tudo certo, que eu não devia nada. Como continuei recebendo ligações telefônicas em que me davam dados meus errados pensei que era golpe. Repito, minha relação com a Claro foi de 20 anos e nunca, repito, nunca atrasei uma conta. As ligações feitas por máquina continuaram se repetindo até se intensificar nestes últimos meses, chegando a 3 numa única manha. Não acreditei quando descobriram o telefone de Tereza e numa destas ligações voltaram a dar dados errados. 
Não faz muito telefonou uma menina da cobrança da Claro e finalmente conversei como um ser humano. Me disse que eu tinha em aberto uma conta relacionada a meu chip de celular da Claro. Como? Fui até a agência do Eldorado onde soube que reclamavam ter uma pendência de chip de internet. Celular ou internet? Falar de Arturo Alcorta e misturar com um chip de internet é querer divertir meus amigos. Quem me conhece sabe que não sou destas coisas e é facílimo provar que não sou, que não uso, que não tive, que não tenho, que não quero ter, que não faço ideia para que serve. E nunca comprei um. 
É triste terminar o relacionamento com a Claro desta forma. Sei que as companhias de telefonia são as que recebem mais reclamações, mas aprendi na carne que a bagunça é tanta que nem o sistema de informática de uma das principais empresas do Brasil que trabalham com comunicação e informática funciona corretamente para a própria empresa. Não sei como fazer, mas gostaria de ter gravado todas as ligações que a Claro me fez, que foram muitas, confusas, que me deixaram com um "é golpe" na cabeça. Não era, era muito pior, era péssima qualidade de controle interno da própria Claro. Eles simplesmente erraram com frequência dados que deveriam estar na minha ficha de ótimo ex cliente. Seria uma gravação longa, mas faria o pessoal rir muito, ou chorar, sabe-se lá. Parece golpe, mas não é. De minha parte não acho mais graça. Ontem estive lá na Claro Eldorado, fui bem atendido, e me disseram que dentro de cinco dias úteis estará resolvido. A esta altura do campeonato duvido, mas a esperança é a última que morre. 

protocolos de atendimento Claro:
2020624493861 - 22\07\20
2020625673819 - 23\07\20
2020628498595 - 24\07\20
Nenhum dos atendentes conseguiu ver no sistema os outros atendimentos ou seus protocolos. Infelizmente não acho o primeiro protocolo de atendimento, o do Conjunto Nacional antes da pandemia numa tarde ensolarada depois do almoço.
2020644020107 - 29\07\20
Vamos ver se resolve. Só hoje já recebi 3 ligações de máquina.   


 

quinta-feira, 30 de julho de 2020

Você sabe quem está pedindo desculpas?

Fórum do Leitor
O Estado de São Paulo

A contradição de fazer e depois desfazer o pedido de desculpas feito pelo desembargador Eduardo Almeida Prado Rocha Siqueira, do Tribunal de Justiça de São Paulo, a um Guarda Municipal no cumprimento de seu justo dever é a resultante de sempre termos aceitado com tanta naturalidade o perfeitamente lubrificado corporativismo dos Três Poderes da República, assim como dos que deles tiram vantagens. Por pura ironia tipicamente brasileira talvez as arrogâncias, grosserias, prepotências, ignorâncias, e outras tantas demonstrações do mais puro desrespeito a toda população brasileira que Jair Messias Bolsonaro, que está Presidente da República, nos sirva para tomar consciência que já extrapolamos todo e qualquer limite. Definitivamente não será esta Justiça que aí está que dará os limites; e não será porque é a mesma que abafou mais de 40 casos de transgressão deste desembargador, o que é muito provável que venham fazendo corporativamente com tantos outros dos seus iguais. Em mais um sinal de fumaça, muita fumaça, tipo queimada na Amazônia, Augusto Aras, atual Procurador Geral da República, toca fogo no circo para mostrar quem é quem embaraçando investigações que até aqui tem afetado o corporativismo. Definitivamente sabemos com quem estamos falando, nos resta ou mostrar quem é o Brasil ou abaixar o rabo e seguir em frente. A decisão é nossa.

quarta-feira, 29 de julho de 2020

torres de Babel



Na foto acima uma das "torres de Babel" originais ainda existentes.
Abaixo a "torre de Babel" recém inaugurada em Hudson Yards, NY.

A Torre de Babel, que está no Gênesis, foi construída para que o povo que falava a mesma língua pudesse chegar aos céus, a Deus, que por sua vez embaralhou todas a línguas para que eles não pudessem se entender e se espalhassem pelo mundo, numa punição ao orgulho. 

Onde se falam todas as línguas, no sentido figurativo e literal
é onde nos tornamos mais fortes e mais civilizados
aceitar e compreender o desconhecido
é o caminho para o saber
e quem sabe sabe
ignorância mata
hoje o Google
explica 


Para subir aos céus é preciso pegar ingresso grátis,
o que só pode ser feito pelo aplicativo, ou não sobe


Amem ou amém

O que uma antiga foto de patinete motorizado pode nos dizer



Nada se cria, tudo se copia. A foto acima é datada de 1916, e pelo "Lady" da jovem senhora deve ter sido tirada em Londres, com um patinete motorizado, pelo que se vê a motor a combustão. É muito provável que já houvessem patinetes elétricos, tecnologia que já estava bem desenvolvida antes de 1900, pelo menos os motores; mas não as baterias, ainda eram primárias, de pouca carga e duração, além de altamente poluentes. 
O número de veículos elétricos circulando até os primeiros anos de 1900 era expressivo. A foto a seguir é de um táxi londrino movido a eletricidade que está no Science Museum de Londres; uns dos tantos veículos elétricos que circulavam pelas ruas bem antes de 1900.
Para colocar dentro do contexto das cidades da época, a maioria dos transportes era movida a cavalo, portanto as ruas viviam cheias de bosta física, aquele montinhos pastosos e fedorentos espalhados por todas as ruas.

 
Nada se cria, tudo se copia. E só vira realidade quando está pronto para fazer bom proveito da novidade. A ideia de um veículo movido a eletricidade que não cagasse e deixasse cheiros era brilhante, não fosse os "pequenos" porem da nova tecnologia. Olhando a foto acima dá para perceber que faltava muita engenharia automobilística, como sistema de direção, freios, estrutura mais leve... Ou seja, a tecnologia não estava pronta. O que Ford e seu Fort T fizeram foi colocar nas ruas uma tecnologia própria funcional para o momento, anos 1910, 1920, com disponibilidade de produto e serviços para os compradores a um custo acessível. Com o Ford T a era dos carros elétricos caros e difíceis de manter ficou para trás.

