domingo, 30 de janeiro de 2022

De volta à pergunta: que cidade queremos?

Fazendo backup do computador dei com este filme de crianças brincando numa praça em Buenos Aires em 2008. E junto está o vídeo Cidades Sustentáveis de NY, do Sérgio Abranches, de 2007. O número de exemplos atrás de exemplos do que vem sendo feito mundo afora para melhorar as cidades é grande.


Que cidades queremos? Esta foi uma pergunta que não faz muito não queria calar nestas paragens. Como ninguém conseguia dar uma resposta, sequer discutir racionalmente sem tirar os olhos do próprio umbigo, o poder público e a política encontraram um mágico mote para mais uma vez dizer que estavam fazendo algo pelo bem de todos: bicicleta. E a bicicleta colou por que sempre existiu, é divertida, faz bem, dá liberdade individual e de fato é uma resposta, a bem da verdade "uma das respostas", melhor, uma das mais efetivas ações para melhorar a qualidade de vida da cidade, mas definitivamente não é a única nem onipotente.

Dependendo da forma como um bem é colocado se transforma simplesmente em mais um vício de linguagem, nada além, e suas qualidades podem não dar os resultados esperados.

Um dos problemas que assola brutalmente o Brasil, em especial suas cidades, é a violência. O brutal abismo social (e porque não dizer cultural) fez com que os mais abastados (mas não tão bem educados assim) optassem pela inteligência de murar suas casas, condomínios, bairros... O resultado? Parece que não foi exatamente o esperado. Passo seguinte; contratar seguranças, cada dia mais sofisticados. O resultado? Parece que também não funcionou como esperado, parece.
Muros, grades, sistemas de segurança podem ser necessários e eficientes? Óbvio que sim, mas usados com inteligência, do contrário são contra produtivos.

Qual será a relação entre a verdade impregnada nos ciclistas que só há segurança na segregação das ciclovias e a verdade atávica da maioria da população que qualquer pessoa estranha que passe na porta é um assaltante em potencial, por isto só tem segurança quem vive murado?

Como nossa educação é um fracasso a maioria não sabe o que foi a Idade Média, mas acha lindo castelo murado. O sonho de boa parte dos cidadãos brasileiros foi e continua sendo construir e morar em castelos (ou shopping centers) atrás de muros para segregar quem não faz parte da festa. Se a violência não diminui será que estamos no caminho correto? Não seria inteligente tentar outro caminho? 
 
A cidade é reflexo de quem somos. Em todas as partes do planeta foi a população que disse basta, quero paz, quero viver, o que "nos" prejudica não pode continuar, chega! Em nenhum lugar do planeta se ficou contando com mudanças pontuais de fundo eleitoreiro. O povo pressionou e conseguiu.

Não é com muro, não é com ciclovia, não é dando um tapinha na pracinha, não é com ações pontuais, sobretudo definitivamente não é protegendo-se corporativamente nem segregando. 

Não tenho a mais remota dúvida que esta minha ladainha é incompreensível e cansativa para muitos, mas devo recitá-la, está na minha alma. 

O que fizemos por aqui? O que melhorou em nossas cidades brasileiras nestes quase 15 anos? Quantos problemas foram resolvidos definitivamente, quantos deram um passo para frente e três para trás? Os exemplos mais gritantes foram a Copa e as Olimpíadas. Preciso continuar? Quanto, nós brasileiros, caminhamos para frente?

O triste é que nestes últimos 4 anos desintegramos o pouco que tínhamos avançado.


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