Na rua os jovens que não conseguiram entrar no bar conversam animadíssimos. O porteiro segurança faz seu trabalho com tranquilidade, conversando calmamente com os que chegam e não param de chegar perguntando quanto tempo para ter uma mesa. Quatro meninas com pernas jovens devidamente expostas, bem formadas e duras, fazem discreto charme para os garotos tímidos que estão no meio do asfalto sem saber como chegar nelas. Um casal encostado ao portão vizinho, rodeado por muitos, está no mundo de carícias deles, sem prestar atenção nem se importar no chamado em voz alta que o segurança faz de quem deve entrar. Valou mais uma mesa, segue o agito tão divertido dentro como na rua.
Sai pela porta um rapaz andar mole peito empinado com um meio sorriso incompreensível, quase cai na rampa, pernas dobradas em zig-zag, retoma a pose ainda na calçada e vai para o meio da rua, onde longe dos olhares perde a pose por completo e se torna trôpego. Já não controla mais a bebedeira, mas mantém o sorriso altivo que é o que lhe resta naquele estado. Alguns olham discretamente para ele que gira o dorso para olhar como se procurando algo que deve ter ficado no bar. Torto, inclina a cabeça, depois um pouco mais o tronco, não vê o que quer. Se dobra inteiro com vontade perdendo o equilíbrio e caindo de quatro no asfalto, apoiado nas duas mãos, braços e pernas abertas, bunda para cima, cabeça para baixo, próprio bezerro recém-nascido recém parido, tropego. Para um pouco de tentar colocar-se em pé e fica nesta posição, de quatro, olhando de perto o asfalto. Tenta de um jeito, tenta de outro, o que chama a atenção da galera, e finalmente termina a dança mole voltando a ficar sobre as duas pernas, corpo duro feito um pau, peito para cima, dignidade plena, pernas nem tanto. Gira a cabeça lentamente, sorrindo, numa última tentativa de encontrar algo que talvez já não saiba mais o que, mas é claro que não ousa tentar dobrar novamente o corpo para frente. Alguma consciência ainda lhe resta. O segurança acompanha tudo sem sair de seu lugar, a porta, e sem muito se preocupar. Alguém da galera solta uma brincadeira, ouve-se risos, alguns comentários, olhares, mas com discrição.
O bêbado continua parado duro no meio da rua. Passa um carro devagar buzinando quase raspando, ele olha e ri, resmunga palavras enroladas e inteligíveis. Um dos garotos próximos o alerta para outros carros que virão. O bêbado faz um giro seco com o corpo e uma perna, estanca para não cair, corrige a posição da outra perna e sai andando como robô pelo meio da rua. Os comentários e risadas sobem de tom e ele sinaliza estar de ouvidos atentos levantando os braços, e assim segue andando passos curtos lentamente agora indo para a calçada. Uns 50 metros depois coloca uma das mãos num poste, depois encosta as costas, tira o suéter e joga na calçada. Alguém solta um fiu-fiu e ele agradece. Desabotoa botão por botão a camisa. A reação da galera na frente do bar aumenta. Quase cai quando tira um braço da manga, mas está gostando dos aplausos e comentários. Tira o cinto e joga para o alto tão forte que fica pendurado no teto de uma van. Admira-se, olha fixo para o feito. Gritos começam no bar. Entusiasmado tira a calça e fica de cueca. Aplausos, assobios, gritinhos de estímulo, meninas rindo e falando comentários sacanas. Ele dá as costas, abaixa a cueca, mostra a bunda e estica os braços em agradecimento, e segue caminhando pela rua bunda de fora. Mais a frente, público alheio, cueca já posta, dobrar a esquina. O bar segue sua festa completa.
E dentro do bar sai uma menina linda, loira, corpanzil cheio, deusa do cinema italiano, vestido solto no corpo, peitos duros formando o decote, sandalinha de tira adornando pés delicados. Na mesma rampa da saída amolece e despenca sua bebedeira nos braços do rápido segurança que a coloca em pé e pergunta se está bem. "Ótima", responde ela com seu bafo etílico e olhos vidrados. Dá mais uns passos, não vê o meio fio, despenca novamente e é segura pelos fartos peitos por um garoto que conversa no meio da rua. Ele se delicia, mas educadamente pede desculpas e pergunta se ela quer ajuda. Repete o "estou ótima" sorrindo, se apluma, e vai no sentido de uma bicicleta. Chega lá, mete a mão na imensa bolsa revirando tudo e derrubando algo e mais um pouco no chão. Um casal vai até ela, pega o que está no chão, devolve, ela agradece e diz que está procurando a chave da trava da bicicleta. O casal fala e insiste que do jeito que está não vai conseguir pedalar, que não deve pedalar, que é perigoso; ela já com a chave na mão sorri enquanto procura o buraco da fechadura rindo. Abre o cadeado, pega a bicicleta solta do paraciclo e cai sentada de bunda com a bicicleta em cima. Mais pessoas vem para ajudar; um deles tenta tirar a bicicleta de perto, mas não consegue. Levantam ela que se agarra forte ao guidão dizendo que está acostumada e quando alguém solta a bicicleta ela capota de frente, por sorte não vai ao chão porque bate a cabeça no ventre de um garoto, quase no púbis, que a segura pela cabeça, como se... Boa parte dos que tentam ajudar se afastam as gargalhadas. E se arma a confusão de conselhos, avisos, alertas, todos retrucados pela língua etílica enrolada.
Uma voz enrolada vem por trás do povo que tenta ajudar ou assiste a comédia. Estica o braço e com a mão espalmada vai abrindo passagem. Ainda em cueca segura o braço da amada, pergunta onde ela estava que não conseguiu achá-la, e tasca um beijo de boca muito comemorado pelo povo que não tem mais o que fazer e se afasta. Cuidadosamente se colocam cada um de um lado da bicicleta freada por ele. Repetem o longo beijo, se aplumam e saem caminhando, bicicleta de bengala, conversando rua abaixo. Passam pelas roupas despidas, ele olha, freia a bicicleta, gira o corpo e grita um agradecimento enrolado para o povo que aplaude. Os dois se abaixam gesto típico de agradecimento de teatro e antes de voltarem a caminhar ele abaixa a cueca e mostra a bunda. Aplausos e assobios são ouvidos. Vê-se que ela gargalha.
No dia seguinte encontrei junto a lixeira a camisa, camiseta, suéter, mas a calça com carteira e documentos, cartões e dinheiro se foram. Que porre!
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