Arturo Alcorta, Escola de Bicicleta, sobre a vida, rodando um pouco por tudo
terça-feira, 30 de março de 2021
Como será a cidade pós pandemia?
segunda-feira, 29 de março de 2021
A reinvenção da Draisiana. (O que?)
sábado, 27 de março de 2021
Cidades do passado, cidades do futuro
Hudson
Yards, um mega empreendimento imobiliário em NY, talvez o maior do planeta ou
pelo menos fora dos países petroleiros, já está dando para trás. Uma
brincadeira de US$ 20 e muitos bilhões de investimento. NY vem sofrendo muito
com a pandemia, mas esta não é a única razão para este imenso e
sofisticadíssimo projeto multifuncional estar muito mais vazio que o esperado.
Faltou aos responsáveis pelo projeto olhar o que está acontecendo no primeiro
mundo, aí incluída a própria NY. Faltou olhar aquilo que caminha por todos os
lados que costumamos chamar "ser humano".
Na
matéria do NY Times (link abaixo) falam uma coisa que não tinha me dado conta,
mas é verdade, que o imenso terreno onde está o empreendimento é meio a parte
de NY, um pedaço de terra que estava esquecido por onde a maioria passava
batido sem olhar para os lados. Quiseram fazer de lá um dos centros de vida da cidade,
mas isto não é tão simples assim. Não se muda usos e costumes, principalmente
se estão arraigados, num passe de mágica.
O que se tira
desta história é que há um gravíssimo problema de miopia por boa parte dos que
hoje dizem construir o futuro de nossas cidades. Mesmo que se tenham feito
estudos, levantamentos, pesquisas e outros mais, os erros se sucedem em toda
parte, são muitos e frequentes, provavelmente fruto das distorções atávicas de
nossa sociedade, de nosso tempo. Numa sociedade com forte viés narcisista o
olhar de quem projeta não é coletivo, mas muito pessoal. Bate um selfie aí para
comemorar a inteligência, a obra prima, a glória social! Sempre foi assim.
Somos um contínuo de nomes que fizeram acontecer. Mesmo o mais radical dos “unidos
venceremos” foi para frente porque teve alguém a frente, um comando, um narciso.
As cidades são reflexo deste comando.
NY está sofrendo com seu próprio sucesso. A exemplar recuperação que vem sendo trabalhada faz décadas, quatro décadas para ser mais exato, praticamente zerou a violência, recuperou a economia que estava completamente falida, mas deixou a vida cidade mais cara, afastou populações menos privilegiadas, ao mesmo tempo trouxe muita riqueza financeira, urbana e cultural. NY tem sido uma das, se não "a" referência de transformação urbana com qualidade e é cada vez mais prazerosa de se vivenciá-la. Mas pelo que a pandemia vem nos anunciar, não é exatamente por aí. Então por onde será? Qual será a cidade do futuro?
How the Pandemic Left the $25 Billion Hudson Yards Eerily Deserted
https://escoladebicicletafotos.blogspot.com/2021/03/hudson-yard.html
terça-feira, 23 de março de 2021
Quem calou consente: esta baderna generalizada não nasceu hoje
A pandemia no Brasil não saiu fora de controle por pura falta de sorte ou acaso. Todos, jornalistas, cientistas, colunistas, especialistas das mais diversas áreas, e própria população dizem e repetem que a pandemia expôs as mazelas do Brasil, que são inúmeras e intermináveis. A pandemia esfrega em nossas caras um país disfuncional, com atos incompreensíveis por parte do Executivo, Legislativo e Judiciário, e por que não dizer da iniciativa privada, vide Vale, todos abrindo o que de pior há em nossa caixa de pandora. Eduardo Giannetti está absolutamente correto quando diz que somos de um individualismo selvagem. Óbvio que o aí está tem raízes num longo passado de interesses particulares e corporativismos que nada tiveram a ver com o interesse pelo bem comum. Somos párias perante o mundo só porque a patética condução da pandemia nos levou a este vergonhoso posto? Acreditar nisto é julgar que os que nos julgam são imbecis. Seguindo a nossa lógica é isto mesmo, são: nós estamos certos e eles estão errados. A verdade é que o que ai está confirma que quem calou consente, e a pandemia prova que por conveniência passageiras todos calamos. Deu nisto.
