domingo, 6 de julho de 2025

A era do só o muitíssimo é legal

A era do só o muitíssimo (o completo exagero) é legal, entramos nela? Tudo indica que sim. Nunca o muito foi tão muito, necessariamente muitíssimo em tantas áreas de nossas vidas. Comunicação em massa, mais que isto, a manipulação em massa está em nossas mãos, a carregamos no bolso e estamos atentos a ela o dia todo. Mais, aceitamos como natural e bom, melhor, ótimo.
A diferença para o passado é óbvia: a era digital está aí até para os que não querem vê-la, e ponto final.  

Pós escrito: o conceito de infância surge no início do século XIX com a revolução industrial. Antes disto não se fazia distinção entre adultos e crianças. E o conceito de adolescência se firma pós Segunda Guerra Mundial, antes também eram crianças e adultos. Ou seja, usando um termo bem popular: não tinha mi-mi-mi.

Paz e amor, nossa fronteira final? Faz tempo que se acredita que sim, é o nosso fim, e aí faz tempo, muito tempo, procura desesperada desde o surgimento das religiões monoteístas, ou bem antes. Cristianismo a refinou: pratique muito amor e tenha paz no céu, com direito a recepção por São Pedro. E por aí vão esta e as outras. 
 
O Festival de Woodstock foi o ápice do paz e amor, do Flower Power, do faça amor, não faça guerra... Quatro dias de música, sexo e drogas, e paz e amor. Saiu do controle com 500 mil pessoas invadindo a fazenda e lá ficando por quatro dias, debaixo de sol, chuva, lama, precariedade de alimentação, bebidas, higiene, transformando tudo em volta num caos, mas de alguma forma controlado pelos próprios meio milhão de jovens. Quase inacreditável, mas foram só duas mortes, uma por overdose e outro atropelado por trator que ali trabalhava para dar um mínimo de condição de vida para aquela massa de paz e amor.

Os cinco discos gravados e lançados no mercado, mais fotos, filmes e o filme Woodstock mostram o que foi, pelo menos o lado que era interessante mostrar para um público que se sabia restrito, selecionado, e com potencial político e comercial. Paz e amor serve além de suas belas palavras. Woodstock foi para uma geração "muitíssimo legal". 

Aqui, no Brasil, antes disto, a partir da metade dos anos 60, começaram os festivais nacionais de música transmitidos direto pela TV (em branco e preto). Quantos músicos maravilhosos saíram dali. Paz e amor? Não só, ou um outro tipo. É proibido proibir, ou era, ou queriam que fosse, como cantava a música. Vivíamos o começo de uma ditadura militar que ficou braba e o discurso paz e amor pegava menos neste país tropical, ou fazia menos sentido que num Estados Unidos desbundado na riqueza, a todo vapor, mas metidos em uma guerra violenta, Vietnan, sem sentido diziam, a segunda deles pós WWll. Paz e amor era protesto, ou pretexto, como queiram. 

A partir da revolução industrial o "muito é legal" não só para os negócios e capital disparou. Imagina só o que sentia a primeira geração que passou a ter utesilhos domésticos a disposição em casa. Quanto mais, melhor, era novidade e ganhou outra escala: acessível. Rádio e depois TV deram um belo empurrão ao mais é melhor.
Também a partir da revolução industrial surge uma nova era, a era do só o comunismo é muitíssimo legal, que pelo sim ou pelo não tem a ver com o paz e amor do Festival de Woodstock caótico e absolutamente igualitário, pelo menos por quatro dias.

Paz e amor? Paz e amor! 
(Esta porra de corretor automático, que agradeço a Deus por existir e evitar que eu escreva erro atrás de erro de português, corrigiu o paz e amor por Paz é amor, o que dá o que pensar. Mensagem subliminar de Deus ou sacanagem digital do programador que é messiânico? NDA.)

Exageros? Sempre existiram, nenhuma novidade, alguns comportamentais, outros sociais, faz parte de nossa história. A 'era do só o muitíssimo é legal' sempre existiu, mas em nichos, de formas diversas e escalas restritas em setores de cada sociedade, mas não na escala e nível de disseminação que temos hoje. 

Foram muitas eras do "só o muitíssimo é legal". Por exemplo, um dos fatores para a vitória dos aliados na WWll foi a suavidade dançante das big bands americanas. 

