terça-feira, 30 de agosto de 2022

Fazer certo, fazer errado

Como explicar para um adolescente como fazer certo? 

O Brasil dito por vários historiadores, pesquisadores e estudiosos é um adolescente, ainda está em processo de amadurecimento. Não me lembro os nomes, são muitos. Estou exausto de ouvir esta ladainha. O país só tem 500 anos alegam. Só temos uns 35 anos do pós ditadura, uma democracia jovem. País jovem sem dúvida, mas isto não justifica o errático atávico no qual estamos eternamente atolados. 
Como um cidadão normal (entenda o que quiser) meu maior desejo é achar um caminho para que nossos erros crassos possam ser corrigidos e que o Brasil vire um país de fato com futuro 'positivo' para todos, sem exceção. A meu ver, já que somos um país adolescente, se faz urgente buscar caminhos para ensinar o povo, incluído em especial a elite que também é povo, do que é fazer certo, como fazer certo, ou, como ensinar o fazer certo e evitar o fazer errado. Não é biscoito.

Certo ou errado levanta muita discussão entre adultos, escolados, maduros e sóbrios; imagine só a confusão para um adolescente que tem a cabeça fervendo a mil e quer experimentar tudo, seja certo ou errado. Refraseando em pergunta, ou: como explicar para um adolescente que tem coisas que podem e devem ser experimentadas e outras que ou você faz da maneira correta ou vai dar muito errado? Aprender com erro é crucial para uma boa formação, mas saber qual deve ser o limite da besteira que se faz é mais importante ainda. Não se brinca de ser atropelado, pelo menos eu definitivamente não recomendo. 

Uma situação ligada ao comportamento de um adolescente, uma destas besteiras atávicas ao comportamento e cultura brasileira, me fez perder o sono literalmente. Aqui falo de adolescente, de neto. Que novidade perder o sono. Só acontece comigo? Acho que não. E olha que não fui propriamente um anjinho e é justamente este meu passado que dá referencias que arrepiam os meus cabelos. Tem erros que não se cometem pela vida ou o preço vai ser impagável, ponto final.
Meus netos dão pouco trabalho. Perco mesmo o sono com frequência pensando neste Brasil adolescente (?) que vivemos.
 
Exemplificar o que é besteira para um adolescente pode ser fácil. (Ou não, depende.) 
Imaginei ir jantar num restaurante com o adolescente e antes de sentar colocar as cadeiras de ponta cabeça no chão e sentar no meio das pernas. Logo depois, com a cabeça e olhos na altura do prato, servir a bebida sem ver num copo virado ao contrário. Colocar o prato na vertical e servir a comida na toalha. Chamar o garçom escondido pela toalha debaixo da mesa. Talvez, leia-se talvez, o adolescente entenda o que é fazer errado. O perigo que vou correr é que a falta de discernimento geral é tão grande, tão sem noção, que talvez o adolescente ache engraçado e embarque na loucura. Nem sei se vai dar conta do que está acontecendo depois que ser expulso do restaurante. Vai ver que o guri vai repetir a besteira com os amigos para ganhar uns pontos sociais. 
Neste Brasil que vivemos parece que quanto maior a besteira mais sucesso faz. Não estou falando da área de cultura, mas das questões práticas, 2 + 2 = 4. 

Ainda sou da geração que tinha limites, até ladrão respeitava regras. Meneghetti, um dos ladrões mais famosos do passado, deu uma entrevista no fim da vida dizendo que ele era ladrão e agora (faz uns 25 anos ou mais) o pessoal era bandido. O que Meneghetti deixou claro é que até ladrão tem que ter limite, saber qual a linha que não pode cruzar, e que infelizmente a nova geração tinha perdido esta noção. 
   
A geração de nossos avós foi rígida, geração dos pais foi menos, minha geração menos ainda, bem mais solta, a geração seguinte parece ter relaxado mais ainda, e a gurizada que está ai dá uma bica em tudo, parece não entender quais as linhas que não são produtivas cruzar; aliás, diga-se de passagem, responsabilidade dos pais super protetores ou completamente desligados da educação e dos exemplos para os próprios filhos. Está bem, a coisa não exatamente assim, é muito mais complexa, mas creio acho que dá para entender. 
Ao que tudo indica caiu a ficha que liberou total não é uma boa política social. Infelizmente querem voltar a rigidez hipócrita de nossos avós. Voltando, falo aqui sobre questões práticas e não sobre moral.
Opa, bom exemplo: quem mandava nos gastos da família eram os pais e não as crianças como é hoje. Carinho de supermercado para crianças? "Eu quero!" dito de forma impositiva e aos urros no meio de um shopping simplesmente não acontecia, aliás como não acontece em país educados, civilizados, maduros, dentre eles algumas jovens democracias com os mesmos 500 anos que este Brasil tem. Uma questão de limites, simples assim.
 
Tem coisas que devem ser realizadas de uma certa maneira e ponto final. Outras permitem discussão, conversa. O que é líquido e certo é que briga não leva a absolutamente nada. Certo ou errado está no campo de discussão racional; briga no campo irracional, quando não da boçalidade. O que está acontecendo agora é uma briga por questões que possibilitam que mil versões para que virem uma pedra monolítica fundamental; estupidez do "ou está comigo ou está contra mim". Vira teoria do caos, semiologia da linguagem, sensibilidade às condições iniciais aplicada discutida por iletrados. Surrealismo aplicado ao anarquismo. Upa! Imagina adolescentes pouco letrados e imaturos ruminando esta baderna toda.

No meio deste caos de valores que vivemos como explicar para um adolescente princípios básicos que regeram a evolução e sobrevivência da raça humana e do planeta? Como explicar resultados?

Ouvi uma pensadora dizendo que vivemos provavelmente a fase mais fértil da história humana. Pensando bem também acredito. Ela completou dizendo que só se vai entender o tamanho da grandeza deste processo muito para frente, com o que também concordo. E terminou com um óbvio "se sobrevivermos". O que mais uma vez concordo. 
Sobreviveremos se fizermos pelo menos o que é inquestionavelmente certo e evitarmos o inevitavelmente errado. Importante saber o que é inquestionável e, sim, há o inevitavelmente errado. Não acredita quem gosta de bater a cabeça na parede.

Quem joga tudo desordenadamente sobre a balança nunca chegará ao ponto de equilíbrio. É necessário separar o que se quer pesar e colocar num prato para depois buscar o equilíbrio com o outro.
Parece que já não sabemos mais sequer o que é uma balança, o que dizer sobre seu funcionamento. E em nome de interesses pessoais tem muita gente insuflando que se jogue a balança no fogo. Coisa de adolescente? Não, de moleque muito mal-educado. É o que parece não nos faltar até entre os barbados.

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