A cega viu o tamanduá
segunda-feira, 22 de março de 2021
Antes muito tarde que nunca
sexta-feira, 19 de março de 2021
Lembranças de uma chave de fenda tirada da poeira
Ela virou as costas e se foi e ele permaneceu olhando com carinho e saudades a chave de fenda carinhosamente deitada sobre a mão espalmada. Distante ela parou, olhou para trás, percebeu o momento, voltou até ele, passou carinhosamente a mão nas costas dele e disse com voz aconchegante - Pega o alicate e vem.
Levar os negacionistas in loco e ao vivo
terça-feira, 16 de março de 2021
É a economia, é a saúde, ou é o desprezo pela vida?
segunda-feira, 15 de março de 2021
Algumas perguntas sobre os novos 158 km cicloviários da capital
Mais uma vez o jornalismo divulga que São Paulo está aumentando os
quilômetros de ciclovias, vide "Ciclovias se espalham por mais de 158 km
da capital" de Priscila Mengue, O Estado de São Paulo; A12 | Metrópole |
segunda-feira, 15 de março de 2021. Sobre o assunto deixo algumas perguntas.
Nos locais onde estão sendo implantados os novos km foi realizada pesquisa O.D.
que justifique o gasto e a implantação? Como é a curva de aumento de ciclistas
circulando e por onde estão circulando? Qual é a influência dos entregadores de
aplicativos nesta contagem e no aumento de ciclistas nas ruas? Se há contagem,
estão incluídos nela os inúmeros trabalhadores de baixa renda que pedalam de
madrugada em horários que normalmente não aparecem em pesquisa de campo? Está
sendo realizada pesquisa O.D. específica ou ainda se usa o O.D. do metro? Qual
a metodologia e o critério usado nas pesquisas O.D.? Para que público,
incluindo nível social e econômico, está sendo direcionado estes novos km? O
gasto com novos km de ciclovias e ciclofaixas vem acompanhado de ação
relacionada a educação geral dos ciclistas? Há pesquisa confiável sobre
incidentes e acidentes nas ciclovias e ciclofaixas que balize os projetos dos
novos km para corrigir inúmeros erros do passado? Qual é o gasto com sinalização
vertical e semafórica e o que será feito? Nestes novos km o que se fará para
aumentar a segurança de pedestres? Como a SVMA a destruição e diminuição
sensível do verde de canteiros centrais e outros verdes para a implantação
de ciclovias? Está previsto alguma ação para resolver o problema nas pontes,
onde não há sequer espaço apropriado para pedestres? Está previsto algum gasto
para solucionar os acessos à Ciclovia Rio Pinheiros realizados pelas calçadas
das pontes Cidade Jardim e Cidade Universitária, esta com pesado fluxo de
pedestre por dar acesso estação Metro / CPTM? Alguém está controlando os custos
de implantação destes novos km, principalmente os de ciclofaixas? Por que
tantos km simplesmente ficam as moscas? Qual é o critério para implantar
ciclofaixas em locais que é sabido não circulam ciclistas? Por que não se fala
uma palavra sobre traffic calming onde é tecnicamente viável, mais barato e
mais seguro para pedestres, principalmente no interno de bairro? Por que
pedestres têm que ficar sempre em segundo plano?
Hoje se fala muito sobre a importância da ciência. Definitivamente a terra não é plana. Segurança no trânsito é uma ciência construída em cima de pesquisa, dados, detalhes, investigação, da busca dos fatos, da verdade. Bicicleta gera entusiasmo, gera esperança num futuro melhor, o que está correto; mas a segurança do ciclista só existe quando o entusiasmo dá lugar ao investigativo, a busca de detalhes que de fato constroem um futuro melhor e perene. Não é quantos km, mas é a qualidade do sistema e antes a qualidade da cidade e de todos cidadãos, ciclistas ou não.
quinta-feira, 11 de março de 2021
Briga contra condomínio no Parque Linear Caxingui
Boa entrevista de Gabriel Rostey, consultor ambiental e membro de um conselho municipal, para Carolina Ercolin e Haisem Abaki do Jornal (da rádio) Eldorado sobre a confusão que está dando a possível ou provável construção de um condomínio no pequeno Parque Linear Caxingui."O problema é que a Prefeitura sempre está correndo atrás..." foi disparada certeira pelo som da rádio define bem o que sempre acontece.
Só a questão da água em si deveria bastar para proibir sumariamente toda
e qualquer construção em área de nascente ou nas proximidades de córregos. Nem
se fale sobre a necessidade de proteção das poucas áreas verdes que ainda
restam ponteadas pela cidade. Até onde sei há uma lei protegendo, mas ter lei
neste país não significa muito.