Sempre se quis encaixar e viver, regra básica de sobrevivência social. Hoje "muitíssimo" é uma força impositiva gerada pela realidade digital que atinge inevitavelmente a todos, queira ou não queira.

Fato é que paz e amor, da forma como pensamos hoje, eu diria, foi o início da "era do só o muitíssimo é legal" uma novidade recente entre e dentro da humanidade. 

Como curiosidade, dois Beatles, Paul e George, viajaram para San Francisco para ver e vivenciar o paz e amor do Flower Power. Dois dias depois retornaram a Londres. Acharam um porre idiota.
 
De qualquer forma o paz e amor muito turbinado e fortemente distorcido pela pela cada vez mais agressiva propaganda comercial, nos trouxe a esta maravilhosa "era do só o muitíssimo é legal", ou, no dito popular, "quanto mais melhor", ou ainda "quanto mais vende, mais lucra". Neste contexto, com a concorrência que se tem hoje, vale qualquer coisa para sobreviver, inclusive o "só o (meu) muitíssimo é legal". E o pessoal embarca e compra, esta é a questão. 

A memória do meu celular acabou. Limpeza feita. Agora funciona muito melhor. A mesmíssima receita de uma pesquisa científica sobre recuperação da nossa memória, a que temos dentro da caixola, que acabou de ser publicada. Menos informação é mais saudável para o funcionamento geral do corpo, mente e alma. Absolutamente ninguém duvida, pelo menos os que não são das gerações X Y Z e os etc + algo. 
Diz a pesquisa, momentos de observação aleatórios e inconsequentes trazem benefícios para memória e outras funções do cérebro, por conseguinte para a vida. Só funciona com as sensações abertas, focadas no apreciar o momento. Simplesmente dar-se ao direito de perceber e sentir.
Em outras palavras: era e continua sendo muito legal integrar-se à vida. Não é sadio e produtivo entrar de cabeça no só 'o muitíssimo (qualquer coisa, de preferência idiota) é legal' que se vive hoje. (Nossa pausa. Sorria! Selfie!)

Meu agradecimento aos pensadores, historiadores e sociólogos que em diversos artigos tem analisado e colocado em contexto o que vivemos hoje. Estamos um pouco muito mais acelerados do que é sadio. Pelo que me lembro a ideia deste texto, delírio talvez, veio de artigo do Karnal sobre exageros.
 
Termino citando Goebels, que usou e abusou do "só o muitíssimo é legal" para fundamentar a tentativa de impor uma era que teve consequências definitivamente nadíssima legal para centenas de milhões. Aliás, Stalin, Mao e outros do genero, também impuseram o muitíssimo legal a moda deles que também fazem parte de um passado pouco memorável. A ideia de todos eles, ditadores, salvadores da humanidade, populistas, religiosos, tudo junto e separado, pode até ter sido boa, mas.... aí entrou o muitíssimo, a doutrinação do "só o meu muitíssimo é legal". Danou-se!

Será o IA a nova "era do só o muitíssimo é legal"?. Medão! Eu prefiro ser uma metamorfose ambulante

segunda-feira, 30 de junho de 2025

O drama de quem perde filho usado como publicidade

Rádio Eldorado FM
Fórum do Leitor
O Estado de São Paulo

Sei o que a família da menina que caiu no vulcão está passando. Meus sinceros sentimentos. Vi amigos meus perderem filhos e sei o quão devastador é e continuará sendo. Novamente, meus sinceros sentimentos.

Mas sou contra o poder público pagar o translado. Se estava viajando e fora do país é porque tem condições para arcar com as consequências; supõe-se. Ouvi uma opinião, com a qual concordo totalmente: não se deveria permitir sair do país sem seguro saúde que inclua translado.

Antes de pagar o translado de um drama que tocou todo país, portanto é boa propaganda, os governos deveriam ser obrigados a pagar e facilitar velório e enterro de todos os mortos por bala perdida, sem falar em custos reparação vitalícios. Isto jamais acontecerá porque expõe o absurdo fracasso da segurança pública que vem sendo praticada. Já o drama maluco dos que perderam seus filhos nesta guerra insana ninguém fala.

E repito mais uma vez, meus sinceros sentimentos a família da menina. Não é normal e não deveria acontecer a brutalidade de pais enterrarem seus filhos. 


