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O Estado de São Paulo
A Baixada Fluminense é uma assustadora a massa cinza conhecida pela falta de verde e seu calor sufocante. A OMS - Organização Mundial da Saúde diz que uma cidade deve ter no mínimo 12 m² de área verde por habitante, sendo que o ideal é 36 m². Deodoro, onde se quer transformar uma importante área verde com mata em autódromo, faz limite com a área rural, mas para efeitos de qualidade de vida da população urbana área rural não é contabilizada como área verde por que seu uso e finalidade são completamente diferentes. O número de parques na Baixada Fluminense é ridículo para a enorme população. Só isto já justificaria a não destruição de extensa área com mata fechada. As 700 mil árvores que dizem que serão dados em contrapartida não sensibiliza. No primeiro grande projeto de plantio de árvores de São Paulo, foi dito que seriam plantadas 1 milhão de árvores, o que é difícil de contabilizar, e do que foi realmente plantado bem menos de 10% se transformaram em árvores adultas. Mesmo que a contrapartida fosse 700 mil árvores adultas, isto não substitui a importância social que um parque tem para convívio e saúde pública, cruciais inclusive para a diminuição da violência endêmica na região. O Rio de Janeiro perdeu seu autódromo para dar lugar a uma Vila Olímpica envolvida em diversas denúncias e praticamente abandonada. O antigo autódromo desapareceu sem deixar rastros de suas contas, que na maioria dos autódromos do Brasil é muito deficitária. O automobilismo brasileiro vem em crise há décadas e as críticas às Federações e Confederação Brasileira de Automobilismo são pesadas, segundo especialistas uma das causas de não conseguirmos formar pilotos com as qualidades necessárias para representar o Brasil na F1, uma das principais razões da popularidade aqui. Qualquer empresa promotora de eventos ou dona de autódromo só pode promover competições sob a tutela das entidades locais e internacionais. Quem acompanha a F1 sabe que é incerto seu futuro, tanto porque o setor automobilístico está passando por uma crise que ninguém sabe onde vai dar, quanto porque sua base tecnológica ainda está vinculada a motores a combustão, tecnologia que tudo indica tem seus dias contados. Por outro lado está havendo um forte e surpreendente crescimento de popularidade da Fórmula E, a fórmula 1 dos carros elétricos, que tem como princípio fazer suas competições em ruas e não em autódromos. Jogar as fichas da Cidade Maravilhosa num autódromo, mesmo com dinheiro privado, é uma insanidade sem tamanho. Mostra o absurdo que não tenhamos sequer iniciado a discussão sobre a função social e econômica dos espaços privados de uso público. Não é simplesmente investimento privado, mas investimento privado de interesse público. É função constitucional do Estado ser o órgão regulador para o bem público. No meio de uma pandemia, com o futuro incerto de todo planeta, com a OMS, Banco Mundial, ONU e outros organismos de fundo social e econômico dizendo que a única certeza é que temos que melhorar a qualidade de vida de nossas cidades e suas populações, se vá pensar em autódromo numa cidade onde falta dinheiro para tudo e é tida como o símbolo máximo do caos. E o Supremo dá corda. Dá para entender? É, acho que dá, é só juntar os pauzinhos.
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