Um condomínio com 5 edifícios de 25 andares num terreno a beira de um córrego? Não se fala uma palavra sobre sombras que serão criadas na área verde, os ventos que baterão nos edifícios gerando turbulências, a poluição sonora e de partículas. São questões ambientais, portanto de saúde pública gerados pela construção de grandes edifícios. São problemas que foram discutidos e estão regulamentados há décadas mundo afora.
Foi citado por Gabriel Rostey o conflito social envolvido, com uma população rica não querendo ter por perto população de baixa renda. Possível que sim, não duvido, já que experiências espalhadas pela cidade mostram que o convívio de diferentes níveis sociais pode ser um tanto conflitivo. Conheço bem pessoas que ainda têm casa na rua Otávio Mangabeira, que desemboca na favela Paraisópolis. Faz tempo que o convívio com uns poucos moradores da favela é bem difícil. Roubos, assaltos, ameaças são muito mais comuns que se possa imaginar. A desvalorização dos imóveis é brutal, o número de placas vende-se impressiona. O problema não é a comunidade de Paraisópolis ou qualquer outra população de baixa renda, mas a total ausência do Poder Público como mediador de conflitos e apaziguador social. Neste sentido entendo a população do Jardim Marajoara onde está o Parque Linear Caxingui.
Gabriel Rostey falou também sobre que o adensamento populacional de São Paulo é mais baixo que o de Paris, por exemplo. O adensamento das cidades brasileiras acontece de maneira disforme, deformada, com picos desordenados e desconexos. Paris, por exemplo, como qualquer cidade civilizada do planeta, tem regras claríssimas e respeitadas de organização urbana. Aqui quem manda são empreiteiras ou quem pode mais, seja pela riqueza, os possíveis ganhos, ou pelo grau de banditismo, aí de todos níveis sociais, do pobre ao rico.
Nunca tivemos um plano diretor que fosse inteligente e realista o
suficientemente para estabelecer resultados civilizatórios e perenes. O abismo
social prova isto. Nunca se conseguiu estabelecer limites e ordenar para o bem
comum. Péssimos e degradantes exemplos são quase regra. O progresso que traz o
bem comum vêm a passo de lesma e nem sempre são perenes.
O olhar que se tem é imediatista. Não se pode planejar o imediato. O imediato se vive. O futuro Deus dará nos rege, o que é um crime. “Ajuda-te e ajudar-te-ei” é texto sagrado, portanto verdade milenar. Planejar é ajudar-se e ajudar a todos.
Descrição do Parque Linear Caxingui e...
O trecho em questão tem algo em torno de 450 metros de extensão, final
da av. Roberto Lorenz, começando próximo da esquina da rua Gen. Sena
Vasconcelos e terminando na Av. Francisco Morato. O córrego passa por baixa da
Francisco Morato e desagua no córrego Pirajussara que está canalizado e com
ciclovia em cima da canalização na av. Eliseu de Almeida. No trecho entre a
Francisco Morato e a Eliseu o córrego está estrangulado entre construções. A
sensação que dá é que os terrenos não deveriam chegar tão próximos do córrego,
e que são irregulares, mas isto provavelmente está fora de questão
(infelizmente). Olhando da Eliseu creio que não há espaço para se implantar um
parque linear com passagem para pedestres, muito menos para ciclistas. No
projeto Ciclo Rede Butantã pretendíamos olhar com cuidado este trecho. Entre as
duas avenidas há um local que dá impressão de ter sido uma rua ou viela que
ligava as duas margens do córrego. Queríamos uma ponte, pelo menos para
pedestres, que ligasse os dois bairros. Mesmo o bairro sendo de classe média
média a briga seria de cachorro grande, com a gritaria “vai ser caminho para
bandido”, “vai ser ponto de maconheiro”, e outras falas tão triviais.
Parte dos 450 metros da av. Roberto Lorenz, já no Jardim Marajoara, que corre paralela ao córrego do Parque Linear Caxingui está asfaltado, parte com pedregulho, e um trechinho em terra. De um lado está o córrego protegido por uma micro mata ciliar, do outro lado da avenida estão entradas de garagens de residências. É via sem saída para veículos, mas tem uma discreta e com cara de não oficial passagem para pedestres ligando com a Francisco Morato.
O Parque Linear Caxingui se estende bem mais para frente. Mesmo da rua Comendador Abido Ares, onde termina ou começa o parque, não é possível ver a extensão e a dimensão completa da área verde, nem seu córrego. Há inclusive a Praça Eva Kovacs, que confesso sempre passei batido descendo a rua de bicicleta. Descobri no mapa.
