sexta-feira, 14 de junho de 2024

De carro pelas cidades do interior; Estados Unidos e um pouco mais

Por que conhecer o interior dos Estados Unidos? Porque conhecer, simples assim. Conhecer nunca é demais, muitíssimo pelo contrário. No meu caso, um apaixonado pela vida nas cidades e as cidades em si, conhecer o interior dos Estados Unidos foi importantíssimo, até para entender um pouco para onde caminha a humanidade e porquê. Simples, aquele pessoal tem força de voto suficiente não só para mudar os Estados Unidos, como já fez com Trump, como mudar muita coisa em todo mundo. 

Eu já conhecia o interior da Florida, mas por diversas razões, a latinidade e o clima, principalmente, Florida e seu interior não são exatamente os Estados Unidos. 

Eu queria conhecer terras dos rednecs, os "pescoço vermelho", o povo do interior dos Estados Unidos. Rednec porque são muito brancos e têm a pele muito queimada por trabalhar ao sol. Enfim, conhecer a terra da caipirada americana. Acabei circulando por onde os americanos chamam de Bible Belt, o cinturão religioso protestante. Queria ter mais tempo para poder mergulhar no que eles são no dia a dia.

Conhecer este Estados Unidos interiorano só de carro. Ônibus intermunicipal nos Estados Unidos é um lixo, só quem já usou sabe. Trem por onde passei nesta viagem praticamente só cargueiro. Antes de optar por NYC - Atlanta de carro, pensei em repetir uma viagem de trem que fiz entre Seattle - NYC, três dias de viagem, mas fui avisado que a qualidade dos trens de passageiros piorou muito, que vive cheio de reclamações. Imaginando algo parecido com as péssimas experiências que tive viajando de ônibus, o famoso Greyhound bus, desisti. Enfim, só de carro. Bicicleta nenhuma pelas estradas, aliás duas em 15 dias, praticamente dentro das cidades. Carro ou carro, simples assim.


Em qualquer viagem que fizer, tendo um pouco de tempo, fuja das cidades grandes e vá conhecer o interior dos países. Cidades pequenas e não turísticas, a verdadeira vida local. Vai se surpreender e se divertir aos montes. De preferência fuja dos estradões que passam direto pelas pequenas cidades. Diminua a velocidade de toda sua viagem, tenha tempo para olhar a paisagem, curtir as paradas, entrar nas cidadezinhas nem que seja para uma breve caminhada. Café da manhã, almoço ou lanche no meio da caipirada ou dos interioranos é mágico. Em todos estes anos de viagens tive experiências mágicas e deliciosas, e não foi diferente desta vez.

Diferente da Europa, e um pouco diferente da Florida, não é sempre que se encontra uma estradinha calma de mão dupla rodando pelo interior dos Estados Unidos, pelo menos por onde passei. Muitas das estradas secundárias são de duas vias e duas pistas cada. As estradas principais são bem largas e cercadas por árvores para manter a atenção do motorista no trânsito. São cheias de imensos caminhões, que junto com o cercado de árvores deixa o dirigir ao mesmo tempo tenso e monótono. A regra nestas autoestradas é acompanhar o trânsito, que via de regra anda numa velocidade acima da máxima indicada pelas placas. Num dos trechos a velocidade máxima era 55 milhas/hora e até as freirinhas estavam a 85 m/h, caminhões junto. A fiscalização é feita por radar e também por avião, sim avião, lá de cima, olhando tudo. Se você estiver muito rápido vão te pegar, se estiver muito lento também vão te parar, se começar a fazer ultrapassagem de forma perigosa não só vão te pegar, mas vai dar ruim. Ou seja, ou vai com a boiada ou tem boa chance de ter problemas.

Na Europa acontece mais ou menos o mesmo, nas vias expressas todos excedem um pouco a velocidade em conjunto. Se dirigir muito diferente do resto também pode complicar. Nas estradinhas de interior europeias a velocidade máxima é respeitada, o que não foi bem assim no interior americano.
Itália, ah! minha adorada Itália, ali as coisas são um pouco diferentes. A única que vi respeitando o limite de velocidade foi uma senhorinha bem velhinha num Fiatizinho 500 vermelho dos antigos, aquele bem pequenino, aliás mínimo no meio dos outros. De resto e principalmente no sul da Itália, velocidade máxima em autopista só serve para dar uma vaga lembrança. Numa das situações, perto de Bari, fui ultrapassado por três caminhões colados uns aos outros que estavam pelo menos a uns 150 km/h. Velocidade máxima ali: 80. A aproximação deles foi apavorante. 

Carro alugado, Google Maps na telinha do painel e vamos embora. Diferente daqui ou da Europa onde todas saídas são à direita, nos Estados Unidos tem saída de autoestrada para a direita e também para a esquerda. Tudo é muito bem sinalizado com antecedência. De qualquer forma, preste mais atenção que o usual na telinha para não ficar dando voltas no aeroporto de Newark, como eu fiquei. Não foi só lá que passei reto.

Preferi me distanciar de NY dirigindo numa estrada expressa, e só longe enfim saí para buscar estradinhas secundárias. Perto de cidade grande o trânsito sempre é intenso, igual a qualquer parte do mundo. Dá para sair sem entrar nos estradões? Dá, é bem bacana, mas a questão é quanto tempo disponível você tem para fazer isto. O que numa estrada expressa leva uma hora, por dentro vai levar no mínimo duas, e em alguns momentos vai te fazer passar por lugares estranhos. Tem gente que não gosta. De qualquer forma, para mim vale muito a pena.

dentro de uma das áreas de descanso das autoestradas

Se vai viajar para descansar, por que desembestar no mesmo ritmo de vida que temos no nosso dia a dia. Vai parando, vai curtindo, demora um pouco mais, mas vale cada minuto. Viajei muito de carro, já fiz viagens tipo "tenho que chegar", e acho um horror. 
Como já contei, um dia, quando ainda tinha uns 20 anos e adorava velocidade, peguei carona com um primo e fiz os exatos 300 km  de Cambuquira para São Paulo com ele respeitando todas os limites de velocidade. A princípio queria matar, depois descobri o tesão que ir com calma vendo a paisagem. Talvez tenha sido a viagem de carro mais marcante de minha vida.

áreas de descanso como esta são comuns e frequentes nas autoestradas, todas perfeitas

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