Mais uma vez meu número de leitores diminuiu muito em pouquíssimo tempo. As outras vezes foram quando soltei um texto criticando a Copa. Sumiram metade dos meus leitores. Depois quando soltei texto falando mal das Olimpíadas, o que fez desaparecer mais outra metade dos leitores. Os dois textos foram publicados antes dos eventos, não me arrependo do que escrevi, muito pelo contrário.
Desta vez praticamente sumiram 3/4 dos meus leitores em poucos dias e diferente daquelas oportunidades, Copa e Olimpíadas que estavam muito politizadas, não consigo entender o porquê. Que seja, continuarei escrevendo.
Não escrevo para dar certo ou errado, mas por necessidade própria. Óbvio que ter muitos leitores faz bem ao ego, mas se esta fosse minha preocupação escreveria só para agradar ao público, o que não é meu caso.
Sempre tive grande dificuldade de entender como funcionam os relacionamentos sociais e por isto sempre fui um tanto arredio. Mesmo quando este blog estava indo muito bem simplesmente não conseguia fazer ideia do porquê tinha tantos leitores. Não entra na caixola, não consigo, por mais que eu leia e releia os textos. Adoro pensar e colocar no papel, experimentar formas de textos, criar, jogar as coisas para cima para ver no que dá. A base do que escrevo vem do que leio, ouço ou pesquiso.
Um dos temas que me chama atenção é a relação das crianças e jovens com as novas tecnologias e redes sociais. Não me lembro de ter escrito sobre o assunto, mas no geral procuro me informar para entender ou pelo menos ter uma luz no fim do longo e aparentemente interminável túnel. Para mim é assustador pais usarem celular como acalma leão, leia-se "fica quieto brincando no celular", nada mais que um cala a boca moleque ou não enche o saco. Acho deprimente ver amigos e jovens casais sentados frente a frente sem trocar uma palavra, sem se olhar, mas teclando sem parar.
São várias as matérias sobre o desastre que está sendo o relacionamento social impessoal que o celular gera para as crianças e adolescentes e são assustadoras as notícias das consequências em crianças que foram canceladas.
Perder leitores é algo que faz parte do jogo. Tenho 35 anos de minha primeira coluna na imprensa e aos 67 anos sei como lidar com esta perda, se é que é perda. Quando vi o gráfico de leitores estourou na minha cabeça o drama das crianças e jovens cancelados.
Tenho netos é óbvio que como qualquer criança ou adolescente eles têm e ficam muito no celular. Rede social faz parte da vida deles. Mas ser cancelado, será que é normal?
Acho que foi num Café Filosófico da TV Cultura que vi um pensador falando sobre a enorme diferença entre o que tirar sarro na minha época, antes dos anos 70, o que depois virou bulling e passou para a maluquice que é chamada de cancelar. Segundo este pensador ou educador, sarro e bulling acontecem num círculo restrito de amigos ou colegas, um pequeno grupo, mais fácil de ser controlado ou contornado pelos pais e mais velhos. Cancelar é o desaparecimento instantâneo de centenas de desconhecidos que até um segundo antes juravam amor num processo isolado, solitário.
Não tenho medo de dizer que cancelar é o novo linchamento, prática tão inerente a nossa cultura e tradição. Sim, não faz muito o Brasil era um dos campeões mundiais de linchamento. Deprimente. Pior, cancelar pelo que sei é mais cruel que o linchamento porque suas razões são ainda mais fúteis, mais sem qualquer sentido, mais absurdas. O cancelamento vem sem sequer você estar próximo do outro, ter a chance de gritar, protestar. Em um segundo existe, noutro simplesmente não, ou pior ainda, simplesmente nunca existiu porque a rede social digital pode não deixar sequer traço. Pluft, sumiu! como uma criança, adolescente ou jovem consegue lidar com isto? Pelo que dizem especialistas, incluindo psiquiatras, não consegue.
Das poucas coisas que tenho certeza é que se tivesse nascido nesta era de socialização digital com seus sucessos, fracassos ou cancelamentos instantâneos, sem esta carga de experiência de vida que tenho hoje, estaria completamente louco, mais do que já me acho. A perda de leitores me deixou mais uma vez muito assustado com o que está acontecendo com as novas gerações, muito assustado mesmo.
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