Não sou jornalista, mas para simplificar digo para os desconhecidos que sou. Amaria ser, mas não tenho o cacoete necessário, a mágica das perguntas certas, no momento próprio, e sou incapaz do texto certeiro de primeira. Muito menos de terminar a 'coisa' em 30 minutos. Não sou escritor, também, mas um dia quero tentar escrever um texto mais longo, quem sabe um livro. Minha primeira tentativa foi tão ruim que Deus, o Próprio, num ato de bondade queimou o computador com tudo mais dentro. Já estava na página 50 e tanto e pelo jeito nem o diabo quis ler, recusou-se até a queimar o HD no fogo do inferno alegando problemas ambientais.
Desde a primeira vez que vi um jornalista, jornalista da geração antiga, os de verdade verdadeira, fiquei com muita inveja. Não me lembro se foi na redação da Folha ou Estadão que paramos para perguntar algo para um jornalista que batia a máquina de escrever (o que hoje se diz "teclar") furiosamente um texto sem olhar para o teclado. Respondeu continuando a digitar o texto e ainda riu de minha cara de embasbacado.
O jornalismo daquela época era digitado com folhas específicas, laudas, que tinham uma marcação de 22 linhas e um número específico de toques. (Lauda: EDITORAÇĀO•ARTES GRÁFICAS - folha escrita com contagem de toques padronizada por órgão de imprensa ou editora, us. na elaboração de matérias jornalísticas e de originais de publicação.)
A definição do tamanho da mudança é simples: a mãe leva o filho para uma exposição, o pré adolescente para na frente de uma máquina de escrever mecânica e a mãe mostra como funciona. O moleque com olhos arregalados diz em voz firme, alegre e alta: "Nossa! Bacana. Você digita e ela imprime imediata e automaticamente! Nunca vi um computador destes."
Quando se solta um texto numa máquina de escrever (mecânica ou elétrica) você tem que fechar o texto completo na cabeça antes de digitar ou vai ter que bater a máquina tudo de novo. Sim, tinha corretor, uma tinta branca grossa num vidro parecido com esmalte de unha, a bem dizer uma bosta. Para não ficar louco era bom não errar. Um cesto de lixo cheio de folhas amassadas era sinal inequívoco de profundo mal humor do escritor ou jornalista.
Amassei muitas folhas. Usei muito corretor. E sobrevivi por que uns santos corrigiram erros grosseiros de meus textos que até hoje sou incapaz de perceber. Perco uma letra e demoro um século para entender porque a palavra fica vermelha (de vergonha). Mesmo assim escrevi, ou fui escrevido, palavra que não existe, mas cabe aqui.
E um dia consegui um computador com Windows 386. Que maravilha!
Os primeiros textos digitados no computador foram um parto, tive que reaprender a pensar e escrever. Nos acostumamos com o errado, o difícil, o chato, e a mudança para o prático não é assim tão fácil. Quem puxou com fúria a folha da máquina de escrever sabe como é. Word é uma baba. Erra, apaga imediatamente, sem branquinho, control Z e volta tudo, control C, control V... Brincadeira de criança, pensamentos soltos, que podem ser jogados de qualquer forma, não raro confusos. O pensamento estruturado e linear impositivo ao trabalho numa máquina de escrever de certa forma ficou para trás. Me pergunto qual o custo / benefício? Outra história - até no sentido de "história" literal. O que vivemos não mente.
Esta explicação acabou nascendo do texto que nunca fecho: Pensamentos perdidos sobre turismo e cidades no Brasil.
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