Votando a foto do patinete de 1916 e sendo direto: não é a ideia que é genial, mas a funcionalidade da ideia no contexto do momento. 
 
As fotos que seguem foram tiradas em 2012 em Paris. Patinetes fazem parte da paisagem parisiense há muito tempo, principalmente usados por crianças de todas idades, inclusive as muito pequenas, para ir à escola. 
Os patinetes motorizados elétricos por aplicativo entraram e se espalharam por Paris com a mesma rapidez que aconteceu em todas as partes. Um tempo depois foram proibidos devido ao alto número de acidentes.
Não é porque é simplesmente mobilidade ativa que é a solução genial. Todos fatores envolvidos tem que estar funcionando bem para dar certo ou vira um tiro n'água ou, pior, fogo amigo. Daí o que sempre repito: não é a bicicleta pela bicicleta, é a cidade.











Um dia descubro referências sobre bicicletas elétricas antes de 1900. Enquanto não acho...

quinta-feira, 23 de julho de 2020

O futuro das cidades tendo a crença como dogma

Quem está pedalando ao seu lado é um bolsonarista ou um petista? O que importa? Que diferença faz para sua saúde? Ninguém quer saber enquanto todos estão pedalando. Parado e conversando a história é outra, o contágio dos discursos é instantâneo, a febre da raiva sobe rápida e a garganta fica irritada pela voz alta ou berros imediatamente. Que seja, não importa, a solução é pedalar independentemente de quem esteja por perto. Não é uma gripezinha, a terra não é plana, tem diversidade de terreno, subidas, descidas, ciclistas vestidos de todas as cores, os assaltos continuam independentemente se vêm da esquerda ou direita ou se os assaltantes estão escondidos atrás de um templo ou de galpões, estas são as pragas que não se consegue parar; muito pior que gafanhoto. 
Bicicleta de novo significa liberdade, como sempre significou história afora. Vamos pedalar. Aliás, vamos pedalar, caminhar, correr, tomar cuidado, viver; vamos transformar nossas cidades.

A tarde vou pegar mais máscaras, desta vez para meus queridos amigos Sandrelei e Cláudio, donos do ex quilo onde comi por décadas. São uns 18 km ida até próximo do Horto e mais 18 km de volta, cruzando a Marginal do Tiete lá pela Barra Funda. Fui várias vezes durante o "fique em casa". Final de março e abril o caminho estava vazio e foi uma delícia olhar a marginal com pouquíssimo movimento. A última vez que fui, semana passada, vida normal, trânsito infernal, cheiro horroroso de poluição que gruda em tudo. Parece que a pandemia está sob controle aqui em São Paulo, mas definitivamente não está no resto do país, resultado de profunda mediocridade, da crença religiosa nas falácias e fórmulas mágicas, negação da ciência, objetividade ineficaz, uma soberba sem tamanho, muito "você sabe com quem está falando...", o culpado são os outros... Nunca antes neste país tivemos tamanha ignorância. Ou sempre tivemos e nunca quisemos ver, o que provavelmente é fato. Que seja, vamos pedalar.

Ontem foi comemorado com muita festa a aprovação do Novo Fundeb pelo Congresso, o que significa que pelo menos verba a educação vai ter. Acho, só acho, que a educação brasileira é fraca, mas pelo menos vai ter cacau. Brasil é campeão ou está próximo de ser campeão mundial de inúmeras mazelas: educação, saúde pública, mortes violentas, mortes no trânsito..., e não sigo no etc... porque entupiria este blog com nossos erros perenes. Uma coisa é certa, só a educação salva, inclusive dos obscurantismos, eu disse "dos", o pavoroso que vivemos hoje e outros do passado um pouco menos maléficos. Fato é que o Brasil não vai para frente porque é um país de mal educados, quando não crentes, não só os religiosos, o que também é sinal de ignorância. Besteira até o maior dos sábios diz, o problema é o tamanho e as consequências da besteira dita. Ai....

A Rádio Eldorado - Estadão FM está soltando a série "Cidades em Movimento" dividida em 12 programas com entrevistas e comentários sobre como deve ser a cidade pós pandemia. Vale a pena. É lógico que mobilidade ativa entra na pauta. Está no quinto ou sexto programa e ainda não ouvi falar sobre educação. Muito do que se estão falando é ótimo, mas sou macaco velho e duvido que vá rolar por um problema de educação geral de nossa população, independente da escola de onde saíram, particular ou pública.

Somos quase campeões mundiais de mortes no trânsito; resultado de crença religiosa em falácias e fórmulas mágicas, negação dos dados coletados e uso da ciência, objetividade ineficaz, soberba, os culpados são os outros..., não importa ao lado de quem você esteja no trânsito, assim é e o resultado é este que temos. 

Bicicleta faz o bem até com populações mal educadas, ignorantes, mas poderia dar resultados muito mais expressivos se parassem de crer em falácia, fórmulas mágicas, aceitassem o que a ciência ensina e funciona nos países que nos espelhamos, usássemos bom senso para obter objetividade, parássemos com a soberba que só a bicicleta salva, parassem de culpar os outros por tudo... É uma questão de educação, leitura, boa informação, compreensão do que está lendo ou ouvindo... Definitivamente ter dois palitos na mão não e ter um sistema binário. "Um mais um são dois" é só uma expressão e não se pode transformar esta verdade em dogma.


Notas:
Aqui em São Paulo vendas de bicicletas e oficina estão em alta. Uma bicicletaria pequena chegou a vender 4 bicicletas num dia, notícia que não ouvia fazia muito tempo. O estoque está baixo e alguns produtos são difíceis de encontrar o que se traduz num sorriso dos proprietários das bicicletarias que não se via fazia muito tempo.

