Em praticamente todas minhas viagens para o exterior meus últimos momentos de férias, aqueles no aeroporto a espera do embarque, sempre foram ponteadas por alguma bagunça de brasileiros. Já aconteceu de tudo, desde nossa internacionalmente conhecida conversa em voz alta ponteada com gargalhadas até o atraso da decolagem do avião em razão do excesso de bagagens da tropa brasileira.
Para não ficar dizendo que só brasileiro faz destas, a melhor, ou pior, como queiram, foi num voo da Aerolineas Argentinas num 727 para Buenos Aires. A algazarra dos argentinos dentro do avião enquanto colocavam as maletas, Mickeys enormes de pelúcia, sacolas, caixas e outras bugigangas no porta bagagem de mão, aquele em cima do assento, foi tão grande, tão sem noção, que por trás de mim surgiu o comandante do avião soltando um urro "Ou vocês param com esta mierda ou coloco todos "boludos" (idiotas) para fora do avião" e continuou esculhambando com recheio de palavras, digamos assim, impróprias para aquele mesmo comandante que uns 20, 30 minutos depois em voz calma comunicou "Senhoras e senhores passageiros, agora que alguns passageiros se acalmaram podemos decolar".
Nosso comportamento pode ser 'um pouco bagunceiro', mas está muito longe de inúmeras histórias que ouvi de argentinos. O sul do Brasil que frequentemente os recebe que o diga. Não é regra, mas um fato mostra o tamanho da confusão. Que me lembre foi na década de 80 que o Governo Argentino anunciou aos quatro ventos e em todos órgãos de comunicação, para todos argentinos tomarem pleno conhecimento, que não mais repatriaria qualquer argentino que criasse problema ou gastasse até o último centavo no exterior ficando sem condições de comprar a passagem de volta. Outro sinal do comportamento indesejado deles, já me pediram mais de uma vez para só falar português e evitar falar porteño, o castelhano típico de Buenos Aires e redondezas.
O embarque desta viagem que terminou ontem foi surpreendentemente tranquilo. Com exceção de um rapaz e duas brasileiras que foram convidados pelo gerente a se retirar do café no gate 58 do Aeroporto Malpensa de Milão. Estava na fila, vi uma funcionária do café expresso falar alguma coisa no pé do ouvido do gerente que estava no caixa, pediu desculpas com "Já volto", largou tudo e muito bravo e gesticulando pediu que os três pegassem suas coisas, incluindo café e croissant, e se retirassem. O rapaz ainda tentou argumentar, mas saiu. Fora esta passagem, o comportamento dos brasileiros que iriam embarcar foi tranquilo, tão tranquilo que acabei percebendo. Mesmo na grande confusão que se formou minutos antes na pré fila para passar as malas pelo raio X, e toca confusão, a única manifestação mais exacerbada foi dos pais de uma família italiana que decidiu dar uma de esperta e furar a fila; para fila leia-se tumulto. Zero ordem.
Em Miami, 1990, cruzei a porta automática e dei de cara com um saguão vazio. Chequei cedo, como de costume, vinha com duas bicicletas na caixa, a primeira Specialized M2 que chegou no Brasil e uma Signal feminina de presente para Teresa, mais minha mala. Na época não havia restrições para bagagem. Fiz o check up com uma senhora gorda que me atendia cansada, fala mansa, muito cordial, até que ela levantou os olhos, parou tudo, jogou a caneta sobre os papeis soltando um "Oh God!" furioso. Olhei para trás e vi um casal com dois filhos passando pela porta automática e atrás deles um carrinho equilibrando oito, sim, 8, malas jumbo, que nem sei se continuam sendo fabricadas de tão grandes. Quem empurrava o carrinho, um funcionário do aeroporto, teve dificuldades para fazer o enorme volume passar pela porta automática. A senhora que me atendia terminou os procedimentos, me entregou passaporte e passagem e disse apontando onde deveria embarcar. Atrapalhado que sou pedi mais explicações e ouvi "Siga os gritos" que eram bem audíveis. Foi fácil encontrar. Eram brasileiros festivos, vamos dizer assim. O avião atrasou mais de uma hora. O comandante comunicou que "devido ao grande volume das bagagens temos que reposicionar toda bagagem para podermos decolar". A lotação era de brasileiros voltando da Disney. Estava na janela sobre a porta de bagagens e vi tudo ser retirado do bagageiro e reposicionado. A M2 foi atirada ao asfalto, como tudo mais, por funcionários que até dentro do avião se podia perceber furiosos.
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