quarta-feira, 19 de junho de 2024

Parada em Salvador, Bahia

Fomos em lua de mel viajando de carro para a casa nova, Recife. Uma das paradas foi em Salvador, onde uma amiga de Tina, Marina, uma baiana baixinha e de rara beleza, nos esperava. Paramos rapidamente na porta de sua casa, Tina desceu do carro e deu um longo e sorridente abraço. Desci com calma do carro e esperei o momento das duas. Tina nos apresentou, tivemos uma breve conversa e ela disse para nos instalarmos no hotel, descansar um pouco e depois daríamos uma volta em Salvador, e jantar. 
Mais tarde passamos e pegamos Marina, rodamos um pouco, Tina pediu para passar no Mercado Modelo que queria comprar umas coisinhas. Entramos no mercado, Marina disse para Tina escolher o que queria que depois ela iria comprar, assim evitaria preços para turistas. Tina voltou conversou com Marina que saiu pelo corredor direito, passou um, dois e do terceiro saiu um homem negro alto, muito forte, vistoso e deu uma tremenda passada de mão na bunda de Marina. Reação imediata vi Marina girar rápido esticando a perna e com o pé acertar em cheio no meio da mandíbula do negão que caiu feio um poste no chto ão e lá ficou imóvel. Tina me pegou pelo braço e em voz alta mandou que eu fosse ajudar a Marina. Literalmente pasmado olhei para ela e disse rindo "Você está brincando?". Acabamos ajudando Marina que ao lado do corpo estendido no chão estava desesperada. O machão foi tomando consciência e quando deu com Marina que lhe segurava a cabeça arregalou os olhos e disparou com "Moça, desculpe, moça desculpa, não foi por querer, nao foi por querer"... O jantar foi de risos, meu dia seguinte foi de rei, e assim fiquei durante dois dias sentado no trono. Viva o acarajé! Bem vindo a Salvador.

Numa oferta irrecusável embarquei num cruzeiro do Rio para NY. Primeira parada, uma tarde completa em Salvador.

Excursões a parte, nas quais não embarquei, não gosto, tive que desembarcar para comprar remédio, pasta de dente, e garrafa de água para academia. 

Andei só nas ruas próximas ao Mercado Modelo. Deprimente. Caindo aos pedaços. Aquilo é nossa história, foi nossa capital, capital do Brasil entre 1549 e 1763. É nosso patrimônio histórico, um dos nossos principais cartões de visitas, não pode ficar daquele jeito. É uma vergonha.
No navio de cruzeiro em que eu estava pelo menos 1500 turistas estrangeiros e mais um bom número de brasileiros ansiosos para conhecer Salvador. Os que foram nas excursões para o centro histórico, lá em cima, voltaram com boa imagem. Quem saiu para caminhar próximo ao porto ficou assustado ou deprimido com tudo largado e o cheiro ou mofado ou mijado.
Rua
Como estão nossas leis sobre patrimônio histórico? Não faço ideia. O que se pode fazer, o que não se pode fazer, quanto e no que se pode mexer numa casa, sobrado ou o que seja tombado pelo patrimônio histórico? De quem é a responsabilidade de preservação, do proprietário ou do estado? Ai sei: no geral do proprietário. Se o proprietário não tem condições de arcar faz o quê? 
São inúmeras as perguntas que se podem fazer para tentar entender porque está tudo caindo aos pedaços, não só em Salvador, mas Brasil afora. Mas uma é certeza: a situação que temos hoje é uma vergonha. Não funciona, ponto final.

A quem interessa a situação de nosso patrimônio histórico caindo aos pedaços? Especulação imobiliária em muitos casos é a resposta. Desmoronou não tem mais valor histórico, limpa o terreno, constrói e vende, é muito mais lucrativo. E dá muito menos trabalho. 

O resort de luxo que Neymar pretende, ou pretendia construir em área de preservação ambiental comete alguns erros: arrebentar área de preservação e ser um a mais igual a tantos outros mundo afora. Pequeno detalhe: mundo afora o esgoto é tratado e o mar é límpido, por isto que turistas vão. Projetos como este apontam para a pobreza como olhamos nosso potencial turístico, portanto econômico, e por conseguinte, a mediocridade como imaginamos que vamos resolver nosso abismo social. 

Povo sem memória está fadado à pobreza.
Não é nossa história que é pobre, nós é que somos ignorantes. A vergonha de olharmos no espelho é a prova cabal.

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