Domingo passado voltou a Ciclo Faixa de Domingo agora patrocinada pela Uber. As ruas estavam lotadas e as ciclo faixas mais ainda. Não houve respeito pelos 8 metros de distância entre ciclistas, mínimo, recomendado pela OMS. Ao mesmo tempo que é bom ver o pessoal feliz de volta nas ruas acho assustador. Lucia, uma conhecida, foi uma das primeiras a parar na UTI. Quando saiu, uns 10 dias depois, fez um vídeo acalmando os amigos; e tinha envelhecido uns 10 anos; apavorante. Só não mantém distância quem não teve contato com alguém que pegou para valer. Eu continuo pedalando sempre longe de aglomeração e guardando distância de todos ciclistas. Tenho muita saudade de entrar no vácuo, mas não dá.  

terça-feira, 21 de julho de 2020

cidades.... direito coletivo, direito individual, sobrevivência

Justiça obrigou suspeita de covid a ficar isolada, lembrando decisão sobre febre tifóide; advogados destacam que direito coletivo prevalece sobre o individual
Pablo Pereira, O Estado de S.Paulo
17 de julho de 2020 | 17h10
Detroit, USA, e a história do pedido de falência da cidade
For Detroit, Chapter 11 Would Be the Final Chapter - by Spencer Abraham; Nov. 24, 2008; NY Times
7 Lessons From The Detroit Bankruptcy - Law360, New York; Nov 14, 2014

Resumindo sobre Detroit, a cidade pediu falência literalmente, ou seja, teria que fechar, acabar, pegar todos habitantes, funcionários públicos, empresas e negócios e colocar no meio da rua, melhor, na estrada mais próxima, e como em qualquer empresa fechar as portas e vender o que puder salvar para pagar as dívidas. Agora, imagina, como é impossível fazer uma coisa destas com uma cidade, ainda mais com uma cidade grande, uma das mais importantes da história dos Estados Unidos e do mundo? Tiveram que encontrar saídas, uma delas pode ser resumida num artigo que li (e acredito que publiquei; e que não encontro mais) que dizia algo como "a cidade é mais importante que o direito individual de seus cidadãos". E é. Opa! Complicado colocar nestes termos, mas vamos lá resumindo a ópera: "unidos venceremos" ou a história da humanidade. Sem união, sem a vila e depois a cidade, não teríamos chegado aqui. 
Na Europa vários países estão pagando para trazer novos moradores para vilas ameaçadas de morrer vazias. Simplesmente não dá para esquece-las, apaga-las do mapa, as implicações são muitas. Se o problema não fosse muito grave não se colocaria dinheiro público para mantê-las vivas. Agora imagina uma das cidades símbolos da história com mais de milhão de habitantes fechando as portas. 

Para evitar situações como esta as grandes cidades estão sendo repensadas e reestruturadas. É uma discussão complexa: o que é prioridade, a cidade, ou seja, todos, a comunidade, ou uma minoria problemática?
Um bom exemplo: o fogo causado por moradores de rua danificou vários viadutos e pontes, o que gerou despesas para recuperar a via, enormes congestionamentos, diminuição de arrecadação de impostos, custos extras, e menor capacidade do poder público agir em prol dos mais necessitados. Repito, não é tão simples assim.   

Brasil, também simplificando: 
São Paulo e Rio de Janeiro têm um problema de poluição de suas águas seríssimo, dentre outras muitas poluições. A saber, as duas cidades tem menos água por habitante do que é recomendável e a situação só piora. Em nome sei lá do que permitiu se, e não foram só a Prefeitura e políticos que o fizeram, que áreas cruciais para a manutenção da qualidade das águas fossem invadidas, devastadas, depredadas e gravemente poluídas. Hoje temos uma imensa população plantada onde não deveria estar, população esta que coloca em risco a vida de todos, ou seja, coloca em risco a vida da cidade. Bom, e daí, o que se faz?
Um bom exemplo de absurdo é o Jardim Pantanal, Zona Leste de São Paulo, que nasceu e cresceu rapidamente numa área alagadiça do rio Tiete. Na época das chuvas boa parte do pantanal fica debaixo d'água. Como aquela área deveria servir para o Tiete se expandir e se acomodar na enchente, o que não acontece mais, as águas que deveriam ficar ali vão parar em outro canto da cidade carregando lixo e outras poluições, danificando tudo que toca. Não, não estou dizendo que as enchentes de São Paulo são resultado da invasão do hoje Jardim Pantanal, nem sou idiota para tanto, mas estou provocando, isto estou. Voltando: deixa o Jardim Pantanal lá?
Você já contornou a Represa Guarapiranga pelas margens? Eu sim. Vale a pena; deixa bem claro que São Paulo tem um PQP de um problema de invasões e degradação; e olha que a Guarapiranga até que não está tão ruim se comparada a outras situações. Cubatão, Santos, São Vicente...
Já viu um córrego todinho? O que é um córrego todinho? Vou explicar, bate um todinho bem grosso, com um pouco de creme de leite, e joga na pia que tem mais ou menos a mesma consistência das águas de um córrego todinho. Pois então, já vi vários córregos com esta consistência. O mais memorável, em Cumbica, Guarulhos, próximo de uma favela e ao lado de uma pequena indústria, quase vomitei. 
Você já pegou um barco para ir até a Ilha de Paquetá, Rio de Janeiro? Pois deveria, a paisagem da Baía de Guanabara é bem explicativa, diz tudo. As implicações daquela degradação vão muito além das vidas dos cariocas, muito além.
Vem a pergunta sobre a vida em comunidade: quem tem mais direito, o individual ou o coletivo? Em nome de nosso sentimento de culpa vamos deixar que uma parte da população prejudique toda a cidade?

O que não se pode é repetir o Singapura. O que é? Singapura foi um projeto de Paulo Maluf que construía edifícios "bonitinhos" na frente das favelas. Quem passava na frente via tudo bonitinho e não conseguia ver o resto da favela. Esta mesma técnica foi repetida por outros, de todas linhas ideológicas. Como diria Nelson Rodrigues "Bonitinha, mas ordinária".

Não importa a condição social, passando de alguns limites tem que imperar o direito coletivo. É uma questão de sobrevivência, inclusive e principalmente das próprias populações mais necessitadas. Distorções devem ser aceitas até um certo ponto. Mesmo nas sociedades mais organizadas esta equação não se resolve com facilidade. O que não pode é ficar do jeito que deixamos até aqui, isto não pode, ou morremos - no caso brasileiro literalmente e sem exageros.

A saber: quando a cidade limpa seus problemas a economia melhora, quando a economia melhora o preço do m² sobe, quando a propriedade fica mais cara uma parte da população mais pobre não consegue se sustentar e tem que morar mais longe. Por outro lado, quando a economia vai bem o poder público tem mais dinheiro para trabalhar o social tanto pelo maior recolhimento de impostos quanto pela diminuição da população com problemas. Etc...

sábado, 18 de julho de 2020

Autódromo no Rio de Janeiro? Impensável!

