quarta-feira, 8 de dezembro de 2021

O valor agregado dos detalhes no turismo. Ou, como ter um ótimo produto e não tirar proveito.

Por que tem, melhor, tinha (antes da pandemia e este nosso caos econômico) tanto brasileiro optando por viajar para o exterior? Porque o turismo interno brasileiro não alcança o potencial que tem? 
A razão mais provável é que na ponta do lápis fazer turismo no Brasil não raro sai (pelo menos saía) mais caro do que ir para os Estados Unidos ou Europa. A segunda razão era a qualidade do turismo, o que é entregue para quem paga para relaxar cá e lá; aí há uma diferença tristemente desfavorável do viajar no Brasil. Temos um país de belezas raras, mas com uma estrutura de serviços e atendimento que no geral é precária, principalmente no turismo. São inúmeros os erros, as falhas no atendimento, alguns primários, aparentemente sem sentido, parecendo fáceis de corrigir, mas que não se corrigem. Não aproveitamos o imenso valor agregado que temos.

Estive no Hotel Carlton Suites de Limeira, um hotel muito bem instalado numa imensa área com verde, gostosa piscina que dá para nadar (15 metros), piscina para crianças, pequena academia, sauna, 3 quadras de tênis, quadra de vôlei, bem cuidado campinho de futebol gramado e muito verde. A estrutura que eles oferecem para o preço que se paga é raro na hotelaria mundial, um custo / benefício ótimo para o hóspede. Confesso que não entendi bem tudo aquilo e passei os dias pensando como fazer o incrível valor agregado do hotel virar valor agregado não só para a rentabilidade do próprio hotel, mas para a cidade de Limeira. Com a correção de uma série de detalhes comuns na hotelaria brasileira esta seria uma das melhores estadias de minha vida, incluindo alguns ditos hotéis de 4 e 5 estrelas da Europa. Começaria por divulgar com clareza e eficiência o que oferecem, depois melhorar o serviço de bar e restaurante, tendo como ponto de partida o café da manhã, o que não foge da regra da hotelaria brasileira. No Ibis Sorocaba a gerente de então (Carolina, creio), que gosta e sabe o que é um pão, tirou os farinhentos e serviu "pão", o que resultou numa melhora sensível em todo o café da manhã, que por sua vez fez boa diferença na ocupação. No caso do Carlton Limeira, ter aquela ótima área de piscina e não ter pessoal sempre por perto atendendo, não dá para entender, principalmente porque metade do restaurante é acessível aos banhistas. A área é agradabilíssima, mas mal aproveitada. Detalhes e mais detalhes que aqui no Brasil parecem irrelevantes para o negócio do turismo. Será?
E é comum o hotel não se lembrar que está numa cidade, que faz parte da cidade, que pode tirar proveito da cidade. Próximo do hotel Carlton tem a praça João Soares Pompeo que a noite abre seus trailers de sanduíches, churros, pasteis, com preparações típicas do interior de São Paulo: grandes, super recheados, deliciosos, leves. Você senta ao ar livre da praça que recebe todo tipo de gente, de famílias com crianças pequenas a jovens prontos para noitada. Muito agradável, ouro em pó para o turismo que não vem sendo aproveitado. Nesta praça comi um sanduíche imenso e delicioso no trailer Baita e no dia seguinte um dos melhores pasteis de minha vida no trailer do Patrick. Eu ainda volto para Limeira só para comer em todos trailers que estão lá. Quem conhece gastronomia sabe do que falo. Fato é que deixariam babando qualquer um daqueles apresentadores de TV que correm os Estados Unidos atrás de sanduíches e outras guloseimas, programas de grande audiência aqui no Brasil.
Detalhe: eu janto muito cedo, por isto na foto a praça está vazia. A diversão para valer na praça começa depois das 20:00h.
A estrada para Piracicaba tem uma paisagem linda, riquíssima, e é ótima para pedalar ou correr a pé. Pedalando um pouco mais de 30 km tem a vila Monte Alegre construída para o pessoal que trabalhou na usina hoje desativada, um patrimônio histórico arquitetônico lindo que está sendo restaurado. Tem alguns ótimos restaurantes abertos. Vale a visita, vale o pedal. Descobri por acidente, porque era o caminho para o salto de paraquedas que fiz logo ali. Quero voltar, vou voltar, merece. 
Tem outras estradas, outros locais próximos, outros atrativos até em Limeira, mas ninguém fala, parece não interessar fixar o turista lá.
O potencial do hotel Carlton é muito grande, mas porque não senti que se está apostando nele?  
Dá para corrigir e não se corrige porque não querem. Do jeito que está tem público, está bom? Pensamento curto.
Num passado não muito longínquo Paris era destino de muito desejo, mas o comportamento e o atendimento dos parisienses afastavam o grande turismo. Foi necessário intervenção das autoridades para tornar Paris a cidade amigável que é hoje, uma das cidades mais visitadas do mundo. Resultado: empregos, cidade cheia de vida, diversão, trabalho, turistas e mais turistas, muitos com bolso cheio disposto a gastar... O parisiense mal-humorado praticamente desapareceu, o atendimento ao turista é ótimo, cuidadoso, carinhoso, detalhista. Bom para todos.

O turismo no Brasil está melhorando, mas está muito longe de seu potencial, muito longe. Precisamos entender que ser formalmente educado não significa dar bom atendimento. Atendimento é uma coisa, atendimento obrigação do trabalho é outra, completamente diferente. Uma é quente, rentável, outra é formal, fria, no final das contas desagradável.

Turismo tem que ser receptivo e saber receber é uma arte que se aprende quando se tem vontade.  

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