terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

a guerra d'água

nenhum carro e rio Pinheiros já de volta ao leito
Foi divertido pedalar numa Marginal Pinheiros completamente impedida para o trânsito. Apesar do prazer de ir pedalando da Ponte Cidade Universitária até a Ponte Jaguaré cruzando com pedestres caminhando tranquilamente no meio do asfalto e sem nenhum barulho de motor por perto a visão dos estragos causados pelo transbordamento do rio Pinheiros não foi nada agradável. 
Acordei no meio da noite, 2h30, e não consegui dormir por conta da assustadora tempestade que caia e não parava mais. Quando começaram os noticiários na TV às 4h00 era possível ver que São Paulo já tinha entrado em colapso. Pinheiros e Tietê transbordaram, as pistas das marginais próximas ao Cebolão desapareceram, a fila de carros, caminhões e ônibus parados perdeu se de vista. Triste.
No meio da tarde, com a cidade em colapso, mas já com uma chuva mais fraquinha, fui ver como estão o nível das represas que abastecem São Paulo. Estão quase todas cheias, exceto o sistema Cantareira, o maior e mais importante para a região Metropolitana, que está com 49.8% de sua capacidade total. Boa notícia? Bom, melhor que a secura que tivemos no passado, mas longe de deixar despreocupado. Na crise que tivemos mudaram a forma de medir o volume total de água. Incluíram os volumes mortos na medição e pelo que entendi assim será daqui para frente. Num dos gráficos do site https://www.nivelaguasaopaulo.com/ subentende se que só agora o Cantareira está saindo do volume morto. Num outro site os números apresentados o Cantareira está com um pouco menos que 25% de sua capacidade, descontado os dois volumes mortos. Para quem não se lembra as autoridades diziam na época da seca que demoraríamos pelo menos 5 anos para voltar ao normal. Estamos tendo sorte.
O fato é que as águas desta tempestade que caiu em cima da região Metropolitana de São Paulo não vão para os reservatórios. Talvez nem possam ir dado os níveis de poluição que carregam. Esta tempestade vai desaguar e dar problemas em Osasco, Barueri, Santana do Parnaíba, Bom Jesus do Pirapora, Cabreúva, Itu, Salto e ai para frente, mas com certeza não vão para os reservatórios. Como o volume de chuva foi brutal, coisa que não se via a décadas, é muito provável que tenham acionado a Usina da Traição e revertido o fluxo do rio Pinheiros para evitar uma tragédia maior diminuindo a enchente do Tietê e reduzindo a velocidade de escoamento das águas para o interior. 
A quantidade de sujeira espalhada na Marginal e ruas vizinhas pelo transbordamento do Pinheiros com certeza é muitíssimo menor que a de bairros mais pobres, mesmo assim deprime. Não precisa de transbordamento, basta pedalar na ciclovia da CPTM e ver a vergonhosa cor da água, a quantidade de lixo flutuando e nas margens, sentir náuseas com o forte cheiro que as borbulhas que vem das profundezas exalam. Enfim, água podre, imprestável; vergonha!
Desde de sempre água foi razão de conflitos, mas com o aumento da população mundial a luta pelo acesso a água está ficando cada dia mais crítico. O Brasil é um dos países mais abençoados pelas águas, mas um dos mais desrespeitosos no seu trato. Os números não mentem, são simplesmente deprimentes. E o número de conflitos registrados em B.O. aumentam a cada dia, de todos tipos, de todas formas, com todos graus de violência. Só olhamos para as águas quando elas transbordam e batem nas canelas. Ou quando elas desaparecem. Aí vira uma gritaria contra os governos. Nós nunca temos responsabilidade direta.
imagem divulgada no Whatsapp, autor desconhecido

O rio Paraopeba, aquele do rompimento da barragem de Brumadinho, subiu e transbordou com as chuvas em Minas Gerais. Onde a água contaminada tocou as plantações simplesmente morreram imediatamente.

2 comentários:

  1. Arturo,
    Quando o nivel das represas do sistema Cantareira baixou muito na crise hídrica de 2014, a Sabesp e governo inventaram, mais do que o volume morto, mais duas maneiras totalmente sem lógica matemática de medir os volumes, para dar um número mais alto que o real.
    Daí o tempo foi passando e os volumes foram melhorando, e eu fiquei só monitorando as tabelas para ver o que eles iam fazer quando o índice passasse doa 100% e a represa não estivesse nem perto disso.
    Não deu outra! Na surdina, quando estavam próximo dos 95%, "de repente" a represa voltou para uns 70%, ou seja, o valor matematicamente correto.
    Os niveis técnicos, e não políticos, das represas, pode ser visto diariamente neste link:
    http://mananciais.sabesp.com.br/HistoricoSistemas?SistemaId=0

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