Fórum do Leitor
O Estado de São Paulo

A Baixada Fluminense é uma assustadora a massa cinza conhecida pela falta de verde e seu calor sufocante. A OMS - Organização Mundial da Saúde diz que uma cidade deve ter no mínimo 12 m² de área verde por habitante, sendo que o ideal é 36 m². Deodoro, onde se quer transformar uma importante área verde com mata em autódromo, faz limite com a área rural, mas para efeitos de qualidade de vida da população urbana área rural não é contabilizada como área verde por que seu uso e finalidade são completamente diferentes. O número de parques na Baixada Fluminense é ridículo para a enorme população. Só isto já justificaria a não destruição de extensa área com mata fechada. As 700 mil árvores que dizem que serão dados em contrapartida não sensibiliza. No primeiro grande projeto de plantio de árvores de São Paulo, foi dito que seriam plantadas 1 milhão de árvores, o que é difícil de contabilizar, e do que foi realmente plantado bem menos de 10% se transformaram em árvores adultas. Mesmo que a contrapartida fosse 700 mil árvores adultas, isto não substitui a importância social que um parque tem para convívio e saúde pública, cruciais inclusive para a diminuição da violência endêmica na região. O Rio de Janeiro perdeu seu autódromo para dar lugar a uma Vila Olímpica envolvida em diversas denúncias e praticamente abandonada. O antigo autódromo desapareceu sem deixar rastros de suas contas, que na maioria dos autódromos do Brasil é muito deficitária. O automobilismo brasileiro vem em crise há décadas e as críticas às Federações e Confederação Brasileira de Automobilismo são pesadas, segundo especialistas uma das causas de não conseguirmos formar pilotos com as qualidades necessárias para representar o Brasil na F1, uma das principais razões da popularidade aqui. Qualquer empresa promotora de eventos ou dona de autódromo só pode promover competições sob a tutela das entidades locais e internacionais. Quem acompanha a F1 sabe que é incerto seu futuro, tanto porque o setor automobilístico está passando por uma crise que ninguém sabe onde vai dar, quanto porque sua base tecnológica ainda está vinculada a motores a combustão, tecnologia que tudo indica tem seus dias contados. Por outro lado está havendo um forte e surpreendente crescimento de popularidade da Fórmula E, a fórmula 1 dos carros elétricos, que tem como princípio fazer suas competições em ruas e não em autódromos. Jogar as fichas da Cidade Maravilhosa num autódromo, mesmo com dinheiro privado, é uma insanidade sem tamanho. Mostra o absurdo que não tenhamos sequer iniciado a discussão sobre a função social e econômica dos espaços privados de uso público. Não é simplesmente investimento privado, mas investimento privado de interesse público. É função constitucional do Estado ser o órgão regulador para o bem público. No meio de uma pandemia, com o futuro incerto de todo planeta, com a OMS, Banco Mundial, ONU e outros organismos de fundo social e econômico dizendo que a única certeza é que temos que melhorar a qualidade de vida de nossas cidades e suas populações, se vá pensar em autódromo numa cidade onde falta dinheiro para tudo e é tida como o símbolo máximo do caos. E o Supremo dá corda. Dá para entender? É, acho que dá, é só juntar os pauzinhos. 

quinta-feira, 16 de julho de 2020

Para melhorar as cidades brasileiras: uso dos imóveis pós pandemia

Tenho uma pequena loja numa galeria que alugo. Com a pandemia tive que zerar o aluguel para evitar a perda de um inquilino que está ali faz uns muitos anos, décadas talvez. Mesmo estando numa área nobre sempre a galeria sempre foi problemática, difícil de alugar, difícil para o inquilino, de manutenção e condomínio caro. Já era problema, agora então... Se ele sair dancei, como estão dançando milhares de proprietários, inquilinos, trabalhadores... E daí, o que faço com os 27 metros quadrados? Se fosse um imóvel na rua talvez pudesse alugar para residencial, mas numa galeria comercial, o que se faz?

Eu tinha um sonho: cada vez que passava por um edifício garagem ficava imaginando como se poderia transforma-lo num edifício residencial, como usar a mesma estrutura. Normalmente as vigas estruturais são bem distantes umas das outras, mas o teto nem sempre é alto. Teria que se criar aberturas no meio da estrutura para trazer iluminação e ventilação para os andares de baixo, fazer a divisão, instalar a parte hidráulica, colocar divisões, e creio eu na minha não santa ignorância, trazer moradores. Seis vagas de automóvel fazem algo em torno de 50 metros quadrados, espaço confortável para um casal.
Sonhava com esta transformação porque mesmo antes da pandemia já era óbvio que mais cedo ou mais tarde estes edifícios garagem perderiam o valor que seu uso hoje se faz. O uso do veículo particular está diminuindo rapidamente e a mudança não deve parar. Nunca consegui entender como esta discussão já não estava na pauta do dia tanto da sociedade como do poder público.

Agora o papo é outro: o que fazer com os edifícios comerciais de escritórios. Uma coisa é certa, mesmo que voltemos ao normal o normal não será mais tão normal assim. Vai mudar e pelo jeito será mais rápido que imaginávamos. Também como leigo acredito que transformar edifícios de escritório em residencial deve ser mais complicado que transformar estacionamentos. As colunas de sustentação são mais próximas, o hidráulico é centralizado, os elevadores e suas caixas foram projetados e construídos para uma circulação completamente diferente da de moradia. A circulação de ar é pensada para ar condicionado. Como será a caixa d'água? Como qualquer construção é caso a caso, e sempre tem o fator inteligência que faz milagres.

E os shoppings? Enquanto nos Estados Unidos e mundo afora não param de fechar, por aqui não param de abrir. O que fazer com um monstrengo daqueles? Que tal escolas? Centro de serviços públicos como já acontece pequeno num shopping de interior que não deu certo. Transferir favelas? Duvido, a não ser que se faça um trabalho profundo com os dois lados da mesma moeda, os moradores e ex clientes do entorno e os favelados. Não tenho a mais remota dúvida sobre o tamanho do problema porque quando o Ciclo Rede Butantã estava em projeto, e do projeto não saiu, um pequeno bairro nobre foi até a Sub Prefeitura para deixar claro que bicicleta por lá não passa. Nenhum espanto, triste realidade brasileira. "Você sabe com quem está falando?"  

O que não é recomendável é implodir e gerar entulho. É um crime ambiental sem tamanho. O negócio é usar a inteligência, que faz milagres, e como faz! Esta coisa de demole para construir algo melhor é coisa de pobre ou de ignorante da realidade. Melhor para quem? Mais barato para quem?

