terça-feira, 25 de janeiro de 2022

Demolir patrimônio histórico e construir um futuro pobre?

Fórum do Leitor
O Estado de São Paulo

Derrubaram um dos raríssimos exemplares de arquitetura expressionista residencial que restava não só em São Paulo, mas provavelmente em todo país. Ficava na rua Butantã quase esquina da rua Eugênio de Medeiros e permaneceu preservada até sua demolição. Pinheiros é ótimo exemplo da depredação que toda memória nacional vem impiedosamente vem sofrendo. Da arquitetura dos centenários sobrados e comércios dos Largos de Pinheiros e da Batata, uma das localidades históricas mais importantes da cidade, nem sequer chão restou, transformado num inóspito espaço cimentado. A estação de metrô foi construída de costas para o espaço público, com frente para a av. Faria Lima, que por sua vez foi desnivelada, deixando o cimentado vizinho ao Mercado Municipal como terra morta destinada ao estacionamento de algumas linhas de ônibus. Perto dali, na rua Fernão Dias, se permitiu a demolição de raros exemplares de casas do século XIX de paredes duplas, duas janelas e porta altas em madeira alinhadas à calçada. Pinheiros contava muito da história do progresso de São Paulo e do país por ser ponto de chegada de tropas e viajantes vindos do Sul, história que foi varrida para sempre. Apaga-se, mais uma vez e como sempre, nossa memória, o que somos, nossas referências. Neste sentido não há o que se espantar com a demolição de exemplar raríssimo de residência expressionista. Como devemos medir nossa cultura? Depois de ver torrar sem sentido do Museu Nacional parece que muitos acreditem na patética falácia que dá para restaurar. Não dá, mesmo que tivéssemos consciência do drama, do absurdo, o que não fazemos ideia.
Educação começa em casa e a casa de 85% dos brasileiros está na cidade. Preservar o patrimônio histórico, cultural e ambiental sobretudo tem cunho educativo, formativo, cunha identidade, carácter. É muito difícil que o brasileiro entenda realmente a importância de não devastar quando em sua própria casa acha normal tanta displicência por motivos tão fúteis, pobres e mesquinhos.

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