quinta-feira, 4 de agosto de 2022

Velho amor, novo tesão

Já adulto vai buscar o que ficou no passado. O fervor da adolescência ninguém traz de volta. O corpo mudou, a cabeça mudou, tudo é mais calmo, lento, tudo deveria ser mais sábio, mais sensato, mas sempre há futuro, algum futuro, fio de esperança. E acontece, mesmo depois de certa idade acontece, mesmo que não seja para esperar que vá acontecer ele cresce, ela umedece, o tesão acontece, opa! e como!
 
Passou o dia que o espelho declarou sem meias palavras quem se é: idoso, velho, "a melhor idade" é a puta que o pariu, declaração sem meias palavras que vai sendo refletida no dia a dia, mas que a mente mente e se recusa a ver. E um dia aparece um novo velho amor, paixão quente dos tempos de pele lisa, esticada, sorriso uniforme e branco, espelho que então sorria para a juventude.
 
Estranha sensação de olhar aquele decote fechado, mas decote de tecido fino, macio, marcante, cheio de pequenos botões, que faz impossível não perceber aquela forma volumosa acolhida por um sutiã que se percebe as alças finas nos ombros. Seios que cresceram, ganharam forma, bela forma, com mais botões a abrir, um tempo maior para sonhar, ferver. Olho no rosto envelhecido, olho nas formas tentadoras, sorriso maroto envergonhado que não engana. Imagina, sem saber-se adolescente, adulto ou idoso, o que virá desabotoando lentamente um a um aqueles pequenos botões. Sonha soltar só dois deles e puxar para o lado o tecido fino e estampado do vestido, cara de moleque a olhar o mistério que não vê faz décadas. Correm lembranças de sua mão escorregando por baixo da blusa, tocando aquela forma quente, rígida. Ela percebe, o sorriso dela fica estático, espírito sensual adolescente, mas fervor controlado, espera imóvel, sorriso contido, vontade nem um pouco controlada. Dane-se o espelho, dane-se a moral, dane-se os bons costumes, a puta que o pariu com a melhor idade, que venha a mão. 
Os dedos escorregam pela pele que envelheceu e ganhou toque de seda, escorregam com cuidado quase incontrolável. Aperta a massa, olho no olho. Vai em frente, diz o pescoço esticado dela. Encosta a cabeça entre os seios, acaricia com o nariz sentindo o suave cheiro da pele dela, e vai descendo a mão sentindo cada botão do longo vestido. Aos poucos vão deitando no velho sofá que tem a TV acesa na novela. Quem se importa? Tudo em volta desapareceu, agora são eles para eles próprios. Botão pós botão passa pelo ventre e continua em respeito, para dar o tempo que excita mais ainda. Chega aos joelhos, puxa um pouco o vestido, não há mais meia para enrolar até as canelas, isto faz com que ele viaje no tempo e procure, não acha, não há mais meias para enrolar. Para ali, escorrega as mãos para entre as pernas, olha a perna nua escondida só pelo vestido, aumenta a excitação. Passam por aquele intenso desejo velhas fotos de outros tempos, os dois inocentemente na praia deserta, lado a lado, belo casal discretamente e sinceramente sorridente, próximos, discretos, mas não, nunca, colados como neste sofá. É diferente, carregado do tempo distante, da separação que nunca fez sentido. 

Entra a neta na sala e dá com a cena. Para, arregala os olhos, controla o riso, e em silêncio volta para o quarto sem saber o que pensar, mas com um certo calor correndo pelo próprio corpo. Fecha a porta com muito cuidado e senta na cama sem saber o que fazer, pensando no namorado, nos seus amassos. Pega o celular, quer fazer alguma coisa, dizer alguma coisa, digitar a situação amorosa da avó, mas não consegue, continua sentada na cama com o celular na mão.
Levanta-se, abre a porta sem fazer barulho, caminha na ponta dos pés até a porta da sala. A avó abre os olhos e a vê, fecha os olhos como se nunca a tivesse visto ou ela existisse. Feito o pedido para privacidade.

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