Passamos da hora de começar a repensar o uso das construções que temos nas cidades. Como já disse era óbvio ululante que mais cedo ou mais tarde vai mudar o uso deles, não vê quem não quer ou não tem capacidade. A função do espaço público e do espaço privado de uso público vem mudando rapidamente em todo planeta. Existe uma pressão para que sejam corrigidos erros sociais relativos a função da propriedade privada, e não estou falando em questionar o direito à propriedade, que é uma outra história, mas como o poder público tem que regulamentar a propriedade privada no sentido de seu uso. Isto já acontece nas leis de zoneamento, mas tem que ser aprofundado. Se urge diminuir as mobilidades também urge aumentar as áreas de uso misto residencial, comercial e outros.

Tem que fazer a transição com certa calma, ou pelo menos com consciência do que está fazendo. O que definitivamente não pode acontecer foi a tentativa atabalhoada de transformação do Centro de São Paulo que foi feita pela administração municipal de Fernando Haddad. A ideia era e continua sendo correta, a forma foi um desastre total, inimaginável para quem não mora aqui e não viu o antes e o depois. O depois, simbólica e tragicamente, foi o incêndio e desmoronamento de um edifício de patrimônio histórico de propriedade do poder público, com mortes. Não se faz nada na porrada, não dá certo, nunca deu. O custo do erro com o Centro será mais de uma década para estabilizar e viabilizar social e economicamente a área mais simbólica e bem estruturada da cidade.
Infelizmente não encontro as fotos deste edifício e de seu entorno que tirei antes do desmoronamento.

quarta-feira, 15 de julho de 2020

Para melhorar as cidades brasileiras: favelas e cortiços

Covid 19 não foi o primeiro vírus que obrigou as cidades tomar medidas de contenção, e provavelmente não será o último. Pelo que se vê o ciclo entre pandemias está ficando cada vez mais curto. Se faz necessário tomar providências imediatas para minimizar os efeitos da próxima crise. 

A prioridade é controlar possíveis focos de contágio de qualquer pandemia, o que está gerando restrições a aglomerações, lugares mal ventilados e de baixa insolação, e evitar contato com elementos poluentes, nem dizer contato com esgoto. Favelas e cortiços se encaixam em todas definições do que deve ser evitado, ou seja, são focos potenciais.

Se nós, brasileiros, queremos ter um mínimo de controle sobre as pandemias urge que se intervenha nas favelas. As ações que tem sido apresentadas ou impostas pela pandemia falam sobre a vida na cidade oficial, ou economicamente desejada: bares, restaurantes, cafés, academias, transporte público... Não propor um plano realista e realizável para favelas é ampliar o distanciamento social e seus dramas, e aumentar mais ainda a pressão que já está para lá de alta. A cidade tem favelas, ponto indiscutível; algumas são verdadeiras cidades dentro das cidades. No conjunto de favelas e cortiços vivem um alto percentual de cidadãos, sobre isto também não há discussão. Se não for controlada a saúde desta massa de cidadãos não se controla a saúde pública de toda cidade, portanto de cada cidadão. Ou todos tem saúde ou ninguém tem certeza de sua saúde, disto não se escapa.

Urge ter mapeada todas favelas, não só suas ruas e vielas, mas cada casa, cada propriedade, cada cômodo, cada habitante, cada vida, cada comércio, cada detalhe; tudo. Sem conhecer é imprudente, para dizer o mínimo, pensar e mais ainda agir. Conhecendo o problema é necessário explicar, vender a ideia de uma mudança, de uma melhora, de um futuro, e iniciar conversas, acordos; respeitar, legitimar. É preciso saber como estão indo os projetos de melhorias já implantados, aproveitar os bons resultados, entender, repensar e corrigir os erros. Deve haver muita informação de qualidade sobre a vida nas favelas e sobre cada favela, não se deve estar partindo do zero o que é uma imensa vantagem.

O maior empecilho está nas leis e na justiça, em processos que se arrastam por décadas e nunca chegam a um fim. Temos que decidir: ou andamos para frente ou morremos de indecisão judicial. Ou o poder público em nome do bem comum age e resolve graves problemas urbanos ou os contágios nunca irão parar: o contágio da pobreza, da baixa educação, da violência, e das pandemias, sejam varíolas, tuberculose, difteria... e agora coronavírus Covid 19...  Qual será o próximo? Como estaremos preparados?

Não é um problema simples de resolver, não é barato, mas ou resolve ou resolve, ponto. Mais; não é pela pandemia que se tem que dar jeito neste gravíssimo problema, é pelo futuro de cada um de nós. É absolutamente impossível ficar imune, por mais que se viva numa fortaleza medieval.

Quem quer faz. O resto é balela.

sábado, 11 de julho de 2020

Radiografia das cidades brasileiras? São Paulo, referência

Como estou ficando louco e alongando um pouco, solto a radiografia incompleta. Com o tempo vou terminando. Quem quiser ajude. 

Todo o planeta diz que a cidade pós pandemia tem que melhorar a mobilidade, estimular estudo e trabalho em casa, ser ambientalmente correta. Eu colocaria aí ser saudável, ter saúde pública preventiva eficiente. 
Como está a maioria das cidades brasileiras? Uso São Paulo como referência para fazer uma radiografia porque sou paulistano e os dados são fáceis de encontrar.

