quinta-feira, 23 de julho de 2020

O futuro das cidades tendo a crença como dogma

Quem está pedalando ao seu lado é um bolsonarista ou um petista? O que importa? Que diferença faz para sua saúde? Ninguém quer saber enquanto todos estão pedalando. Parado e conversando a história é outra, o contágio dos discursos é instantâneo, a febre da raiva sobe rápida e a garganta fica irritada pela voz alta ou berros imediatamente. Que seja, não importa, a solução é pedalar independentemente de quem esteja por perto. Não é uma gripezinha, a terra não é plana, tem diversidade de terreno, subidas, descidas, ciclistas vestidos de todas as cores, os assaltos continuam independentemente se vêm da esquerda ou direita ou se os assaltantes estão escondidos atrás de um templo ou de galpões, estas são as pragas que não se consegue parar; muito pior que gafanhoto. 
Bicicleta de novo significa liberdade, como sempre significou história afora. Vamos pedalar. Aliás, vamos pedalar, caminhar, correr, tomar cuidado, viver; vamos transformar nossas cidades.

A tarde vou pegar mais máscaras, desta vez para meus queridos amigos Sandrelei e Cláudio, donos do ex quilo onde comi por décadas. São uns 18 km ida até próximo do Horto e mais 18 km de volta, cruzando a Marginal do Tiete lá pela Barra Funda. Fui várias vezes durante o "fique em casa". Final de março e abril o caminho estava vazio e foi uma delícia olhar a marginal com pouquíssimo movimento. A última vez que fui, semana passada, vida normal, trânsito infernal, cheiro horroroso de poluição que gruda em tudo. Parece que a pandemia está sob controle aqui em São Paulo, mas definitivamente não está no resto do país, resultado de profunda mediocridade, da crença religiosa nas falácias e fórmulas mágicas, negação da ciência, objetividade ineficaz, uma soberba sem tamanho, muito "você sabe com quem está falando...", o culpado são os outros... Nunca antes neste país tivemos tamanha ignorância. Ou sempre tivemos e nunca quisemos ver, o que provavelmente é fato. Que seja, vamos pedalar.

Ontem foi comemorado com muita festa a aprovação do Novo Fundeb pelo Congresso, o que significa que pelo menos verba a educação vai ter. Acho, só acho, que a educação brasileira é fraca, mas pelo menos vai ter cacau. Brasil é campeão ou está próximo de ser campeão mundial de inúmeras mazelas: educação, saúde pública, mortes violentas, mortes no trânsito..., e não sigo no etc... porque entupiria este blog com nossos erros perenes. Uma coisa é certa, só a educação salva, inclusive dos obscurantismos, eu disse "dos", o pavoroso que vivemos hoje e outros do passado um pouco menos maléficos. Fato é que o Brasil não vai para frente porque é um país de mal educados, quando não crentes, não só os religiosos, o que também é sinal de ignorância. Besteira até o maior dos sábios diz, o problema é o tamanho e as consequências da besteira dita. Ai....

A Rádio Eldorado - Estadão FM está soltando a série "Cidades em Movimento" dividida em 12 programas com entrevistas e comentários sobre como deve ser a cidade pós pandemia. Vale a pena. É lógico que mobilidade ativa entra na pauta. Está no quinto ou sexto programa e ainda não ouvi falar sobre educação. Muito do que se estão falando é ótimo, mas sou macaco velho e duvido que vá rolar por um problema de educação geral de nossa população, independente da escola de onde saíram, particular ou pública.

Somos quase campeões mundiais de mortes no trânsito; resultado de crença religiosa em falácias e fórmulas mágicas, negação dos dados coletados e uso da ciência, objetividade ineficaz, soberba, os culpados são os outros..., não importa ao lado de quem você esteja no trânsito, assim é e o resultado é este que temos. 

Bicicleta faz o bem até com populações mal educadas, ignorantes, mas poderia dar resultados muito mais expressivos se parassem de crer em falácia, fórmulas mágicas, aceitassem o que a ciência ensina e funciona nos países que nos espelhamos, usássemos bom senso para obter objetividade, parássemos com a soberba que só a bicicleta salva, parassem de culpar os outros por tudo... É uma questão de educação, leitura, boa informação, compreensão do que está lendo ou ouvindo... Definitivamente ter dois palitos na mão não e ter um sistema binário. "Um mais um são dois" é só uma expressão e não se pode transformar esta verdade em dogma.


Notas:
Aqui em São Paulo vendas de bicicletas e oficina estão em alta. Uma bicicletaria pequena chegou a vender 4 bicicletas num dia, notícia que não ouvia fazia muito tempo. O estoque está baixo e alguns produtos são difíceis de encontrar o que se traduz num sorriso dos proprietários das bicicletarias que não se via fazia muito tempo.

Domingo passado voltou a Ciclo Faixa de Domingo agora patrocinada pela Uber. As ruas estavam lotadas e as ciclo faixas mais ainda. Não houve respeito pelos 8 metros de distância entre ciclistas, mínimo, recomendado pela OMS. Ao mesmo tempo que é bom ver o pessoal feliz de volta nas ruas acho assustador. Lucia, uma conhecida, foi uma das primeiras a parar na UTI. Quando saiu, uns 10 dias depois, fez um vídeo acalmando os amigos; e tinha envelhecido uns 10 anos; apavorante. Só não mantém distância quem não teve contato com alguém que pegou para valer. Eu continuo pedalando sempre longe de aglomeração e guardando distância de todos ciclistas. Tenho muita saudade de entrar no vácuo, mas não dá.  

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