SP Reclama
O Estado de São Paulo
Não faz muito, talvez um mês, passei pedalando pela av. Duque de Caxias. Voltei a passar para ir à Sala São Paulo e fiquei assustado com a gritante piora. Pedalo pelo Centro de São Paulo desde o final dos anos 70 e o nunca vi tão degradado. A área conhecida como Cracolândia sempre apresentou problemas difíceis de serem trabalhados, mas nunca ficou assim.
Numa cidade é impossível isolar um problema. Cracolândia é resultado de inúmeras políticas equivocadas, incluindo grosseiros erros de planejamento urbano que São Paulo vem tendo faz muitas décadas. Cidade grande, rica, muito desigual e sempre envolvida num tornado de especulação imobiliária que a cada dia vem se tornando mais destrutivo. Cresce rapidamente com distorções e suas consequentes cicatrizes que simplesmente parecem não ensinar nada aos paulistanos. O planeta hoje grita que crescimento a qualquer custo é estratégia que vai muito além do erro e da irresponsabilidade. Erros podem acontecer até por boa-fé ou desconhecimento, mas não importa porque razão terá seu preço futuro, isto é líquido e certo, paulistanos e cidadãos de qualquer cidade brasileira está cansado de saber.
Enquanto o Centro da cidade está largado à pior miséria, por toda a cidade se vê o surgimento de novos empreendimentos com edifícios enormes, altíssimos, sem qualquer padrão ou integração com o ambiente do entorno, o que desfigura o caráter, o espírito e a memória de toda a cidade e de seus cidadãos.
A ideia básica desta distorção, escrita em lei, é permitir o adensamento populacional no entorno dos corredores de transporte de massa e do metrô, 50 anos atrás fazia sentido, tinha lógica, estava correto, mas estará hoje? Vale o preço de se apagar a memória da cidade? Nunca valeu. Com o crescimento dos meios digitais a forma de trabalho, transporte e vida social já mudou e vai mudar mais ainda, assim como o entendimento sobre o uso do espaço urbano e coletivo. O que vem do celular aponta para uma já sensível mudança nos deslocamentos e consequente uso dos transportes de massa.
O caminho para um desenvolvimento urbano sustentável vem há muito sendo apontado por diversas capitais mundiais, mas mais uma vez São Paulo busca suas próprias verdades e caminhos que, olhando o passado, atenderam a interesses pouco coletivos, pouco urbanos, nada equitativos. Pouco deu certo e o resultado reflete-se na tragédia do Centro que temos.
Passamos e muito da hora de respeitar a cidade que temos, vivemos e amamos.
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