Por que aqui é difícil conseguir a cidade alcançar as metas da cidade pós pandemia:
  1. semáforos quebram, buracos e crateras surgem...
  2. 70 atendimentos / dia a acidentes que param a cidade
  3. transporte de massa no limite e sem previsibilidade de horários
  4. qualidade do ar ruim, alto nível de poluição sonora
  5. água per capita no limite com perda no sistema de 30% 
  6. muito resíduo sólido, reciclagem baixíssima, aterros sanitários saturados 
  7. áreas de mananciais e para parques públicos invadidos
  8. fiação aérea dificulta plantio de árvores, menos sombreamento, umidade, mais calor 
  9. fiação aérea torna comunicação instável e pouco confiável
  10. baixa confiança nas autoridades e prestadores de serviços públicos 
  11. para mudar a cidade a lei de zoneamento 
  12. não há continuidade nas políticas essenciais, de 4 em 4 anos muda Prefeito e diretrizes
Mobilidades:
  1. São Paulo tem algo em torno de 17.000 km de ruas e avenidas pavimentadas
  2. a maioria destas ruas foram abertas e construídas a mais de 70 anos
  3. o sistema de drenagem das águas pluviais é praticamente todo da mesma época, quando a impermeabilização do solo era muito, mas muito mais baixa portanto a necessidade de escoamento de água muito menor.
  4. o VW Gol quadrado, dos primeiros, pesa 814 kg seco, sem combustível e lubrificantes. Um Honda Fit primeira geração pesa 1.080 kg, ou seja, um pouco mais de 200 kg que o Gol 1980. Não fui atrás da diferença de peso dos ônibus, mas é possível imaginar que seja 20% ou mais porque são maiores e transportam mais passageiros por veículo do que em 1980. Visualmente a diferença de tamanho entre um ônibus ou caminhão de 1980 com os atuais é muito grande, assim como a diferença de carga.
  5. frota de veículos cadastrados no DETRAN, Município de São Paulo em 1980: 1.604.135; em 2019: 9.117.373
  6. a diferença de carga e o número de veículos que passam nas ruas e avenidas pavimentadas de São Paulo é imensa. É a causa de buracos e crateras, e porque não dizer enchentes
  7. A Prefeitura do Município de São Paulo não detém o mapeamento completo e exato do subsolo da cidade. Cada uma das concessionárias de serviços públicos tem seus próprios mapas que não raro são imprecisos ou simplesmente não tem informações sobre o uso do subsolo por outras concessionárias.
  8. a maioria das vias são reasfaltadas simplesmente recebendo uma camada nova de asfalto sobre a existente, o que aumenta a carga sobre as tubulações subterrâneas existentes.
  9. só recentemente a Prefeitura reconheceu que é necessário a urgente manutenção de obras de arte da cidade, pontes, viadutos, e tuneis, estabelecendo um cronograma de obras que deve se estender por anos
  10. o sistema de esgoto de São Paulo ainda não está completo, o que significa que terão que abrir buracos nas ruas, congestionar o trânsito...
  11. pelo que sei a garantia de obras públicas aqui no Brasil é de 5 anos. Também pelo que levantei em Milão, Itália, a garantia é de 25 anos. Nunca vi a garantia de uma obra ser acionada aqui, mesmo quando a obra apresenta problemas graves em pouquíssimo tempo, como aconteceu em Pinheiros, onde moro. A quantidade de problemas que apareceram menos de 6 meses depois de entregue a obra foi absurda, mas o máximo que se conseguiu foi uma gambiarra tipo me engana que eu gosto.
  12. por sinal, quanto dos congestionamentos e trânsito é causado por buracos e as infindáveis obras corretivas?
  13. os semáforos estão completamente obsoletos. Como estarão os outros sistemas de controle de fluidez de trânsito?
  14. a engenharia de trânsito que temos no Brasil é uma engenharia de quebra galho, não há investimentos a altura na necessidade
  15. a engenharia viária ainda tem muito de rodoviarista quando hoje se fala em cidade voltada à vida, as mobilidades ativas, não motorizadas
  16. cidades grandes geram mobilidades de longa e curta distância, a do interno dos bairros ou mesmo entre bairros. Quem pensa em uma nova cidade baseada em mobilidades ativas pensa em distâncias mais curtas, menos de 4 km, ou seja, interno de bairro, e não única e exclusivamente macro engenharia de trânsito.     
  17. ainda não avançamos no acalmamento de trânsito, essencial para as mobilidades ativas no interno de bairros, quando lá fora já se fala em naked streets, ruas nuas ou limpas, ou seja, sem qualquer sinalização ou divisão de espaço ou segregação entre motorizados, ciclistas e pedestres
  18. o Código de Trânsito Brasileiro ainda não adotou uma série de sinalizações ligadas às mobilidades ativas
  19. o diálogo entre sociedade civil e autoridades tem problemas, quando há
  20. a frota de ônibus é obsoleta. Pior, anda rodam ônibus que são carrocerias montadas sobre chassis de caminhão; altos, duros, barulhentos, incômodos
  21. as travessias de pedestres têm tempo curto, quando tem. 
  22. a posição da travessia em muitos casos é distante do local de parada dos ônibus fazendo que o pedestre cruze entre os veículos 
  23. quando vão ser instalados os painéis de mostram ao público o tempo de chegada de ônibus, metro e trens?
  24. faltam pontos de ônibus abrigados
  25. previsibilidade no transporte de massa só é possível com o uso de um sistema de fluidez de trânsito inteligente. Los Angeles implantou o seu e o processo demorou quase uma década.
  26. confiabilidade do sistema de transporte público está intimamente relacionado com segurança pública. São Paulo é uma das cidades menos violentas do Brasil, mesmo assim... Vira e mexe trens e metro param por roubo da viação elétrica, por exemplo.
  27. São Paulo tem um sistema cicloviário com pouco mais de 400 km e o número de ciclistas vem aumentando. Há um projeto para expansão do sistema, mas não são apresentados números que possam medir os reais custos e como se comporta a curva benefícios para a cidade com a implantação de ciclovias e ciclofaixas.
  28. é uma doce ilusão acreditar que a bicicleta será a solução para todos males.
  29. bicicleta, muito eficiente até 4 km, e caminhar, com uma média de 400 metros por trajeto, é a melhor solução para interno de bairros 
  30. calçadas é quase artigo de luxo porque só tem qualidade ou existem nas áreas mais ricas da cidade
  31. faixa de pedestre via de regra está onde não prejudique a fluidez dos motorizados
  32. como é a mobilidade dentro de comunidades e favelas? Mais de 2 milhões vivem nelas
Meio ambiente:
  1. a pouca arborização da cidade envelheceu e está fechando ser ciclo de vida, provocando quedas de galhos ou mesmo de toda árvore, prejudicando a fiação aérea e deixando vastas áreas sem energia ou comunicação
  2. vegetação rasteira e insetos 
  3. a ciência provou que cidades com pouco verde concentram calor o que provoca fortes tempestades localizadas, com consequentes inundações
  4. a frota de veículos circulantes não recebe qualquer controle de emissões ambiental e o ar da cidade é de baixa qualidade. Os índices usados para medir a qualidade do ar são considerados ultrapassados
  5. controle de emissão ambiental também é relacionado a vazamento de lubrificantes, combustível e borracha dos pneus, que é altamente poluidor
  6. lixo, ou resíduo sólido, é um problema gravíssimo em todas as partes do planeta, mais ainda aqui onde há o hábito de se jogar entulho no meio da rua ou em córregos, o que gera inundações
  7. córregos tamponados, invadidos, usados como depósito de entulho
  8. rios, córregos e nascentes sem mata ciliar ou qualquer vegetação no entorno
  9. parques
  10. reservas florestais
  11. fiação aérea elétrica
  12. fauna urbana
  13. predadores
  14. pets
Saúde pública
  1. zica, chikungunya, malária
  2. fiação aérea 
  3. controle de pragas
  4. distribuição de água potável 
  5. coleta e tratamento do esgoto
  6. coleta de lixo - resíduos sólidos
  7. educação geral e em especial a relacionada a saúde preventiva
  8. insalubridade das favelas não afeta toda a cidade
  9. cuidar da saúde pública tem que ser dever de todos, sem exceção
Estudo e trabalho em casa: telefonia, internet, rádio, TV, cabos
  1. telefonia e internet nas periferias
  2. tempestades de verão
  3. idade média dos aparelhos e computadores
  4. condição de saúde, ventilação, mofo, insolação
  5. segurança em favelas 
  6. o que fazer com edifícios de escritório, estacionamentos
  7. mudança de zoneamento
  8. misto comércio residência
  9. distribuição de mercadorias
  10. segurança internet

sexta-feira, 10 de julho de 2020

A baderna é total. E agora, o que fazer? As cidades...