No velório do filho de uma amiga não aguentei a barra e tive que ir embora. A cada notícia da morte do filho de alguém tomo uma porrada emocional, disto não escapo. A vida fez com que me acostamasse com mortes, no plural, as mais diversas, algumas nada agradáveis, das que deveriam me chacoalhar, mas não o fazem, simplesmente entendo, aceito. Mesmo a prática não conseguiu mascarar o brutalidade da morte de um filho de quem quer que seja. Todos que perderam filho nunca mais voltaram a ser os mesmos, isto sei porque acompanho. A cicatriz deixada não fecha, doi sem parar como as queimaduras do inferno, e esta dor fica estampada, não importa quanto tempo passe.  

sexta-feira, 27 de junho de 2025

45 ou 450 m²?

Não tenho como agradecer ao Ricardo pelo delicioso jantar, cozinhado e servido por ele, e poder estar com gente que sempre gosto demais, mas não os via fazia mais de 50 anos. Que absurdo! A vida nos faz tomar caminhos diferentes e perder de vista quem nunca se deveria perder de vista.
Acabou sendo muito divertido, pelas histórias e conversas, muitas recordações do passado, e até pelas briguinhas entre primos, no caso, entre Ricardo e Silvia. Coisa de quem se gosta muito e faz questão de atazanar o outro. Família!

O jantar foi oferecido num dos clubes / condomínios mais exclusivos e chiques do Brasil, algo fora da curva no meio desta insanidade de novo-riquismo desenfreado que vivemos, melhor, que o Brasil se transformou. Quando deixamos de nos ver, lá pelo fim dos anos 60, ser rico era uma outra história. Raríssimos os que ostentavam da forma como se ostenta agora. Tinha lá seus exageros, mas nada comparado com os disparates que temos hoje. 
O clube / condomínio em questa é uma ilha de verde com um clube completo, incluindo barcos e outros esportes de aqui no Brasil são de elite. A sede e várias construções são dos anos 50, creio. Tem alguns com dinheiro que moram ali em casas de uns 200 m² em média, não mais, nem é permitido, boa parte delas no meio da mata atlântica primária beirando a água. E tem os chalés, espécie de casa comunitárias, meia parede, construção padronizada, térreas, que remetem ao que se vê um filmes americanos ou europeus de época, anos 40 ou 50. É lindo. Tudo tem regras para manter as velhas e boas qualidades do lugar, e são respeitadas. É proibido construir nos terrenos padrão, acho que 1.000 m², as alucinadas, fantásticas (?!?) mansão-shopping-center-murado-quanto-maior-melhor-mais-chique-para-esfregar-na-cara-do-outro como se vê cada vez mais com frequência na rica (???) São Paulo. A única coisa que incomoda é quantidade de automóveis, mas deste mal ninguém consegue escapar, pelo menos por enquanto.

Interessante receber o adorável convite para ir naquele clube justamente agora. Por conta de obrigações com a família tive que negar um convite para estar numa cidadezinha de 6700 habitantes no meio do sertão bahiano. O meu anfitrião lá mandou fotos e filmes do lugar, lindo, tão chique quanto onde jantei. Igual na riqueza, mas no sentido oposto, se é que é possível entender isto no meio da baderna cultural que vivemos. 

Lá, no sertão, eu ficaria numa casinha mais ou menos no tamanho da casa onde foi o jantar, talvez um pouco menor. Está no meio do nada, como dizemos aqui neste caos de cidade, ou seja, no meio de uma caatinga verde, esplendorosa, de encher olhos e alma. Uma paz! Me deu raiva de não ter ido. Nas casas do clube me senti muito tranquilo também, a diferença é que na área do social e esportiva do clube tem monte de carro estacionado e circulando, como já disse. Lá no sertão é muito verde, algumas árvores e umas poucas vacas, cabras, cavalos, galinhas... E cobras, que não saem nas fotos, mas foi dito que tem aos montes, talvez não tanto quanto o número de carros do clube. 
Na cidadezinha, no próximo fim de semana, tem as festas juninas, famosas na região. Pelo que entendi e li, não tem nada a ver com multidões, música ensurdecedora, povo olhando para o palco esfuziantemente iluminado com braços erguidos balançando. Festa de cidade pequena, tudo a ver com se divertir até morrer. 

O contraste entre isto e aquilo é de se pensar. Nos dois cantos o objetivo final de seus habitantes é muito parelho, tem mais afinidades do que possa parecer: tranquilidade, paz, ver e viver a vida. Complicado é conseguir fazer encarar e aceitar os paralelos.

