segunda-feira, 10 de maio de 2021

mães

Dia das Mães e Leandro Karnal soltou no Estadão um ótimo texto, Entre filhos e filhotes, sobre a história do ser mãe usando como base a relação da Rainha Vitória e de Elizabeth II com seus filhos. Como um simples ignorante, mas com alguma leitura, digo que o conceito de mãe que temos hoje, carinhosa, acolhedora, preocupada, protetora... se estabelece a partir da revolução industrial que acabou permitindo que criança virasse criança e que depois um certo tempo mulher pudesse ser mãe. Explicação simplória, mas não longe dos fatos.

Passei minha vida cercado por mulheres, achei e continuo achando ótimo. Por muita sorte tive uma mãe excepcional, Lollia, uma mulher de rara sensibilidade e inteligência que sabia levar a família e seus filhos com sabedoria. Resolvia ou contornava os problemas com voz baixa e pensamento linear para não deixar dúvidas. Bastava seu olhar e tudo entrava nos eixos. Usava de muito humor em momentos espinhosos. Não me lembro de ouvi-la gritar, nem quando levantava a voz para o famoso "Comporte-se" dito em tom de gozação.
Lollia faz falta. Definitivamente foi mãe. 

Mas tive a imensa sorte de ter tido outras mães, direito imposto pelas próprias palavras delas. Por ordem: Conceição, minha baba; Yedda minha segunda mãe com sua infinita paciência, Laurita Frugone, uma argentina de fina educação que desde a primeira vez que me viu se apaixonou por mim e me tratou como o terceiro filho. Com Carminho, minha avó por parte de pai, tive um ótimo relacionamento até praticamente o final de sua vida. 

Creio que não havia Dia das Mães quando ainda estavam vivos meus bisavôs. Por parte de pai conheci todos, só não me lembro de Arturo Maria, meu bisavô argentino que dizem ter sido uma pessoa boa. Posicionou-se contra Peron, foi perseguido, preso, exilou-se, e alguns anos depois morreu de desgosto. Contam que foi um maravilhoso pai e avô, pelo que contam praticamente uma mãe. Conheço muitos pais que foram ou são verdadeiras mães. Zé Maria W., primo irmão de meu pai está aí para provar, perdeu a mulher cedo e criou sozinho seus 10 filhos.
Mamita Elena, mulher de Arturo Maria, e Amélia bisavó por parte de avó e de pai foram pessoas distantes de mim, então criança, e a relação se resumia em pedir a benção ao entrar em suas casas. 
De Mamita Elena tenho uma lembrança gozada. Eu tinha 11 anos, estava em Buenos Aires, numa manhã meu avô entrou no quarto e disse "Se veste que você vai acompanhar Mamita. Ela tem que fazer umas coisas na rua". E fui, e descobri que a velhinha não andava, corria, era ligada no 220. No meio do caminho foi a primeira vez na vida que entendi o "mata a velha!".
Incluiria nesta lista Jeannete, mas aí sou eu que incluo, porque muitas vezes ela deve ter pensado "mata o pentelho!", no caso eu. Devo muito a ela. Muitos devem demais a ela, que não foi mãe de ninguém, mas foi mãezona de todos.  

Ontem, por razões pandêmicas, não pude dar um abraço e um beijo em Conceição e Yedda. Lollia se foi faz tempo, mas continua viva. Laurita foi-se não faz muito. Tive a grata sorte de estar em Buenos Aires no Dia das Mães e entregar-lhe um belo buque de flores alegres, como ela sempre foi, um pouco antes de sua morte.

Lollia nos seus últimos dias, na UTI, o único filhote que queria ter visto e acariciado era o Zumbi, seu pequeno puddle preto, filho de última hora. Eu e Murillo, meu irmão, estávamos em segundo plano. Eu a entendo. Muito, muito estranho, uns dias após sua morte uma pomba branca pousou serena praticamente no meu pé vinda de não sei onde. Aceitei como bom sinal.

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