Mudar as cidades, este tem sido um tema muito falado para o pós pandemia. Diminuir o número de carros nas ruas, melhorar o transporte coletivo, trabalhar em casa, manter as pessoas em seus bairros, comprar no comércio local, criar uma rede de ciclovias, repensar o uso do espaço público... Cá entre nós, brasileiros, isto vem sendo falado faz décadas, pelo quatro décadas, e não se fez nada, as cidades brasileiras continuam praticamente as mesmas. Houve uma melhora aqui, outra ali, mas a essência continua a mesma.
Nossa colonização é portuguesa e o traçado urbano da maioria das cidades brasileiras foi e continua sendo medieval. Poucas são as planejadas, a maioria partiu de um centro de desenho desordenado, com ruas tortas, quadras desiguais, mesmo quando o terreno é plano. Foi assim por razões de segurança da população; quem é de fora e não conhece se perde no labirinto, o que facilita a defesa. A partir de 1900 com a industrialização o crescimento de nossas cidades se deu muito rápido e desordenado. Com a indústria automobilística, no final dos anos 50, começaram as adaptações para acomodar o rápido crescimento da frota de veículos motorizados. A cidade brasileira nascida medieval passou a receber planejamento rodoviarista com total influência do planejamento urbano e rodoviário estadunidense, o mais moderno para a época: óbvio que não podia dar certo e lógico que não deu. Aquilo deu nisto. Diga-se de passagem, não foi um fenômeno exclusivamente brasileiro, a diferença é que lá fora, principalmente na Europa, se deram conta do erro e colocaram limites sensatos cedo. Aqui ainda se permitiu que o planejamento e desenvolvimento urbano fosse, e continua sendo, descaradamente influenciado por empreiteiras, construtoras, e interesses particulares do mercado imobiliário comercial e residencial, quando não por invasores, posseiros e outras ilegalidades gritantes.
O povo acha ótima a cidade que vive. É natural quando não se tem referências para comparar. A verdade é que nossas cidades não atendem aos quesitos de qualidade de vida estabelecidos por todas entidades internacionais. Falta verde, faltam parques, áreas de convívio, para práticas esportivas, culturais, sobram escolas e prédios públicos insignificantes, chafariz é símbolo de progresso, via de regra o córrego ou rio é usado para escoamento de esgoto, que nos bairros mais pobres corre a céu aberto pelas ruas. A periferia é a periferia, o lugar dos excluídos, se não esquecida, desamparada pelas autoridades e leis.  Boa parte dos brasileiros vivem em favelas, mas as leis "dificultam" a presença do poder público nestes locais. E aí vai. E o povo acha ótimo. Na realidade acham ótimo o que tem no entorno de suas vidas, o resto não interessa. Não existe cidade, mas a vidinha de cada um que se transforma erroneamente na "cidade".
Hoje se pode dizer que há toda uma ciência sobre o que é a cidade ideal, que é a praticamente a antítese da cidade brasileira. 
A cidade faz o indivíduo e o indivíduo faz a cidade. O que vem primeiro, o indivíduo ou a cidade? Cidade é o coletivo de indivíduos; o contrário não existe. Ou existe: são condomínios fechados, o retorno ao medieval, um retrocesso de 400 anos.
Nossas cidades são obsoletas, anacrônicas, ineficientes, sem manutenção, caras... e com sistemas de comunicação pouco confiável, o que todos seres humanos deste planeta sabem que é pelo quanto é a única saída para a crise pandêmica. 
Não teremos mais dinheiro sobrando, aliás nunca tivemos por conta dos nossos eternos erros. Ou racionalizamos nossas cidades ou estaremos fadados à miséria. A humanização que vem sendo imposta às cidades mundo afora é uma questão de funcionalidade, de custo, de construção de futuro. Bloomberg, ex Prefeito de NY, estava e continua absolutamente certo. Mas somos diferentes. O povo brasileiro acredita que estamos certos e que o planeta está errado. Será?

terça-feira, 7 de julho de 2020

Desaparece um idoso desaparece uma enciclopédia

Quando morre um idoso morre uma enciclopédia escreveu com sabedoria Vera no Whatsapp. Ontem saiu a decisão da justiça que não incriminou ninguém pelo incêndio na Museu Nacional, no Rio de Janeiro. Do que se conclui que o museu se queimou, num suicídio imprevisível, coisa nunca antes vista pela humanidade. Enciclopédia? Nossa memória, digo a brasileira, está cada dia mais fragilizada, agora numa pátria amada sem educação, memória, e provavelmente sem futuro. O Museu Nacional queimou, não só os idosos queimam de febre e morrem na pandemia, e as enciclopédias são jogadas em caçambas para serem misturadas com entulho.   
A pandemia mundial acertou em cheio museus, bibliotecas, especialistas, artistas e tudo que a mediocridade e os imbecis consideram supérfluo. Da tragédia que estamos vivendo de perda de memórias pelo mundo fico feliz em ouvir que o Governo Inglês preservou os trabalhos dos ligados a instituições culturais, uma iniciativa que espero que não tenha sido única e que é louvável. 
Aqui no Brasil tiro o chapéu para a Rede Globo que está pinçando nomes de vítimas da pandemia e contando suas histórias no Jornal Nacional. "São vidas", tem história. Do idoso que se vai mal sabemos olhar com cuidado a capa de sua enciclopédia, e isto é uma perda imensa.
Sempre me deixou desesperado, literalmente, não conseguir transmitir para as crianças os tópicos da mísera enciclopédia que minha vida escreveu. Sou uma pessoa abençoada porque tive oportunidade e tempo para ouvir os mais velhos, pais, irmãos, tios, avós e até mesmo amigos não necessariamente mais velhos, mas mais viajados, experientes. Aprendi algo com eles, aprendi algo com minha vida, agora gostaria de conseguir transmitir algo para os que ainda vão viver muito. Os ajudaria, com certeza. Mas não é assim que funciona a humanidade, e com toda esta coisa de mídia eletrônica os valores e conhecimentos do passado são cada dia mais duvidosos para o grande público. Enciclopédia? 

