sábado, 29 de fevereiro de 2020

a história morreu e ou a história revisitada

Povo que não conhece sua história é povo que não sabe quem é e não encontra seu futuro. A frase pode não ser esta exatamente, mas meu irmão, Murillo, professor de história da arquitetura e urbanismo, sempre a repetia. Pura verdade hoje confirmada em pesquisas e mais pesquisas.

"A história acabou" disse o pensador Francis Fukuyama. Mexeu com corações e mentes gerando uma confusão sem limites excelente para os oportunistas. Fukuyama prova que a afirmação foi tirada de contexto, provavelmente durante alguma explicação sobre "O fim da história", título original do livro do pensador. Fato é que a história não acabou nem vai acabar, mas de novo e como sempre tem muitos que querem reescreve-la como se ela nunca tivesse existido. Acreditar piamente que nós somos a história é hoje fato trivial, o caminho mais curto para reencontrar a inexperiência e repetir erros passados, até mesmo os mais grosseiros.

No Youtube é possível ver inúmeros documentários que revisitam a história, mais que isto, contam o que aconteceu de fato e não a estória dos vencedores, perdedores, oportunistas ou coiós, que é o que não falta. Esta revisão muito mais apurada e realista de fatos passados tornou-se possível a parir da eficiência dos computadores que conseguem cruzar dados em quantidade e rapidez que nunca tivemos. Como em boa parte do mundo, principalmente nos países mais civilizados, praticamente tudo está digitalizado é muito mais fácil encontrar e ter acesso a documentos do que no passado das bibliotecas e arquivos, alguns fechados a um seleto público. Escancarou-se tudo, escancarou-se nossa ignorância.

Não sei quantos digitalizadores de livros e documentos existem no Brasil, devem ser pouquíssimos. Descobri sua existência quando meu irmão me contou como estava sendo digitalizado tudo que entraria na Biblioteca Brasiliana da USP. É uma máquina sofisticada que rapidamente gira as páginas e as digitaliza. Não faço ideia de como se chamam as profissões envolvidas neste novo processo, talvez ainda bibliotecário, arquivista, museólogo e outros que desconheço; mas sei que no Brasil frequentemente a história vira cinzas. Para mim os que preservam nossa memória, falo de Brasil, são heróis porque o povo mesmo, até os mais educadinhos, fazem a andam. Em todos setores da sociedade, sem distinção. Aqui a história sequer começou talvez porque temos uma profunda vergonha do que somos, de onde viemos, de nossa história. 
Vou estar com Valter Busto, o que era responsável pelo MUBI, Museu de Bicicletas de Joinville. Eu disse "que era". Memória neste país costuma ser projeto de governo. Passados quatro anos de mandato nunca se sabe como vai ficar, se o trabalho continua, ou se a história mais uma vez vai mudar de rumo. Voltando a imensa coleção do Valter, referência crucial da história da bicicleta no Brasil, o mínimo que deveríamos é ter todo seu acervo digitalizado.

Estou em Curitiba, que uma cidade que deveria ter sido referência para o Brasil, mas não colou, não fez história, ou fez ao contrário. No calçadão central encontrei turistas holandeses e conversamos sobre Rotterdam, a primeira cidade da história a transformar uma rua em calçadão, num caótico pós Segunda Guerra Mundial. Roma foi a primeira a ter rodízio, isto no Império Romano, séculos antes de Cristo. Mobilidade não nasceu hoje, como querem alguns. Quem se interessa? 

O que a história tem a nos ensinar?

O NY Times trouxe um artigo sobre como se quer rever a história dos bombardeios que arrasaram Dresden na Segunda Guerra Mundial. Foi o que me trouxe até aqui.

O Brasil tem uma história cheia de buracos, ou melhor, o Brasil tem uma estória, um conto popular que pouco diz respeito aos fatos reais. Não consigo entender por que nos recusamos a buscar nossa verdade e a partir dela olhar para frente e seguir em frente a passos firmes.

Não resta dúvida que neste país é um ótimo pensamento para um 29 de Fevereiro

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