E no meio do jantar contei que vivo numa casa de 45 m² de telhado, um choque para um dos convivas. "Como assim, 45 m²? Não entendi. Como pode alguém viver em 45 m²? Minha casa tem 450 m². Não conseguiria viver com menos. Preciso de espaço para viver, pensar, criar, trabalhar." Ok, também preciso de um pouco mais espaço para trabalhar, mas criar coragem e reorganizar, tudo se encaixa. Coisa de cidadão que acha normal a explosão de arranhas-céu, ou será arranhas-céus, com coberturas de muitos metros quadrados, muitos mesmo, tipo de 500 para cima, onde viverão um casal, talvez com filhos. O único feliz, talvez, será o cachorro, desde que não se pergunte "Quer passear?".
 
O ponto comum com a comparação das realidades do que oferece a cidadezinha e o chique clube está em encarar a realidade pelo que ela é, e não pelos preceitos estabelecidos. 

Espaço, a definição da palavra é fácil buscar no dicionário, mas a compreensão ou o sentido subjetivo não. Acabei de ver, no dicionário são 14 as definições, para minha surpresa, duas delas tangenciando o que quero dizer aqui. 
6.
capacidade, acomodação.
"há e. para todos no auditório"
7.
cabimento, oportunidade.
"não havia e. para aquele tipo de comportamento"

Lá, no sertão, no frio congelante de 21° C, segundo a avó de quem me convidou, vi na foto enviada com a família sentada fora da casa com fogueira acesa. Morri de inveja. Um dos meus sonhos é voltar a ver um céu de bilhões de estrelas límpido, e lá, longe da fogueira e da parca luz da casinha, teria a oportunidade, ou terei, porque um dia vou. 
Aqui, na linda e acolhedoura casa do clube, sentamos nós no terraço e conversamos até Ricardo avisar "vamos sentar, o jantar está servido". Até procurei um lugar escuro e olhei para o céu, mas estando em São Paulo se vê muito pouco, quase nada. As luzes da cidade...

Conhecia o clube. Fui umas tantas vezes quando era criança, aí falo de algo como 60 anos atrás, ou mais. Mudou pouco, felizmente. Óbvio que está muito mais cheio.  

O que me espera no sertão é uma viagem ao passado que gostaria de ter vivido muito mais intensamente. Mais ou menos na mesma época em que ia para o clube, também fui para fazendas de vida muito parecida com a simplicidade do sertão. Estrada de terra, casa de pouca mobília e utensílios, cozinha mais simples ainda, na minha época fogão a lenha, uma delícia. Que saudades! Aliás, chuveiro aquecido a lenha, serpentina dentro do fogão. "Toma banho rápido ou acaba a água quente para sua irmã".

O pessoal que revi passava as férias de verão na casa de praia em frente onde eu ficava hospedado. Era tudo open house, portas escancaradas para a multidão de crianças que podiam cruzar a rua sem olhar para ver se vinha carro. Na casa de Ricardo sempre passavam as férias algo como 19 crianças. Na que eu ficava recebia pelo menos mais 5, quando não 6, 7, 8... E tinha ainda a casa de minha tia, com outras mais. Era um exército de crianças.

Numa das fazendas onde fui quando criança nos perdemos, eu e mais dois, subindo um morro e começou anoitecer. O pai do meu amigo mandou um funcionário nos encontrar e trazer de volta. Era um homem negro, muito forte, calmo, que nos guiou para casa e a segurança. Alí descobri que havia vida fora do planeta que eu vivia. 
Na manhã seguinte do terraço eu o vi carpinando e não entendi como alguém que havia nos salvado poderia estar carpinando pesado debaixo daquele sol tórrido. Fui até lá agradecer. Talvez ali tenha começado a entender que a diferença entre o rico clube e a casinha do sertão, entre os 45 e 450 metros quadrados, possa ser olhada de outra forma.

...e no meio da calçada tinha a frente de um carro

Pedalando na calçada completamente desligado chapei a frente de um carro que acessava o estacionamento. Estava olhando janelas acesas de uma casa que foi vendida e pensando se agora vai ser posta abaixo. Bum!, uma barulheira, e chão. 

Sei que pedalar em calçada é, no geral, muito mais perigoso que pedalar junto com o trânsito. Não falo sobre calçadas largas, mas aquelas de bairros, estreitas, e não raro cheia de buracos e obstáculos. 
 
