Na porta da maravilhosa padaria Fabrique, na rua Itacolomi pouco abaixo da Pará, o jovem pai adesivado com 50 Boulos me cumprimenta esticando a mão dedos fechados, cumprimento pandêmico, "E aí, amanha é 50?". "Não, não vai ser. Concordo com boa parte das propostas de vocês, mas não com invasão de áreas públicas, principalmente pelo problema que a cidade tem com água e que afeta principalmente a população mais pobre" respondo. A conversa seguiu bem civilizada, sem que houvesse uma reação mais forte da parte dele que contou ter participado de ações do MST. "Chique, morador de Higienópolis, comprando na Fabrique, participando do MST", penso eu. Invejo sua experiência social. Ele está com o filho pequeno, um amigo e a mãe deste amigo que despeja feroz sua contrariedade com invasões e outras ações mais radicais. Enquanto espero meu café ser entregue acabamos travando conversa interessante. Ambos conhecemos Cidade Tiradentes, um bairro que não só eu chamo de gueto, uma tragédia de projeto urbano mal estabelecido que até um pouco mais de uma década estava largado no meio da Zona Leste. Hoje melhor depois que Serra ordenou ações, mas ainda problemático. E falamos sobre águas, nascentes, córregos, e a absurda invasão neles. Nos despedimos.
Urnas fechadas, votos contados, Boulos não ganha, mas se sai bem.
Cheguei em casa, escrevi este texto e por alguma razão que não me lembro não o publiquei. Infelizmente nunca mais encontrei o jovem pai com quem conversei para esticar o papo. Nem olhei os rascunhos deste blog.
Boulos se transformou numa peça política de peso. Interessante, mas continuo discordando não da essência social que propõe, mas da forma de ação, principalmente no que toca a invasão de área públicas, em especial qualquer que envolva matas virgens e água, o que considero inaceitável. Aliás, as entrevistas de seu pai, Marcos Boulos, especialista em doenças infecciosas, são muito interessantes. Boulos filho teve mui boa formação.
Temos que mudar, disto não tenho a mais remota dúvida, e tem que ser uma mudança para valer, o que não se vai conseguir colocando fogo no circo. Vira cinzas, ninguém sai ganhando.
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