Fórum do Leitor
O Estado de São Paulo
A realidade por trás das constantes calamidades que temos no Brasil não pode ser varrida para debaixo do tapete das mortes. Vidas perdidas não podem nem devem encerrar a discussão sobre todo e qualquer fator envolvido numa tragédia. Limitar-se a saber quanta chuva caiu em quanto tempo, as condições do terreno, construções regulares ou irregulares em área de risco e o consequente número de mortes, deve ser tomado como simploriedade irresponsável. Não abrir uma investigação ampla e inteligente é manter a população, a maior vítima destas calamidades, no escuro, na ignorância, deixando-a a mercê do próximo evento que com certeza virá, disto ninguém duvida. Se faz necessário expor com detalhes a completa cronologia, ditos erros em cascata, geradores do evento sem deixar escapar nada, investigação atemporal, completa e abrangente. Não lembrar ou excluir de responsabilidade os que "lotearam", "venderam", permitiram ou fecharam os olhos é seguir dando aval a mortes ou assassinatos, resta saber qual crime hediondo, diria eu. Qualquer exclusão da responsabilidade legal sobre atos passados é o habeas corpus para o próximo crime. "A gente nunca imagina que isto vá acontecer com a gente" antes de ser uma lamentação trágica é uma vergonha nacional, portanto de todos nós, brasileiros. Limites dos direitos sobre o uso do privado já estão estabelecidos em leis muitas das quais simplesmente não são cumpridas. Limites de específicos interesses privados, inclusive sobre a propriedade, que sobreponham os interesses de segurança e saúde pública devem entrar na pauta com urgência urgentíssima. Vidas, bairros, cidades, meio ambiente e o país não podem soterrar pelos escombros de direitos anacrônicos e distorcidos. Centrar as tragédias só nas mortes distorce uma discussão que deve ser ampla e realista. Ou seguiremos varrendo para debaixo do tapete das mortes nossas vergonhas.
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