Este não foi o primeiro acidente que tenho pedalando numa calçada. O primeiro e mais marcante, foi quando era criança, lá pelos meus 5 anos de idade, se tanto. Chapei a porta de um carro que estava saindo da garagem de sua casa. Em algum canto tenho a foto da bicicleta com garfo torto, sinal que a batida não foi muito suave. Me lembro que o motorista saiu do carro e veio ver como eu estava, e eu, apavorado menos com a batida e muito mais com a possibilidade que lá em casa meus pais descobrissem que eu fugia para pedalar muito além do que me era permitido. Hoje, fico impressionado que ninguém tenha perguntado porque o garfo estava visivelmente torto para trás. Provavelmente nunca olharam a bicicletinha.

Outro acidente pedalando numa calçada aconteceu tanto por conta de uma deformação da calçada em razão de uma raiz de árvore, quanto por um amortecedor que eu sabia defeituoso e que me jogou para cima e contra um poste. Resultado, uma costela quebrada. 

O terceiro acidente, infelizmente, mas infelizmente mesmo, para minha completa tristeza, mácula imperdoável em meu currículo de mais de 40 anos pedalando, um dia derrubei uma senhora que saia de casa. Calçada muito estreita, não vi, e sobre a calçada jamais poderia ter visto, o portão abrindo e ela ponto meio corpo para fora. Resultado, ela caiu de costas, felizmente sem se machucar, e eu parei no chão. De novo, na calçada e viajando completo na maionese. Na rua, que é estreita e vazia, teria tido ângulo e tempo de reação para não atropelar a senhora. 

Repito a recomendação que sempre faço: não pedale na calçada, é perigoso. O triste é que não adianta falar, o pessoal não só não acredita, mas fica bravo quando falo. Calçada não raro é muito mais perigoso que pedalar na rua.

A segunda razão para este e os outros acidentes foi estar muito relaxado, completamente desligado. Aliás, pensando bem, todos os acidentes que tive, dirigindo automóvel ou pedalando, foram causados por distração.

Estou naqueles momentos da vida que são um tanto agitados, por assim dizer. Tenho pedalado, tanto para transporte quanto para relaxar, desligando a cabeça. Em alguns momentos passo da conta e desligo por completo. Noutros tem tanta coisa rodando na cabeça que também desligo por completo do trânsito. As duas situações são perigosas. Eu já estava prevendo que uma hora a coisa ia dar ruim, e deu, felizmente muito devagar e na calçada. Ficou o alerta: acorda Arturo!


segunda-feira, 23 de junho de 2025

Crime, terrorismo, corrupção


Como muitos brasileiros, guardo o direito de não confiar na lisura do topo de nossa pirâmide do poder público, leia-se inúmeros políticos, alguns governadores e secretários, e principalmente e não só os que agora ocupam o Planalto. A razão para a falta de confiança vem de atitudes, algumas comprovadas, que demonstram um forte interesse por enriquecimento sem a menor preocupação com as consequências para o país. Duvido que estejam preocupados que de onde veio seu bom dinheirinho, se do crime ou de uma possível organização terrorista. Aí está um buraco assustador que vem afundando o Brasil faz tempo. Afinal, corrupção nunca foi usada para financiar terrorismo? Pelo que a história diz, sim, foi.

Fim do Cidade Limpa? Times Square paulistana?

SP Reclama 
O Estado de São Paulo 

Faz tempo que vereadores paulistanos vem usando NY como referência para nossa cidade. No começo desta explosão imobiliária, que causa mais que estranheza, um vereador disse que estava feliz, que São Paulo se transformaria numa Manhattan. Agora querem transformar a cidade numa Times Square em nome do aumento do turismo. Quem afirma isto mostra uma vergonhosa falta de conhecimento. O turismo de NY definitivamente não está ancorado na Times Square. Aliás, ali se faz um turismo de baixo valor agregado, tipo de turismo que as cidades pelo mundo querem se livrar o quanto antes possível. Quem apoia a ideia desconhece o que é o turismo em São Paulo, onde e qual são seu valores agregados e onde estão suas fraquezas. Não resta dúvida que ao apresentar a ideia o vereador deixa claro que faz turismo farofeiro e não tem a mais remota ideia do que a atual NY, a maior e mais interessante revolução urbana dos últimos 70 anos, tem a oferecer e ensinar. As cidades com turismo mais rentável no planeta são limpas, despoluidas e principalmente seguras, nada a ver com cartazes comerciais luminosos.

sexta-feira, 20 de junho de 2025

O que eu pensei sobre minha vida estava errado

O que eu pensei sobre minha vida estava errado. O que estava errado? Muita coisa. O peso dos meus erros diminuíram, (diminuíram?), quando descobri, através de uma música do Sting no disco Brand New Day, que o Corão fala sobre o valor e aprendizado que se pode tirar das dores, dos sofrimentos. Com certeza os contratempos ensinam. A questão é o tamanho da bagaça, para usar uma expressão bem pop.

