- Foi atropelamento. Este pessoal da Globo é mal intencionado. Como assim foi colisão? Foi atropelamento; o caminhão atropelou o ciclista! disse o ciclo ativista enfurecido com a reportagem que acabara de ouvir na TV Globo.
- Foi colisão. Bicicleta é pela lei um veículo, está no CTB, portanto foi colisão com vítima. Por sorte não foi fatal, respondeu o amigo com voz um pouco enfadonha e tranquila
- Atropelamento! Foi atropelamento! Maldito motorista de caminhão, são todos uns assassinos.
- Como assassinos? levantou um pouco a voz em resposta e o ativista suavizou sua expressão, desviando os olhos, de alguma forma reconhecendo que havia exagerado. Fez-se um silêncio.
- Muda a lei e tira do CTB que a bicicleta é um veículo, daí vai ser atropelamento. Mas fica atento que não vai mais poder circular no asfalto das ruas e avenidas, só vai poder pedalar na calçada. E vai ter que cruzar as ruas nas faixas de pedestres, empurrando a bicicleta. Não vai poder ir para estradas. Coisas do tipo.
- Como assim, tá louco?
- Eu não, você que está dizendo que foi atropelamento e que os motoristas são assassinos. Se todo motorista ou caminhoneiro fosse um assassino não teria sobrado um ciclista para contar história.
O pequeno pelotão uniformizados em um amarelo limão pedalava conversando e roda a roda e não percebeu quando um dos seus ficou só e distante a uns cinquenta metros. Era o único que vestia um preto meio desbotado que mais parecia uma camuflagem urbana. Todos passaram rápido por mim e vi o pelotão cruzando o acesso à ponte. Estavam pedalando lado a lado o que melhora a visão para o trânsito; ficam quase da largura de um carro pequeno. Mal via o ciclista retardatário, solitário e porque não dizer camuflado que fez a aproximação do acesso à ponte com corpo abaixado na tentativa de se aproximar do pelotão. Pedalando forte, não sinalizou, não olhou para trás, posicionou-se á direita pensando em proteção, mas também como se sinalizando que fosse entrar no acesso. Eu já o tinha percebido, mas o motorista do carro que me ultrapassou pela esquerda em velocidade normal e sinalizando provavelmente não, tanto pelo ciclista solitário estar na minha sombra, pela sua camuflagem, por não estar sinalizando para onde pretendia ir com o braço estendido. É provável que o olhar do motorista estivesse no pelotão a frente que chamava a atenção com seu amarelo limão e ciclistas lado a lado. O motorista me ultrapassou e veio suave para direita, deu com a traseira do ciclista e deu uma guinada brusca de volta para esquerda, reflexo preciso para evitar a colisão. Acelerou e cortou a frente do ciclista como pode, reação instintiva e arriscada, mas bem sucedida; exceto pelo susto do ciclista que seguiu sua linha reta gesticulando e xingando o motorista.
- Por favor, qual é o acidente mais frequente que vocês têm nas estradas, perguntei ao socorrista de uma concessionária de rodovia do interior de São Paulo que dava a palestra.
- Os acessos e saídas são críticos. O ciclista não consegue entender que os veículos vêm com uma diferença grande de velocidade ou estão olhando para trás para entrar na estrada. Eles (ciclistas) seguem (pedalando) em linha reta (quando cruzam o acesso ou saída da estrada) como se fossem um carro ou uma moto, o motorista não vê e pega ele por trás. Não dá para culpar o motorista, ele simplesmente não consegue ver; principalmente se a saída ou acesso for de alta velocidade. É muito rápido.
- E tem muito acidente?
- Muito. Geralmente são gravíssimos (os acidentes). Ou fatais.
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