Enciclopédias são recheadas de definições, histórias e ilustrações. Algumas definições, principalmente as ligadas a ciências exatas, que lá se lê, foram e continuarão sendo praticamente as mesmas, outras mudaram com a evolução das ciências e dos costumes, a bem entender, das enciclopédias antigas impressas em papel. Quem tem um olhar mais aprofundado consegue colocar tudo dentro de contextos, e isto é uma preciosidade.
Desapareceram as imensas enciclopédias impressas em papel e entrou primeiro a internet, depois o Google, e agora a Wikipedia, e daqui para frente sabe-se lá o que mais. Mesmo assim "desaparece um idoso desaparece uma enciclopédia", isto é a mais pura verdade. O valor da memória de um ser humano é muito mais vasta e preciosa do que nossa desatenção quer fazer crer. Alguns muito em especial.

A bicicleta brasileira praticamente não tem memória. Creio que a mais aprofundada que ainda temos seja Valter Busto em pessoa. Desconheço outro que tenha circulado socialmente no meio da bicicleta dos anos 80 e 90 como Valter. Ele estabeleceu amizade com uma grande quantidade de pessoas do meio, em especial velhos bicicleteiros que já se foram e quem sem Valter tem suas memórias simplesmente jogadas no lixo. Valter morou em São Paulo até quase 2000, até então o núcleo da bicicleta brasileira. Caloi e Monark, oligopólio do setor, estavam instaladas aqui, o que deu a oportunidade de Valter conhecer pessoalmente vários funcionários e diretores das fábricas. Foi com ele que conheci tradicionais bicicletarias da cidade, Casa Alberto, Casa Mercúrio, Ciclo Roma, Ciclo Rondina e tantas outras, algumas  não existem mais. 
A memória do ciclismo brasileiro está em parte na cabeça de Eduardo Puertollano, pessoa genial, um senhor senhor ciclista, conhecedor de bicicletas, ciclismo, e ex ciclistas como pouquíssimos. Não exagero quando digo que não se deve passar por esta vida sem fazer romaria para a Basílica de Aparecida (12 de Outubro, faça mesmo que não seja religioso) e sem ir conhecer a enciclopédia Eduardo Puertollano e sua mágica bicicletaria no Tremembé, perto do Horto Florestal de São Paulo.



segunda-feira, 6 de julho de 2020

Eu, eles e o desejo de mudar

Impressionante o que esta baderna pandêmica está fazendo com a cabeça das pessoas. Gente que passou a vida decidindo e o fez com qualidade agora não sabe o que e como fazer para ajudar os outros passar pela crise. É fato, uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. A vida me ensinou uma regra sagrada: quando não sabe o que fazer faça algo, o que quer que seja, se estiver muito fora da realidade, faça algo diferente, mas não pare de fazer, não pare de tentar. E nunca jogue fora o que já fez; nos erros pode estar a resposta. 

Tenho amigos de qualidade que têm muito a oferecer neste momento. Aliás, tem muita gente com história, formação e qualidade de trabalho que quer fazer algo e não sabe o que. A meu ver, a questão é que estão acostumados a olhar o macro, o cenário maior, não o detalhe, e em momentos como este é nos detalhes mais improváveis que podem estar saídas. Quem não ouviu uma simples frase ou até uma palavra que fez muita diferença na vida. Várias delas foram fundamentais para minha vida, me ajudaram muito mais que leituras, aulas, longas conversas. Foram a palavra certa no momento certo.

O planeta está jogando seu futuro e nós, brasileiros, mais ainda. A maior parte da população comete erros que pereniza sua própria pobreza civilizadora e, pior, sua mediocridade. Qual é a palavra mágica que mudaria seus futuros? 

No Santo Américo, no dia de minha expulsão encontrei por acaso o professor de música no corredor, que me parou e me deu uma palavra de estímulo e confiança que foi crucial naquele momento e serve até hoje.
Minha mãe me passou o seguinte sabão: "Não interessa o que o outro fez de errado para você (eu), interessa o que você fez para ele agir assim com você". 
Também dela: "Não me interessa o que você está dizendo que vai fazer. Isto não vale nada. Faça, cumpra, prove". 
Estas e outras acabaram virando diretrizes em minha vida.

O que fez diferença para você? O que você pode passar para frente agora que ajudará outros a sair desta horrorosa situação mascarada que ninguém sabe ao certo que cara tem?

Palavra correta no momento correto só pode existir quando esta é dita no tom e forma corretos, ou não será entendida pelo ouvinte. Se nós, a dita elite, mantivermos nosso discurso educado, rebuscado e não raro incompreensível para eles, jamais vamos ensinar a maioria a pescar. Outro erro é partir do princípio que eles não têm capacidade de entender algumas coisas. É de uma arrogância vergonhosa e desonesta. 
A saber, no meio dos meus amigos bonitinhos o uso da bicicleta foi motivo de gozação e bulling por décadas. "Bicicleta é coisa de pobre" só parou quando virou moda e das caras. E no meio destes bonitinhos coloco urbanistas, sociólogos, historiadores e outros que deveriam, até por profissão, saber do que se trata "bicicleta". 
A saber: segundo Eduardo Giannette Fonseca as fortunas aqui no Brasil trocam de mãos a cada 40 anos. Pelo que leio muitos destes novos ricos vem lá de baixo. 

Tudo é questão de comunicação; o conteúdo temos.

quarta-feira, 1 de julho de 2020

Simbologia de um Ministro negro que nunca foi Ministro

Fórum do Leitor
O Estado de São Paulo

Bolsonaro busca apoio político nas polícias sem falar uma palavra sobre a questão da violência policial que afeta em cheio a população negra que é mais da metade da população do Brasil. Bolsonaro aceita de bom grado apoio de uma extrema direita sem disser uma palavra sobre racismo. E neste contexto Bolsonaro escolhe para o posto mais importante de seu Ministério, o da Educação que vem de uma baderna indescritível, um senhor negro de quem se descobre que colocou informações falsas no currículo. Foi o Ministro que foi Ministro sem ter sido Ministro. Como fazer a leitura do absurdo: erro, falha do sistema oficial de informação do Governo Federal, ou assentimento do infame discurso de parte da polícia e extrema direita pelo qual "todo negro é bandido"? Para piorar a barbaridade agora se fala na busca de um nome notável - e branco - para assumir o Ministério da Cultura. São erros crassos ou tiros certos de Bolsonaro? Até quando?