Mas precisava ser assim?

Estou desmontando o apartamento de meu pai, que morreu. O relacionamento com ele foi ruim. Não sei se ruim é a palavra certa, mas definitivamente não foi uma relação fácil. Ruim, eu diria. Tenho consciência dos defeitos dos dois, meus e dele. Quando jovem joguei tudo nas costas dele em desabafos e atitudes que me arrependo, muito. Talvez até tivesse razão, e muitas vezes tive, mas a perdi não calando ou metendo a boca no trombone, não sabendo comunicar devidamente, nem com quem de direito.

Comunicar se! Este é o segredo da vida. Errei, mas tenho um bom desconto de ter vivido numa sociedade onde a comunicação é bem precária, digo a boa comunicação, não o frequente vômito inconsequente de palavras.

Num jantar para acabar com dois anos de distanciamento total, no meio de explicações que não eram pertinentes, perguntei a ele quem era o adulto ali, quem era o que deveria ter experiência de vida para não se chegar até uma situação como aquela. Ele ficou mudo. Minha tia dizia que ele era o eterno adolescente. 

Que seja, sei das minhas razões, mas absolutamente nada justifica os erros que fiz. Tereza sempre vem com "Quantos anos você tinha? Você não tinha maturidade...". Eu não aceito, não me dou ao direito de olhar para meu passado e aceitar com tanta naturalidade erros grosseiros. Não posso, não consigo. 

Agora espero que minha experiência sirva para algo, alguém ou alguma coisa. A vida é, ou pelo menos deveria e a ser, um passar de bastões, feito da maneira correta. Em outras palavras, comunicação de forma e no momento apropriados. Ou...

Agora, desmontando o apartamento, tenho certeza que desperdicei minha vida numa pressão que não valia a pena. Mesmo com outras pessoas, aquelas com quem tive bons momentos, eu poderia ter me saído melhor, muito melhor. Faltou maturidade, faltou educação e treinamento para fazer a coisa correta, ou pelo menos minimizar deslizes. Faltou orientação. "A gente vai amadurecendo", dito popular, para mim é comodismo calhorda, de quem acredita que vai aprendendo só com os erros, muitos inaceitáveis. Comodismo principalmente de quem pode e deve orientar, mas tira o seu da reta e senta no sofá. O inaceitável é inaceitável.

Acumular razões, emoções e coisas é fácil, biscoito, como dizíamos. Desmontar a bagunça é outra história, nada fácil. Vivenciei um amigo desmontando suas verdades nos últimos meses de vida. Partindo dele, cabeça dura, para mim foi uma surpresa, pena que muito tarde. Pela vida ele distribuiu riquezas, conhecimentos, ensinamentos, como poucos o fizeram, mas de uma forma dura, grosseria com muita frequência, difícil para quem estava próximo. Poderia ter sido muito mais proveitoso.

Fiz besteira adoidado pela vida. Se arrependimento matasse... Algumas besteiras ainda posso pelo menos me desculpar com quem as sofreu, outras não, até porque é muito difícil achar uma justificativa que se encaixe na palavra "minimizar". Erros de relacionamento e principalmente erros que dizem respeito ao pragmatismo necessário da e para a vida.

Um amigo com quem trabalhei me disse que se eu tivesse vivido fora do Brasil teria tido uma vida muito mais fácil, em todos sentidos. Primeiro, "se"? Então esquece. Nasci e vivi aqui. Tenho certeza que muitos dos meus erros são normalidade desta terra, mas não se justificam, pelo menos não para mim mesmo. Nada justifica.

Um dia olhei no espelho do banheiro e me vi de verdade. Uma coisa é o reflexo nosso de cada dia, outro é cair a ficha de quem está sendo refletido. Foi um tranco, daquela vez um daqueles trancos que faz o motor pegar e o carro desembestar para felicidade da vida do motorista e passageiros. Talvez agora eu deva parar de olhar no retrovisor. Sim, estou fazendo isto. Ou tentando.