Pedalo com frequência por aquela área e é um dos lugares mais agradáveis
de São Paulo para treinar subida. Jardim Marajoara deveria ser declaro patrimônio
histórico e artístico pela diversidade de arquitetura e assinaturas de projetos
que tem. Bairros tão diversificados como este é coisa praticamente exclusiva de
São Paulo, não só no Brasil, mas no mundo.
No terreno onde se pretende construir as cinco torres de 25 andares havia um resto de mata, não sei exatamente quantas árvores e outras vegetações mais. Era bem visível da avenida Francisco Morato.
A questão é simples: não dá mais para continuar derrubando resíduos de
mata e principalmente permitindo a construção do que quer que seja, de pequeno
barraco a condomínio, em local onde haja nascente ou córrego. Aliás, não dá
mais para continuar na baderna de crescimento que temos em nossas cidades. Deixamos
para trás a muito a irresponsabilidade.
https://32xsp.org.br/2018/01/31/parque-no-butanta-pode-dar-lugar-a-cinco-predios-de-25-andares/
https://www.parquecaxingui.minhasampa.org.br/
E inúmeros outros links e matérias.
terreno em litígio, lado Francisco Morato |
terreno em litígio, centro, face Jardim Guedala |
terreno em litígio, direita, face Jardim Guedala |
rua sem saída paralela ao córrego, a direta terreno em litígio |
terreno a venda nos fundos do terreno em litígio; pelo gramado passa o córrego |
vista do início do resíduo de mata a partir do Jardim Guedala |
Avenida no Jardim Guedala onde está canalizado o córrego. A partir deste ponto começa o resíduo de mata Atlântica |
quarta-feira, 10 de março de 2021
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segunda-feira, 8 de março de 2021
A culpa nunca é dos iguais.
O Estado de São Paulo
Mesmo antes da pandemia o culpado sempre foi "os governantes", em nenhuma hipótese a própria população, os iguais. O lixo jogado nas ruas é "o" melhor exemplo. Não me lembro de alguma vez ter ouvido gritaria e protestos da população contra absurdos cometidos por seus iguais, a própria população.
Nunca soube de caminhoneiro pedindo balança nas estradas para evitar que caminhões acima do peso arrebentem o asfalto e com isto sejam responsáveis pelo aumento do pedágio, estragos na suspensão, aumento de consumo de combustível.
Nunca soube de protesto de caminhoneiro contra caminhoneiros que mudam as especificações técnicas do caminhão tornando-os mais instáveis, diminuindo a capacidade de frenagem, tornando-os poluidores, diminuindo a visibilidade do motorista, tomando rebite, e com isso aumentando o número de acidentes que param as rodovias, o que diminui os ganhos de todos caminhoneiros. Nunca soube de um grupo de caminhoneiros pararem um caminhoneiro bêbado ou rebitado.
Nunca soube de motociclistas protestarem contra uma minoria de motociclistas completamente irresponsáveis que causam seguidos acidentes e param as cidades, exigem socorro especializado (chegamos a ter 70 por dia em São Paulo parando o trânsito), enchem hospitais, prejudicando muito outros acidentados e doentes de causas naturais.
Nunca vi ciclistas protestando contra a falta de educação de outros ciclistas, o pedalar com agressividade sem respeitar pedestres, contra os que atacam motoristas sem razão só porque são motoristas.
Nunca vi dono de bar por limite em cliente por conversa alta, falta de distanciamento, falta de uso de máscara, ou pedindo respeito aos seus próprios garçons.
Nunca ouvi um caso de reação da comunidade indo atrás, pegando e entregando para a justiça os responsáveis conhecidos e da própria comunidade por assaltos, roubos e depredações em escolas, serviços sociais, hospitais, depredação de transporte, entupir córrego com entulho ou qualquer outra barbaridade que prejudique enormemente a própria comunidade.
Nunca soube, nunca ouvi, nunca vi.
Semana passada vimos várias categorias fazendo protestos e parando São Paulo e outras localidades em nome de seus direitos exclusivos. Ter as UTIs lotadas não é problema deles. A morte de desconhecidos não é problema deles. Os sequelados não é problema deles. O custo Brasil, problema crônico muito anterior à pandemia e um dos mais altos do planeta, simplesmente não tem nada a ver com a responsabilidade individual e coletiva de cada uma das categorias que pararam São Paulo. “O que é meu ninguém tasca a mão!” e assunto encerrado.