Paulo Salim Maluf, o herói de muitos ciclistas, é o perfeito candidato das bicicletas nas próximas eleições. Vejam as razões: Foi quem criou o primeiro órgão de promoção do uso da bicicleta em São Paulo, o Pró Ciclista, que nos anos de existência fez um bom trabalho, iniciou o sistema cicloviário da cidade, colocou leis no CTB, atormentou justamente a CET de então, pressionou Brasília... Maluf é o responsável pela construção do Minhocão, aquele viaduto sobre a av. São João que hoje é dos lugares mais agradáveis para pedalar e caminhar e pelo qual há uma luta popular para que seja transformado num parque suspenso nos moldes do High Line de NY. Fez e concluiu uma série de obras usando jeitinhos para contornar os problemas, alguns legais, e adversários, o que talvez tenha servido de exemplo para implantar as ciclo faixas que fazem a maior parte dos 400 km do sistema cicloviário implantado nos tempos de Haddad. Uma de suas fotos mais famosas foi tirada nos gramados de sua mansão dos jardins (México com Costa Rica) com Lula, os dois sorrindo, a alma de Haddad candidato à Presidência. Tido como populista de direita, colocado no posto de Governador do Estado pela ditadura militar, apoiou o PT, ao mesmo tempo não criaria problema com os bolsonaristas. Se Maluf, inteligente oportunista de primeira hora, fez o que fez pelo automóvel, a bola da vez daqueles tempos, imaginem o que não faria pela bicicleta, a bola da vez destes tempos atuais. Teria muitos votos, afinal para muitos não interessa como a partir do momento que a bicicleta seja privilegiada.
Não votaria, não votei, sinto profundamente que tenham demorado tanto para julga-lo, que nunca tenham recuperado o dinheiro, que ele só esteja em prisão domiciliar. Aliás, não votei e não voto em populista dito do bem ou mal. E dói muito saber que todos os julgados culpados aqui no Brasil ainda tenham o mesmo destino de Maluf. Todos.
Por que colocar Maluf aqui? Porque por puro acidente comecei escrever o que está abaixo, parei para relaxar e rever o texto, saí para pedalar e acabei passando no Jardim Guedala, lugar agradabilíssimo para pedalar. Quem esteve lá sabe sobre o que falo.
"Espero que um dia isto aconteça aqui (em São Paulo)" digitou referindo se ao que será feito em Paris, NY e em outras capitais do mundo para auxiliar o retorno à normalidade e controle da pandemia: incentivo maior ainda ao uso da bicicleta. Sim, eu, Arturo, também espero, mas que se faça bem feito, e aí é que está o nosso nó cego, aí é que eu duvido muito. Começa pelo emaranhado monstro que perdeu até o fio da meada que são nossas leis e termina por confundir técnicas de trânsito e transporte, passando pela capacidade. Vai pela tendência de muita boa gente de olhar tudo com os binóculos da ideologia. Vai pelo poder que alguns tem de fazer o que bem entendem e até melar o que foi bem feito. Vai pela Justiça entulhada de processos que olha o que não entende e dá o parecer que bem entende. Vai por não entender que lá é lá e aqui é aqui, e há uma monstruosa diferença. E assim vai...
Como estamos divididos em dois, como bons idiotas que somos, não interessa quem vá fazer, se é alguém que já fez bem ou mal feito, se já meteu a mão na botica, se jogou dinheiro fora, se implantou com erros grosseiros, se tem uma capivara enorme (processos na Justiça). A força maior é "se for fazer é quem se vai apoiar". O outro é o outro. "Tem que fazer! A bicicleta é a salvação", batem o pé. O outro lado da questão, mesmo que seja da própria questão, não interessa.
Erundina teve a dignidade de reconhecer que enterrar (literalmente) o projeto do bulevar Juscelino Kubitschek foi uma burrice sem tamanho, mas na época foi ação ideológica. Parar o bulevar av. Paulista, como foi feito em governos de direita e grande e estranhas obras também foi estúpido. E aí vamos. Foda-se a cidade, fodam-se os cidadãos, foda-se a racionalidade, o que via de regra funciona é o "vale é eu gosto ou não gosto". É deprimente, mas os chiliques de Bolsonaro são bem brasileiros, um pouco fora da curva para dizer o mínimo, mas tipicamente brasileiros. "Quem manda sou eu" ou "Sabe com quem está falando?" é nossa deprimente sina.
Bicicleta não é a salvação, é mais uma ferramenta, neste momento uma valiosíssima ferramenta – se for usada com inteligência e honestidade, algo que nós, brasileiros, estamos cientes que não é nosso forte. E, provocando: "ciclistas não são messias", o que tem muitos que gostariam ser.
Estou de saco cheio de reescrever sempre a mesma coisa, mas infelizmente nem mesmo a pandemia nos faz parar e olhar para futuro de outra maneira. “Tem que fazer” (de qualquer jeito) para mim não é a resposta. "A Janette Sadik Khan veio e gostou!" Veio e gostou do que? Mostraram para ela o que? Ela falou com quem? Ela fala português e teve tempo de conversar com todos, inclusive os não ciclistas, como fez em NY? Pedalou no Jardim Guedala? Teve acesso as contas? Falou para que plateia?
Parei de escrever e fui pedalar. Acabei passando pelo Jardim Guedala, que é um dos absurdos dos 400 km do Haddad \ Tatto. Não passa mosca, está no meio de um dos mais ricos bairros de São Paulo e do Brasil, pura ‘pata negra’, aquele presunto dos ricos e famosos apelidados de “coxinhas” pelos ciclistas fanáticos e ideológicos. Ciclo faixa “Pata Negra”, que delícia!
Jardim Guedala não tem movimento, não tem gente nas ruas, não é rota para nada, não liga nada a lugar nenhum. As casas são imensas, lindas, ajardinadas, as ruas arborizadas, cheio de seguranças. Tem um punhado que caminha no sobe desce da Praça Professor José de Melo Pimenta, um avenidão com grande canteiro central gramado, sendo observados de perto por seus seguranças particulares e só. Depois que este pessoal volta para casa não tem ninguém nas ruas, é o paraíso para pedalar livre. Não faz o menor sentido ter ciclo faixa ali, muito menos gastar dinheiro público. As ruas são largas, calmas, sem trânsito, com pessoas caminhando no meio da rua. Não faz nenhum sentido para quem possa ter a mais remota noção do que é responsabilidade social ou sensatez do uso da bicicleta. A cidade tem infinitas outras prioridades. É um dos exemplos máximos do que NÃO deveria ter sido feito e com isto concordaram até ciclistas petistas que apoiam Haddad e o PT.
Acredito que aquilo não foi e não é dinheiro jogado no lixo, é outra coisa qualquer. Duvido que o dinheiro tenha ido para o lixo.
Tendo dito isto e despejado meu profundo desgosto com o que foi feito e a forma como foi feito, depois de ter pedalado lá agora tenho a dizer: Não acredito! reasfaltaram, repintaram, e colocaram novas taxas deixando tudo perfeito.
Moral da história: eu sou um imbecil.
Se conselho fosse bom seria vendido, mas deixo aqui o meu grátis. Apaguei-os. Quem precisa de conselho de imbecil? Desculpem, mas saio de cena. Deixem que façam o que quiserem, que façam o que bem entender com dinheiro público. Somos ricos, sobra dinheiro, são todos competentes e atendem a voz do povo. Fui
Um dos textos que publiquei menos lido foi o Ouvir todos, inclusive os que parecem idiotas . Faz todo sentido
Mais fotos do Jardim Guedala
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