sexta-feira, 19 de março de 2021

Levar os negacionistas in loco e ao vivo

Na Suíça, em 1976, ouvi uma propaganda que mudou minha vida. Dizia em outras palavras que 'cada cigarro de haxixe comprado e fumado é uma bala que se dá para os traficantes', na época terroristas. A bem da verdade não muito diferente de hoje. Faz muito tempo colocaram no início da Rodovia Anchieta um bem visível outdoor pedindo para dirigir com cuidado tendo junto um carro completamente destruído por acidente. Entraram na justiça e mandaram tirar "aquilo" de lá por que era ofensivo. Hoje no noticiário uma médica que está na linha de frente da luta contra o genocídio que vivemos disse que seria útil levar para uma visita num hospital de catástrofe os que não creem na pandemia e os que aglomeram sem máscaras em festas. É óbvio que a justiça não permite, mas é uma pena porque seria muito instrutivo e explanativo. Há uma foto do pós Segunda Guerra Mundial onde se vê três crianças numa estradinha indo para escola, uma delas olhando para a direita onde se encontra literalmente um muro de corpos humanos amontoados mais alto que elas, provavelmente aguardando para serem enterrados ou cremados. Quem viu com os próprios olhos ou vivenciou sabe o que é e não brinca com a realidade. Faz muito que o Brasil vive genocídios, sejam eles por assassinatos, trânsito ou falta de saúde preventiva, mas são dramas particulares vivenciados por familiares, amigos, quando muito a comunidade, quando muito motivo de bate papo de boteco para a massa. Não nos sensibiliza mais as tensas imagens da TV; viraram programas de sucesso, negócio rentável, audiência certa. A realidade brasileira é tão abstrata que talvez mostrá-la ao vivo e in loco se transforme em um novo BBB. 

Faz um bom tempo dei uma palestra para funcionários de uma concessionária de rodovia em Araçatuba e fui alojado junto com socorristas. Almoçamos juntos o que me deu a oportunidade de ouvir suas histórias. Entre histórias reais de terror um dos socorristas falou baixinho "O duro mesmo é ter que raspar corpo que grudou no asfalto depois de múltiplo atropelamento". Aos motoristas pouco importa.  
Por causa do trabalho tive que ver algumas fotos e documentos impublicáveis de acidentes com ciclistas e deles aprendi muito. Hoje pedalei atrás de um ciclista desconhecido que pelas barbaridades que fazia na avenida sei que num determinado momento vai se acidentar feio. Tive a tentação de emparelhar e dar dicas, mas a vida me ensinou a ficar quieto, a sequer tentar passar meus conhecimentos, porque cansei de ser agressivamente questionado ou tratado como imbecil.
Como saímos desta?

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